Parte 3 - O Destino de Isabela
* a parte 2 está no Assertiva, como de costumeO coração de Isabela batia acelerado sob o tecido fino da chemise rendada.
Deitada em sua cama, sobre o lençol de algodão egípcio, um dos muitos presentes de Barceló, estava mais uma vez tomada por uma ansiedade inexplicável.
Isabela era uma sobrevivente.
Nascida de uma família pobre no interior da Espanha, havia imigrado para o Brasil com seus pais ainda criança.
A vida no interior de São Paulo alternara as privações inerentes à parca remuneração de seu pai, que trabalhava como auxiliar em uma pequena fazenda, e os mimos da “señora”, mulher do fazendeiro, que a havia adotado como afiliada.
A “señora” também era espanhola, filha de um nobre falido que a havia dado em casamento para o genro bronco, mas rico, para quitar suas dívidas e garantir seu padrão de vida.
Dividida entre dois mundos completamente distintos, aprendeu desde cedo a comportar-se de acordo com as situações.
A madrinha havia lhe ensinado todos os hábitos refinados da nobreza espanhola. Com os pais, conhecera o lado duro da vida e o valor das coisas mais simples.
Poderia ter se deslumbrado pela riqueza da casa grande, os gestos perdulários do fazendeiro ou as festas nababescas que dava para os políticos locais.
Bonita como era, poderia ter feito a vida se deitando com os filhos dos poderosos, como chegou a sugerir, mais de uma vez, o fazendeiro.
Mas não era sua índole. E seja pela honestidade de seus pais, seja pela orientação da madrinha, que não queria vê-la passar pela mesma situação que ela havia passado, desde cedo decidiu que seria senhora de seu destino.
Sua madrinha a havia contratado como governanta da casa quando completou 18 anos. Era jovem ainda, mas sabia escutar e aprendia rápido com seus erros.
Sua atitude sempre séria, eficiente e decidida, não deixava espaço para a investida do sexo oposto.
Não que Isabela não gostasse de sexo. Gostava. Mas não deixava que isso adquirisse uma importância maior. Os poucos relacionamentos que teve foram pautados pela praticidade. Escolhas racionais, gostava de pensar, sentindo-se confortada.
Aos 30 anos, Isabela não havia se casado.
Tendo completado 25 anos, a morte de sua madrinha levou-a a deixar a fazenda.
O movimento lento da maçaneta da porta de seu quarto, felizmente trancada, na mesma noite do enterro, não deixava margens para dúvida. Teria problemas com o fazendeiro.
Lembrou-se de um velho amigo de sua madrinha, também espanhol, para quem havia levado uma encomenda a seu pedido, em Monte Verde.
Barceló a havia impressionado desde o primeiro momento. Havia algo no olhar daquele homem que a intrigava. Era um olhar penetrante, firme e misterioso, e ao mesmo tempo acolhedor e algo irônico.
Aquele primeiro encontro rápido havia deixado sua marca.
Numa ensolarada manhã de inverno, Isabela atravessou o jardim do sobrado no alto da colina pisando sobre a grama ainda úmida, e bateu na porta de Barceló.
Ele abriu a porta com aquele mesmo olhar e um sorriso franco e cativante.
Não perguntou nada, como se já a estivesse esperando. Apenas disse:
- Seja bem vinda, Isabela. É um prazer e uma honra recebê-la nesta casa.
Levou-a para um quarto que parecia haver sido preparado na véspera, pediu que deixasse ali suas coisas e levou-a para cozinha, convidando-a para acompanhá-lo no “desayuno” (sua madrinha também nunca usava a expressão “café da manhã”).
Combinaram as condições de trabalho e Isabela começou uma vida nova, como governanta de Barceló.
Durante o dia, pouco conversavam. Ela dedicada aos afazeres domésticos e ele envolvido com seus trabalhos de consultoria e com as aulas na Universidade.
Quase todas as noites, entretanto, após o jantar, Barceló a chamava em seu pequeno escritório para conversar.
Contava histórias interessantes, perguntava sua opinião, ouvia com atenção e argumentava quando oportuno, motivando-a com seu olhar, com seu sorriso e com elogios sinceros.
Ela sentia que aprendia muito com aquelas conversas, sobre o mundo, sobre a vida e sobre si mesma.
E as vezes tinha a impressão de que Barceló acompanhava seu desenvolvimento com algum objetivo, como se esperasse pacientemente que ela por fim chegasse a alguma conclusão específica. Era uma sensação sutil e inexplicável, que longe de ser desagradável a estimulava a esperar ansiosa por cada noite.
Naquela noite, entretanto, tinha sido diferente.
Barceló havia dito que precisava terminar um trabalho, mas que no dia seguinte teriam uma conversa muito importante.
Apesar da aparente tranqüilidade de sempre, alguma coisa em seu olhar estava diferente.
Isabela intuiu que, de alguma forma, sua curiosidade iria ser satisfeita.
- Não vou conseguir dormir hoje – pensou.
Mas terminou por adormecer, acolhida por sonhos repletos de magia e erotismo, dos quais não se lembraria depois.
Deitada em sua cama, sobre o lençol de algodão egípcio, um dos muitos presentes de Barceló, estava mais uma vez tomada por uma ansiedade inexplicável.
Isabela era uma sobrevivente.
Nascida de uma família pobre no interior da Espanha, havia imigrado para o Brasil com seus pais ainda criança.
A vida no interior de São Paulo alternara as privações inerentes à parca remuneração de seu pai, que trabalhava como auxiliar em uma pequena fazenda, e os mimos da “señora”, mulher do fazendeiro, que a havia adotado como afiliada.
A “señora” também era espanhola, filha de um nobre falido que a havia dado em casamento para o genro bronco, mas rico, para quitar suas dívidas e garantir seu padrão de vida.
Dividida entre dois mundos completamente distintos, aprendeu desde cedo a comportar-se de acordo com as situações.
A madrinha havia lhe ensinado todos os hábitos refinados da nobreza espanhola. Com os pais, conhecera o lado duro da vida e o valor das coisas mais simples.
Poderia ter se deslumbrado pela riqueza da casa grande, os gestos perdulários do fazendeiro ou as festas nababescas que dava para os políticos locais.
Bonita como era, poderia ter feito a vida se deitando com os filhos dos poderosos, como chegou a sugerir, mais de uma vez, o fazendeiro.
Mas não era sua índole. E seja pela honestidade de seus pais, seja pela orientação da madrinha, que não queria vê-la passar pela mesma situação que ela havia passado, desde cedo decidiu que seria senhora de seu destino.
Sua madrinha a havia contratado como governanta da casa quando completou 18 anos. Era jovem ainda, mas sabia escutar e aprendia rápido com seus erros.
Sua atitude sempre séria, eficiente e decidida, não deixava espaço para a investida do sexo oposto.
Não que Isabela não gostasse de sexo. Gostava. Mas não deixava que isso adquirisse uma importância maior. Os poucos relacionamentos que teve foram pautados pela praticidade. Escolhas racionais, gostava de pensar, sentindo-se confortada.
Aos 30 anos, Isabela não havia se casado.
Tendo completado 25 anos, a morte de sua madrinha levou-a a deixar a fazenda.
O movimento lento da maçaneta da porta de seu quarto, felizmente trancada, na mesma noite do enterro, não deixava margens para dúvida. Teria problemas com o fazendeiro.
Lembrou-se de um velho amigo de sua madrinha, também espanhol, para quem havia levado uma encomenda a seu pedido, em Monte Verde.
Barceló a havia impressionado desde o primeiro momento. Havia algo no olhar daquele homem que a intrigava. Era um olhar penetrante, firme e misterioso, e ao mesmo tempo acolhedor e algo irônico.
Aquele primeiro encontro rápido havia deixado sua marca.
Numa ensolarada manhã de inverno, Isabela atravessou o jardim do sobrado no alto da colina pisando sobre a grama ainda úmida, e bateu na porta de Barceló.
Ele abriu a porta com aquele mesmo olhar e um sorriso franco e cativante.
Não perguntou nada, como se já a estivesse esperando. Apenas disse:
- Seja bem vinda, Isabela. É um prazer e uma honra recebê-la nesta casa.
Levou-a para um quarto que parecia haver sido preparado na véspera, pediu que deixasse ali suas coisas e levou-a para cozinha, convidando-a para acompanhá-lo no “desayuno” (sua madrinha também nunca usava a expressão “café da manhã”).
Combinaram as condições de trabalho e Isabela começou uma vida nova, como governanta de Barceló.
Durante o dia, pouco conversavam. Ela dedicada aos afazeres domésticos e ele envolvido com seus trabalhos de consultoria e com as aulas na Universidade.
Quase todas as noites, entretanto, após o jantar, Barceló a chamava em seu pequeno escritório para conversar.
Contava histórias interessantes, perguntava sua opinião, ouvia com atenção e argumentava quando oportuno, motivando-a com seu olhar, com seu sorriso e com elogios sinceros.
Ela sentia que aprendia muito com aquelas conversas, sobre o mundo, sobre a vida e sobre si mesma.
E as vezes tinha a impressão de que Barceló acompanhava seu desenvolvimento com algum objetivo, como se esperasse pacientemente que ela por fim chegasse a alguma conclusão específica. Era uma sensação sutil e inexplicável, que longe de ser desagradável a estimulava a esperar ansiosa por cada noite.
Naquela noite, entretanto, tinha sido diferente.
Barceló havia dito que precisava terminar um trabalho, mas que no dia seguinte teriam uma conversa muito importante.
Apesar da aparente tranqüilidade de sempre, alguma coisa em seu olhar estava diferente.
Isabela intuiu que, de alguma forma, sua curiosidade iria ser satisfeita.
- Não vou conseguir dormir hoje – pensou.
Mas terminou por adormecer, acolhida por sonhos repletos de magia e erotismo, dos quais não se lembraria depois.
11 comentários:
Bela personagem!! Estou curiosa para saber qual será a grande mudança que o destino reserva...
Adormeceu e as trombetas tocaram... Quanto suspense!!!! :-)
Uau!Ta´ficando bom!!!
Só os sobreviventes são invencíveis e sedutores. Sortilégio em palavras.
Sei não. Pode ser que me engane. Mas acho que essa coisa vai passar das doze...
Linda construção desta personagem feminina. Um estilo que se constrói a partir da tua sensibilidade para entender as mulheres.
É, Ernesto, também estou achando que essa super história não vai terminar às doze badaladas...
Não é o tamanho que conta ...
Flavio;
Essas coisas que vc escreve (como esse ultimo comentário), me obrigam a dizer: vc faz falta...
Lú.
E foi um comentário pequeno ... não disse ?
Ele está a caminho... Hurrayyyyy!!! E aquecendo as turbinas...
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