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sábado, fevereiro 28, 2009

Ortografia e problemas com autoridade

Não tenho vocação para ser "politicamente correto". Tampouco faço questão de meter o pé na jaca com frequencia. È o caminho do meio, diria minha querida amiga Udi Tarora.
Algumas vezes, faço postagens ou comentários incomodos, desafiadores ou polêmicos.
E, de vez em quando, alguém fica bravo. Nada mais normal.
O curioso é que, com bastante frequencia, quem se sente agredido resolve tentar me agredir apontando meus erros ortográficos (talvez por falta de melhores argumentos, vai saber ...).
Nada mais fácil. Ortografia nunca foi meu forte, particularmente naquele ramo chamado de "ortografia etimológica", que se opõe a "ortografia fonética" por oferecer a possibilidade de representar um mesmo som de formas diferentes, dependento da etimologia (origem) da palavra.
Aprendi a ler e escrever aos 4 anos, sozinho, observando minha mãe ensinar a Geralda (uma moça analfabeta que trabalhava em casa) e lendo a cartilha "Caminho Suave" às escondidas.
Logo, construi minhas próprias hipóteses sintáticas, semânticas e morfológicas.
Obviamente, as hipóteses ortográficas que construí foram fonéticas.
Traduzindo, não pergunte se alguma coisa se escreve com "s" ou com "z", com "g" ou com "j", com "lh" ou com "li" ou outras coisas tão complicadas como essas.
Com o tempo, desenvoli algumas técnicas para contornar esse problema.
Para saber se a palavra companhia deve ser grafada com "nh" ou "ni" (tenderia a escrever compania, que é como se costuma pronunciar), lembro da palavra "companheiro", dela derivada e sobre a qual não tenho dúvidas.
Recentemente a Ti me ajudou com "quis" e "quiser", que sempre grafei com "z", apontando enfaticamente que são escritas com "s" de "sexo". Logo, se eu quiser, tem que ser com "s".
As hipóteses semânticas se auto-corrigiram com o tempo, pela leitura
E a análise sintática, parafraseando Rubem Alves, é mesmo inútil.
Meus filhos estudaram numa escola construtivista, o Vera Cruz.
Ortografia, por lá, é a última coisa com que se preocupam em relação a um texto. Coisas da modernidade. O mais velho, Rodrigo, com uma privilegiada memória, não comete erros ortográficos. E se tiver alguma dúvida, provavelmente a solucionará por conhecer a origem do radical da palavra.
O mais novo, Guilherme, foi vítima do ensino moderno. É tão bom em ortografia quanto o pai.
Enquanto escrevia essa postagem tive um insight.
Creio que a relação das pessoas com a ortografia (a forma "correta" de escrever as palavras) está associada à sua relação com "autoridades".
Para pensar...

30 comentários:

Amélia disse...

Escrever bem nunca foi meu forte... A nova tecnologia de corretores ortográficos ajuda muito!!!

De qualquer forma, acredito que cairá em desuso a forma "correta" de se escrever e as novas gerações optarão pela forma "prática" de escrita... Vc=você, q=que e assim por diante...

Mas, como viver em sociedade exige regras, estas sempre existirão e para alguns será mais importante seguí-las, para outros, menos...

Portanto, para mim, a ortografia está relacionada à experiência individual, seja no aprendizado, seja na necessidade de usá-la para o bem e para o mal...

Ƭ. disse...

oi, flávio,

não fiquei "brava" com vc, respeito a sua opinião, qualquer que seja ela

simplesmente exerci meu direito de resposta

desfeitos mal-entendidos...

forte abç,

teresa

Anônimo disse...

Um idioma como o nosso, tão complicado em sua gramática tradicional e transformacional, não poderia fazer por menos em termos de ortografia. Um grande e sábio amigo do meu avô já dizia, na época dele (e põe tempo nisso!), que deveríamos escrever como falamos (citando o seu "quiser", que tem som de "z" e, portanto, deveria ser escrito "quizer"); até publicou um livro a respeito, mas o consideraram um louco. Nos meus tempos de faculdade, tive aulas da chamada Gramática Histórica e lembro-me bem de como a própria professora questionava o fato de a palavra "folha" ser escrita com "lh" e "família", apenas com "l" - se ambas se pronunciam de forma igual, como saber a grafia correta? Adivinhando?
Para alguém que, como você, não deve ter feito Letras (senão, não caberia aqui toda essa discussão), escreve muito melhor do que muitos professores por aí que se dizem letrados. Seus textos são super criativos, gramática e ortografia admiráveis - deslizes (será que com "z" mesmo?) são permitidos e admissíveis. So, don't worry, be happy!

PS.: Para uma visita que se dizia "de passagem, rápida e intrometida" no meu primeiro comentário de hoje, até que está demorando... Se quiser, pode colocar uma vassoura atrás da porta...

Suzana disse...

Um sábio professor mestre da USP a quem reservo o direito de declinar o nome, sempre disse em suas aulas:
- As regras são importantes, mas o mais importante é conseguir comunicar-se.

bjs F.F.

Anne M. Moor disse...

É isso aí meu amigo... Escreveu e disse com toda propriedade!!

Escrever bem é muito mais do que ortografia!!!! Escrever bem é lógica e poesia intercambiada. É expressão. É ter o que dizer. E vc, meu amigo, escrever muito bem.

Beijosssssssssssssssssss

Flavio Ferrari disse...

Teresa: não foi vc quem ficou brava. Foi "rm", que, aliás, inspirou esse post, não por haver sido o primeiro, mas por ser o mais recente.

Flavio Ferrari disse...

Ti: como disse ontem, inteligente, elegante ...

Flavio Ferrari disse...

Vegas: nada de vassoura ... é um prazer te receber. Espero que fique por aqui enquanto achar interessante.

Flavio Ferrari disse...

Suzana: tks pelo apoio. Estou 100% de acordo, mas sou suspeito.

Flavio Ferrari disse...

Anne: vc é sempre muiiiito gentil. Bj.

Anne M. Moor disse...

Flávio,
Não é gentileza não.
É saber ler
:P

Udi disse...

Você é genialmente arguto! Esse café não poderia ter outro nome: é a qualidade da sua ânima.

Falando da ortografia propriamente dita: Paulo Freire, que aprendeu a ler e escrever sob árvores no quintal de sua casa e é o precursor do construtivismo (tudo de orelhada, hein gente!) também é o precurssor da idéia de que, num país como o nosso, onde o analfabetismo ainda existe, a correção da escrita é uma forma de discriminação. Mas não creio que este seja o caso do rm. O que houve ali foi apenas um mal-entendido... aliás, aqui mesmo, neste café, já nos usamos desse termo grafado incorretamente para "criticar" um comentário agressivo.

...caminho do meio? seilá... é o caminho prá onde o coração aponta.

Cris_do_Brasil disse...

Não não, não quero comentar as idiotices, senão dou importância a quem não tem importância e deixo de dar importância a quem tem.

O espaço deve ser utilizado para transgredir regras e não ter medo do que vai escrever, com a imaginação e bom senso ou a falta dele, mas de forma inteligente, sem isso, nada feito. E isso vc faz de maneira singular e bótema. Parabéns por ter sido um menino prodígio.

Beijocas, esplendorosa semana!

Cris_do_Brasil disse...

Sobre o coment no cafofo, pode esculachar com Gulasch hohoho.
Sabe o que é mais divertido? Eu sou uma espécie de vegetariana, nao como carne, quanto mais Gulasch, argh!!!!

Ernesto Dias Jr. disse...

Ô Udi:
Obrigado por me dar mais uma razão para achar Paulo Freire e seu método uma bosta.
E Flavio, não se preocupe em aprender a escrever direito. Assim que a gente consegue vem um Evanildo Bechara qualquer e muda tudo.

Cris_do_Brasil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cris_do_Brasil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cris_do_Brasil disse...

Flávio, passei denovo ver se tu tinha respondido meu coment, e dei de cara com essa verdade mais que bem lembrada, dita por seu amigo Ernesto.

Nesse momento tô com a guia da reforma ortográfica em maos, embasbacada, tô frita. Qdo voltar ao Brasil nao sei mais nem escrever!! rs
Fui!

Flavio Ferrari disse...

Pô Udi ... vc é a única oriental com quem tenho convidido regular e prazeirosamente no momento ... tenho que referenciá-la quando faço menção à filosofia oriental ...

Flavio Ferrari disse...

Cris: tks novamente pela visita e pelo elogio. Mas prefiro o Batman como modelo.
Também sou semivegetariano e acho que o melhor do Gulasch é a páprika.
O Ernesto acaba de se recuperar de um enfarte e colocar dois "stents" nas coronárias.
Está de excelene humor.
Bj

Flavio Ferrari disse...

Ernesto, meu irmão ... você voltou !!!
Estava me preparando para visitá-lo no hospital qdo recebi o mail do Walmir informando que vc havia recebido alta.
Levou alguma enfermeira para casa ?
Pode ser útil para passar o Hirudoid na região de acesso à artéria femural...

Udi disse...

...mas, Flavio, se pelo menos eu tivesse um sobrenome yoshimura, nishikawa, fujyiama, até valia citar meu nome lá né?

"prazer" cê escreve direitinho, né?
;)

Cris Animal disse...

Oi Flávio...por essas e por outras sempre acho melhor conversar com os animais. Nunca muda a linguagem e a ortografia é inexistente....escrevem com os olhos....rs
Simples assim!
Amei a idéia do encontro com "jogos de salão!
Na verdade, um amigo blogueiro e eu estávamos tentando combinar um encontro com o pessoal de Sampa depois do carnaval. Não conheço ninguém e sei que muita gente já se conhece e em outras cidades, os blogueiros vivem se reunindo.
Acho que um encontro em "massa".....rs....se fosse o caso, seria melhor em lugar público e com temnpo pra gente conversar muuuuuuuuito.
O que vc acha?
Vc já fez algumas reuniões, conhece um pessoal ...
O convite está aceito, mas queria reunir o maior numero de pessoas de Sampa e arredores p/ uma blogada cara a cara....rs....

Me ajuda?
Devolvo a bola.....rs

beijo pra vc!

Flavio Ferrari disse...

Cris: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diria o falecido Vicente Mateus.
A gente vem realizando encontros relativamente pequenos, onde existe um núcleo de conhecidos e, a cada vez, alguns novos agregados.
Combinando e confirmando por e-mail e/ou telefone. Reconfirmando na véspera.
Com um número mínimo de "comprometidos" a coisa acontece.
Mas acho uma ideia interessantíssima realizar um "encontrão".
Teria que ser preparado com pelo menos um mês de antecedência, num lugar "especial" com flexibilidade para acomodar um número bem variável de pessoas.
Ai juntar uns 3 ou 4 blogueiros que tenham vínculo suficiente com parte de sua "audiência" para motivar a presença.
Eu topo tentar.
De início, sugiro realizar no Blackmore, um bar de Rock em Moema.
Já "fechei" o bar uma vez para uma festa com amigos e levei a banda do meu filho (Kiwi Dilemma) para tocar. Foi bacana.
Cabem umas 150 pessoas no lugar, mas com umas 60 já fica divertido.

Anônimo disse...

achei muito inteligente! vim conhecer, e voltarei sempre.

bjosss...

Érica Martinez disse...

Bom... Sou ultra neurótica com a ortografia correta, sei lá, mais uma das manias virginianas, até porque, Português era uma das poucas matérias em que eu ia bem na escola. No mais, alguém muito sábio já disse uma vez, "para um bom entendedor, meia palavra basta", acho que os seus erros acabam fazendo parte do charme. (ai, rasgação de seda...)

Ƭ. disse...

Flávio!!!!

a Cris do Brasil falou em "o espaço... transgredir regras..."
nossa!! é justamente isso!!

a genta esta aí, na luta, matando um leão por dia, sobrevivendo a trancos e barrancos e dando conta do recado!

que coisa mais linda que acordar todos os dias e se descobrir VIVO?!!


ah... tem coisa melhor que isso não..

convenções ali e aqui, etiquetas, regras e coisa e tal...


tudo isso é lixo!!

bjo no coração!


ps:

espero ser convidada para o tal encontro e claro... dessa vez, quem sabe,
não vou mesmo?! hein?!


^^

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Dor de cotovelo de quem não escreve tão "bacaninha' quanto você... Certeza!
Confesso que morro de inveja pra quem não dá a mínima pra escrever assim ou assado, simplesmente dá o recado. No fim das contas, concordo com o professor da Susana, o importante é se fazer entender.
Beijo!

Cris Animal disse...

Yesssssssssssss........gostou da idéia!
Acho que seria muito legal mesmo. Moema é um bairro conhecido e pra mim então...perfeito.Sou vizinha !

Quer dizer então que posso ser a nova agregada entre seus amigos? .......rs
Andei vendo umas fotos de vcs no boliche. Adorei. Pra falar a verdade, música, bate-papo e coisas mais agitadas tem a minha cara, mas pode ser boa a tentativa do jogo.

Nossa....escrevi muito pra vc. Deve estar cansado de "ler-me" por hoje......rs

beijão

Anônimo disse...

Flávio, nada mais perfeito:
"a análise sintática, parafraseando Rubem Alves, é mesmo inútil."
é inútil e é tornada útil por uma "autoridade" da língua soberana, como se isso fosse o mais importante... viva a semântica! Deixemos a ortografia e a sintaxe em paz nos livros bolorentos da estante! Palavra de lingüista!
Bjs