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terça-feira, janeiro 19, 2010

LEGÍTIMA DEFESA - Minissérie

Caros leitores,
Conforme prometido, eis o primeiro capítulo da nova minissérie da dupla Ernesto Dias (Assertiva) e Flavio Ferrari (Arguta). Atendendo a pedidos, é policial. Aqui está o primeiro capítulo, como estarão todos os impares. O segundo estará, em breve (espero) lá no Assertiva, assim como todos os pares e o capítulo final (provavelmente o 12). Divirtam-se !



Capítulo 1 - Prolegômenos

Tarde pachorrenta no escritório.
O ventilador de teto movia-se lentamente produzindo um ruído monótono e espalhando o ar insuportavelmente úmido e morno. A luz alaranjada do sol de final de tarde, penetrando por entre as lâminas retorcidas da persiana bege e incidindo sobre desgastado sofá próximo à porta, dava ao escritório o aspecto fotográfico de um velho filme sobre a colonização inglesa na Índia.
Polansky jazia inerte, escarrapachado na velha cadeira giratória de madeira, transpirando em seu paletó xadrez.
O nó frouxo e engordurado da velha gravata combinava com o colarinho encardido da camisa que já havia sido branca um dia.
Sua expressão era de resignada agonia. Polansky odiava dias quentes, mas o sofrimento lhe dava uma confortante conexão com a verdade.
Polansky percebe a silhueta de Bertran, seu assistente, atrás do vidro opaco da porta que abre com respeitoso cuidado.
- Senhor Polansky .... – a voz de Bertran soa trêmula.
- Não. – Polansky responde sem qualquer emoção.
- Uma mulher ....
- Não.
- Acho que o senhor deveria ...
- Não.
Polansky desenvolvera a técnica dos três nãos há muitos anos. A experiência havia demonstrado que era eficaz para afastar os assuntos menos importantes. E ele não tinha paciência para desimportância.
- Parece que é uma cliente ... e o aluguel já venceu .... – Bertran não ousou mencionar seu salário atrasado.
Outra silhueta surge por detrás de Bertran. Magra, alta, curvilínea, com chapéu de abas largas. A porta se abre totalmente, num movimento firme, empurrada pela delicada mão da visitante, que ignora o atônito Bertran e invade a sala, aproximando-se da mesa de Polansky.
Um fino perfume floral toma conta da sala.
O olhar de Polansky é atraído imediatamente pelos joelhos da mulher. As rótulas largas denotavam firmeza de caráter. As covinhas laterais indicavam propensão para sedução. A tensão revelava ansiedade ou medo.
Precisava da informação dos olhos, mas distraiu-se com o reflexo do sol sobre a penugem clara das deliciosas coxas.
- Senhor Polansky, preciso da sua ajuda ! – com uma teatralidade contida, a visitante retirou os óculos escuros enquanto falava.
- Não.
A loira de cabelos longos e cacheados ignorou a negativa e colocou delicadamente uma pasta de papel Kraft parafinado sobre a mesa.
- Dentro da pasta o senhor encontrará um dossiê com todas as informações necessárias e um cheque de R$ 10 mil, suficiente para pagar o aluguel e o salário atrasado de seu assistente, além de cobrir as primeiras despesas. Queremos toda sua atenção. Meu número está no cartão. Telefone quando estiver pronto.
Quando Polansky desviou os olhos da pasta, apenas o perfume e o sorriso satisfeito de Bertran denunciavam a ausência daquela cativante mulher.

(foto: editada a partir de uma imagem trial da stock photos)

13 comentários:

Ju ♥ disse...

adoro séries policiais...
[e acho super imponente a palavra 'Prolegômenos']
bjs

A.Tapadinhas disse...

Cheia de boas promessas a minissérie...

Constacto que não baptizou a senhora... Espero que dêem a devida atenção ao assunto: é fundamental...

Agora, vou a correr ao dicionário ver o significado de prolegômenos, que traduzo já para português: prolegómenos.

Abraço,
António

Glaura disse...

Putz, eu lí com tanta facilidade que achei que já estava em português!(rsrsrs)

Anônimo disse...

Gostei!!!! Atitude è tudo...


Será?

rsrsrsrs
Bjos
Anne

Luna Sanchez disse...

Oba, eu gosto dessas coisas! Vou acompanhar, Flavio.

* Meus joelhos tem covinhas laterais, acabei de conferir...rs

ℓυηα

Carla P.S. disse...

Quanto ao comentário no meu post..Safado.
Quanto ao teu texto..Excellent! Pq eu adoro analises psicológicas, tu sabe!
Me remeteu a Quando Nietzche chorou. A donzela chega, exigindo ser atendida, munida com sua beleza estonteante, e instigante.
Cafés na escrivaninha pra quem nao ta de férias... =P

Flavio Ferrari disse...

Tks pelo incentivo ... agora é só cobrar o segundo capítulo do Ernesto ...
E Carla, o comentário não foi safado ... é que nem sempre as pessoas são capazes de perceber a transparência do lago no fundo de cavernas escuras ...

Ernesto Dias Jr. disse...

Precisa cobrar não. Já está lá no www.assertiva.blog.br.
Delícia de brincadeira.

Érica Martinez disse...

santos detalhes, Batman!

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


TE SIGO TU BLOG




CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...


AFECTUOSAMENTE:
ARGUTA CAFE


DESEANDOOS UNAS FIESTAS ENTRAÑABLES OS DESEO FELIZ AÑO NUEVO 2010 Y ESPERO OS AGRADE EL POST POETIZADO DE LA CONQUISTA DE AMERICA CRISOL Y EL DE CREPUSCULO.

José
ramón...

Suzana disse...

Estou acompanhando.

bjs

Udi disse...

Inconfundível estilo FF ("desenvolvera a técnica dos três nãos há muitos anos. A experiência havia demonstrado que era eficaz para afastar os assuntos menos importantes.") - a obra imita o criador.

Mas a moça da foto não é loira! (numtôintendeindu!)

Fiquei curiosa em saber em qual cidade se passa a história...

Cristiana Fonseca disse...

Olá Flávio,
Adorei o primeiro capitulo, estava com saudades desta bela
parceria na escrita.
Estou meio devagar, agora vou para o segundo capitulo e assim por diante.
Beijos,
Cris