Já comentei aqui minha preferência pelo politeísmo (o que, aliás, custou-me a perda de alguns leitores monoteístas mais aguerridos e menos dispostos a aceitar minhas ilações filosóficas).
Fui abandonado por mais alguns quando comecei a manifestar meu apreço por pensamentos orientais, em particular os relativos ao Tantra.
Uma das coisas que que me encantam nos ensinamentos esotéricos e nas filosofias orientais milenares é a idéia de que as palavras não são suficientes para "iluminar" o indivíduo.
Há coisas que não podem ser ensinadas. O máximo que se pode fazer é conduzir o aprendizado.
As maioria as religiões monoteístas ocidentais se baseia "na Palavra", assim mesmo, com "P" maiúsculo, para que não seja contestada ou questionada. A "Palavra" deve ser ouvida e assimilada sem discussão, porque assim deve ser a fé. Respeito e temor são os instrumentos desse aprendizado.
Já no outro mundo, as palavras são artifícios para estimular o questionamento - os "koans" (uma espécie de pergunta sem resposta) são um bom exemplo. E, sempre que possível, o aprendiz é levado a participar de vivências que tem o mérito de tirá-lo de sua zona de conforto e expandir sua percepção.
Até nos pequenos detalhes essa diferença se faz sentir.
Se tomamos os 10 mandamentos, imperativos como só os mandamentos podem ser, a exceção de "guardar o sétimo dia" (que como mandamento, convenhamos, deixa a desejar) todos os outros poderiam ser substituídos por uma única orientação dada em Levítico 19,18 - "Ama a teu próximo como a ti mesmo".
Teria sido melhor, talvez, afirmar "ama o teu próximo como ele gostaria de ser amado", mas as palavras, principalmente quando mandatórias, são sempre limitadas.
Em parte do oriente, particularmente na India e no Nepal, hindus e budistas entre outros costumam utilizar uma saudação simples, mas profunda: "Namaste". Muitas vezes essa saudação é apenas gestual, dispensando o uso da palavra.
A tradução da palavra Namaste é, ao pé da letra, "eu me curvo diante de você", mas seu significado é o reconhecimento no outro da mesma divindade que anima quem faz o cumprimento.
Nesse sentido, pode ser interpretada como "o Deus que está em mim saúda o Deus que está em você", com o reconhecimento implícito de que se trata do mesmo Deus, independentemente da forma pela qual eu e você costumamos tratá-lo.
Indo mais além, é uma forma de reconhecer que temos algo muito importante em comum, que partilhamos algo essêncial. Um passo importante para aceitar que somos mais do que irmãos. Somos, na verdade, uma só divindade distribuida momentaneamente em duas embalagens diferentes.
Essa aceitação cria uma condição bastante favorável para o amor ao próximo que será, por força da similaridade, igual ao amor por si mesmo.
Mas não como uma imposição ou mandamento. Como decorrência da compreensão de que não há como ser diferente.
E se a razão não bastar, você sempre poderá contar com vivências (individuais ou grupais) preparadas pelos mestres para facilitar essa compreensão.
Por isso não estranhe quando eu te tratar com mais intimidade e carinho do que seria esperado. É porque estou me reconhecendo em você.
domingo, dezembro 04, 2011
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23 comentários:
Namastê Flávio, abraços, Carolina.
Flavito, de todas as "religioes" que li, fui atrás de conhecer, ainda sou crista, até porque foi onde mais encontrei o que buscava.
Um beijo!
Namaste...
Texto brilhante. Temos muito que aprender com este "outro mundo"!
beijos
Anne
Democracia implica(palavrinha inadequada)em ampliar. Até mesmo deus.
Abraço!
Berzé
Namastê.
bom domingo Flávio.
beijooo.
Namastê!
Que perfeito isso tudo, Flavio!
Se eu disser que teu texto me apeteceu e eu o devorei e o digeri com toda a suavidade, tu consegue perceber exatamente a minha intenção, certo?
Pois é.
Adorei!
Um beijo.
Oi,Flavio!Vim aqui através da Luna!Namastê é uma saudaação muito bonita e sempre que paro pra pensar um pouco na vida e na natureza penso nessa expressão ,afinal Deus está em tudo,no mar, nas árvores, nas flroes,mas nós muitas vezes nos esquecemos disso.
Beijosss
Também me encantei com as filosofias orientais nos primeiros contatos. Parecia que eu estava reconhecendo algo que para mim já fazia todo o sentido. Foi a mesma sensação que tive aqui hoje. Você escreveu algo que eu reconheci instantaneamente. Só querendo a amplitude para enxergar que existem outros olhares, outros lugares, outras formas de ser. Namastê, adoro!
Carolina: tks pela visita. Ainda bem que seu anjo não ficou bravo.
Cris: Não tinha a intenção de faze-la mudar de ideia. Trazer você de volta ao Arguta já é um grande feito. bj
Anne: tks. Você é sempre generosa com meus escritos.
Berzé: a democracia seria melhor sem os "implicantes" .. rs
Ana: Namasté ;)
Carla: ... com café !
Luna: minha mulher vai acabar ficando com ciúmes de você ... rs
Sibele: Tks pela visita. Volte sempre. Tenho um particular apreço (elegante isso, não) pelas gaúchas que frequentam o Arguta. A Luna, a Carla e a Anne são as mais assíduas e muito queridas.
Bem vinda.
Paulinha: é gostosa essa sensação de se reconhecer no outro, ainda que seja num texto, não ? bj
Flavio, qual a sua concepção de Deus?
Ultimamente venho me interessando por essa questão e como tudo sensato ("sensato" na minha visão) que leio nega de pronto a bíblia ou qualquer outro texto sagrado, a idéia de Deus fica confusa (menos no ateísmo, claro). Muita gente diz que acredita num Deus que "é tudo", que "está nas coisas", que é "o que a ciência não explica" e no seu texto "que está dentro de nós". Acho que alguns sentem e acreditam de fato na presença dele em uma dessas definições, outros apenas não querem deixar de acreditar na figura e outros o usam quase como figura de linguagem / expressão / conceito, sem se questionar (ou sem se importar) se aquilo de fato existe, já que o conceito por si só já basta.
Você, que sempre tem uma visão interessante das coisas, como vê a questão?
Flavio, qual a sua concepção de Deus?
Ultimamente venho me interessando por essa questão e como tudo sensato ("sensato" na minha visão) que leio nega de pronto a bíblia ou qualquer outro texto sagrado, a idéia de Deus fica confusa (menos no ateísmo, claro). Muita gente diz que acredita num Deus que "é tudo", que "está nas coisas", que é "o que a ciência não explica" e no seu texto "que está dentro de nós". Acho que alguns sentem e acreditam de fato na presença dele em uma dessas definições, outros apenas não querem deixar de acreditar na figura e outros o usam quase como figura de linguagem / expressão / conceito, sem se questionar (ou sem se importar) se aquilo de fato existe, já que o conceito por si só já basta.
Você, que sempre tem uma visão interessante das coisas, como vê a questão?
Coisa boa chegar da Yoga e achar isso aqui! SHANTI!
André, meio difícil responder isso aqui e por escrito (podemos tomar um café juntos - ou uma garrafa de vinho) e bater um longo papo sobre o assunto. A idéia de um amigo imaginário concebido a nossa imagem e semelhança ou projetado a partir de nossas paixões não me satisfaz. Mas é, possivelmente, a única forma pela qual a grande maioria das pessoas consegue se relacionar com algo que está além da nossa compreensão racional. É quase inevitável "personificar" Deus. A personificação é um artifício metonímico (por falta de uma palavra melhor no momento) que nos ajuda na relação com o inconcebível.
Ainda que eu sugerisse que deveríamos buscar sentir a "presença" de Deus como alternativa a explicá-lo, nosso esforço estaria limitado por nossa capacidade de perceber e pela necessidade de interpretar de acordo com o nosso repertório.
Tudo isso que falei parte da premissa de que Deus existe.
Mas, para complicar um pouco mais a situação, o conceito de "existência" também vale uma larga discussão filosófica.
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