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quinta-feira, novembro 27, 2008

Liberté, égalité, fraternité

Assisti hoje a uma palestra de Sergio Besserman sobre ecologia e economia. Parte de um programa interno do IBOPE no qual escutamos e discutimos com especialistas tendências socias, com o objetivo de melhor compreender o mundo e antecipar possíveis cenários.
Entre outras coisas, foi interessante escutar as opiniões do conceituado economista sobre a atual crise econômica e sua visão sobre a relação economia-ecologia nesse novo contexto mundial.
Três horas de palestra não cabem numa postagem.
Decidi, então, partilhar um insight interessante sobre o famoso "bordão" francês, atribuido ao período da revolução.
Liberdade e Igualdade, de fato, foram palavras de ordem da Revolução Francesa. Fraternidade, entretanto, segundo alguns historiadores, completou o bordão tripartite mais tarde, no século seguinte.
É interessante avaliar como esses três conceitos estão presentes no cenário sócio-econômico do mundo ocidental, e particularmente nesse momento de crise.
A Liberdade (auto-regulação dos mercados) foi a origem da crise.
A Igualdade pode ser observada de dois ângulos. Pelo lado globalizado da economia, a crise atinge a todos. Pelo lado social, a crise coloca a prova o ideal social-democrata da inclusão social. Ficou claro que o "bolo" que estávamos esperando crescer para distribuir para todos, murchou. Fermento demais, poderia apontar qualquer boa doceira. O que significa que os excluidos seguirão excluidos e os artificialmente incluídos no passado recente serão reconduzidos à sua situação original de excluídos.
Mas o aspecto mais bacana é o da Fraternidade, não no sentido emocional, religioso ou espiritual, mas no sentido prático.
De um momento para o outro, os governos perceberam que a saida para a crise era sua adminstração coletiva e a preocupação com o outro, em função da total interdependência.
Claro que sempre existirão aqueles que tentarão trilhar o caminho oposto, representado pelo protecionismo (vide recentes declarações do governo da Argentina, como exemplo).
Mas fato é que nunca o mundo viu tantos governos de mãos dadas.
É um grande teste para o modelo social-democrata e certamente resultará em alguns ajustes, principalmente no que se refere ao quesito Liberdade (especialmente na economia).
Creio que vamos soberviver.
Já a questão ambiental, merece uma postagem a parte.

6 comentários:

Amélia disse...

O fato é que viveremos momentos de grandes mudanças.... Os impactos ambientais e econômicos prometem...

E como sempre, aqueles que souberem aproveitar a situação de crise, serão premiados!!!

Érica Martinez disse...

Sabe que não entendo lá muito de economia, mas a idéia de "todos unidos em prol de uma causa" não me convence, pois penso que "todo amor é amor próprio", especialmente no que diz respeito a ganhar dinheiro... E canto ainda: "A mesma mão que acaricia, fere e sai furtiva"

Sei lá... Um pouco de descrença no poder...

Anne M. Moor disse...

E viva a crise! Se foi ela, e acredito que sim em parte, que fez com que the powers that be se dessem conta que ou se juntam para continuarmos todos a caminhar ou afundamos mesmo que de mãos dadas, então aquela citação de que toda situação tem se lado bom se torna verdadeira...

Gostei desta tua apresentação didática da questão. :-) E continuamos todos de mãos dadas - uns tendo que aprender como se vive e outros continuando na sua...
Bjos

Ernesto Dias Jr. disse...

Nos dias que correm vejo-me fervoroso defensor do protecionismo: Protegei-nos, minha Nossa Senhora...

Fernanda disse...

Sensacional a analogia do fermento! Mais fermento para o bolo ficar maior!! O bolo cresceu, cresceu...mas era um bolo fofo demais, sem consistência.

Quanto à Fraternidade...realmente não tem nada de puro. Eu chamaria "Nêcessité"!

Flavio Ferrari disse...

Essa Ti, sempre otimista e pragmática.
Érica: quem está caindo no abismo estende a mão com uma baita facilidade.
Anne: vai funcionar, enquanto houver comida para todos. Quanto faltar, vai ser um pega-para-capar.
Ernesto: já tirou senha ?
Fernanda: bem vinda. Meu psicanalista costumava dizer que a base de qualquer relação humana é a necessidade (a nossa).