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sábado, dezembro 22, 2012

"O Sexo dos Anjos" - Cap. 2

Minissérie de Ernesto Dias e Flavio Ferrari, publicada em capítulos alternados nos sites Assertiva e Arguta Café.


Capítulo 1 - Conjuratio  (clique aqui para ler a publicação no Assertiva)

Capítulo 2 - Tons e cores 


A decoração do quarto de Bianca revelava traços significativos de sua personalidade.
Do suave contraste entre as peças brancas do mobiliário e a predominância discreta do violeta nos grafismos florais do papel de parede até a rigorosa disposição de cada objeto no espaço, harmonizando formas e funções, tudo ali estava pronto para ser observado, avaliado, julgado e aprovado.
A luz indireta e suave era distribuída de forma a ressaltar as nuances e oferecer conforto visual.
Não se ouvia o zumbido do ar condicionado, cujo evaporador estava estrategicamente posicionado sobre a janela de moldura branca, mas a temperatura do ambiente mantinha-se permanentemente naquele intervalo agradável em que poderia ser ignorada.
O resultado era bonito, discreto, elegante e de um asceticismo moderno, quase epicurista.
Epícuro de Samos, filósofo grego (sec. IV a.C.), acreditava que prazeres moderados seriam o caminho para alcançar a felicidade, e isso seria obtido através da ausência de sofrimento corporal e a limitação dos desejos.
Tivesse ele a chance de conhecer Bianca, certamente colocaria a mão sobre sua cabeça e diria “kaló koritsi !” (boa menina).
Bianca levava uma vida confortável, correta e sem exageros.  Seu pai, engenheiro, havia trilhado uma brilhante carreira como executivo de uma multinacional e sua mãe concordara em abandonar seu trabalho como bibliotecária para “dedicar-se à família”, ou mais objetivamente a ela e a seu irmão dois anos mais novo.
Desde muito cedo, Bianca havia se acostumado a corresponder às expectativas.  Frequentou boas escolas e, como herdara do pai o raciocínio analítico e da mãe o talento para organizar as informações, sempre teve sucesso no ambiente acadêmico.  Formou-se em Economia, pós-graduou-se em Comercio Internacional na Suiça e, de volta à casa dos pais, preparava-se para enfrentar o mundo fazendo planos para o ano novo.
Mas agora, deitada em sua cama e lendo o livro emprestado por sua amiga Sheila, Bianca comprimia levemente suas coxas pensando em Christian Grey.
Sheila era a melhor amiga de Bianca desde os tempos do colégio.  Seu temperamento irrequieto e as atitudes irreverentes a encantavam.  De certa forma, Bianca vivia suas aventuras através das histórias de Sheila.
Pouco haviam se falado nos dois anos em que Bianca esteve na Suiça.
A noite anterior à sua partida havia sido constrangedora para Bianca. 
Emotivas e levemente embriagadas por algumas taças de vinho branco, haviam “exagerado na afetividade”, ou pelo menos essa era a expressão que Bianca usava quando recordava o momento.  
A memória sensorial das mãos de Sheila deslizando sobre seu vestido fino de algodão, a sucessão de pequenos beijos no rosto até alcançar sua boca, o perfume dos cabelos e a suavidade de seus lábios, o turbilhão de emoções entorpecidas pelo álcool, amizade, amor, tesão e culpa, e orgasmo intenso e longo, como nunca havia experimentado, abalaram sua serenidade epicurista.
Bianca viajou na manhã seguinte e não voltaram a falar no assunto.
Na volta de Bianca e para seu alívio, Sheila parecia haver esquecido do episódio e recebeu-a nos braços com a mesma naturalidade de sempre.
Foram horas de conversa, num delicioso reencontro, cada qual contando as aventuras desses dois anos de separação.
No dia seguinte, Sheila deixara um livro na portaria do prédio de Bianca com um bilhete:
“Amiga, você precisa ler esse livro.  A gente conversa quando você acabar. Beijomeliga.”
Bianca decidiu ler apenas para não decepcionar a amiga.  Seu gosto para literatura não poderia ser mais divergente do de Sheila e raramente encontrava algo de interessante nos “best sellers” da moda, como era o caso de “Cinquenta tons de cinza”.  Além disso, preferia ler, sempre que possível, na língua original ou na versão para o inglês.  Considerava que a língua portuguesa, imprecisa e estruturalmente desordenada, não dava conta de transmitir com exatidão as ideias elaboradas em outros idiomas.
Teve que fazer um certo esforço para superar as primeiras páginas.  Mas na medida em que avançava na leitura, não pode evitar uma certa identificação com Anastasia Steele, a jovem e “inocente” protagonista do romance.
Enquanto sua razão avaliava a pobreza literária da trama, seu corpo respondia inconscientemente à descrição das cenas com a lembrança das mãos de Sheila tocando levemente suas coxas sob o vestido de algodão.


12 comentários:

Anne M. Moor disse...

Vocês estão rápidos ehm! Muito bommmmmmmmmmmm... Estou curiosa :-)

bjs
Anne

Paula Nolf disse...

Estão rápidos e a leitura está deliciosa!!! Meus parabéns Flávio, o segundo capítulo ficou ótimo!!!

beijos

Paula Nolf

Flavio Ferrari disse...

Começo rápido para cativar os leitores, Anne :-)

Flavio Ferrari disse...

Tks, Paula ... bj

Luiza Pastor disse...

Bora continuar, que tá ficando muito bommm...

Ah, e a figurinha, então, aff!!! Deu calor aqui... ;-)

Luiza Pastor disse...

Bolas, esse comentário logo acima era meu...rsrs... como é que a gente se identifica por aqui???

bj

Luiza Pastor

Anne M. Moor disse...

Luiza

Em baixo desta caixa de escrever tens 3 opções. Clica no que diz Nome/URL e abrirá um espaço para colocares teu nome.

abraços
Anne

Udi disse...

Será que não ter lido e nem saber exatamente do que se trata 50 tons de cinza, vão comprometer o entendimento da leitura (é a lerdinha entrando em ação).
Po enquanto tôintendendutudo e tô gostando bastante. Adorei as descriçoes do ambiente, coisa de quem anda se preocupando em ocupar novos espaços.

Rose de Almeida disse...

Hummmm, delícia de leitura. O capítulo do Ernesto também está impecável. Será que o CEO do céu tá de olho na Biaca?

Anônimo disse...

Quero so ver o gancho que vcs dois vao arrumar dessa vez, entre os dois nucleos....


Lu

Walmir Lima disse...

Que beleza !! E que belo desafio !!

Temos um belo caminho pela frente, rumo ao grande prazer de uma obra memorável.

Gostei !! Já estou preso e fiel à leitura.

Abraço,
Walmir

Unknown disse...

Putz,não li 0 tons de cinza. Mas quer saber....por hora estou entendendo tudinho rs e A D O R A N D O .