Mesmo sem nenhuma intenção de ser "miss", resolvi reler "O Pequeno Príncipe" (Antoine de Saint-Exupéry).
É mesmo um livro bacana, precursor dos manuais de auto-ajuda romanceados e pioneiro na preocupação com o meio-ambiente.
Algumas idéias surpreendem pela beleza da simplicidade, como a história das árvores que precisavam ser exterminadas (os baobás) para evitar a ruína do planeta do Príncipe, ou a do Rei que, para garantir a obediência, cuidava-se para dar ordens que fizessem sentido e ainda a do Acendedor de lampiões, sujeito a um regulamento imutável num mundo que já havia mudado. Naturalistas e Gestores de empresa poderiam aprender alguns fundamentos importantes com essas parábolas.
As rápidas passagens do Vaidoso, do Bêbado, do Empresário e do Geógrafo são frutos, provavelmente , da impaciencia do autor com a obveidade da estupidez.
Mas é na famosa passagem da raposa que a história dá uma escorregada. Numa sacada brilhante, a raposa explica ao Príncipe que o que torna sua flor importante é o tempo que dedicou a ela. Mas, na sequencia, lhe dá seu atestado de morte: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Essa frase é uma das mais famosas do livro, talvez pela imagem lírica ou pela idéia sedutora.
Entretanto, reflete o que talvez seja o maior problema dos relacionamentos afetivos: a expectativa do "cativado" de que aquele que o cativa assuma a responsabilidade por sua felicidade.
Ainda que a passagem seguinte, da água do poço, seja lindíssima e o final do livro emocionante, fica difícil aceitar essa mensagem tão equivocada, transformada em verdade poética pelo contexto.
O Príncipe de Exupery nos cativou, mas não pode ser responsabilizado por nossa interpretação.
Que conste, a seu favor, haver colocado essas palavras na boca de uma raposa ...
domingo, junho 26, 2011
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19 comentários:
oie sou a dona do exoticlic se puder confere meu video aí ficarei agradecida
essa ideia "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" é total pequeno principe, pra crescer e desapegar dessa ideia, seria preciso um Principe Adulto??
Nunca analisei sob essa ótica, Flavito, mas sabes que tens razão?
"Eternamente responsável" é muita responsabilidade, por muito tempo...
Bjs
Rossana
interessante... nunca tinha feito essa reflexão ! tudo que é eterno é "muito grande"... too much !
deixo uma dica de leitura : "O Pequeno Prícipe me disse" de Sheila Dryzun... um monte de gente bacana dando sua versão sobre o livro (Mario Prata, Rita Lee, José Mindlin, Rubem Alves, Pelé, monica Falcão, Guto Lacaz, etc). Além de graficamente lindo, uma delícia de ler... e de saber como essa idéia surgiu !
beijo Flávio !!!
Bom, eu já nem sei mais quantas vezes disse exatamente isso lá no blog, que essa ideia de responsabilidade pelo que os outros sentem é um perigo e um equívoco. Tenho bronca desse livro exatamente por isso.
Há coisas lindas nele, claro, como : "Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz." Gosto quando aborda dedicação e comprometimento o que é muito mais leve e real.
Um beijo.
Ferockxia: já tinha visto e comentado ...
Andrea: melhor sapos que viram principes do que principes que viram sapos ...
Rossana: nem por um minuto ...
Solange: cada momento é eterno em si mesmo ... (pode não fazer muito sentido, mas é impactante)
Luna: você é, decididamente, uma garota inteligente ...
Não, eu nunca quis ser miss e sempre li O Pequeno Príncipe e depois Cartas a uma desconhecida.
Sim, concordo com você, mas que seja essa obra ou outra, a gente sabe que a nossa leitura muda ao passar do tempo.
Beijo!
Na verdade esse livro tem várias leituras possíveis. Eu o adoro e em cada época da vida que li, descobri algo novo, que não tinha visto antes.
Agora a parte do "tu te tornas eternamente..." sempre me pareceu muito romantica, mas pouco prática. Lembro-me até que numa determinada vez pensei: ahh só podia ser uma raposa msm... não à toa Saint-Exupéry deve ter usado essa figura. rsrs
O único eternamente responsável por nós é nós mesmos! E ISSO é uma aprendizagem de uma vida nénão?
beijos gelados de uma manhã gélida!!! :-)
Anne
Existencialista a frase, não?
Ela me fez lembrar de algo dito por Nietzsche (esse não será o texto, mas o contexto): as consequências de seus atos vão seguí-lo mesmo após curar-se do erro.
Leticia e Marcos: essa é uma das belezas dos "escritos" ... o sentido muda com a gente.
Tais: cuidado com as raposas ...
Anne: cadê o verão que não chega ...
Obrigada, moço.
Não vai ter postagem reclamando do frio esse ano, falando no macarrão gelado, no molho do macarrão gelado e tal?
Rs
Um beijo.
dá até um pouco de medo pensar no resultado...
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