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terça-feira, setembro 20, 2011

Modus Operandi

Deixar a posição de CEO de uma empresa para começar novos negócios é uma situação muito interessante.
A primeira sensação é a de liberdade criativa.
Todos que já ocuparam uma posição executiva sabem que, a partir de uma determinada posição hierárquica, nosso tempo é consumido em grande parte na solução de problemas.  Mesmo treinados para transformar problemas em oportunidade, os problemas emergentes são condicionantes do que e de quando precisamos atuar.
Momentaneamente livre dessa "carga", me dou conta de que um universo de possibilidades se apresenta e as idéias brotam aos borbotões.
Dificil exercitar o "foco" e escolher critérios de priorização colocando qualidade de vida na equação.  Mas não deixa de ser uma oportunidade divertida e rara.  Há que aproveitar.
A segunda coisa interessante é a oportunidade de valorizar as funções de suporte a empresa.
Um ex-executivo solitário precisa "operar" em diversos modos durante o dia: modo "boy" (levando e trazendo documentos, indo a cartórios, etc.), modo "secretária" (cuidando da agenda, reservando passagens, etc.), modo "suporte de TI" (instalando software e resolvendo os probleminhas do computador), modo "financeiro" (falando com a contadora, emitindo notas), modo "equipe comercial" (abordando clientes e vendendo serviços), modo "marketing" (planejando o negócio, preparando business plans), modo "comunicação" (cuidando da divulgação, fazendo cartões de visita) e varias outras atividades para as quais se costuma contar com um qualificado time de profissionais.
Já tenho alguma experiência no assunto (fui sócio de uma empresa pequena e consultor independente por um período), mas após 16 anos de vida executiva em uma grande organização, confesso que andava mal acostumado.
Ser executivo e tomar decisões "importantes" é relativamente fácil (se não entrarmos no mérito da qualidade das decisões).  Pode ser estressante pela responsabilidade e é complexo pela gestão da equipe (ah ... esses seres humanos ...).  Dificil é implementar e, por isso mesmo, sempre respeitei e admirei as pessoas que fazem cada uma das pequenas coisas de uma empresa acontecerem no dia a dia.
Acha que é fácil ser telefonista ?  Passe um dia sentado atendendo o telefone e descubra a verdade.  Representar a imagem e os valores da empresa enquanto atende todo tipo de gente com os mais variados humores não é nada simples.  E ser "office boy", então ?  Uma passadinha no cartório, seguida de uma visitinha rápida a uma repartição pública, uma de cada lado da cidade, usando transporte coletivo pode te dar uma idéia da realidade.  E a faxineira, limpando os banheiros do escritório que o pessoal mais elegante andou sujando ?  Quer experimentar ?
Mas acho que o mais chato dessas posições é a falta de reconhecimento.  O mundo trata bem os executivos na mesma proporção em que trata mal aqueles que ocupam cargos considerados "menos importantes", como se o cargo definisse o valor do indivíduo.   Seguranças, faxineiros, boys, telefonistas, assistentes, garçons, atendentes, fundamentais para que as coisas aconteçam da melhor forma possível, raramente tem a merecida consideração.
Uma empresa japonesa de treinamento de executivos costumava enviar os profissionais para trabalhar na limpeza de banheiros públicos de outros países por um dia, como artifício vivencial para o exercício da humildade.  Meio radical, mas deve funcionar.
Por isso não posso deixar de ficar feliz também pela oportunidade de revisitar essas tarefas.
Claro que, como quem foi Rei não perde a majestade, já ando terceirizando algumas coisas, começando pela contratação de um serviço de motoboy.  Quem sabe passo a ter um pouco mais de paciência com eles no trânsito ...

11 comentários:

Fiker disse...

engraçado, enquanto eu acabo de ver que a montanha é uma montanha pela primeira vez, você acaba de ver que a montanha é uma montanha pela segunda vez!

Luna Sanchez disse...

Eu gosto da tua disponibilidade e leveza em relação a isso.

Gosto mesmo.

Beijo grande.

Cristiane disse...

Delícia de texto, verte generosidade em cada linha... Beijo.

e daí? disse...

boa sorte ;)

Pelos caminhos da vida. disse...

E terá...

beijooo.

Flavio Ferrari disse...

Fiker: então vai ter que passar pela divindade para chegar até aqui ... rs

Flavio Ferrari disse...

Luna:você é sempre muito gentil comigo.

Flavio Ferrari disse...

Cristiane: não poderia ser de outra forma ... não faço nada sozinho. tks.

Flavio Ferrari disse...

Andrea: tks, a minha parte eu vou fazendo.

Flavio Ferrari disse...

Ana: ;)

Luna Sanchez disse...

Porque tu merece e sabe escrever rimadinho.

=D