sábado, setembro 30, 2006
Pacta sunt servanda (… rebus sic stantibus)
Sim, é latim.
Essas duas expressões muito comuns no universo jurídico (minha amiga, Dra. Cyntia, que o diga), representam a essência do direito civil, particularmente no que se refere às relações contratuais.
A primeira afirma que os pactos (contratos) precisam ser cumpridos. A segunda, reforça que devem permanecer como estão, lembrando que os contratos devem ser avaliados conforme a intenção dos contratantes no momento da formalização do acordo e, não, “ao pé da letra”.
Acabo de participar de um seminário para treinamento de líderes onde a palavra “confiança” foi mencionada inúmeras vezes como a principal característica desejada para um líder.
Um líder deve cumprir seus pactos. E, mais do que isso, deve estar pronto para rever os combinados, de boa fé.
Se você deseja liderar, conquiste a confiança, seja verdadeiro e honesto. O resto se arranja.
É verdade que praticamente todas as relações humanas são relações de usura, não no sentido financeiro ou pejorativo da palavra, mas significando que as partes envolvidas esperam obter alguma coisa em função da relação.
Não fique triste com isso. A vida é assim. Todos ao seu redor esperam obter algo de você... e você deles.
Laços de amizade se formam quando a troca se dá de forma natural, sem grande esforço para os envolvidos. É a tal da relação ganha-ganha, tão em voga hoje em dia.
No trabalho, não é diferente. Seus subordinados, pares, chefes, clientes, fornecedores e acionistas esperam algo de você. E você deles.
O segredo está em abrir o jogo, e se interessar legitimamente por descobrir qual é o desejo do outro.
E, aí, buscar a melhor forma de conciliar o desejo de todos, através de processos de negociação e, finalmente, chegar a um acordo (contrato).
Aí, é pacta sunt servanda e, quando necessário, rebus sic stantibus.
terça-feira, setembro 26, 2006
A Praga Chinesa
O sempre iluminado Marcelo Coutinho, que se soma ao meu filho Rodrigo como referência inequívoca para pensamentos filosóficos, comentou-me uma interessante praga chinesa:
- Que você viva momentos interessantes !
Orientais são complexos até para rogar pragas.
Pensando um pouco sobre o que poderia significar uma praga que, a primeira vista, mais parece uma felicitação de ano novo, cheguei à seguinte conclusão: momentos interessantes são instigantes, e ocupam a mente de tal forma que impedem a introspecção. Nada mais terrível para um oriental iniciado na arte do auto-conhecimento.
Momentos interessantes seriam uma distração para o que realmente lhes interessa na vida.
Nas empresas, não é diferente.
Momentos "interessantes", de alta competitividade ou grandes mudanças, geralmente nos roubam a serenidade para pensar com profundidade.
Por outro lado, como não somos orientais, nos momentos de calmaria costuma-se pensar menos ainda.
Taí algo interessante para se pensar ...
Blog, Budget & Board
Numa semana de "board meetings" e avaliações de "budget", fica difícil cuidar do "blog".
Leitores fiéis tem reclamado, mas o momento exige dedicação ...
Leitores fiéis tem reclamado, mas o momento exige dedicação ...
quarta-feira, setembro 13, 2006
De tanto ver triunfarem as nulidades ...
A frase celebre de Ruy Barbosa foi um de seus poucos deslizes retóricos.
Nulidades, por definição, não triunfam.
Um elemento nulo é aquele que não provoca qualquer alteração nos resultados.
Com o triunfo das nulidades Ruy Barbosa queria se referir aos políticos e assemelhados que, em sua opinião, desprovidos das qualidades necessárias, alcançavam posições relevantes.
Uma nulidade que ocupa um posto relevante deixa de ser nula. Ainda que nada faça, estará impedindo que outro, mais capacitado, exerça a função.
Essa constatação é importante, não só para o mundo da política (com inequívoco impacto social) mas, também, para as empresas em geral.
Quando, por comodismo ou insegurança, deixamos de dispensar um funcionário que não atenda as demandas do cargo, justificando nossa atitude pela aparente "inofensividade" de sua presença (não briga com ninguém, não atrapalha nada), estamos deixando de considerar o prejuízo que causa por comparação com um substituto potencialmente mais eficiente.
Foi moda durante algum tempo em grandes impresas internacionais com foco em inovação, a substituição fsistemática forçada de 5 a 10% dos empregados (os com menores índices de desempenho) a cada ano.
Essa prática é provavelmente exagerada, mas o conceito de se buscar consolidar uma equipe de alto desempenho através da substituição dos menos competentes deve ser avaliado como opção, principalmente em mercados mais competitivos.
Se permitirmos que as "nulidades" triunfem, rapidamente se apoderarão de alguns zeros do resultado da empresa.
Nulidades, por definição, não triunfam.
Um elemento nulo é aquele que não provoca qualquer alteração nos resultados.
Com o triunfo das nulidades Ruy Barbosa queria se referir aos políticos e assemelhados que, em sua opinião, desprovidos das qualidades necessárias, alcançavam posições relevantes.
Uma nulidade que ocupa um posto relevante deixa de ser nula. Ainda que nada faça, estará impedindo que outro, mais capacitado, exerça a função.
Essa constatação é importante, não só para o mundo da política (com inequívoco impacto social) mas, também, para as empresas em geral.
Quando, por comodismo ou insegurança, deixamos de dispensar um funcionário que não atenda as demandas do cargo, justificando nossa atitude pela aparente "inofensividade" de sua presença (não briga com ninguém, não atrapalha nada), estamos deixando de considerar o prejuízo que causa por comparação com um substituto potencialmente mais eficiente.
Foi moda durante algum tempo em grandes impresas internacionais com foco em inovação, a substituição fsistemática forçada de 5 a 10% dos empregados (os com menores índices de desempenho) a cada ano.
Essa prática é provavelmente exagerada, mas o conceito de se buscar consolidar uma equipe de alto desempenho através da substituição dos menos competentes deve ser avaliado como opção, principalmente em mercados mais competitivos.
Se permitirmos que as "nulidades" triunfem, rapidamente se apoderarão de alguns zeros do resultado da empresa.
domingo, setembro 10, 2006
CIA e FBI discordam sobre técnicas de interrogatório
O The New York Times divulgou uma nota comentando as divergências entre os dois serviços de inteligência norte-americanos com relação à maneira pela qual os membros da Al-Qaeda devem ser interrogados.
Não acho que vale a pena comentar esse assunto, mas serve de gancho para mencionar que saber perguntar é um dos grandes pontos de apoio para o sucesso de uma organização.
Lembro-me de um caso verídico, contato por um professor ainda no tempo da faculdade.
Ele estava trabalhando como consultor para uma empresa especializada na fabricação de sistemas de transmissão. Um dos produtos da empresa, uma caixa redutora de velocidade, demandava um tempo muito grande de usinagem (recorte do bloco de metal).
O encarregado da linha de produção havia lhe informado que isso se devia ao desenho interno da caixa, que apresentava curvas de difícil execução, um trabalho quase artesanal.
O professor-consultor foi conversar com o operador da máquina de usinagem, que confirmou a versão do encarregado. Uma única curva mais pronunciada no interior da caixa tomava mais de 40 minutos de tempo de máquina.
Ele perguntou se havia algo que poderia ser feito para reduzir esse tempo. A resposta foi negativa. A máquina era uma das mais modernas disponíveis no mercado e a equipe que a operava era bem treinada e altamente qualificada.
Quando já estava desistindo, ocorreu-lhe perguntar ao operador, por curiosidade, para que servia aquela curva. O operador respondeu que não sabia, mas era uma especificação do projeto.
Seguindo sua intuição, o professor foi procurar o engenheiro responsável pelo projeto e fez a mesma pergunta.
Para sua surpresa, o engenheiro respondeu que a curva prestava uma certa harmonia ao “design” interno da caixa de redução. O que, traduzindo, queria dizer: fica mais bonitinho.
O professor explicou ao engenheiro que aquela curva consumia mais da metade do tempo de usinagem de toda a caixa, e perguntou-lhe se não poderia ser eliminada.
O engenheiro, recuperado de seu viés arquitetônico, concordou de pronto.
E, com isso, o custo de fabricação da peça foi reduzido em, se bem me lembro, 15%.
Através desse e de outros exemplos, além de diversas dinâmicas de grupo conduzidas em sala de aula, esse professor instalou uma atitude questionadora no grupo.
O resultado foi o estímulo da curiosidade construtiva, a paixão pela pergunta e o inconformismo com a resposta pronta (nada parecido com interrogatórios do FBI e da CIA, por favor).
Esse tipo de atitude, bem distribuída e ordenada, traz benefícios significativos e mensuráveis para a empresa.
Fica a dica para o pessoal de treinamento.
Não acho que vale a pena comentar esse assunto, mas serve de gancho para mencionar que saber perguntar é um dos grandes pontos de apoio para o sucesso de uma organização.
Lembro-me de um caso verídico, contato por um professor ainda no tempo da faculdade.
Ele estava trabalhando como consultor para uma empresa especializada na fabricação de sistemas de transmissão. Um dos produtos da empresa, uma caixa redutora de velocidade, demandava um tempo muito grande de usinagem (recorte do bloco de metal).
O encarregado da linha de produção havia lhe informado que isso se devia ao desenho interno da caixa, que apresentava curvas de difícil execução, um trabalho quase artesanal.
O professor-consultor foi conversar com o operador da máquina de usinagem, que confirmou a versão do encarregado. Uma única curva mais pronunciada no interior da caixa tomava mais de 40 minutos de tempo de máquina.
Ele perguntou se havia algo que poderia ser feito para reduzir esse tempo. A resposta foi negativa. A máquina era uma das mais modernas disponíveis no mercado e a equipe que a operava era bem treinada e altamente qualificada.
Quando já estava desistindo, ocorreu-lhe perguntar ao operador, por curiosidade, para que servia aquela curva. O operador respondeu que não sabia, mas era uma especificação do projeto.
Seguindo sua intuição, o professor foi procurar o engenheiro responsável pelo projeto e fez a mesma pergunta.
Para sua surpresa, o engenheiro respondeu que a curva prestava uma certa harmonia ao “design” interno da caixa de redução. O que, traduzindo, queria dizer: fica mais bonitinho.
O professor explicou ao engenheiro que aquela curva consumia mais da metade do tempo de usinagem de toda a caixa, e perguntou-lhe se não poderia ser eliminada.
O engenheiro, recuperado de seu viés arquitetônico, concordou de pronto.
E, com isso, o custo de fabricação da peça foi reduzido em, se bem me lembro, 15%.
Através desse e de outros exemplos, além de diversas dinâmicas de grupo conduzidas em sala de aula, esse professor instalou uma atitude questionadora no grupo.
O resultado foi o estímulo da curiosidade construtiva, a paixão pela pergunta e o inconformismo com a resposta pronta (nada parecido com interrogatórios do FBI e da CIA, por favor).
Esse tipo de atitude, bem distribuída e ordenada, traz benefícios significativos e mensuráveis para a empresa.
Fica a dica para o pessoal de treinamento.
terça-feira, setembro 05, 2006
Sexos Frágeis
Você conhece o caráter de um homem quando lhe dá poder, e o da mulher quando tira o poder.
Eleições 2006 - Primeira edição
Segundo matéria publicada no site do Estadão de hoje, o TSE negou 8 vezes mais candidaturas nessa eleição do que na passada. O volume de indeferimento chega a 8% dos candidatos a candidatos.
Eu chamaria isso de um bom começo... E você ?
Eu chamaria isso de um bom começo... E você ?
sábado, setembro 02, 2006
Recusando Prêmios
A revista Época desta semana trás uma interessante matéria sobre um matemático russo, Grigori Perelman, que foi indicado para receber a maior honraria do mundo da matemática (a medalha Fields) e recusou o prêmio.
Segundo Grigori, para realizar um grande trabalho é preciso manter a mente pura. E aceitar um prêmio seria um sinal de fraqueza.
Embora me pareça um tanto radical, sou capaz de entender a decisão e as razões do matemático.
Sempre me pareceu que a remuneração variável e as bonificações atribuídas aos diretores de empresa como “recompensa” pela superação de metas, embora estimulantes e até eficientes, representavam, de algum modo, uma deterioração de princípios.
Acredito que o trabalhador deva receber uma remuneração justa por seu trabalho, o que eventualmente pode significar a participação nos resultados da empresa.
Mas o exagero no uso da remuneração variável desloca a atenção. A motivação para realização de um bom trabalho passa a ser a remuneração, e não o trabalho em si e a auto-realização.
Perde-se a “pureza” de intenção, como sugere Grigori.
E, com isso, o trabalho em si passa a ser, de certa forma, um obstáculo a ser superado, e deixa de ter um sentido em si mesmo. O “sucesso” deixa de ser medido pela real contribuição profissional e passa a ser representado pelo volume de remuneração adicional conquistado.
Talvez este seja um bom momento para discutirmos esse modelo.
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