.... e se você perdeu, não deixe de ler os capítulos anteriores !
Capítulo 1 -
A visitaCapítulo 2 -
Sonhos e SafirasCapítulo 3 -
Um nome de mulherCapítulo 4 -
Perturbações PróximasCapitulo 5 -
A ponta do véuSegredos e Surpresas
Como Engenheira Química responsável, além de uma sala privativa, Cristine tinha total liberdade para passear pelo chão da fábrica de borrachas termoplásticas.
Acabara de voltar para sua sala, depois da supervisão matinal da linha de produção, com um insight: aquele cheiro que sentia após os sonhos eróticos era o mesmo que pairava no galpão. Butadieno, a matéria prima da maioria de seus produtos.
- E, agora, aparentemente, também matéria prima de meus sonhos ... – pensou. Só me faltava essa !
Sua amiga psicóloga, com quem havia comentado os primeiros sonhos, havia lhe explicado alguma coisa sobre os mecanismos do inconsciente.
- Tudo, no sonho, é seu ... é você, projetada. – ela afirmou categórica depois do quarto chopp.
E lá estava o seu Butadieno cotidiano para confirmar a teoria.
Divagava, passeando malabaristicamente o lápis entre os dedos, com um leve sorriso maroto nos lábios quando seu chefe entrou.
- Cristine, Cristine .... quando vejo esse lápis flutuando na sua mão, esse sorriso enigmático e esse olhar perdido no ar, já sei que lá vem produto novo !!!
Álvaro tinha uma certa razão. O trabalho era o grande prazer da vida de Cristine, e uma das poucas coisas capazes de fazê-la sonhar acordada.
Era. Já não mais.
A última coisa na qual Cristine estaria pensando naquele momento seria um polímero.
Cristine sacudiu a cabeça, graciosamente e olhou para o chefe, bem a tempo de notar o brilho nos seus olhos, que ele rapidamente tratou de disfarçar.
Não era de hoje o interesse de Álvaro por Cristine. Um pouco mais velho, separado há alguns anos, admirava Cristine pela beleza, pela inteligência e pela integridade.
- Uma verdadeira anja que o céu me mandou – costumava comentar, a cada nova idéia de sua protegida, já conformado com o fato de que isso era tudo que poderia esperar dela.
- Cristine ! A Denise na linha 3 para você ... Você esqueceu o telefone no modo silencioso de novo ... – a secretária avisou da porta.
Cristine, constrangida, atendeu.
- Oi ... é, estou aqui com o Álvaro em reunião ... então, acho que sim ... depois a gente se fala. – desligou.
- Era a Denise ? Aquela que trabalhava em compras ?
- Era ... – Cristine desviou o olhar. Estava me convidando para um chopp hoje à noite, para matar as saudades.
- Não enrola, Cris ! Você ainda tem contato com ela ?
- Não ... eu ...
- Você nunca foi de mentir para mim. Não comece agora. Ela foi despedida há 6 meses. Se vocês não andassem se falando o papo do telefone seria outro. Não combina.
- Poxa, Álvaro ... você também não deixa escapar nada, não ?
- Não muda de assunto ...
- Tenho encontrado com ela sim. É minha amiga. E continuo achando que foi uma grande injustiça o que você fez com ela.
- Cristine ... – Álvaro assumiu um tom paternalista - ... já te expliquei que ela não é boa companhia para você. Muito, digamos .... heterodoxa. E eu não poderia deixar passar aquela história dela comprar Butadieno para um amigo em nome da empresa.
- Eu sei que foi errado. Mas ela não roubou nem prejudicou ninguém. O amigo dela precisava de uma quantidade relativamente pequena para uma experiência e estava com dificuldades para comprar....
- Olha ... eu até gostava dela ... mas para esse tipo de coisa a punição tem que ser exemplar, senão vira balbúrdia.
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Gusmão estava terminando mais um longo e produtivo dia de trabalho, entusiasmado.
Os testes preliminares com o Butadieno foram promissores.
Lembrou-se da Denise, namorada do Bruno.
A coitada havia perdido seu emprego para ajudá-los na compra do gás.
- Merda ! Não era para ter acontecido isso.... Mais uma vítima que tomba em prol da ciência – pensou, com certo cinismo.
Denise e Bruno haviam-no convidado para um happy-hour.
- A Denise quer te apresentar uma amiga gostosérrima ! – disse um Bruno bem mais animado do que sua namorada gostaria.
- Já sei ... mais uma encalhada ....
- Olha ... sei que ela não tem namorado faz tempo ... deve ser quase zero quilometro. Mas de encalhada não tem nada. É uma Pedra Filosofal. – não resistiu à brincadeira clássica entre químicos.
- E esse mercúrio dos filósofos tem nome ? – respondeu Gusmão, aceitando a brincadeira.
- Cristine ...
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- Cristine ..... – quase suspirou Gusmão, com os olhos vidrados diante da amiga de Denise que acabara de ser apresentada ...
- Esse é o Dr. Gusmão – apressou-se Bruno – meu chefe, excepcionalmente brilhante com fórmulas mas aparentemente limitado com as palavras.
Todos riram, inclusive Cristine.
E foi aí que Gusmão soube que estava perdido.
O sorriso, os cabelos, o olhar, o perfume ... o sorriso ..... E o corpo perfeito sob o vestido de algodão leve. E o sorriso ...
Seios pequenos. Ele adorava seios pequenos.
- E no que você tem trabalhado, "doutor" Gusmão ? – ela acentuou o "doutor" de forma irônica.
- Butadiênos ... – respondeu Gusmão em voz baixa, sem pensar, ainda com o olhar perdido entre seus seios.
- Como ?
- Rãã... Butadieno... Estamos testando o gás como catalisador gluônico em um processo experimental. – se recompôs, tentando impressionar.
- Hum ... química quântica ...- Cristine rebateu.
Gusmão não conseguiu esconder sua surpresa.
Bruno e Denise, abraçados, observavam, divertindo-se como Cupido.
(imagem: http://i185.photobucket.com/albums/x27/dnnara/Cupido.jpg)