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sexta-feira, dezembro 08, 2006

A culpa e a dívida interna

Num papo que começou com o Pedro Galdi no Franz Café da Lorena e terminou com o Rodrigo entre as fritas do Fifities, consolidei uma ideia interessante que gostaria de partilhar com os frequentadores do Café.
Para simplificar a exposição, vou utilizar alguns termos da psicologia freudiana de forma coloquial e com larga licença poética (que os psicólogos me perdoem por isso).
A idéia é a seguinte...
Todo mundo já ouviu falar de Id, Ego e Superego, certo ?
Grosso modo, o Id é o nosso inconsciente, onde nascem nossos desejos, que por sua natureza imperativa constituem uma espécie de autoridade interna, fora do nosso controle consciente.
O Superego, por sua vez, pode ser considerado uma autoridade internalizada a partir de elementos externos, culturais, religiosos, educacionais e sociais.
O Ego é nosso "eu consciente", que toma as decisões.
Quando contrariamos a autoridade do Superego, sentimos culpa por que estamos fazendo algo "errado". São ações do tipo que temos vergonha de comentar, justamente porque estamos perpretando uma "contravenção".
Já quando contrariamos a "autoridade" do Id, criamos uma dívida interna, justamente porque estamos deixando de atender desejos de foro íntimo.
Bastante frequentemente essas autoridades estão em conflito, o que significa que atender a uma resulta em contrariar a outra.
Crianças, com o Superego ainda em desenvolvimento, costumam ser mais impulsivas.
Na medida em que a autoridade do Superego ganha força, tendemos a nos submeter a ela e, no período jovem adulto (20-40 anos), acumulamos uma divida interna cada vez maior, por sufocamento de nossos desejos. E, vez por outra, como válvula de escape, contrariamos o Superego cometendo pequenos "crimes" para atender grandes desejos, e passamos a acumular também culpas.
Ao chegar na meia idade, a dívida interna e/ou o sentimento de culpa podem ser tão grandes que o Ego se vê pressionado a lidar com a questão de forma diferente. É um momento de crise.
Aí, podem acontecer 3 coisas:
- o cidadão "surta", manda o superego plantar batatas e vira um adolescente revoltado
- o cidadão decide reprimir de vez o Id e assume a postura representada pelo arquétipo do Patriarca (Jung), um provedor e senhor da moral e dos bons costumes.
- o cidadadão desenvolve uma verdadeira autoridade pessoal (vamos colocá-la no Ego) e aprende a conciliar o Id e o Superego, e assume a postura representada pelo arquétipo do Malandro (Jung de novo), decidindo de acordo com seus desejos e assumindo a responsabilidade por seus atos, sem acumular mais dívidas internas ou culpas (numa situação ideal).
Olhando em volta, essa idéia me parece fazer sentido.
Gostaria muito que vocês comentassem ...

9 comentários:

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Hummmm... Preciso consultar as partes - Ego, Superego e ID - antes de comentar. Aos 31 elas ainda estão em constante assembléia. E a batata frita do Fifties, já no início do texto, tirou a concentração do ID. Ou seria do Ego? O Superego já avisou que engorda.

Anônimo disse...

Flávio,

Para mim existe uma quarta possibilidade, aonde há a conciliação do ID e do Ego e uma reanálise constante do SuperEgo...

Se isto ocorrer você consegue realizar seus desejos sem culpa, contagiar aqueles que estão ao seu redor sobre os "paradigmas da criação" e continuar sendo aceito pela sociedade, mais do que isto, respeitado pela chamada "força de personalidade"...

Trata-se de um processo complexo que requer introspecção, compartilhamento, valorização das diferenças e observação extrema...Porém pode ser muito divertido!!!

Anônimo disse...

puxa! gostaria muito de te atender, postando um comentário à altura da sua profunda meditação/filosofia sobre nossa condição humana. mas ocorreu-me apenas que se você começou com Freud e ao final teve que recorrer a Jung, deve estar respondida a questão do diagrama de Maslow acerca da necessidade da espiritualidade, nénão?

Flavio Ferrari disse...

Udi: é bem provavel que os 2 primeiros estejam se revirando na tumba pela "leiguice" do comentário.
Quanto ao Maslow, não se esta vivo (perdoe a ignorância), mas creio que embora tenha prestado um bom serviço ao Marketing não atende em profundidade as questões mais simples (e por isso mesmo complexas) da existência.
Amanda: tem um cara que escreveu um livro na década de 90 entitulado Só é Gordo Quem Quer e que garante que batata frita desacompanhada não engorda. Basta ler e ter fé, e o Superego se tranquiliza.
Ti: será que dá ?

Anônimo disse...

Atualmente eu diria que é possível...

Em primeiro, a ética tinha relação direta com a sabedoria... Os mais sábios é que definiam o que era certo e o que era errado.

Depois, a ética passou a ter relação direta com a religião, com o Divino...Fato este consolidado com o período cristão.. Com a unificação do Certo e do Errado...

Com a crise da Igreja Católica e a formação de religiões alternativas, hoje em dia a ética está passando por uma transformação, passando a ser a chamada "Ética no relacionamento". O certo ou errado passou a ser algo definido em cada relação, seja com pais, filhos, amigos, esposas, empresas... O que nos permite definir o nosso SuperEgo a cada instante e a cada nova situação..

Anônimo disse...

Flavio, outra possibilidade é que, entre o Ego e o ID, vence aquele que tiver a melhor argumentação. O Superego fica ali, assistindo a discussão, " sentadinho no meio da gangorra" .
Talvez seja por isso que às vezes cometemos loucuras e outras nos arrependemos por não tê-las cometido.

Flavio Ferrari disse...

Olá Denise ...
Que bom ver você por aqui, postando comentários no Arguta...
Espero que isso se torne um hábito.
Acho que você inverteu o Ego e o Superego no seu comentário, mas entendi o que quiz dizer.
E acho que é isso que acontece, muitas vezes.
Mas o ideal me parece ser que nosso eu consciente assuma, de fato, a autoridade e a responsabilidade pelas decisões.
Assim, seja a decisão qual for, "louca" ou "conservadora", não vai haver espaço para arrependimento (nem culpas ou dívidas).
Bj.

Anônimo disse...

Isso nada mais é do que o bom senso, o equilibrio que só atingimos com a maturidade, depois de alguns anos de "trilha", alguma reflexão e algumas derrapadas.O "nem tanto ao mar, nem tanto à terra, que a vovó já ensinava.
E sou admiradora de Jung e de seus arquetipos tão significativos e exclarecedores.
Bjo.

Anônimo disse...

Esclarecedores...(esclareço:lapso.)
Ainda bem que voltei aqui nesse post..