Razão, intuição e emoção

Então a Fabiane me pergunta se consigo ser tão racional na vida real como sugiro nos meus textos.
Não há uma resposta simples para essa pergunta e, para piorar as coisas, não consigo me livrar da impressão de que respondê-la irá soar algo exibicionista.
Mas blogueiro que se preze não deve ter medo de exposição ... então, vamos lá.
Desde pequenos somos ensinados a tratar a razão e a emoção como se fossem entidades reais e independentes, valorizando a primeira em relação à segunda, principalmente nos momentos em que precisamos tomar decisões.
Uma terceira potencial entidade, a intuição, é totalmente desprezada ou supervalorizada, dependendo do seu sexo e do entorno social.
Hoje, eu acredito que essa é uma visão esquizofrênica (fragmentada) do ser humano.
Mas passei boa parte da minha vida acreditando no conceito iluminsta "sapere aude" (ter coragem para fazer uso da própria razão). Levou um bom tempo de psicanálise para perceber as consequencias trágicas desse modelo mental e venho dedicando os últimos anos à tentativa de re-integração da minha personalidade.
Felizmente, para mim, nunca fui um racional absoluto.  A curiosidade sempre me levou a experimentar e conhecer coisas diferentes e deleitar-me com aquilo que não sou capaz de entender como, por exemplo, a "intuição".  Claro que já inventei algumas explicações racionais bastantes consistentes para a intuição, mas foi apenas por diletantismo.   E, embora tenha gasto muito tempo da minha vida aprendendo a controlar minhas emoções, não cheguei a sufucá-las, o que vem facilitando o trabalo de resgate.
Respondendo mais diretamente à pergunta da Fabiane, ser racional não é um problema para mim.  A parte mais complicada costumava ser aceitar e conciliar emoções e intuições contrastantes com a razão, porque partia do principio que alguma dessas três entidades deveria estar certa.
Hoje, mais próximo de integrá-las, convivo divertidamente com os debates das três "irmãs", principalmente porque a razão costuma ser a intérprete das outras duas e é sempre interessante observar como a ela tenta explicar o inexplicável.
Mas as três já estão se dando tão bem juntas que muitas vezes sou privado desse prazer e tudo funciona como se a razão, a intuição e a emoção fossem uma coisa só: EU.
Confesso que depois de anos acostumado a ter a companhia de 3 entidades tão interessantes, as vezes tenho uma certa sensação de solidão.  Ir diretamente ao "insight", embora mais eficiente, é menos animado do que participar de um debate com partes de mim mesmo, principalmente considerando que tenho um senso de humor muito particular.
Mas a vida é assim mesmo, ganha-se de um lado e perde-se do outro ....