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sábado, setembro 02, 2006

Recusando Prêmios


A revista Época desta semana trás uma interessante matéria sobre um matemático russo, Grigori Perelman, que foi indicado para receber a maior honraria do mundo da matemática (a medalha Fields) e recusou o prêmio.
Segundo Grigori, para realizar um grande trabalho é preciso manter a mente pura. E aceitar um prêmio seria um sinal de fraqueza.
Embora me pareça um tanto radical, sou capaz de entender a decisão e as razões do matemático.
Sempre me pareceu que a remuneração variável e as bonificações atribuídas aos diretores de empresa como “recompensa” pela superação de metas, embora estimulantes e até eficientes, representavam, de algum modo, uma deterioração de princípios.
Acredito que o trabalhador deva receber uma remuneração justa por seu trabalho, o que eventualmente pode significar a participação nos resultados da empresa.
Mas o exagero no uso da remuneração variável desloca a atenção. A motivação para realização de um bom trabalho passa a ser a remuneração, e não o trabalho em si e a auto-realização.
Perde-se a “pureza” de intenção, como sugere Grigori.
E, com isso, o trabalho em si passa a ser, de certa forma, um obstáculo a ser superado, e deixa de ter um sentido em si mesmo. O “sucesso” deixa de ser medido pela real contribuição profissional e passa a ser representado pelo volume de remuneração adicional conquistado.
Talvez este seja um bom momento para discutirmos esse modelo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Desculpe, mas acho que quando fazemos com prazer, garra e dedicação aquilo a que nos propomos, devemos, sim, ser reconhecidos e mesmo remunerados por isso, uma vez que é a única maneira de podermos continuar o exercício daquilo que fazemos, e, eventualmente, muito bem!... Porque sonhar que a justa remuneração corrompe os Ideais quando só é possível ter Ideais quando as necessidades básicas de um ser humano são preechidas? Mesmo os mais bem intencionados sacerdotes, com vocação reconhecida e verdadeiro dom de confortar, são mantidos pela sociedade a que servem! Às vezes, penso se a recusa da aceitação do reconhecimento de quem quer que seja não é só mais uma maneira de ser arrogante...

Flavio Ferrari disse...

Glaura,
Não discordo. Unir o útil ao agradável é sempre um bom objetivo.
A questão é que os "modernos" modelos de gestão acabam funcionando de maneira ressonante com os novos "valores sociais", de forma a deslocar (não corromper) os ideais.
Também creio que, muitas vezes, recusar o reconhecimento na forma de uma premiação pode ser uma atitude arrogante.
Mas como diz minha amiga Rita, o prêmio deve ser um "plus a mais" e não, como diria minha elegante mãe, a "raison d'être" (razão de ser)do trabalho.

Ernesto Dias Jr. disse...

Èta discussão boa!
Remuneração variável é ótima: no papel. Ela depende de uma "negociação" com o "chefe" que, nem sempre, é transparente, justa ou mesmo resulta em algo alcançável. Já deixei, rapidinho, uma multinacional que quaria condicionar minha remuneração à colocação de um chip decodificador do padrão de TV européia no Brasil.
E também já me beneficiei de gordos "bonus" enquanto minha equipe morria de fome (não adiantou tentar tornar a coisa mais equânime: isso retiraria a mamata dos outros diretores...)
De alguns anos para cá, não faço acordos: a empresa paga o salário que eu quero, eu trabalho com toda a minha razoável competência e, se não estiver bom para uma das partes, adeus.
Funcionou para por o homem na Lua e ainda funciona.

Anônimo disse...

Boa ideia!

Pode recusar suas bonificações e depositar na minha conta, estou disposto a fazer esse sacrificio pela integridade moral de meu querido pai

=D

Flavio Ferrari disse...

Eu disse "uso exagerado" ... Não é o meu caso !
Sigo mantendo a pureza de intenção ... e pelo visto dando um bom exemplo que resultou nesse filho tão abnegado ...