Capítulo 2 - Tons e Cores
Capítulo 3 - Cherchez la femme
Capítulo 4 - Deuses primordiais
Naquilo que parecia ser um antigo palácio
grego em ruínas, 4 vultos agitados sussurravam com estranha intensidade.
Uma enorme lua alaranjada iluminava a cena,
ressaltando a beleza dos corpos envoltos por mantos de seda branca.
- - Não temos mais poder sobre os
humanos, Tártarus ... nenhum poder ! – a tristeza parecia transbordar em densas
ondas dos olhos negros de Khaos.
- - Não seja otimista, K... o fato
é que não temos mais poder nenhum sobre nada. A
prova disso é que Gaia já está ficando com pés-de-galinha. – Tártarus jamais
perdoara Gaia por havê-lo trocado por Uranus.
- - Rugas de expressão, Abyss
querido ... – Gaia sabia que Tártarus detestava esse apelido – Ao contrário de
você, eu me preocupo...
- - Estamos “preocupados” há
séculos ! – o rouco sussurro de Khaos fez tremerem as deterioradas colunas do
palácio – E, enquanto isso, aquele embusteiro sem nome e cercado de passarinhos
faz o que bem entende.
- - Anjos, Khaos, anjos ... e você
não pode negar que são bonitinhos ... – Eros era incapaz de odiar quem quer que
fosse – Eu ando pensando seriamente em adotar um par de asas ... você acha que
ficaria bem com elas, Gaia ?
- - Você ficaria lindo até coberto
de espinhos, Eros ... – Gaia sorriu, carinhosamente - ... e, lembre-se de que
fui em que desenhei os pássaros.
- - Linda criatura e criadora
apaixonada .... – Eros suspirou.
- - Vamos parar com esse
lambe-lambe ?! Eu mandaria os dois para
as profundezas dos meus domínios, se o embusteiro não tivesse entregue tudo
para aquele chifrudo ridículo. - os dentes pontudos de Tártarus assustavam até mesmo os deuses primordiais.
Eros parecia particularmente relaxado
naquela noite. Acompanhava os rompantes
de irritação de Khaos e Tártarus com um sorriso maroto, como se soubesse de
algo e estivesse saboreando o momento antes de contar.
- - Eu tenho boas notícias para
vocês, irmãos de infortúnio. Mas, primeiro,
uma pergunta .... Lembram-se de como perdemos o poder ? – Eros decidira,
finalmente, compartilhar as novidades.
- - Não estou afins de lavar roupa
suja de novo, Eros ... Já discutimos esse assunto exaustivamente nos últimos
dois mil anos. Abusamos, fomos
descuidados e, por fim, delegamos demais.
Você bem nos avisou de que não seria uma boa ideia deixar tudo nas mãos
de Zeus e sua equipe de jovens talentos.
Aquele bando de exibicionistas egocêntricos acabou complicando tudo e os
humanos perderam a fé. Presa fácil para
o primeiro embusteiro que aparecesse. – Khaos sempre se referia ao novato como
embusteiro.
- - Esse é o ponto chave, Khaos ...
perderam a fé. E o poder dos deuses é
alimentado exclusivamente pela fé humana.
Sem ela não somos nada. E você
lembra de nossos bons tempos ? Lembra
como foi que conquistamos a fé dos humanos ?
- - Está querendo confete, Eros ? –
Tártarus destilava seu mau-humor habitual.
- - Não, Tártarus ... quero lembrar
que conquistamos a fé dos humanos através do amor. Gaia concebia as criaturas a partir da
energia de Khaos, e eu inspirava o amor universal, o ágape. E você, Tártarus, ia corrigindo nossos erros,
banindo as criaturas que causavam a desarmonia.
- - Ah.... que mundo lindo, aquele
... – foi a vez de Gaia suspirar, enlevada pela memória dos tempos do paraíso.
- - E daí, Eros ? Estamos cansados de saber disso. – os cabelos
negros de Khaos esvoaçavam quando estava impaciente.
- - E daí que o amor é a peça chave
para a conquista e manutenção da fé. Foi
por isso que a equipe do Panteon se deu mal.
Zeus não amava ninguém, os outros deuses só queriam saber de tributos e
aquele moleque, o filho da Afrodite que usava o meu nome, gostava mesmo é de
uma boa suruba.
- - Se arrependimento matasse
.... – Tártaro ruminou.
- - Não mata, mas pode salvar ....
hahaha ... – Eros não conseguiu evitar a piada sobre o discurso dos seguidores
do novato.
- - Eros, Eros ... – Gaia adorava
deuses com bom humor.
- - O fato é que esse novo deus
aprendeu com nossos erros e vem mantendo seu poder centralizado, cuidando de
tudo pessoalmente. Mas isso é
desgastante e, pelo que ouvi dizer, ele anda de péssimo humor não é de
hoje. Há tempos que não visita as
criaturas que herdou de Gaia e nem manda um representante de peso para visita-las. E não há ninguém encarregado de inspirar o
amor por lá. Está todo mundo
sobrecarregado tentando cumprir ordens e manter o controle. O resultado prático disso é que seu modelo
centralizador e autoritário deixou-o completamente desconectado das bases. Sem planejar, ele delegou a manutenção da fé aos
próprios humanos.
- - Hummmm .. vejam só que
interessante ... – Tártarus sorria pela primeira vez em séculos.
- - Resumindo, meus queridos, temos
uma boa oportunidade para retomar o que nos pertence ! – os olhos azuis de Eros
encontraram os verdes de Gaia e uma onda de energia nasceu dos dois, envolvendo
Khaos e Tártarus.
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∞ –––––––
Bianca, sonolenta, abriu a porta do quarto
para Sheila.
Eram 8h00 da manhã e ela havia passado boa
parte da noite dedicada à leitura do livro.
Sheila, ao contrário, havia acordado cedo,
ansiosa para conversar com a amiga.
- - E então, Bi ? Leu ?
- - Uahhhh – Bianca não conseguiu
segurar o bocejo – Lí sim ...
- - E o que sentiu ?
- - Olha ... o livro não é lá essas
coisas ...
- - Isso até eu, que não sou tão
exigente, sei bem .... Mas quero saber o que foi que você sentiu ...
Sheila tomou as mãos de Bianca e a levou
até a cama. As duas se sentaram frente
a frente, de pernas cruzadas sobre o colchão.
- - Me conta, Bi .. mas seja
sincera. É muito importante ! Preciso saber o que você sentiu ...
2 comentários:
Excelente! Nada como um pouco de antagonismo para dar sabor à trama. Engraçado como a coisa caminha para uma síntese de Pecado e Capital com Os Ovos do Dragão. Apesar do telefone de Maria Celeste estar caindo na secretária eletrônica durante o feriado, sou capaz de mudar de ideia e avançar mais um pouquinho...
será que vou ter que ler esse 50 tons?
udi
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