Páginas

terça-feira, julho 29, 2008

Bebês, Etanol e Lei Seca


A produção de Etanol no Brasil não provoca o aumento do preço mundial do açucar.
Mais álcool para os carros, menos álcool para os motoristas: as estatísticas provam a eficiência da Lei Seca na cidade de São Paulo, que contabiliza alguns milhões de economia apenas no sistema público de saúde.
Enquanto isso, cai a fertilidade no pais do carnaval.
Tudo isso é notícia na imprensa dessa semana. Estatísticas que viram notícias.
Vamos começar pela mais óbvia. Como bem disse meu amigo Edu, se houvesse a mesma fiscalização sobre os motoristas antes da Lei Seca, o resultado teria sido semelhante e os bebedores comedidos poderíam seguir tomando seu choppinho em paz. Não foi a mudança da lei que produziu a redução de acidentes, foi a fiscalização.
O Brasil foi pioneiro na produção de etanol automotivo e tem muita gente querendo jogar areia na nossa fogueira. Entretanto, como biocombustíveis são politicamente corretos, o Banco Mundial saiu em nossa defesa, se apressando em afirmar que não estamos contribuindo para a alta generalizada nos preços dos alimentos (nesse caso, do açucar). É óbvio, entretanto, que se toda a cana-de-açucar utilizada para produção de etanol (50% do total do país) fosse alocada à produção de açucar, teríamos muito mais açucar e, pela lei da oferta e demanda, o preço do açucar baixaria.
Já a redução na taxa de natalidade certamente não é nenhuma novidade, nem aqui nem em nenhum outro lugar do mundo ocidental. Mas talvez por uma curiosa e inconsciente associação entre "bebês de menos" e "beber de menos", o assunto tenha ganhado novo interesse.
Estatísticas são assim. Padecem do excesso ou da falta de originalidade em suas interpretações.

(imagem: www.tvgasm.com)

domingo, julho 27, 2008

sábado, julho 26, 2008

Consultório do Dr. Galhoffo

- E aí, doutor ?
- Bem ... pela avaliação propedêutica, o senhor sofre de inépcia ... um caso agudo ...
- E é grave, doutor ?
- Do ponto de vista gramatical, se é agudo não pode ser grave. Precisaríamos fazer alguns exames, mas não sei se o senhor será capaz ...
- O que eu faço, então ?
- Não faça nada. Fique em casa, repouse. Embora não seja necessariamente contagiosa, a inépcia esférica pode afetar aqueles que lhe estão próximos.
- Esférica ?
- É ... de qualquer ângulo que observemos, constatamos sua inépcia.
- Tem cura para isso ?
- Difícil ... a genética, como o senhor sabe, é hereditária. Melhor se habituar e viver conforme suas limitações.
- Como assim ?
- Mude de emprego ... arranje um cargo político ou trabalhe no serviço de atendimento a clientes de alguma empresa de telefonia celular... são atividades onde suas limitações serão vistas de forma positiva e não impedirão seu desenvolvimento profissional.
- Mas e minha mulher, meu filho ... como é que eu vou contar isso para eles ?
- Bem, considerando seu grau de inépcia, é bastante provável que sua mulher já tenha percebido e se arranjado de algum modo, o que significa que seu filho não deve ter sua carga genética. Pode ficar tranquilo.
- Que alívio, doutor ...

Provérbio

Velho deitado chinês, Confuso diz:

Aquele que me contradiz com convicção
Muito bem sabe
Que nenhum de nós tem razão

sexta-feira, julho 25, 2008

Motivações


O que motiva alguém a aceitar o papel de carrasco é a certeza efêmera de que, pelo menos desta vez, não vai estar do outro lado.

quarta-feira, julho 23, 2008

A arte de educar

A educação tem por objetivo o desenvolvimento do educando, do ponto de vista do educador.
Ocorre que nem sempre existe concordância entre as partes sobre o que significa desenvolvimento.
Logo, a noção de indivíduo educado é relativa.
E, embora haja, via de regra, um certo grau de consenso sobre o tema em cada cultura, esse acordo conceitual raramente se estende à aplicação prática cotidiana.
Não raro, os próprios educadores agem em desacordo com seus ensinamentos.
O que nos leva a proposição de um novo provérbio:
"Faça o que eu ensino, e não ensine o que eu faço."

terça-feira, julho 22, 2008

Pensar duas vezes


Aconselham os cautos: melhor pensar duas vezes antes de decidir.
Ora, senão vejamos ... se o segundo pensamento coincide com o primeiro, terá sido redundante e, portanto, supérfluo e dispensável.
Por outro lado, se contrastar com o primeiro estaremos diante de um dilema de escolha.
Escolheremos por antiguidade ou por recência ? Qual terá a prevalência ?
A alternativa de se pensar uma terceira vez compromete o vigor da recomendação inicial além de, obviamente, conduzir ao risco de um terceiro pensamento dissonante.
Isto posto, fica comprovada a inutilidade do duplo pensar e o despropósito do cauto conselho.
Havendo causado um problema a essa nobre classe social, a dos cautos, sinto-me na obrigação de oferecer uma solução. Na verdade, singela proposta de um tênue ajuste.
"Melhor pensar antes de decidir" - assim, mais simples e elegante, sem a insidiosa armadilha da determinação quantitativa.
Deixamos a critério do sujeito da decisão optar, ou não, pelo exercício repetitivo do ato de pensar.
Tudo vale, desde que pense pelo menos uma única vez.

(inspirado por um aforismo de Drummond em "O Avesso das Coisas")

domingo, julho 20, 2008

Feliz Ano Novo

Não sou particularmente chegado em comemorar datas.
Felicidade artificial e compulsória associada a ansiedade generalizada não me parece a melhor forma de aproveitar a vida.
Há alguns anos decidi preservar uma comemoração íntima: o meu ano novo.
Ele acontece todo ano, na data do meu nascimento.
A comemoração é simples e rápida. Um breve momento de introspecção em que alimento a gratidão pelo que já tive e aceito como o melhor presente a oportunidade de viver um pouco mais.
Quando estou bem comigo mesmo, aproveito para assumir alguns compromissos construtivos.
Se estiver de excelente humor (e não estiver viajando por aí) convido alguns amigos para comemorar.
Comemorar o fato de ter amigos, de ter vivido bem, e de estar vivo.
A vida tem sido generosa comigo.
Retribuo, quando posso.

quarta-feira, julho 16, 2008

O mistério das agulhas


Não sou um bom exemplo para muitas coisas. Uma delas é a auto-medicação.
Coisas de homem, cabeça dura, chegando aos 50. Médico, só em último caso.
De um tempo para cá, encaixei um penúltimo caso. Dra. Meta Lloey, uma simpática doutora (descendente de chineses, imagino) especializada em medicina oriental.
Excepcionalmente eficiente quando não sei exatamente o que tenho ou quando o problema de saúde é emocional/energético/somático.
Detesto acupuntura. Acho dolorido e aflitivo.
Mas sou obrigado a dar o braço a torcer ... opera maravilhas.
Não só para o estado geral (energético) mas, também, para coisas pontuais.
No meio de uma sessão de acupuntura, já com uma dezena de agulhas espetadas, lembrei-me de uma dor de cotovelo (física) que me incomodava há vários dias.
Já havia tentado alongamento e fisioterapia caseira sem sucesso.
Eis que ela, decidida, espeta uma daquelas agulhas num ponto do cotovelo.
Melhor que o Doriu da propaganda. A dor sumiu !
O resto vai melhor, obrigado...

domingo, julho 13, 2008

Aliens


Sempre que encontro alguém no elevador engatado no seu iPod (ou equivalente), não posso deixar de pensar: esse sujeito não quer interagir com o mundo a sua volta.
Como parte do mundo à sua volta me sinto algo incomodado.
Até porque o sujeito me vê, sabe que estou lá e finge que não existo.
Mas esse meu probleminha está prestes a ser resolvido.
Chegou o MyVu, um óculos especial que oferece a singular experiência multimídia.
Você pode escutar e assistir o conteúdo do seu iPod e verdadeiramente ignorar o resto do mundo.
Fico imaginando o futuro. O que será que estão criando para a boca e o nariz ?

quarta-feira, julho 09, 2008

Certa noite, num bar qualquer ...

- E então, cara ?
- Sei lá ...
- Como assim ? Cinquenta anos !
- E ?
- Tem que celebrar, Bernardão ... a vida começa aos cinquenta ! - Nestor levanta o copo como se estivesse oferecendo a bebida aos deuses e bebe um generoso gole.
- Aí está o ponto. Celebrar o que, Nestor ?
- Ora ... a vida que teve, a vida que terá. Sobretudo a que terá ... - completando o copo de cerveja do amigo.
Bernardo passa o dedo na espuma e leva a boca, com o olhar perdido ao longe.
- O que será que será ...
- Grande Chico ! - repete o gesto e o gole.
- Vou descobrir o que me faz sentir, eu ... caçador de mim ...
- Grande Milton !
- São as grandes questões cinquentenárias, Nestor. Você vai descobrir quando chegar lá.
- Tudo bem, tudo bem ... Tá vendo aquela moreninha alí, de saia verde, sentada na banqueta esperando mesa ? Dá uma olhada no espelho do balcão ...
- Que é que tem ?
- Sem calcinha, cara ! E viva o século vinte e um !
- Meu caro Nestor ... sabe o que eu tenho feito nos últimos cinco anos ? Explorei todas as possibilidades de um descasado. E descobri uma coisa interessante sobre o sexo...
- Ôpa ... manda aí meu mestre ...
- A expectativa dá um enorme sentido para a vida. O que, talvez, explique essa coisa de celibato ...
- Xô ... tô fora !
- E no viril e vibrante instante do orgasmo, todo o sentido se esvai ... - os olhos marejaram - ... e você se sente um estranho habitando um corpo exausto.
- Homem ... se o sexo aos cinquenta é assim, tenho que aproveitar enquanto é tempo !
- Deixa de bobagem, Nestor. O que eu quero dizer é que sexo é bom ... aliás, é uma delícia ... mas não é tudo. É divertido, é gostoso ... um passatempo. O melhor deles. Mas a vida é mais do que isso. Ou, pelo menos, deveria ser ... - Bernardo bebe vagarosamente a cerveja, buscando respostas nas pernas da garota da saia verde.
- Bernardo, você precisa se casar novamente !
- Engraçado você ! - sombrancelha esquerda arqueada. Agora mesmo estava reclamando da vida de casado ...
- Pois então ... mais uma prova de que as mulheres é que fazem os grandes homens.
- Desenvolva ...
- Quantas vezes por semana você transa ?
- Sei lá ... depende ... Quando estou namorando, quase todo dia. Menos quinta-feira, que é dia do futebol.
- Taí ... Trepa muito, perde o sentido da vida. Já se fosse casado, sua mulher iria determinar um rítmo saudável para sua vida sexual. Uma vez por semana, em média. As exceções ficariam por conta das ocasiões especiais, como no dia em que ela vai ao ginecologista ou a um casamento, ou perde dois quilos com a nova dieta. Se tiver uma mulher realmente dedicada, não deve passar de 3 ou 4 vezes por mês.
- E que vantagem Maria leva ?
- A Maria eu não sei, mas você recupera a vontade de viver. Ou pelo menos a de trepar. Veja o meu caso: mais uma cruzada de pernas daquela garota e posso dizer que a noite valeu a pena. E nos próximos dois ou três dias vou estar dedicado a agradar a Fátima de todas as maneiras para merecer uma noite de prazer.
- Nestor ... decididamente, você é um mazoquista.
- Pode ser, Bernardo, pode ser ... mas não sou eu quem está infeliz.
A morena inverte vagarosamente a posição das pernas cruzadas olhando de canto para Nestor com um sorriso malicioso.
- Yes !!!!!! - os olhos de Nestor brilham como o de uma criança na noite de Natal.
Bernardo abre o flip do telefone celular.
- Alô ... Oi Rê ... é o Bernardo... Então ... vou ter que viajar amanhã ... dois dias ... é, eu também ... mas a gente se vê no sábado ... prometo ... tá, te ligo ... beijo.
Fecha o telefone, dá um gole na cerveja e põe a mão no ombro do amigo.
- Vamos ver, Nestor ... vamos ver. Quem sabe você tem razão.

segunda-feira, julho 07, 2008

To do list


Imagine um disco dividido em dezenas de pedacinhos de diversas cores.
Agora imagine que cada divisão corresponde a uma tarefa que você tem que realizar.
Na medida em que o tempo passa a gente vai percorrendo uma espiral crescente e as tarefas vão ocupando cada vez mais tempo.
As vezes me sinto assim, percorrendo um círculo, cada vez mais distante do centro.
Curioso é que a primeira vez em que essa analogia gráfica me ocorreu foi no sentido contrário.
Sentia que durante as sessões de psicanálise pulava de assunto em assunto e, quando retornava a um assunto já visitado, tratava-o de maneira mais profunda, aproximando-se do centro.
No centro, como vocês já devem ter adivinhado, estou eu.
O que leva à inefável conclusão de que o acúmulo de coisas para fazer não é lá muito positivo em termos pessoais.
Claro que essa, como toda analogia, não dá conta de explicar tudo.
Hoje à noite, por exemplo, fiz geléia de morango e estou aqui postando. Duas coisas que me fazem sentir mais perto do centro.

quarta-feira, julho 02, 2008

O peixe morre pela boca


Mais uma da série "nós somos uns animais mesmo ?" ...
Lí hoje no estadao.com.br que um estudo realizado durante 8 anos com aproximadamente 25 mil gregos comprova que a dieta mediterrânea reduz em até 24% a chance de desenvolver câncer.
Eu vou pelo bom caminho, já que minha dieta regular se aproxima bastante da mediterrânea, pelo menos pelo volume de azeite que consumo e pela quase ausência da chamada "carne vermelha" na mesa.
Honestamente, não faço isso para evitar câncer. Faço por prazer. Se fosse escolher uma dieta para cuidar da saúde, comeria só frutas. É para isso que nosso organismo foi projetado, na minha pouco qualificada opinião.
E embora não seja oncologista, arrisco uma teoria: quase todo mundo vai morrer de câncer, caso não morra de nada antes disso.
Câncer é o nome que se dá à multiplicação desordenada das células.
As causas para esse desequilíbrio no processo de multiplicação celular podem ser muitas. Estresse por sucessivas agressões aos tecidos (comida, bebida, cigarros, sol, alimentação inadequada) é uma das aparentemente comprovadas.
Isso não é novidade. Outro dia mesmo, numa churrascada, um grupo animado discutia a importância dá prevenção do cancer. O papo animado só era interrompido pelas lascas fumegantes de picanha e pela cerveja geladinha.
(imagem: www.zaroio.com)