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segunda-feira, setembro 17, 2012

Possibilidades sombrias

Algumas escolas da filosofia Hindu fazem menção à figura de um "registro akashico".
Nesse "local", todas as possibilidades de acontecimentos, do início ao final dos tempos, estão registradas e são constantemente atualizadas em função de cada novo acontecimento que se materializa na linha do tempo.
Entendem os Hindus que esse registro pode ser acessado por nós quando em profunda meditação e conexão com o Universo.
É quando temos a antevisão do futuro, ou de suas possibilidades.
Há momentos em que sinto como se estivesse acessando algo semelhante ao registro akashico.  Percebo as possibilidades de futuro com uma clareza próxima à da "realidade" do presente.
E, ultimamente, ando preocupado com isso.
Vejo a humanidade caminhando para uma cisão entre fundamentalistas/radicais e epicuristas/hedonistas, na proporção de 1/3 para cada grupo, ficando o último terço para o grupo que hoje consideramos como "pessoas normais" (que apenas passam pela vida cumprindo seus "deveres" básicos e seguindo o script padrão da sociedade em que vivem, vez por outra oscilando entre os dois primeiros grupos).
Vejo os radicais perseguindo os hedonistas e, com grande possibilidade, o mundo caminhando para uma nova idade das trevas.
Creio que ainda estarei por aqui, nessa forma atual, para assistir ao começo desse cenário.
Espero estar enganado.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Sacrifícios



Tenho uma certa dificuldade para entender o sacrifício das promessas e das penitências oferecidas para merecer a “graça divina”.  Se você fosse o seu Deus, o que gostaria de receber de presente: dor ou prazer; tristeza ou felicidade; penitência ou amor ?   E se o seu Deus mora dentro de você, estando ao seu alcance acolhe-lo permanentemente com festa e fartura, você escolheria submetê-lo a castigos ? Que tipo de Deus trataria melhor quem renega o prazer ?  Quem determinou que o caminho para a “purificação da alma” (ou “iluminação” ou qualquer conceito equivalente) é o sofrimento ?   O que há de tão abominável na felicidade para que um Deus prefira os sofredores ?
Procure no Google imagens para "angry God" (Deus zangado).
Depois faça o mesmo para "happy god" (Deus feliz). 
Você irá encontrar diversas e expressivas imagens para o primeiro caso mas, até onde "rolei" a página, não há uma única imagem para um Deus ocidental feliz !
Sintomático.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Independência ?

Demorei muito para me dar conta da falácia do "descobrimento" do Brasil.
O local já existia antes da chegada dos portugueses.  Tinha até gente morando por aqui.
Dizem que chamavam sua terra de Pindorama (terra das palmeiras).
Quando entendi que nessa data comemoramos a invasão desta terra pelos nosso patrícios (de quem, aliás, descendo), deixei de comemorar.
Agora, no dia 7 de setembro, celebramos a independência.  Mas não foram os nativos que se libertaram dos portugueses nesse dia.  Foram os portugueses locais que cansaram de mandar as riquezas para além mar e resolveram que romper esse vínculo de dependência seria um bom negócio.
Apesar disso, não há como escapar da celebração.  Foi aí que o Brasil deixou de ser colônia e passou a ser um país.  Passados 500 anos, nós que aqui estamos, somos brasileiros.  Antes disso, cidadãos do mundo, mas a estrutura geo-política e econômica deste nosso mundo ainda é sectária e temos uma identidade a defender.
O resultado desses 500 anos de história não me parece de todo ruim.
Ao contrário, tenho particular apreço pelo povo brasileiro.  Gosto de nossa afetividade, flexibilidade, criatividade, independência e, porque não, felicidade.
É possível que gostasse mais de haver nascido "abá" (índio, dos quais também descendo).  Mas não há como saber. 
E, depois, nenhuma nação do mundo moderno deixaria um bando de índios tomando conta de tanta riqueza.  Não fossem os portugueses, teriam sido os holandeses, franceses, espanhóis ou ingleses (neste último caso, economizaríamos uma nota em dublagem de filmes, já pensaram ?).
Sugiro dedicarmos esse dia ao prazer de sermos brasileiros e à nossa própria independência.

quarta-feira, setembro 05, 2012

Ter e ser


Já tive muitos carros diferentes.
Suficiente variedade para perceber como o "mundo" reage ao carro que você dirige.
Lá pelos idos nos anos 80 tive dois carros simultaneamente: uma Brasilia com rodas esportivas ("da hora") e um Corcel I (que já era velho na época).  Quando dirigia a Brasilia, todos os postos de gasolina aceitavam meu cheque sem pestanejar.  Dirigindo o Corcel I, só pagamento em dinheiro, e ainda era parado em todos as batidas policiais.
Nos anos seguintes tive alguns Passat (esportivos), um Chevette Hatch, alguns Monza, uma perua Escort, um Scenic, uma Zafira e uma Pajero TR4.  As diferenças de tratamento eram sutís.
Recentemente, resolvi fazer uma extravagância e trocar minha Pajero por uma BMW 118i.
Associar-me a uma BMW é uma ideia que nunca me atraiu.  Parece esnobação ... algo como ostentar uma caneta Mont Blanc no bolso da camisa.
Mas queria experimentar a tecnologia alemã e como esse modelo da BMW (o mais barato disponível) tinha um preço equivalente ao da Pajero TR4 (pouca coisa mais caro), armei-me de coragem e comprei a pequena fera.
No que se refere à mecânica e desempenho, o carro é mesmo muito bom.  Um pouco baixo demais para as esburacadas ruas de São Paulo (nada como uma TR4 para andar pelo nosso país), mas compensa largamente essa desvantagem pelo prazer de dirigir, principalmente na estrada.  Nota baixa apenas para o banco do motorista: 5 ajustes diferentes e, mesmo assim, desconfortável.
Entretanto, o que me chamou a atenção foi a diferença de tratamento que o "mundo" dá a quem dirige uma BMW, mesmo sendo o modelo mais barato.
De um modo geral, as pessoas tem uma predisposição negativa em relação ao motorista desse carro.
Enquanto a TR4 desperta simpatia, a BMW desperta algo próximo ao rancor.   Qualquer pequena barberagem é instantaneamente punida com buzinassos, palavrões e olhares raivosos.
As mulheres que sorriem com amabilidade para o motorista da Pajero evitam olhar para o da BMW.
O atendente do estacionamento que conversa com você de igual para igual quando seu carro é a Pajero olha desconfiado quando seu carro é a BMW.
Claro que o manobrista do restaurante faz questão de deixar seu carro na porta (ordens do patrão, provavelmente, para mostrar que o lugar é "bem frequentado").  E você também é recebido com maior atenção na recepção de hoteis e eventos de negócios.   Mas não chega a compensar a sensação de que estou sendo acusado de algum crime hediondo cuja evidência é o carro.
Já conhecia o preconceito contra "pobres" (da experiência com o Corcel I).  Descobri o preconceito contra "ricos".
O resultado é que dificilmente irei repetir a marca no próximo carro.