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quarta-feira, setembro 05, 2012

Ter e ser


Já tive muitos carros diferentes.
Suficiente variedade para perceber como o "mundo" reage ao carro que você dirige.
Lá pelos idos nos anos 80 tive dois carros simultaneamente: uma Brasilia com rodas esportivas ("da hora") e um Corcel I (que já era velho na época).  Quando dirigia a Brasilia, todos os postos de gasolina aceitavam meu cheque sem pestanejar.  Dirigindo o Corcel I, só pagamento em dinheiro, e ainda era parado em todos as batidas policiais.
Nos anos seguintes tive alguns Passat (esportivos), um Chevette Hatch, alguns Monza, uma perua Escort, um Scenic, uma Zafira e uma Pajero TR4.  As diferenças de tratamento eram sutís.
Recentemente, resolvi fazer uma extravagância e trocar minha Pajero por uma BMW 118i.
Associar-me a uma BMW é uma ideia que nunca me atraiu.  Parece esnobação ... algo como ostentar uma caneta Mont Blanc no bolso da camisa.
Mas queria experimentar a tecnologia alemã e como esse modelo da BMW (o mais barato disponível) tinha um preço equivalente ao da Pajero TR4 (pouca coisa mais caro), armei-me de coragem e comprei a pequena fera.
No que se refere à mecânica e desempenho, o carro é mesmo muito bom.  Um pouco baixo demais para as esburacadas ruas de São Paulo (nada como uma TR4 para andar pelo nosso país), mas compensa largamente essa desvantagem pelo prazer de dirigir, principalmente na estrada.  Nota baixa apenas para o banco do motorista: 5 ajustes diferentes e, mesmo assim, desconfortável.
Entretanto, o que me chamou a atenção foi a diferença de tratamento que o "mundo" dá a quem dirige uma BMW, mesmo sendo o modelo mais barato.
De um modo geral, as pessoas tem uma predisposição negativa em relação ao motorista desse carro.
Enquanto a TR4 desperta simpatia, a BMW desperta algo próximo ao rancor.   Qualquer pequena barberagem é instantaneamente punida com buzinassos, palavrões e olhares raivosos.
As mulheres que sorriem com amabilidade para o motorista da Pajero evitam olhar para o da BMW.
O atendente do estacionamento que conversa com você de igual para igual quando seu carro é a Pajero olha desconfiado quando seu carro é a BMW.
Claro que o manobrista do restaurante faz questão de deixar seu carro na porta (ordens do patrão, provavelmente, para mostrar que o lugar é "bem frequentado").  E você também é recebido com maior atenção na recepção de hoteis e eventos de negócios.   Mas não chega a compensar a sensação de que estou sendo acusado de algum crime hediondo cuja evidência é o carro.
Já conhecia o preconceito contra "pobres" (da experiência com o Corcel I).  Descobri o preconceito contra "ricos".
O resultado é que dificilmente irei repetir a marca no próximo carro.

4 comentários:

Paolo disse...

Je je je
Tenta um FIAT, vai te ir bem...;-)

Flavio Ferrari disse...

Grande Paolo ;-)
Que prazer em ver você por aqui !

Carla P.S. disse...

Hahaha...
Eu sou uma anônima com um Fox vermelho todo cheio de raspõezinhos, ultrapassando de forma imprudente os motoristas das auto escolas (e quando eu era motorista da auto escola tinha raiva disso, pois só eram permitidos os míseros 40km h).. As pessoas são muito engraçadas, mesmo!

Barbarella disse...

hehe será por isso que até hoje não concluí meu curso de auto-escola. Não quero fazer parte deste ou daquele grupo...ainda prefiro o bom e velho transporte coeltivo....e quando o evento é mais importante, nada como o taxi do Sr. Alrélio!!!
Saudades de nossos papos sem pé nem cabeça... To voltando, aos poucos e timidamente....

bacci