Páginas

quinta-feira, junho 30, 2011

Lady Di das Virtudes

Dionísia, uma descendente de avôs cafusos do interior da Bahia, mora desde pequena numa casa de construção simples, quase toda de alvenaria, no Vale das Virtudes, alí mesmo no Capão Redondo.
Mulher determinada, de poucas palavras e atitudes generosas, ganhou o apelido carinhoso de Lady Di pelo tanto que ajuda a comunidade.
Dionísia não era loira e linda como sua versão inglesa, mas também havia se casado com um príncipe, o Carlão dos Pipocos, que tinha recebido essa alcunha depois de haver sobrevivido a três balaços recebidos quando a polícia estourou sua primeira boca de fumo.
Carlão era magro, alto, cabelo farto e grosso sempe penteado para trás às custas de gel Bozzano.  Gostava de usar calças de linho branco e camisas de seda preta, sua marca registrada.
Quando perguntavam para Dionísia como é que ela tinha conquistado o melhor partido do bairro ela sorria de lado, entreabrindo os labios grossos, e dizia:
- Eu sei do que ele gosta ....
Essa era a grande virtude da Di, que sabia agradar com eficiência e sem exageros.
Por isso Carlão contribuia com gosto para suas obras sociais.  Ganhava o carinho da mulher e o reconhecimento da comunidade.
Carlão e Lady Di eram o casal Real da Vila das Virtudes.
E foi assim até que Carlão capotou com seu carro enquanto fugia da perseguição de policiais, na saida do Tunel Sebastião Camargo, em agosto de 97.
Faleceu no hospital, ninguém sabe dizer bem como e nem de quê. 
Di não se casou de novo.
- Não ponho ninguém na minha cama, no lugar do Carlão ... - ela afirma categórica.
Mas dizem as más línguas que não é só por solideriedade ao falecido que o Camilo Velho, herdeiro do posto do Carlão, visita a viuva toda semana para levar pessoalmente a contribuição para suas obras.
Embora ninguém aceite bem o Camilo como novo rei, naquele pedaço de terra, o destino foi generoso...
A Vila das Virtudes ainda tem sua Lady Di.

(as histórias que deveríamos contar...)

3 comentários:

Ane Sik disse...

ADOREI!!!

Batom e poesias disse...

Saber agradar é fundamental e pelo jeito a princesa do Capão Redondo era uma sábia.
Crônica super divertida, Flavito.

bj

Rossana

Luna Sanchez disse...

Gostei demais disso, Flavio!

Que ninguém nos ouça : gel Bozzano tem um cheiro bom, né?

Rs

Um beijo.