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sábado, janeiro 27, 2007

Crônicas da vida empresarial: personagem 2 - Estela (a loirinha)

Estela tinha cabelos castanhos. Tingiu de loiro depois do lançamento da cerveja Stella Artois no Brasil, bem de acordo com seu senso de humor.
- Pronto, assumi ! - disse ela no primeiro dia em que chegou loirinha no escritório, numa referência às constantes piadinhas dos colegas durante o happy no Degas.
Jailton, sempre ele, era o mais contundente:
- Ja que a Estela não dá para mim, me dá uma Stella ...
Juca, o garçon, que arrastava um bonde pela moreninha (agora loira), não conseguia esconder os pensamentos libidinosos que o sorriso safado da garota provocava.
- Que é que eu posso fazer se você prefere se afogar nas loiras, Já ? - ela devolvia.
Estela não é uma mulher particularmente bonita. Na casa dos 30, magra, seios pequenos e quadris generosos, costumava atrair mais olhares quando ia do que quando vinha.
Mas alí, sentada na mesa do bar, riso solto como seus cabelos longos, olhar vivo e maroto, mãos delicadas que deixava deslizar com proposital suavidade sobre o peito dos amigos entre um comentário e outro, transpirava sensualidade.
Ninguém abraçava como a Estela. Abraço de corpo inteiro, encaixado, beijo no rosto de verdade, sempre um pouco mais próximo da boca do que a etiqueta recomedaria. Uma promessa.
Juca mereceu um abraço da Estela no dia do seu aniversário. Nunca mais esqueceu. Sua semana passou a ter apenas dois dias, segundas e quintas, quando a turma do escritório se reunia para o happy.
Os meninos, que não perdoavam uma, respeitavam a agonia do Juca porque dela partilhavam.
- O caso é sério ... - vaticinava Rodolfo, o mais velho do grupo. Não é brincadeira não. Qualquer dia, mermão ... qualquer dia ...
Estela não estava alheia ao tumulto que causava e administrava seu epíteto de promessa. Que se soubesse, nunca havia tido um caso com ninguém no escritório.
Havia uma suspeita de que seu ex-chefe, o Badaró, tinha forçado a barra no final da festa de fim de ano da empresa e, por isso, teria sido demitido sumariamente pelo Superintendente, o que só reforçava a tese de que Estela não era petisco para qualquer um.
E, depois, sua atuação no SAC da empresa era irrepreensível. A simpatia complementava o profissionalismo com que tratava todos os clientes.
- Estela, companheiros, é a alma da nossa empresa ! - filosofou Jailton para os colegas numa noite em que todas as damas já tinham deixado o Degas. Sem ela não somos nada ...

5 comentários:

Anônimo disse...

Gosto do teu jeito de escrever... Assim como o Ernesto, tens um senso de humor apurado... Estou sorrindo até agora... :-)
By the way, obrigada pela mensagem no blog...

Anônimo disse...

Esse Jaílton, hein!
...e você está surpreendendo com seu estilo literário!

Anônimo disse...

Flávio,

É como sempre digo... No trabalho, conhecemos os profissionais e no Happy.. Bem deixo para você completá-la!!

Ernesto Dias Jr. disse...

Flavio:

Tudo bem você entregar a turma do escritório. Mas por favor, por favor, poupe a dona Quitéria. A Quitéria não!

doppiafila disse...

mais um! Mais um!