Curioso como temos o hábito de associar a
palavra amor a relações específicas.
Amor familiar (pais, filhos, irmãos,
parentes próximos), amor romântico (parceiros), amor fraternal (amigos) descrevem as
relações que mais usualmente são associadas ao sentimento.
Os gregos oferecem quatro palavras com
diferentes significados para o amor: Ágape, Eros, Philia e Storge.
Ágape é o amor incondicional ou o
“verdadeiro” amor.
Eros é o amor passional, a paixão.
Philia é o amor virtuoso, a amizade
Storge é a afeição natural, o gostar de
alguém.
Muitos autores se limitam a considerar que
apenas os três primeiros termos se referem ao amor.
Uma certa hierarquia está implícita nessa
classificação, um gradiente de intensidade e profundidade, começando pelo Ágape
– o amor absoluto (intenso, profundo e eterno), passando por Eros (intenso e
profundo, eventualmente fugaz), Philia (menos intenso, eventualmente profundo,
sujeito à reciprocidade) e terminando com Storge (suave e volúvel).
Ágape é considerado a forma mais nobre de
amor. Os cristãos se apropriaram da
palavra para descrever o amor incondicional de Deus. Talvez o único exemplo humano passível de
corresponder a essa descrição seja o amor da mãe pelo bebê.
Eros, por sua fugacidade e pela comum
associação com a sexualidade, costuma ter uma conotação negativa.
Philia, ao contrário, tem uma conotação
positiva (dissociada do sexo) e pode ser considerado a melhor forma de amor
possível entre os seres humanos “comuns”.
Storge não costuma merecer maiores
atenções.
Eu, que tenho por hábito contrariar o senso
comum, vejo grande valor na afeição natural (storge).
Creio que é nela que está a semente de um
amor universal.
A afeição natural é espontânea. Costuma nascer do reconhecimento de si mesmo
no outro.
Isso não é ruim. É um bom início.
Embora seja percebido como uma forma de
sentimento egoísta, porque é auto-referenciado, o caminho para um amor
universal e incondicional começa no amor próprio.
Acredito que não é possível amar o próximo
sem se amar primeiro.
Além disso, reconhecer algo de nós no outro
é reconhecer algo do outro em nós mesmos.
É aí que começa o amor universal, evoluindo até a consciência de que somos parte do universo e o universo é parte
de nós.
Pode parecer um conceito estranho.
Mas acredito que cultivar o Storge, a
afeição natural, pelas pessoas e por todas as outras manifestações da natureza,
dedicando nossa atenção a descobrir-nos nelas, resulta numa gradual
identificação com tudo aquilo que nos cerca.
Em algum momento, essa identificação irá
resultar na transferência do amor próprio para todas as pessoas e coisas.
Não será
Ágape, Eros ou Philia.
Esse novo sentimento transcenderá as três
definições.
5 comentários:
Gostei.
Reconheci-me em ti
na primeira vez que o vi
Misto de gentileza e intensidade
Rebeldia e sensibilidade
é... como na velha canção :
qualquer maneira de amor vale a pena...
qualquer maneira de amor vale amar...
jeito lindo de perceber a vida.
beijão, Flavio
Acredito que amamos a nos mesmos atraves do outro... Eles nos ensinam ocaminho que volta a nossa intimidade e atraves do outro, nos amamos mais e mais... Bjss
Compartilhamos de pensamentos com o mesmo sentido. Gosto de você Flavito! Te ler é sempre muito bom! Beijos
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