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segunda-feira, abril 18, 2011

Digressão sobre a paixão

Depois de postar sobre como conquistar e manter um homem, e sobre como admirá-lo, atendo o pedido da Luna inspirado pelo comentário da Paulinha e dou continuidade à série de postagens sobre o princípio das relações.
Vale comentar que a Luna e a Paulinha são duas das frequentadoras mais antigas do Arguta Café.  Fazem parte do que eu poderia chamar de "segunda geração" de leitoras ativas (que comentam).  Para elas, essa postagem talvez não traga grandes novidades, já que provavelmente conhecem minha opinião sobre o assunto.´
É relativamente comum ouvir de minhas amigas comentários como "... é, mas quando bate a paixão, a gente se esquece de tudo e mergulha de cabeça...".
Paixão é uma coisa curiosa.  Geralmente nos acomete quando mal conhecemos a pessoa-alvo.  É um sentimento avassalador que costuma misturar desejo com predestinação.  Você finalmente parece ter encontrado o homem (ou a mulher) da sua vida, e nada mais importa.
Passados alguns meses (entre quatro e seis, na maioria dos casos), a pessoa pela qual estamos apaixonados começa a "mudar" e estraga tudo.
É natural que nos esforcemos mais para agradar no início de uma relação.  Não dá para considerar isso uma desonestidade.  Uma vez que estamos assegurados do sentimento do outro, relaxamos um pouco.
Mas essa percepção de mudança vai além do relaxamento.
Boa parte da magia da paixão reside no fato de que, em não conhecendo o outro, preenchemos as "lacunas" através de um mecanismo que a psicanálise chama de "projeção".
A figura que ilustra essa postagem é formada por 3 traços "quebrados".  A maioria das pessoas "vê" nela a letra "E".  Algumas serão capazes de se irritar comigo caso eu insista que não se trata da letra E.
De forma análoga, fazemos isso com a pessoa que acabamos de conhecer.  A partir de alguns traços visíveis "completamos" sua personalidade de acordo com nosso desejo.
Com o tempo, vamos conhecendo melhor a pessoa e, algumas vezes (a maioria das vezes), o que descobrimos não corresponde ao que imaginávamos.  Como não estávamos conscientes de que se tratava de "imaginação" (projeção), ficamos com a sensação de que a pessoa esta mudando e que, de alguma forma, fomos enganados.  Frustrante.
É até pior do que ter expectativas que não se realizam, porque uma característica desse mecanismo é a ação inconsciente.   Não esperamos que a pessoa seja de uma determinada forma.  Acreditamos que ela é e nos decepcionamos quando ela "muda".
Não acredito que seja possível impedir que isso ocorra.  Mas ajuda saber que deve estar ocorrendo, e se preparar para as eventuais surpresas.
Enquanto isso, nada contra curtir a paixão.  Mesmo diante da possibilidade de se decepcionar mais tarde, você poderá viver com o homem (ou a mulher) dos seus sonhos por algum tempo, o que não é pouco.
Só não venha culpar o (a) coitado (a) mais tarde por não corresponder à sua projeção, até porque ele (ela) deve estar passando pela mesma situação.
E, quem sabe, você acaba descobrindo que o outro, ainda que não corresponda à imagem projetada, é uma pessoa igualmente interessante ....

ps - poderia fazer um desenho completamente diferente da letra E a partir dos traços que ilustram a postagem ... mas tem gente que faz isso bem melhor do que eu ...  Aos curiosos, deixo o link para o vídeo ...

15 comentários:

Amélia disse...

Durante minha adolescencia ficava abalada pelo fato de não me apaixonar como minhas amigas...

Apenas rescentemente é que fui descobrir o porque...

"A expectativa é mae da frustracao"... Esse sempre foi um lema de vida!

Adorei a analogia a figura...

Beijos

Flavio Ferrari disse...

Ti: porque ?

Luna Sanchez disse...

O Dr. Dráuzio Varella diz que a paixão é um "desequilíbrio químico", o paraíso dos hormônios ululantes e que tem prazo de validade de no máximo 18 meses...Será? Outra pessoa, que não lembro quem, disse que amor é o que fica quando a paixão acaba.

O que não se pode é culpar o outro por não ser exatamente o que deduzimos (por nossa conta e risco) que fosse. E gostar de alguém pelo que seria um "defeito" dá um prazer maior, certeza, e me parece um gostar autêntico.

O vídeo é ótimo e ser uma leitora ativa (rs) do Arguta, também.

Ótima postagem, gostei muito!

* Em tempo : assim que comecei a ler e observei a imagem não enxerguei nada nela, nada que fizesse sentido. Só quando me levantei para atender o telefone e olhei para a tela um pouco mais de longe, vi a tal letra "E".

Ava disse...

A maturidade e a clareza com que fala do assunto é impressionante...

Aliás, devo parabenizá-lo pelos belos artigos que tem escrito sobre relacionamentos, em todas as suas minúcias...

Boa semana!

Beijos

Ane Sik disse...

Flávio,

Absolutamente lógico e muito bem explicado, mas minha curiosidade é: Vc consegue toda essa racionalidade na vida real??
Se consegue: dica para o próximo post: "como fazer isso"...rs

bjo bjo

A. Marcos disse...

É exatamente por tudo quanto vc explicou que dá-se ao sentimento em questão o nome de PAIXÃO!

Paixão, segundo o léxico, significa sofrimento, dor...exatamente o que sentimos quando nos frustramos diante da "mudança" daquele que considerávamos nossa alma gêmea.

Respondendo à Fabiane, penso eu que a maturidade tem como atributo esse poder de racionalização. Quanto mais amadurecemos, mais temos a capacidade de ver as coisas como elas são, inclusive quanto à percepção de que nossa visão romantizada do outro pode estar equivocada. Com isso, ajustamos as perspectivas e evitamos a dor.

Barbarella disse...

Engraçado....quando abri o Arguta, a primeira coisa que vi foi a letra E....
Meu cérebro é um ser à parte....Alguns dizem que sou pessimista....mas eu diria que sou uma otimista com os pés fincados na realidade, tenho horror a frustação...me prpeparo para o pior sempre....o que vem de bom é lucro....rs
No amor é assim tbm....o erro das pessoas é só imaginar o bom....na hora que a coisa aperta, culpa o outro....
Tenha uma frase, que ouvi quando eu era criança, e não esqueço...
"Qual é o cúmulo do amor?
Casar com um Pão e morrer de fome"
É bem por aí....

* Olha sou leitora assídua, porém, ando com preguiça de comentar, sorry....

Flavio Ferrari disse...

Luna: você sempre surpreende ...

Flavio Ferrari disse...

Alice: tks ... falar é fácil ...

Flavio Ferrari disse...

Fabiane: o Marcos explicou bem no seu comentário (abaixo do seu). Só agregaria uma observação sobre a "racionalidade" ... tenho um bom raciocínio lógico que aprendi a conciliar com as emoções e a intuição. Assim que tiver um tempo prometo que escrevo sobre isso (não vai ser fácil).
Bj

Flavio Ferrari disse...

Marcos: precisamos mesmo marcar aquele chopp ...

Flavio Ferrari disse...

Barbara: seus comentários fazem falta, mas está totalmente perdoada.

Noeli da Fonseka disse...

*****

Boa Semana!

Paulinha Costa disse...

Alguns dias longe daqui e olha só o que eu encontro... rsss
Acho interessante a sincronicidade dos temas nos blogs que estou passeando. Acabei de descobrir este aqui http://www.youtube.com/watch?v=iPSiLpFhFGM&feature=share
Concordo com ela.
Quando puder, dá uma olhadinha.
Este tema acabou virando meu estudo de próprio caso. Já cometi minhas próprias ilusões e projeções, e quem não as cometeu um dia, né?
Hoje me sinto mais espertinha em relação a esta armadilha de mim mesma, posso armar outras, nesta seria um pouco mais difícil cair.
Adorei a citação! Vc é um fofo!
Sua experiência de vida, aliada a um olhar mais atento com certeza tem, como teve, reflexo nos textos que produz. Maturidade não é isso? Aprender com a experiência? Observação, reflexão, dicernimento.
Sabe porque eu gosto de vir por aqui? Muitas vezes você encontrou as palavras que me faltaram para exprimir uma idéia, um sentimento, uma percepção que já existia dentro de mim e eu nem sabia. Ou ainda,para provocar a risada que faltava no dia.

Obrigada querido, é sempre muito bom te ler!

Paulinha Costa disse...

Em tempo:
O vídeo é óteeemooo!
Seu desenho, só vi o E depois que li... ai perdeu a graça. Aneu eu achei que era um labirinto.