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quinta-feira, janeiro 15, 2009

O Rastro do Butadieno (12) - Capítulo Final

... e se você perdeu, não deixe de ler os capítulos anteriores.

Capítulo 1 - A Visita
Capítulo 2 - Sonhos e Safiras
Capítulo 3 - Um nome de mulher
Capítulo 4 - Perturbações próximas
Capítulo 5 - A ponta do véu
Capítulo 6 - Segredos e surpresas
Capítulo 7 - Lantejoulas
Capítulo 8 - Libido e Lascívia
Capítulo 9 - Ponto de não retorno
Capítulo 10 - Ménage et Mémoire
Capitulo 11 - Tumoil




Intensas intenções


Anésio e Giordi acordaram simultaneamente, alertados pelo disparo subsônico dos sensores de atividade da Visio.
Anésio olhou para Vera, que seguia dormindo ao seu lado.
- Duas grandes invenções da humanidade: alertas neurais de freqüência individualizada e colchões de células visco-cinéticas independentes ... – pensou enquanto levantava da cama.
Vera seguiria dormindo até o final de seu sono programado – alías, essa também uma grande invenção – o que lhe daria tempo para deslocar-se até a fazenda e, com um pouco de sorte, retornar sem ser percebido.
Encontrou Giordi já no galpão, ao lado da Visio remodelada.
Uma pequena esfera brilhante flutuava no espaço de transferência, pulsando vigorosamente, contida pelo campo emitido pelo anel de rubis.
- Alguma coisa está acontecendo ... – Giordi comentou o óbvio.
- Será que Nobrú encontrou alguma maneira de construir um equipamento de conexão ?
- Sei não ... seus conhecimentos técnicos não ultrapassam os rudimentos da Física Esbelta, e mesmo assim porque queria impressionar sua esbelta tutora ...
- Mas lembre que os registros indicam que ele esta em algum ponto do século XXI. Se ele teve o bom senso de procurar seu antepassado que trabalhou no desenvolvimento da Glúon ...
Subitamente, a pequena esfera intensificou a freqüência de pulso e começou a aumentar de tamanho. Os rubis vibravam na freqüência oposta, emitindo o ruído ressonante característico do processo de contenção.
- Parece que já vamos descobrir ... – a voz de Anésio revelava a tensão.

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No quarto de Cristine, ante a iminência do acionamento da Glúon Projecta (eles haviam decidido batizar a máquina de acordo com a história futura) as emoções eram quase tangíveis.
O medo de Nobrú só era superado pelo desejo de retornar ao seu tempo, paradoxalmente complementado pela vontade de permanecer com Cristine, a deusa do passado cujo único defeito conhecido era o tamanho dos seios, um tanto pequenos para seu gosto. Ele certamente preferiria os da namorada de seu tataravô.
Bruno, cuja curiosidade científica superava todos os outros matizes de humanidade, invejava seu poscestral (a melhor palavra que encontrou para definir um descendente distante e mais velho do que ele).
Gusmão se deu conta de que não havia ficado feliz com o desfecho da história. Como conseqüência de seu forte viés “protagonístico” tinha perdido o interesse pelo projeto, já que não poderia mais levar o crédito pela descoberta. E também percebeu que não estava tão interessado em Cristine. Não tinha a menor vocação para ser “prêmio de consolação”. Pena que isso significaria abrir mão do par de peitos mais perfeito que já havia visto.
Denise, versada em assuntos mundanos mais do que científicos, invejava a amiga. A relação com Bruno era gostosa e prática, mas na verdade o rapaz tinha muito mais tesão por fusões atômicas do que carnais, o que não era seu caso. Bem diferente do romântico Nobrú ou do calhorda do Gusmão.
Cristine, por sua vez, continha-se para não se atirar nos braços de Nobrú, administrando o conflito entre a mulher encantada e a cientista curiosa. Ambas queriam partir com o homem do futuro, por razões distintas. Mas a cientista sabia que uma interferência deste tipo reduziria bastante a chance de sucesso, e poderia resultar na morte de ambos. Continha-se, abraçada a Denise.
Em meio à densidade das intensas intenções, o brilho pulsante da Gluón envolveu a todos.
Por um instante que pareceu eterno, pensamentos e sentimentos se intensificaram até a suspensão dos sentidos.

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No galpão da fazenda, Anésio e Giordi observavam, estupefatos, a enorme esfera de energia e os vultos em seu interior.
O fenômeno havia sido bem mais intenso do que de costume, mas o novo anel de rubis da Visio, cumprindo seu papel, os manteve em segurança.
Na medida em que o nível de radiação diminuía, puderam distinguir o que a máquina havia transportado.
Não uma, mas três pessoas, e um amontoado de objetos.
Nobrú, Bruno e Cristine, nus, olhavam ao redor, ainda atordoados.
Aos seus pés, os lençóis de cetim, um amontoado de roupas, uma garrafa de whisky e um telefone celular.
Nobrú, mais acostumado ao processo, foi o primeiro a recobrar a coerência de raciocínio.
Colocou as mãos sobre os ombros de Cristine e Bruno e deu uma sonora gargalhada.
- Lembrei para que é que serviam os rubis !!!!
Giordi e Anésio caminharam ao encontro dos três.
- Você vive se metendo em encrenca por um par de peitos grandes, meu irmão ! – comentou Giordi, emocioando.

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Gusmão e Denise estavam em pé, observando com espanto o que antes havia sido o quarto de Cristine.
Um forte odor de butadieno pairava no ar.
A Glúon, retorcida, tombara sobre os restos do colchão chamuscado. O computador de acesso havia praticamente vaporizado.
Praticamente tudo que era de tecido natural desaparecera.
Ambos estavam nus, ou quase. Gusmão vestia os restos de uma cueca de tecido misto. Denise, um sensual par de meias arrastão.
- Caralho !!!! – Gusmão não pode deixar de sorrir, diante do cenário caótico.
- Eles sumiram .... – Denise retribuiu o sorriso.
- Sabe, eu nunca havia reparado .... você tem seios lindíssimos ...
Denise olhou automaticamente para seus próprios seios e arregalou os olhos.
- Mas esses seios não são meus !?!? Como é que ....
Gusmão não deixou Denise terminar a frase.
Já que Bruno havia partido para o futuro, no presente a moça, tecnicamente, não tinha namorado e havia herdado os peitos de Cristine. Para ele, estava perfeito.
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Em frente á casa de Cristine, a polícia efetuava a prisão de um americano bêbado que caminhava nu pela rua gritando:
- They are coming ... they are coming ... call the NASA ….

14 comentários:

Ernesto Dias Jr. disse...

Uau! O desejo de Gusmão pelos peitos de Cristine no instante do entrelaçamento quântico criou um arquétipo extradimensional (apud Amit Goswami - coisa séria) que perturbou o campo que...
Caro amigo: Obrigado por mais uma deliciosa parceria. É sempre um gozo escrever com você. E não se esqueça: a próxima você começa.

Udi disse...

...tem um rastro de silicone também?

Genial final! Há que se ter muita criatividade e uma boa dose de cara-de-pau prá produzir um final desses! Pura diversão! Valeu!
:)))

Anne M. Moor disse...

Preciso confessar que estou perdida e terei que me sentar com calma e reler tudo. Por razões talve quânticas eu não segui esta história com fiz com as outras. Mas adoro o que e como vocês os dois escrevem!!

Beijos futuristas

Amélia disse...

O mais legal é a criatividade de vocês dois!!!

Como boa leitora... Adorei!!

Beijos

Ƭ. disse...

Olá,

Amo cafés.

Amargos ou doces, porém fortes o suficiente pra me satisfazer apenas com uma boa xícara.

Seu espaço é aconchegante.

Sempre passando por aqui.

Teresa

Anônimo disse...

Felicito a ambos pela pela rica inspiração. Trabalhos que mostram a grande capacidade criativa.
Tenho estado ausente, mas acompanhando sempre o desenrolar
de mais esta rica novela. Não é fácil produzir a quatro mãos. Eu que o diga.
Parabens doc Jorge Lemos

Flavio Ferrari disse...

Ernesto: o prazer foi todo meu. Assim que passar a distensão pós coito, começamos outra.

Flavio Ferrari disse...

Udi: Tks. Pelo menos uma pessoa leu ...

Flavio Ferrari disse...

Anne: pô Anne, dá uma lidinha ...

Flavio Ferrari disse...

Ti: minha eterna inspiração.

Flavio Ferrari disse...

Teresa: adorei sua visita. Espero que goste e retorne sempre.

Flavio Ferrari disse...

Jorge: vindo de quem vem, não poderia ser um elogio maior.

Anne M. Moor disse...

Ah Flávio! Lá no quarto capítulo me perderam... Tentei... e me perdi nas perturbações quânticas!!

Anônimo disse...

Prá lá de bem humorado...!!
Só mesmo muito "T" para "enfrentar" uma cueca de tecido misto e, de outra parte, um sensual par de meias arrastão...
Bjus,
Ana Lúcia.