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quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Slice of life

O conforto do sofá ... pés apoiados no "pufe" ... créditos rolando na tela da TV... A tua cabeça recostada no ombro, corpo largado, respiração lenta e a sensualidade estimulada pela sensação de ser verdadeiramente acolhida.
Clic !

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Pecado e Capital


Parte 4 – Beata Constância


Jailton permanecia inerte, olhar esbugalhado em direção à tela de seu computador.
Constância imaginou ter ouvido o som de trombetas e sentiu um calafrio percorrer a espinha, interrompido pelo fecho do sutiã.
- Está acontecendo ... – murmurou, incrédula. Tal qual Ele falou.
Constância havia sido preparada para identificar esse momento. Seu trabalho no escritório era um mero subterfúgio para estar presente na hora e local adequados.
Sem perder Jailton de vista, digitou um torpedo para o Dalton: “Avise o mestre; a hora chegou”.
Aproximou-se vagarosamente da mesa do Eleito e não pode deixar de sentir uma certa ternura acompanhando as lágrimas que começavam a marcar sua camisa azul clara.
A tela do computador parecia uma televisão antiga sintonizando um canal inexistente. Uma coisa meio Poltergeist, pensou.
- Jailton .... Jailton ... – constância sussurrou ao pé do ouvido, afagando-lhe delicadamente os cabelos.
Muito lentamente, Jailton voltou seu semblante iluminado para Constância, enterrou o rosto entre seus seios e chorou copiosamente, soluçando em silêncio.
No pátio do estacionamento, Dalton acordou sobressaltado com o dingar do celular.
Preguiçosamente abriu o flip e pressionou o botão de leitura.
Qualquer resquício de sono desintegrou-se de imediato.
- Michael .... os presságios se confirmam ....- balbuciou.
Digitou uma seqüência de números e escutou uma melíflua voz feminina:
- Diga, meu anjo ...
- O mestre ?
- Sou eu, querido ....
- Mas ...?!?
- Anjo não tem sexo .... – uma gargalhada gostosa, num timbre andrógino, atravessou Dalton de orelha a orelha. E você, meu caro, não tem um pingo de senso de humor.
- Chegou a hora mestre ...
- Eu sei.
- Então, porque ...
- Precaução ... onisciência não é infalível. E, depois, uma vez na terra, faça da forma terrena.
- Constância está com o Eleito, seguindo o roteiro que combinamos.
- Ótimo. Espero vocês.
- Será que ele nos acompanhará ?
- Claro Dalton ... assim está escrito.
Dalton desligou ressabiado. Essa era uma parte que ele nunca conseguira entender. Se tudo estava escrito, porque tanta preocupação ? Aliás, porque é eles tinham que aramar todo aquele circo se não havia livre arbítrio ?
.......
Constância tomou Jailton pelas mãos.
-Venha, querido ... está tudo bem ... vamos ....
- Eu vi, Tancinha ... eu vi ....
- Eu sei, Já.... eu sei .... fique tranqüilo .... você compreenderá tudo no lugar para onde vamos ...

Pecado e Capital


Essa história começa em outra dimensão.
O primeiro (e interessantíssimo) capítulo está no Assertiva e sua leitura é condição “sem a qual não” se pode prosseguir na leitura. Suspeito que o terceiro capítulo também estará por lá em breve ...

Parte 2 – A Terra

Jailton estava preocupado.
Havia noites não dormia bem. Justo ele, quase um narcoléptico.
Tudo começou numa madrugada em que acordou com a sensação de estar sendo sufocado por um monte de penas.
Prontamente substituiu seu travesseiro de plumas de ganso, presente de uma amiga que dizia adorar as pequenas coisas simples da vida como lençóis de algodão egípcio e manteiga francesa, pelo outro que costumava acomodar entre as pernas (um velho truque índio para dores de coluna).
Não adiantou.
Na noite seguinte voltou a acordar sobressaltado, em meio a um pesadelo onde chafurdava entre longas penas brancas tentando encontrar um cilindro composto por anéis numerados.
- É a porra do orçamento ! – pensou. Ou o chopp da Skin ...
Prometeu a si mesmo que assumiria o estouro do orçamento e que, se não houvesse outra alternativa etílica, ficaria no guaraná diet. Voltou a dormir.
Quase havia esquecido do assunto quando, algumas noites depois, as penas voltaram, desta vez em movimento. E, no meio delas, um rosto desconhecido, mas vagamente familiar, coroado por loiros e desgrenhados cabelos.
A duras penas (e foi essa a expressão que utilizou quando contou o caso para a Estela no dia seguinte), procurou se lembrar do que dizia o personagem. Não conseguiu.
E nem precisou, pois o loiro com cara de arcanjo voltou na noite posterior.
- Você foi o escolhido, Jailton... – ressoou uma voz que parecia produzida no Adobe Audition com eco do tipo “empty parking garage”.
Desta vez Jailton acordou a contragosto, antes de conseguir perguntar do que se tratava.
Mas isso não era tudo.
Tão agnóstico quanto o avô paterno do Aldous Huxley (Sir Thomas, inventor da expressão), Jailton teve que reunir todas as suas forças para resistir á súbita compulsão de comprar um crucifixo numa joalheria próxima ao escritório. Afastou-se da loja, assustado, e caminhou a esmo por alguns quarteirões. Quando deu por si estava sentado no banco de uma igreja.
Eram quase cinco da tarde, e a luz do sol poente atravessava os vitrais da nave refletindo nas partículas de poeira suspensas.
Se estivesse em seu estado normal, Jailton faria uma rápida conexão mental com as obras do metrô mas, não ... Ficou ali, estaticamente hipnotizado pelo movimento dos pequenos pontos luminosos, e embevecido pela terna sensação de acolhimento daquela luminosidade quase celestial.
Despertou do transe ao som dos sinos, que chamavam para a missa.
Atordoado, levantou-se, assistiu sua mão direita com inusitada autonomia ensaiar o sinal da cruz e retirou-se, dirigindo-se apressado e algo cambaleante para o escritório.
- Jailton ... o que houve ? – perguntou Dona Constância logo á sua chegada. Você está pálido ... E sumiu a tarde toda sem avisar ... Está passando bem ?
Ele acenou com a cabeça e fez um gesto de quem não queria conversa. E se havia alguém que consegui impor respeito naquele escritório era o Jailton, quando não queria conversa.
Chegou até sua mesa sem mais interrupções.
Ligou o computador disposto a trabalhar no orçamento, evitando pensar no que havia acontecido.
Clicou no ícone do Excel mas, inexplicavelmente, foi o Powerpoint que abriu, ao som de um grupo de trombetas em um arranjo épico.

Pensamento da décima segunda badalada

Koan: Se o que faz a felicidade de um homem entristece aqueles que ama, e se um homem não pode ser feliz causando a infelicidade dos seres amados, como pode um homem ser feliz ? (受到)

domingo, fevereiro 25, 2007

Sobre Musas e Fadas


Inspirado pelas trocas de comentários Assertiva-Arguta dos últimos dias, senti-me motivado a postar algumas digressões sobre essas duas importantes entidades do imaginário (?) coletivo.
É comum o uso indiscriminado das duas denominações para fazer referências a mulheres belas, interessantes ou relevantes por alguma razão.
Mas fato é que Fadas e Musas tem origens e papeis muito diferentes.
Fadas são elementais, seres mágicos da natureza, associadas aos bosques e florestas, com suas flores e fontes. Estão referenciadas em praticamente todas as culturas. São festivas, portadoras de boas notícias, carinhosas, afetivas e utilizam seus poderes mágicos para provocar interferências que modificam o mundo em favor de seus protegidos. O adjetivo “feérico”, que hoje tem o sentido de deslumbrante, teve como origem a palavra francesa “féerique” – relativo ao mundo das fadas (fée). Elas foram representadas de diversas formas ao longo dos séculos, mas a referência atual mais comum (pequenas, lindas e sensuais mulheres, dotadas de asas e com vestidos esvoaçantes e semi-transparentes) corresponde aos primeiros registros históricos das suas ancestrais "Lasas" etruscas, em 600 a.c. (fonte: www.rosanevolpatto.trd.br/fadas.html).
Já as Musas tem sua origem claramente definida na Grécia antiga e foram, segundo os poetas gregos, criadas pelos Deuses para inspirar a arte entre os mortais. Hesíodo foi o primeiro poeta grego a nominá-las e descreve-las, curiosamente na mesma época em que os Etruscos descreviam suas Lasas (VII a.c.). – fonte: http://clio.rediris.es/clionet/fichas/ant_musas.htm .
Há, portanto, uma grande diferença entre Fadas e Musas. Enquanto as primeiras são agentes da felicidade de seus protegidos, com os quais desenvolvem uma relação afetiva, as segundas inspiram suas obras, sem interferência direta ou relacionamentos pessoais. Umas se apaixonam, e tem por objeto a pessoa. Outras inspiram a paixão, desapaixonadamente, e tem por objeto a arte.
Fadas podem atuar como Musas, inspirando seus protegidos. E aí serão musas exclusivas.
Musas nunca serão fadas. Não tem poderes nem vocação para isso.
O artista pode evocar sua Musa, mas precisa merecer sua Fada, sendo escolhido por ela ou, em descobrindo-a, lutando para conquista-la.

sábado, fevereiro 24, 2007

Crônicas da vida empresarial: O BEIJO

- Você está sendo muito radical, Jailton...
- Noupe ! Suspenda a crítica ... comece a olhar em volta. Use sua sensibilidade. Atenção para olhares, gestos, textos e subtextos ...
- É a correria do dia-a-dia. Mas à noite, nos finais de semana .... - Rodolfo resistia.
- Não Rodolfo... acabou.... sumiu .... é a robotização. É como se estivéssemos nos dando conta de que o livre arbítrio não existe. Então, para quê ?
- Mas veja a Estela, por exemplo ...
- Uma exceção, Rodolfo. E por isso tão apaixonante. A Estela tem tesão. Aliás, deveria ser teZão, com “z” maiúsculo, pelo zumbido ionizante. Ela não se importa, não tem planos, não tem projetos. É como se lá no fundo soubesse que não tem escolha. Aproveita o dia .. carpe diem ...
- Ontem mesmo, Jailton ... na reunião de lançamento do novo produto ... todo mundo estava vibrando !
- É isso, Rodolfo. Todo mundo cotidianamente apático e “vibrando” com o lançamento de um novo produto. É como soprar a vela do bolo, sem o bolo. Outros tempos. A garotada só quer saber de profissão, carreira, trabalho, planos. Claro que, além disso “TEM” que se divertir. Tem que namorar, tem que casar ou não tem que casar, tem que viajar. Mas é “TEM”, do verbo “sou obrigado a”. Veja aquela morena entrando ali, com o bonitão de jeans.... Dá quase para ver a coleira. Atenção na atitude, no olhar da garota ... Percebe ? Missão cumprida ! Tenho um namorado bonito, hoje é quinta-feira e vou tomar dois chopes, comentar sobre o projeto novo, exibir meu sucesso e voltar para a casa para arrumar minha gaveta de calcinhas... E acredite Rodolfo, essa garota tem uma das mais lindas gavetas de calcinhas de que se tem notícia. É lá que está toda a sexualidade reprimida ... aliás, reprimida não, sublimada.
- Talvez seja uma conseqüência desse momento histórico, mais racional, mais consciente, distante da religiosidade, Jailton - Rodolfo estava verdadeiramente incomodado.
- O cacete, meu caro. Nada mais condicionante do que a religiosidade no sentido em que a praticamos nos últimos 500 anos. Substituímo-la por condicionamento autógeno, da pior espécie. Estamos nos transformando em escravos de nós mesmos.
Rodolfo encheu novamente o copo de cerveja com um suspiro desanimado.
- Fazer o quê ?
- Ações de desautohipinose ...
- ???
- Beijar, por exemplo ...
- Me perdi ! - a expressão indefesa do Rodolfo era reforçada pelo “bigode” de espuma.
- Ta vendo aquela garota ali, blusinha de seda, sem sutiã, cara de gerente financeira ? – Jailton balançou a cabeça em direção a uma mesa onde duas mulheres particularmente bonitas e bem vestidas conversavam com ar sério. Veja só ...
Jailton levantou-se e, vestido de seu sorriso maroto-ingênuo caminhou a passos lentos e determinados em direção à mesa.
A mistura de lâmpadas incandescentes e frias, refletidas nos detalhes de bronze do bar que já havia sido um restaurante sofisticado nos bons tempos, fotografava um quê de cinema eurpeu.
Rodolfo assistia em slow motion.
A garota captou o movimento com um olhar rápido e caprichou na empáfia, sem, contudo, intimidar Jailton que prosseguiu até deter-se ao lado da mesa, ainda sorrindo, buscando o contato direto com os olhos da vítima.
A amiga parou de falar. Ambas voltaram-se para Jailton que sustentou o olhar da garota, desarmando-a gradativamente.
Sem dizer nada, Jailton deu o último passo em direção à mesa e inclinou o corpo, aproximando-se como se fosse contar um segredo.
A garota, olhar capturado, demorou alguns segundos até perceber o que estava acontecendo.
Subitamente alarmou-se, mas já hipnotizada, tudo que pode fazer foi esboçar um débil “não ...” com um olhar infantilmente assustado.
Jailton murmurou um categórico, mas suave, “sim” e, sem desviar o olhar por um segundo sequer, encostou seus lábios nos dela, colocou a mão direita em sua nuca e beijou calma e inexoravelmente.
Atônita e tensa no início, a garota foi relaxando perceptivelmente na cadeira e correspondeu ao beijo com timidez.
Jailton afastou-se, ainda com o mesmo sorriso.
- O que foi isso ? – a garota perguntou, voz trêmula.
- Um beijo... – Jailton respondeu - ... só um beijo. Um presente meu para você, e seu para mim.
Tomou a ponta dos cabelos longos da garota, deixou-os escorrer entre os dedos, deu sua famosa piscadela acompanhada de um movimento de beijo à distância e afastou-se sorrindo, como se fossem velhos amigos que haviam se reconhecido e cumprimentado.
De volta à mesa, encontrou um Rodolfo pasmo.
- O que foi isso ???
- Um beijo, Rodolfo... só um beijo. E por tão pouco, ela já não será mais a mesma mulher.

Inexorável (pensamento da manhã)

Para quem está acompanhando as digressões sobre a teoria evolucionista no Assertiva, sugiro a leitura da última postagem do Rodrigo no Dysfemismo (links ao lado).
Inspirado em ambos e pelo licor 43, parí:

"Somos como os elétrons dos átomos das moléculas da batata.
Não temos consciência, movimentamo-nos aleatoreamente com falsa liberdade mantendo-nos confortavelmente próximos de um núcleo conhecido, e deixar de contribuir para a existência da batata não é uma opção."

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Parem as máquinas ...


Mas não a do café, que esta é indispensável !
A notícia, relevante por sua natureza sócio-cognitiva, é o comentadíssimo encontro entre os editores do Assertiva e do Arguta Café, dois ícones da blogsfera reconhecidos pelos leitores pela frequencia altamente qualificada.
As personalidades exuberantes, acompanhadas de seus corpos algo desgastados pelo tempo mas ainda em boas condições de uso, foram vistas por não por transeuntes (já que estavam dentro de um restaurante) mas por saladuntes (que untavam suas saladas com as diversas marcas de azeite disponíveis no local).
Pela duração do almoço dir-se-ia que o fenômeno da expansão lateral e projeção abdominal de certos indivíduos do sexo masculino jazia explicado.
Fontes próximas, entretanto, confirmaram que o entusiasmo dos blogueiros pela conversa foi maior do que pela comida, com a possível excessão das empadas de palmito.
Comenta-se que não houve qualquer esforço para desestruturar a conversa, que derivou multidimensionalmente, salpicada de menções às musas dos respectivos blogs, planos alternativos de existência e pedais de efeitos para os Mutantes.
A providencial ausência de caroço na azeitona da empada não foi objeto de discussão, mas mereceu um meneio de aprovação de pelo menos um dos presentes.
De produtivo para os frequentadores dos espaços cultivados pelos editores vale mencionar o nascimento de um projeto comum, ainda secreto, que será divulgado sincronamente nos próximos dias.
Também ocorreu a pelo menos um dos presentes que esse encontro deveria ser repetido no futuro, com a presença dos frequentadores de ambos os blogs, no que poderíamos chamar de blog-hour.
Segundo eu, que não quis me identificar, os editores deverão aguardar manifestações expontãneas dos frequentadores.
(direto da redação do Arguta Café)

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Para constar ...

Companheiros e companheiras ...
Hoje, às 16h30 da tarde, o Arguta Café recebeu seu visitante de número 5.000, na esteira do que já havia ocorrido com blogs melhores (como o Assertiva) há alguns dias.
Temo tratar-se de uma pandemia, já que o cujo dito é Maranhense, vindo sabe Deus donde. Olhou, não gostou do que viu e, como diria minha avó, pinicou-se.
De todo modo somou.
Mas o importante não é a quantidade, mas sim a qualidade das relações (como querem acreditar as mães modernas). E eu estou muito feliz com os frequentadores do Café, gente da melhor qualidade.
Beijos para todos ...

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Homilia e a Odisséia


Uma amiga minha manifestou seu descontentamento com o padre de sua paróquia, justificando-se pelo alto conteúdo político de suas homilias.
Eu, que frequentei mais a igreja adventista do que a católica quando pequeno, achei que era melhor perguntar o que seria uma homilia, antes de concordar com a crítica.
Descobri, então, que homilia (cujo significado é algo como "conversa com a família") é o discurso feito pelo padre após a leitura do evangelho, com o objetivo de auxiliar a interpretação e a compreensão pelos fiéis.
A queixa da minha amiga era, portanto, válida. O PT, o PSDB, o PMDB e outros nanicos deveriam ser deixados fora disso.
Interessante é que descobri também uma extensão de sentido, pejorativa, apontada pelo Houaiss. Homilia passou a significar "dicurso moralizador, longo e enfadonho".
Culpa dos padres católicos que, mal preparados para os tempos de hoje, acabam por transformar a missa, que deveria ser um momento de experiência religiosa (um encontro com Deus) em uma coisa moralizadora, longa e enfadonha.
Não frequento a igreja católica com regularidade. Mas entre casamentos e batizados, tive a chance de assistir um número razoável de missas. Algumas foram inspiradoras. A maioria, de fato, enfadonhas.
Aí, traço um paralelo com as escolas e os programas de treinamento das empresas.
Esses eu frequentei e frequento com assídua regularidade.
E, aqui entre nós, amigos do Arguta, quase sempre alterno entre a luta contra o sono e a tentativa de acalmar a ansiedade gerada pela sensação de perda de tempo.
Fiquei conhecido na faculdade por dormir em sala de aula.
Com o tempo, acabarei ficando famoso por dormir em congressos, reuniões e treinamentos.
De um modo geral, esses são momentos de homilia e, por extensão de sentido, também longos, enfadonhos e dogmáticos.
Programas educativos (aulas de cursinho à parte) são, por extensão da extensão de sentido, uma Odisséia (viagem de volta para casa de Ulisses - Odisseu - após a guerra de Troia). A gente não vê a hora de chegar em casa, mas demora para caramba e tem uma porção de coisa chata pelo caminho.
Rubem Alves disse certa vez que quem não é educado precisa ser seduzido (numa carta ao Roberto Marinho - TV Globo - falando sobre seu papel de Anjo Engravidador)para, então, ser educado.
Essa é, por extensão elástica de sentido (eu gostei dessa história), uma questão Homérica. Professores de cursinho adotam a sedução metamorfoseada em alegorias circenses. Profissionais de educação mais puristas discordam, talvez preocupados com o resultado da influência de Afrodite sobre Páris.
E eu, se não estiver interessante, durmo.

domingo, fevereiro 18, 2007

Pensamento da madrugada em Orlando

A diferença entre o sonho e a realidade eh que quando estamos sonhando nao lembramos da realidade. (Soneca)

O que deve fazer um sujeito que nao gosta de mudancas, mas nao consegue conviver com a mesmice ?
E se ele opta pela mudanca, tem dificuldades para conviver com a sensacao de perda do que tinha. E se nao opta, tem dificuldade para conviver com a sensacao de perda do que nao vai ter.
Certamente, um tipo assim deve procurar um psicologo, pois nao conseguem conviver com a realidade e as frustracoes inevitaveis decorrentes de suas escolhas.
Mas o que eh a realidade ?
Os parques tematicos de Orlando (FL-USA) pretendem representar a fantasia.
A realidade observada eh alguns milhares de pessoas em filas para investir seu dinheiro em alguma coisa quem alguem definiu que deveria ser divertida (pareco meu filho Rodrigo escrevendo).
Os brinquedos mais procurados sao os simuladores, que oferecem a experiencia de contato com a realidade virtual. Sim, eu disse (e eh como se diz) REALIDADE VIRTUAL.
O espagueti que jantei hoje no Disney Quest era realidade virtual. Parecia espagueti com molho de tomates e queijo ralado. Mas nao tinha gosto de nada (lembram do 2001 - Uma odisseia no espaco ?).
Claro, havia fila para comprar no simulador de espaguetes, como em todos os outros simuladores do edificio.
Jah o show do Cirque du Soleil era bastante real, embora fantasioso. Nao havia simulacao. Tudo era lindo e real, embalado por melodias encantadoras e vozes liricas.
O numero mais aplaudido foi o das criancas chinesas. Pequenas meninas (10 anos ?) fazendo malabarismo com carreteis e cordoes. Nao aplaudi. Nossos meninos de rua ja fazem a mesma coisa e nao estou certo de que sua realidade eh mais triste do que a das chinesinhas. A realidade: 4 meninas que devem treinar diariamente ateh a exaustao para alimentar o mundo magico que inspira nossa fantasia.
E porque precisamos da fantasia ? Qual eh o problema com a realidade ?
Vi pouca gente realmente feliz no parque. Aparentemente, a pessoa mais feliz era um senhor jah com seus 70 e poucos anos comendo pipoca na beira do lago, espantando o frio (10 graus) sob o sol. O resto estava preocupado em se divertir, trazendo um pouco de fantasia para sua realidade.
Meus caros, a gente precisa aprender a ser feliz com um saco de pipocas.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

RSVP

Lendo o programa do seminario do qual estou participando aqui nos EUA, nao pude deixar de observar os titulos dos palestrantes.
Temos alguns General Managers e Manager Directors. Nao sei bem quem responde para quem.
Tambem temos VPs (vice-presidents) e VP Directors. Tenho a impressao que os primeiros sao importantes mas nao mandam em ninguem. Os segundos parecem ter subordinados executando alguma tarefa e respondendo para eles.
Tambem temos SVPs (seniors VPs), cuja existencia desqualifica o cargo de VP. Nao sei se os General Managers respondem para os Seniors VPs, ate porque tambem encontrei os CEOs, CTOs e CFOs, que parecem muito importantes porque sempre fazem os discursos de fechamento dos paineis.
E tambem encontrei um Chairman of the Board, muito respeitado por todos, mas ninguem responde para ele.
Como sempre que recebemos um convite assinado RSVP significa que devemos responder, fiquei imaginando se seria um Real Senior Vice-President...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Ja passou ...


Para o pessoal que ficou preocupado com a foto anterior ...

Andei pensando ...

Shifting Business

Estou aqui num simpatico congresso da Nielsen em Orlando (FL/USA), postando num computador que nao me permite acentuar as palavras (o que nao chega a ser um problema ... esta mais para solucao, no meu caso).
O tema em discussao nesta tarde foi:

"Digital wireless compressed & enconded mobile integrated cross-plataform media high definition device on demand and the time shfting / place shifting implications."

A solucao para esta questao: shifting business.

domingo, fevereiro 11, 2007

Uma pausa para o café ...

Caros leitores ...
Estarei com acesso restrito à Internet na próxima semana, razão pela qual provavelmente o Arguta Café não será atualizado.
Acreditem ... lamento mais do que vocês.

Saudações,

FF

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Comemoração da 150a. postagem: é uma piada ...

Um fazendeiro resolve colher alguns frutos da sua propriedade. Pega num balde vazio e segue para o pomar. No caminho, ao passar pelo lago, ouve vozes femininas.
Ao aproximar-se lentamente, observa várias garotas nuas divertindo-se na água.
Quando elas percebem sua presença, nadam até à parte mais profunda da lagoa e gritam:

- Nós não vamos sair daqui enquanto você não for embora !

O fazendeiro responde:

- Tudo bem ... não estou aqui para espiar vocês ... vim só alimentar os jacarés ...

Moral da História:
É a criatividade que faz a diferença na hora de atingirmos nossos objetivos.

Crônicas da Vida Empresarial - Personagem 4: Jailton

Jailton é um sujeito incomum.
A primeira vista, cínico, debochado e superficial, dono de uma sinceridade acachapante e pouco convidativa.
Entretanto, vale a pena conhecer um pouco de sua história.
Jailton abandonou a faculdade de Ciências Sociais no segundo ano. Já havia lido todos os livros recomendados até o final de curso e a bibliografia mencionada em cada um deles.
Seu raciocínio verbal e sua impressionante capacidade para assimilar informações relevantes (a seu melhor juízo) faziam dele, já naquela época, um argumentador imbatível.
A motivação para o debate só era superada pela impaciência com o que julgava ser um surto de ignorância coletiva que transpassava o universo acadêmico de ponta a ponta.
Afastou-se dos colegas (uns imbecis), indispôs-se com professores (imbecis diplomados) e concluiu que o mundo acadêmico era um emburrecedor desperdício de tempo.
Partiu para uma vida de decepções. Nada estava a altura de seus ideais nietzschianos.
Namoradas, chefes, companheiros, clientes, sócios em empreitadas quase megalomaníacas, todos terminavam por comprovar sua teoria básica sobre os seres humanos em geral:
- Ninguém tem coragem de pensar por conta própria. A humanidade dita culta questiona o supérfluo e recolhe-se na segurança da reafirmação dos valores pequeno-burgueses. – dizia ele à mesa do boteco, arrematando com o bordão: “Navegar é preciso. Por isso bebo em quantidades navegáveis ! “
Não saberia dizer quando ou porque, mas acercando-se dos 40 anos, um solitário de muitas relações, sentiu-se mudar.
Não foi propriamente uma desistência. Foi mais uma aceitação (ele era como era, e o mundo como sempre fora) e um intento de conciliação.
- Eu e o mundo vamos tentar viver juntos – dizia para os mais próximos, no princípio.
“Relacionamentos baseiam-se em interesses e necessidades. São processos de troca continuada de favores. Recebo do mundo alguns prazeres e pago com minha sinceridade.”
Decidiu, então, que seria essa a forma de contribuir para o mundo: jamais pactuar com a hipocrisia. Jailton fala o que pensa, e devolve ao mundo o que vê, principalmente quando todos ao seu redor preferem fazer de conta que não estão vendo.
- Reflito o mundo, para que o mundo possa refletir ...
Aprendeu, também, a se comunicar utilizando o repertório médio da humanidade. Interiorizou um conversor automático.
Já não sugeria a adoção de medidas profiláticas para evitar contrariedades no ambiente de trabalho. Optava por recomendar algo como “vamos cuidar para não dar merda !”.
Era uma forma de “pertencer”, fazer parte do grupo.
Como também era sua iniciativa de participar dos happy hour no Degas.
A sensação de torturante desperdício de tempo causada pelas longas conversas vazias foi gradativamente substituída por um legítimo interesse pela dinâmica das pessoas e seus relacionamentos. Jailton, finalmente, estava aprendendo a viver nesse mundo.
E foi então que pode descobrir a Estela, sua musa, misteriosa e inatingível.
Jailton percebeu que por trás da aparência superficial, infantil e coquete de Estela, havia uma mulher inspiradora e interessante a ser descoberta.- Preste atenção nos olhos, Rodolfo, não nos peitos ... – comentou certa vez. Aqueles peitos fazem parte de uma estratégia disruptiva. E aquele ar de gata no cio também. Ela sabe que a gente só consegue usar uma cabeça de cada vez ...

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Uma poesia para encerrar a noite...

Entrei no blog na minha mãe (sim, ela tem um blog) e não pude evitar: roubei uma poesia !

Obrigada, meu Pai

Obrigada, meu Pai, por permitir
Que eu fosse odiada assim...
como se eu fosse forte!
E devesse ser temida. E tivesse poder.
Foi lisonjeiro, Senhor!
Mas ( perdoe-me a ironia ),
Tanto doeu,
Que eu não quero ser mais eu.

(Zuleica Seabra Ferrari/SP - julho/1987)

domingo, fevereiro 04, 2007

Pensamento de domingo na praia ...

Elogios motivam à ação; críticas, ao pensamento.

Crônicas da Vida Empresarial: Dalton e o Dr. Almeida Passos

Dalton é o segurança do Dr. Almeida Passos, vice-presidente da empresa.
Sujeito de poucas palavras, olhar penetrante e físico discretamente imponente.
Pele morena como a de certas castas hindus, cabelo liso e grosso, penteado para o lado e aparado curto, mas cheio. Traços fortes, olhos redondos, nariz grande.
- Cafuso ! – adivinhou noutro dia o Rodolfo, deixando confusos os mais jovens do escritório que desconheciam essa “etnia”.
E falando em castas, Dr. Almeida Passos era um desses que acreditava que a diretoria era uma casta superior, e mantinha uma solene distância dos subalternos.
Como conseqüência inevitável, multiplicavam-se as histórias sobre sua pessoa.
- Conheço o tipo ... capacho da mulher – vaticinou Jailton, durante o happy no Degas.
- Ela é bem mais jovem do que ele ... e dizem que tem um caso com o Dalton – deixou escapar Estela depois de algumas cervejas, com um inesperado suspiro que provocou olhares de interrogação ao redor da mesa.
A verdade é que pouco se sabia desses dois personagens, além de boatos que incluíam a própria Estela, potencial amante do Dr. Almeida Passos e, depois daquele suspiro, também do segurança.
- Ontem eu vi o seu Dalton saindo com a Dona Constância – comentou Marcio Alberto, o office boy do departamento.
- Ontem ?!? A que horas ? - quis saber prontamente o Jailton.
- No final da tarde. E estavam com pressa. Seu Dalton saiu cantando pneu.
Jailton trocou um olhar de cumplicidade com o Rodolfo do outro lado da mesa.
A imagem da Mercedes branca do Dr. Almeida Passos, dirigida pelo Dalton em companhia de Dona Constância, cantando pneus no pátio da empresa era, no mínimo, novelesca.
A semana tinha começado com um longo discurso do Dr. Almeida Passos no auditório, para todos os funcionários.
Óculos na ponta do nariz e texto na mão, digladiou-se longamente com o microfone enquanto imaginava inspirar e motivar a equipe a alinhar-se com a missão e os valores da empresa.
Rodolfo, de cabeça baixa e ar de enfado, sentado na penúltima fila, comentou para quem quisesse ouvir:
- Façam o que eu digo mas não o que eu faço ...
Ninguém riu. O caso era mais para chorar.
Dr. Almeida era um obscuro diretor de divisão que havia chegado à vice-presidência por um golpe de sorte, após o súbito falecimento de seu antecessor. Sua velha amizade com o fundador da companhia, já aposentado, valeu a recomendação do diretor de Recursos Humanos para ocupar interinamente o cargo, enquanto procuravam alguém no mercado.
Seu primeiro ato ao assumir a vice-presidência foi demitir o diretor de Recursos Humanos e promover uma jovem gerente, que prontamente o adotou como mentor.
Tendo o controle da área, e considerando que o diretor financeiro não queria confusão para o seu lado porque também estava para se aposentar, perpetuou-se no cargo.
Dalton era o responsável pela segurança da unidade dirigida pelo Dr. Almeida Passos. Ao ser guindado para a vice-presidência, decidiu trazê-lo como segurança particular. Na prática, era seu assessor e homem de confiança.
De confiança apenas do Dr. Almeida Passos, porque todos na empresa temiam o Dalton.
- Aí tem truta .. aí tem truta ... – repetia Jailton com uma freqüência maior do que seria recomendável.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Pensamento para o final de semana

Koan: Porque um homem não vê sua imagem refletida no espelho ?

Crônicas da Vida Empresarial:- Rodolfo e Jailton fofocam ...

Num canto da sala, ao lado da mesa do Jailton, Rodolfo jazia em pé, incrédulo.
- Não me diga, Jailton ...
- Agora já disse. Ela mesma, saiu alteradíssima.
- Mas justo ela, nosso baluarte do equilíbrio emocional.
- É ... a Tancinha tava trincada ! – Depois daquela novela, Jailton passara a se referir à Dona Constância dessa maneira jocosa, por “similaridade de ancas” (sic).
– Algo deve ter acontecido.
- Algo sempre acontece, Jailton. O Universo vive em constante movimento.
- Algo grave, eu quis dizer...
- A gravidade não é uma qualidade do fato em si, é uma atribuição psico-emocional, uma projeção ...
- Pôrra Rodolfo, dá para parar de filosofar e continuar com a fofoca.
Embora fosse um declarado admirador do Rodolfo, aliás o único colega de escritório que merecia seu verdadeiro respeito, Jailton não era exatamente apaixonado por pensamentos metafísicos. Segundo ele, a metafísica era um engodo. A palavra prometia sexo explícito mas, na prática, tratava-se de masturbação mental (sic, again).
- Ta, ta ... mas como foi isso ?
Jailton inclinou-se na cadeira se aproximando de Rodolfo e sussurrou.
- Ela recebeu um telefonema. Não deu para ouvir o que estava falando. Ficou pálida, gaguejou ... parecia que estava com medo de alguma coisa.
- Você não ouviu nem uma palavra ?
- Frases soltas ... “você não pode”... “eu não vou” ... “isto não está certo” ... “de novo não” ...
- Muito estranho ...
- Aí ela disse algo como “está bem, estou indo para aí “. Desligou o computador, pegou a bolsa e saiu como se estivesse carregando o mundo nas costas.
- Será algum problema com a família ?
- Nem por um cacete, Rodolfo. Não quadra. E você precisava ter visto o olhar dela. Distante, gelado ... um misto de ódio e resignação. Nunca vi a Tancinha assim...
Jailton tinha um especial talento para perceber as emoções das pessoas pelo olhar, o que explicava, em boa parte, seu sucesso com o público feminino.
- Olá meus queridinhos ... Fofocando ?
Compenetrados na conversa e distraídos com o mistério, eles não haviam percebido a aproximação da Estela.
- A tarde acaba de ganhar um outro colorido com a chegada do sol ... – Jailton sempre pensava rápido nessas situações.
- Não vem não, Já ... – Estela lançou um daqueles sorrisos sacanas irresistíveis. – Te conheço desde outros carnavais !
- Pois é, e nem no Carnaval ... Aliás, quer ir para a praia comigo no próximo ?
- Nem pensar, meu bem ... Mas aceito um café se você pagar ...
- Ta legal ... vai passar um batom nessa boquinha linda que hoje eu estou masoquista. Em dois minutos eu acabo a conversa com o Rodolfo. Estourei o orçamento de novo e ele está me dando uns toques.
- Rodolfo !?! Esse Jailton ainda vai te levar para o mau caminho. – Estela deu uma piscadinha charmosa para o Rodolfo, insinuando que aprovava a potencial degradação moral do filósofo e se afastou em direção ao banheiro.
- Depois a gente continua o papo, Rodolfo.
- Ta, mas vamos ficar de olho. Ela pode estar precisando da nossa ajuda.
- Se ela precisa de ajuda eu não sei, mas eu não vou conseguir dormir direito enquanto não descobrir o que a Tancinha está escondendo.
- A curiosidade matou o gato, Jailton.
- Mas ele deve ter se divertido bastante antes ! Agora deixa eu tomar café com a loirinha. De batom vermelho e sem sutiã... É hoje que eu infarto !!!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Pensamento da madrugada

A justiça é a conveniência do mais forte.
(Trasímoco, sofista grego)

- e não é que esse pensamento irritante sobriveve aos séculos ?!?!