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quarta-feira, novembro 02, 2005

As sombras da corporação

Estou retomando a leitura de Jung e seus pares.
Sempre me interessei por psicologia. Na 8a. série estava em dúvida entre ela e a engenharia.
Meu sabio pai disse que deveria escolher estudar o que me entusiasmasse mais ... mas se ambas me divertissem, sugeria a escolha da engenharia, a seu ver e a seu tempo mais eclética.
Estudei engenharia, casei com uma psicóloga e tive a oportunidade de encantar-me por Freud, sua leitura arguta da mente humana e a precisão cirúrgica de seus textos. A voz da consciência.
Jung, de primeira leitura aos vinte anos, pareceu-me incoerente, desconexo, ingênuo e deslumbrado. Experimentei e descartei.
Hoje, passado dos quarenta, reencontro Jung através do livro "O Tarô e a Viagem do Herói" (de Hajo Banzhaf, e que recomendo), numa cadeia de eventos síncronos digna do pai deste conceito.
Com outro repertório e mais vivido, percebo agora Jung como contraponto de Freud ... o inconsciente.
Mas não considero que eu tenha conhecimento de causa suficiente para discorrer sobre nenhum dos dois gigantes.
O que gostaria de compartilhar é um insight oriundo da leitura de textos sobre o processo de individuação (a reorganização do "self" a partir do encontro com o inconsciente e sua aceitação).
Particularmente, chamo a atenção para o conceito de "sombra". Em resumo leigo, "sombra" para os junguianos é o termo que designa nosso "outro lado", aquelas características que procuramos esconder de nós mesmos porque não gostamos ou nos sentimos ameaçados por elas. O nosso lado ameaçador.
Durante boa parte da vida banimos nossa sombra para o inconsciente, enquanto lutamos para construir um ego bem estruturado e confiável. O momento do reencontro com a sombra é o início do processo de individuação, fundamental para que o ser humano possa viver de forma plena.
Deixando de lado as questões pessoais, me ocorreu que as empresas passam pelo mesmo processo. Durante sua estruturação e desenvolvimento, escondemos muita coisa debaixo do tapete. Negamos a existência de características intrínsecas à estrutura, aspectos da cultura, vícios históricos.
Definimos a Missão, a Visão, os Valores, os planos estratégicos, os planos de ação ... Implmentamos sistemas de gestão financeira e de recursos humanos compatíveis com o projeto e os objetivos.
E começamos a acreditar que a empresa que idealizamos é real, e seguimos negando alguns aspectos indesejáveis da realidade.
Com isso, na melhor das hipóteses, perdemos força e disperdiçamos recursos. Na pior, acabaremos mal, supreendidos pela "sombra" da empresa (por aquilo que estamos negando).
Assim como os indivíduos, uma empresa só pode atingir sua plenitude se aceitar sua "sombra".
Nas próximas postagens vou ilustrar esse pensamento com alguns exemplos ...

Um comentário:

Anônimo disse...

Por que nao:)