segunda-feira, janeiro 15, 2007
Um pé lá e outro cá ...
Que o ser humano sempre resiste a mudanças, todo mundo sabe.
Tradicionalmente, costuma-se afirmar que durante um processo de mudança todas as pessoas passam por 4 fases: surpresa, negação (raiva), negociação e aceitação (Kluber-Ross define 5 fases: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação).
Mas independentemente de como se dá o caminho entre o choque e a aceitação, há um fato relevante a se considerar.
Normalmente as mudanças externas ocorrem muito mais rapidamente do que o processo de adaptação do indivíduo.
E quando (ou enquanto) isso acontece, ficamos com um pé no que era e outro no que será.
Na medida em que o processo externo de mudança se consolida e esses dois mundos (velho e novo) se distanciam, essa posição (um pé lá e outro cá) se torna mais incômoda e nociva, até o limite em que já não conseguimos nos equilibrar e caímos no abismo criado por nossa incapacidade de mudar.
Os que resistem completamente à mudança, fixados na fase da negação, ficam com os dois pés no passado.
Os que completam o processo até a aceitação, seguem com os dois pés na nova realidade.
Já os que entendem que o passado já não existe, mas não conseguem aceitar a nova realidade, ficam numa espécie de limbo, perdidos numa interminável negociação interna.
Poucas situações são mais tristes do que essa, que rouba o conforto do passado conhecido e, ao mesmo tempo, impede o indivíduo de prosseguir.
É como uma trágica morte em vida.
Trata-se de algo mais comum do que pode parecer a primeira vista. É bastante provável que você mesmo esteja passando por algo assim em algum aspecto de sua vida.
E a forma mais eficiente de superar esse impasse é buscar ajuda psicológica (análise, terapia).
O importante é perceber antes de cair, e tomar providências.
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8 comentários:
É recorrente entre os antigos o mito da travessia -- e quase sempre associada à morte. Os bens sepultados com o morto, o alimento para o tempo do cruzamento do rio ou a moeda na boca para pagar o barqueiro são símbolos poderosos, e todos remetem à mesma urgência: a de chegar à outra margem sem demora. Enquanto vivos, tudo isso acaba sendo o chequinho do(a) analista. E eu endosso seu conselho. E assim desembarcamos no outro lado para descobrir que somos os mesmos, só que diferentes. Fequentemente melhores.
...e em qual dessas fases entra o medo?
Flávio,
Acredito que o processo de mudança interna seja muito mais complexo do que uma simples travessia....
Não existe a ponte, não existe o Velho e o Novo... A transformação é interna e, neste sentido o que muda é a sua forma de enxergar o mundo... A sua visão é nova, mas a estrutura externa é a mesma!!
O terapeuta funciona como o oftalmo, ajuda a ajustar a visão entre aquilo que esperávamos e aquilo que de fato podemos enxergar de novo!!
Sem isso corremos o sério risco de ficarmos cegos...
Beijos
Não acho que a moeda e os bens sepultados com o morto sejam o correspondente ao preço do analista, e sim, aos rescaldos do velho do qual temos que abrir mão para podermos atingir o novo... O medo se encontra em todo o processo, mas não devemos pensar apenas que o novo pode trazer insegurança, mas que também aquilo que atualmente vivemos pode ser uma miragem, um querer que seja, uma ilusão de eternidade, ou um sonho que não teve o final esperado, mas que mantemos para não termos que encarar que fracassamos em alguma etapa da vida...
Desse modo, temos também que ajustar nossa visão para o que é velho...
Hum.... estamos ficando profundos aqui ...Melhor trocar o Café por Absinto...
Quem tem pescoço, tem medo.
Faz-em lembrar Perdidos no Espaço:
- "Você tem medo ? Eu gosto do seu medo. Eu me alimento do seu medo ..." - dizia aquela cabeluda criatura para nosso querido Zach Smith, que odiava mudanças.
Ti, Ernesto e Glaura navegam pelo mesmo caminho.
Seremos sempre nós e a nossa visão de mundo.
Mas, como disse Heráclito, tudo flui e, como consequencia, uma mesma pessoa não pode entrar no mesmo rio duas vezes.
Quando entramos pela segunda vez, nem o rio nem nós somos os mesmos.
Ou, como disse o Ernesto, somos os mesmos, só que diferentes. Como o rio.
Não sei se melhores. Mas pelo menos diferentes, o que já é uma benção.
Amém
Flávio,
Tenho uma idéia um pouco difente sobre mudanças. Encaro esta parte da travessia, entre o velho e o novo como a mais interessante. Para mim, é justamente ela que faz da mudança algo válido. É aquele momento em o sangue acelera nas veias, em que temos chance de imaginar como será o novo. Quando o processo se completa e se estabiliza, é hora de buscar essa sensação novamente... Cito Andy Warhol: "The idea of waiting for something makes it more interesting."
Só temos que nos cuidar para não estacionar nesse momento, o da expectativa. De resto, tudo é válido! Pelo menos é o que eu acho...
Beijo,
Amanda (agora desperta!)
Ou como diriam os chineses:
"He who deliberates fully before taking a step will spend his entire life on one leg."
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