Capítulo 1 - Conjuratio
Capítulo 2 - Tons e Cores
Capítulo 3 - Cherchez la femme
Capítulo 4 - Deuses primordiais
Capítulo 5 - Serpente
Capítulo 6 - O despertar
Capítulo 7 - Ascenção
Capítulo 8 - Amor Eterno
Capitulo 9 - Um anjo se prepara
Capítulo 10 - Anima Mundi
Eros estava de volta à sala do templo
primordial de onde, ipso facto, nunca
havia saído. Digamos que sua atenção
estava depositada naquele local.
Se não é fácil compreender a
atemporalidade, mais difícil ainda é conviver com ela.
Os humanos utilizam a linearidade do tempo
para se acostumar com as situações.
Para Eros, temporalmente onipresente, não
existe o “passar do tempo”. Tudo
acontece simultaneamente, da origem do Universo até o seu final.
Sua atenção é o que define o “momento
presente”.
Boa parte da “má fama” de Eros em todas as
épocas se devia ao fato de utilizar a energia sexual para capturar sua atenção
e fixa-la num momento de seu interesse. Fixar
a atenção sem uma âncora externa é um exercício que exige disciplina. E entre a disciplina e o prazer, Eros
preferia o segundo.
A conversa com Gabriel acontecia ao mesmo
tempo em que Eros vivia seus desdobramentos no tempo linear e também todos os
eventos anteriores a esse momento.
E o mais intrigante é que cada ação em cada
instante do tempo linear, modifica a realidade do instante seguinte, de forma
que Eros “existia” simultaneamente em cenários permanentemente mutantes.
Em situações normais Eros simplesmente
ignorava essa particularidade de sua existência. Apenas vivia e deixava viver.
Mas considerando que sua própria existência
estava ameaçada, Eros precisava agir de forma planejada.
Organizar os acontecimentos no tempo linear
de forma a inspirar Gabriel a construir os registros “acásicos” para poder acessá-los
foi, sem dúvida, um golpe de mestre. Com
isso, Eros podia avaliar mais facilmente as possíveis “realidades” que se
colapsariam em decorrência de suas ações.
Ele não era capaz de ler os pensamentos de
Gabriel, mas conhecia os possíveis “futuros” decorrentes de sua concordância
com os planos do anjo.
Vislumbrava Gabriel, livre de suas
obrigações como CEO do seu céu, visitando Sheila e Bianca acompanhado de Celeste, promovendo orgias
sensoriais.
Observava a relutância de Celeste,
doutrinada pelos padrões celestiais de conduta e pouco acostumada à nova versão
libertina de seu companheiro de asas.
Bianca fundaria uma nova seita fundamentada
no prazer e Gabriel faria aparições pirotécnicas durante as festividades
orgásticas, embaladas pelo consumo contínuo de uma infusão de “salvia
divinorum”.
Sheila, sentindo-se abandonada e incapaz de
aceitar a universalidade do amor de Bianca, morreria de overdose.
Os fundamentalistas evangélicos iniciariam
uma guerra santa contra os “novos hedonistas” da seita de Bianca.
A igreja católica, cujo “número um” eleito
de acordo com os planos de Gabriel passaria a defender o sincretismo religioso
como forma de sobrevivência, se omitiria da disputa, acolhendo os fiéis
decepcionados de ambos os lados.
O céu de Gabriel, sem sua liderança e
enfraquecido pela liberalidade religiosa de seus “fiéis” desmoronaria e seria
loteado pelos fundamentalistas, mas o anjo já
estaria acomodado em um agradável recanto intermediário reservado aos
deuses das seitas menores, uma espécie de “roteiro do charme” do espaço
divinal.
Ou seja, Gabriel conquistaria o que
desejava. Deixaria a desgastante posição
de CEO de uma grande corporação celestial para ser dono de seu próprio pedaço
de céu, sem ter que se submeter às aborrecidas políticas e zelar pelo
cumprimento de normas coercitivas de conduta.
Sua religião teria apenas um mandamento: o prazer.
Mais difícil para Eros era avaliar se seu
próprio objetivo seria atingido: revitalizar a “anima mundi”, a alma do mundo.
Em sua condição de existência eterna e
atemporal, Eros havia reconhecido que
todo o Universo era animado por uma única força vital.
Alguns humanos, dedicados a pensar sobre a
existência em diversas épocas, já haviam chegado a essa mesma conclusão por
meio da razão. Hindus, taoistas e
estóicos, com abordagens distintas, professaram essa verdade.
Mas Eros era capaz de sentir essa força e
sabia que sua existência era decorrente da reverberação dela pelos seres vivos.
Sabia que a realidade da qual sua
existência fazia parte era construída pelos viventes, prioritariamente os
humanos, que se apropriavam da anima mundi para construção da realidade de
acordo com suas estruturas mentais.
Precisava focalizar sua atenção nessa
energia e sentir sua oscilação.
E isso exigiria um colossal esforço de
disciplinada concentração ou, pensou sorrindo, de Gaia.
- Nada me deixa mais presente do que
fecundar a Terra .... – disse para si mesmo enquanto saltava no tempo para os
braços da deusa.
10 comentários:
Nossa Flavio!!! Muito Bom!!! A visão da atemporalidade é demais! Adorei!!!
Tks, Paula. Meio complicadinha de transmitir, mas interessante, não é ? :-)
Meu querido- como já disse, vou esperar pelas páginas impressas.
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Saudade docê trem lindo!!! passei pra deixar um beijooo!!!
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saudade daqui... mas pelo visto terei que ler muita coisa. com calma eu comento decentemente. bjos...
& Enfim, acabou-se!; O estoque, de merdas
Oi...
Tem um cafezinho?
Bjas
Rossana
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