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quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A primeira vez a gente nunca esquece ...

Eu morria de medo de falar em público.
Nem apresentar trabalhos na escola conseguia.
Esse tipo de limitação, "superável", sempre me incomodou.
No último ano de faculdade, prestes a me formar, decidi concorrer ao posto de "orador" da turma.
Eu, que era um tímido popular (membro do DA e da Atlética durante 4 dos 5 anos em que fiquei na faculdade), fui eleito com larga margem (apenas um voto contra, do outro candidato).
Escrevi um simpático e pouco usual (para a época) discurso, falando da "pessoa" do engenheiro e de nossa responsabilidade social (em 1981, veja só ...).
E nos dias que antecederam a cerimônia de formatura, fui tomado de pânico cênico galopante.
Não fosse outra característica minha, a de mergulhar de cabeça na piscina quando a água está gelada para resolver logo o assunto, creio que teria desistido na véspera.
Mas lá fui eu, enfrentar umas 1.500 pessoas no Palácio das Convenções, trêmulo como a noiva do Bernardão na noite de núpcias.
Comecei a ler com a voz presa, inseguro, devagar ... Mas na medida em que fui me envolvendo com a mensagem (que era boa e novidosa, sem falsa modéstia) empolguei-me. Terminei com firme entusiasmo, e fui sonoramente aplaudido.
As pernas tremiam tanto que mal consegui voltar ao meu lugar.
No percurso, um professor que compunha a mesa, e que havia me perseguido durante todo o último ano porque achava que eu era um "vagabundo" que vivia as custas de um colega japones (o tal professora acreditava que ele fazia todos os trabalhos e eu só assinava, o que estava longe de ser verdade, considerando que o japones era muito inteligente mas escrevia mal pra caramba), levantou-se e apertou minha mão olhando-me com estupefata surpresa, como se tivesse me descoberto naquele momento.
Foi uma experiência e tanto.
Mas não resolveu o pânico cênico.
Para isso, resolvi começar a dar aulas, dois anos depois.
E a prática, se não levou à perfeição, pelo menos resolveu o problema de fundo.
Depois de alguns anos como professor universitário, perdi o medo.
Hoje, falar em público é uma das coisas que faço com mais prazer.

20 comentários:

Amélia disse...

Também com esta carinha de 14 anos...

Udi disse...

Sem desmerecer a fala que você preparou (que devia ser ótima), com esse estilo de galã de embalos de sábado à noite, quem ia se importar com o que cê tava falando?!
Eu ia aplaudir em pé e pedir bis.

Anne M. Moor disse...

Sempre soube que eras um lutador de tuas limitações! Provar pra gente mesmo que podemos fazer é algo que dá muito prazer...
Congrats!

Érica Martinez disse...

foto foooooooooooooooooooofa!!!!!!!

OBS: eu tb pulo de cabeça na água gelada! é bom pra acordar!

disse...

Isso é uma liçao de vida e de superação.
Faz bem ler...
E que bonitinho viu!
Bjo

Anônimo disse...

Desafio. Linda história!
E ainda teve a oportunidade de provocar (sua cara!) o professor.

Ernesto Dias Jr. disse...

Minha desinibição para falar em público veio de modo diferente e muito menos nobre.
Adoro ser o centro das atenções, precisava falar sobre assunto que dominava. Me deram um público considerável e, de quebra, ainda me pagaram para isso.
Sopa no mel.

Anônimo disse...

Sobre essa auto-entitulada timidez, escondida sobre uma imensa cara de pau, não há mais o que comentar... Só que eu só herdei a primeira parte.
Quanto à foto:
Tá vendo porque desde cedo eu dizia:¨Tenta atí, Favinho!¨ ?

Anônimo disse...

É sob

Jorge Lemos disse...

Luta para superar-se. Ótimo!

Comigo deu-se ao contrário: candidatei-me e fui vaiado, isto lá no principio dos anos 40. Tentei fazer graça com coisa séria.
Lição mais que justa. Dediquei-me a arte. Hoje ministro cursos especiais. Ninguem ensina a falar, mas racionalisar seus enfoques. Estou me dando bem pois a técnica por nós desenvolvida garante um retorno agradável $$$$.
Fui razoável locutor nos meus idos.

Udi disse...

Ééé...! a É!rica destacou um detalhe que também me havia chamado atenção: isso de mergulhar de cabeça na piscina gelada prá resolver logo o assunto. Sintetiza tanto e dá no que pensar, né? (me identifico com esse jeito)

Glaura: você quer dizer que não é cara de pau? (risos!) E você bem podia fazer um post (no Prozac)contando a história da tua frase, nénão?

disse...

Jorge:
Eu quero aprender essa técnica.Só pelo nome ja sei que é meu número(rss).Tem material?
Bjao

disse...

Flávio:
A mágica escondida tá no tímido "POPULAR".
Bjo

R. disse...

Flá, que bonitão, hein??

Adorei a sua história...Aliás, depois que começou, não parou mais, né?

A.Tapadinhas disse...

Eu também tive uma primeira vez...essa que v. fala, eu já esqueci...
Abraço.
António

Luisa Fernanda disse...

Hola Flávio

A ti es el único descendiente de italiano que conozco que le daba miedo hablar....creo que fue sólo dar un empujón para que Ludo saliera a flote! Lo bueno es que eres tímido, sino...serías congresista o presidente de la república!

Walmir Lima disse...

Me pareceu evidente que esse teu professor acabara de te conhecer de verdade. E foi ele quem aprendeu a maior lição com isso.
Quanto à superação, é digna de aplauso.
Você já parou pra pensar que aquilo que hoje fazemos melhor, e que nos dá o maior prazer e gratificação, teve sua origem em uma grande superação?
Grato por dividir conosco esse teu grande momento. É muito bom conhecer melhor nossos amigos. Espero que continue nos contando mais de suas ricas experiências.
Um abração,
Walmir

Walmir Lima disse...

Gostoso ver uma manifestação de carinho como essa de tua irmã.
Fico imaginando o tamanho que vocês tinham e a carinha dela quando te chamava de "Favinho" - lindo isso!

Flavio Ferrari disse...

Adorei as manifestações de carinho ... como sou tímido, prefiro não comentar ...

Jorge Lemos disse...



Farto material por sinal.
"Mente e Fala" é um programa completo de 40 horas, que reune além de acompanhamento psicológico e foniátrico (corretiva), parte
para a visão social do indivíduo e o meio somando a percepção da evolução histórica. Nada complexo mas muito intrigante para a lógica do pensar.
Tenho alunos de várias áreas profissionais.