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domingo, agosto 31, 2008

O Rastro do Butadieno (4)

Capítulo 1 - A visita
Capítulo 2 - Sonhos e Safiras
Capítulo 3 - Um nome de mulher



Capitulo 4

Perturbações Próximas


Tivesse nascido um pouco mais tarde, Gusmão seria facilmente diagnosticado como maníaco compulsivo, forte candidato a ter surtos psicóticos.
Era extremamente crítico e brutalmente direto em suas colocações.
O verniz social não havia aderido à sua superfície e tinha baixa resistência a frustração.
Por isso mesmo Gusmão falava pouco. Havia tomado essa decisão por volta dos 24 anos, após brigar com toda a família e, mais importante, sua mãe.
- Mãe é o aval para cumprirmos nosso destino pessoal – costumava defender Gusmão antes da última briga. É seu amor incondicional que nos permite SER, com letras maiúsculas.
Lamentavelmente, no caso do Gusmão não havia sido assim.
Sua mãe se cansara das respostas agressivas, das ausências de atenção, das atitudes lacônicas, do desprezo por sua “menor inteligência”, do sarcasmo e, por último, das drogas.
Não que Gusmão fosse um viciado em drogas. Maconha, talvez, por alguma definição mais clássica. Mas as outras, ele apenas havia experimentado. Precisava experimentar. Não havia qualquer outra coisa que fizesse sentido naquele momento.
A mãe surtou e ele saiu de casa, como Adão deixara o paraíso: renegado pela criadora, destinado a ser inexoravelmente corroído pela culpa fundamental, pelo pecado original.
- "Primus amor potior..." – as vezes se sentia triste, mesmo agora, praticamente 15 anos depois.
Gusmão pode canalizar toda sua obsessão, raiva e frustração ao entendimento do Deus ex-maquina, mergulhando na ciência. Não tinha um ramo particular de interesse, e pulava de campo em campo do conhecimento.
- Toda ciência é, antes, Filosofia – dizia, categórico.
Mas havia sido escolhido por um campo mais específico para trabalhar. Química Quântica, um ramo da Química associado à Física Quântica que estudava os fenômenos relativos à conformação (ou colapso, como ele gostava de dizer) da matéria.
O comportamento dual da matéria-energia o fascinava.
E o projeto piloto no qual o laboratório estava trabalhando, com financiamento do governo, era uma aplicação prática desse fenômeno.
- Transporte de matéria na sua forma “energética” - explicava, nas raras vezes em que optava por ser inteligível. Já assistiu Jornada nas Estrelas ?
Gusmão estava particularmente entusiasmado com o trabalho. No último ano haviam feito grandes avanços, a partir de uma idéia sua.
Baseado em princípios de radiotransmissão, ele havia sugerido utilizar uma substância “portadora” como “frame” de transporte para a matéria convertida em energia.
A idéia havia ocorrido numa noite em que fumava um baseado em Maromba, deitado na areia, e se sentiu transportado para a lua. Viu-se subitamente desintegrado. Aí, cada partícula de seu ser agarrou-se em um daqueles pontinhos de poeira suspensa, iluminados pela lua e subiu pelos raios de luz até o satélite natural da Terra, onde todos se reorganizaram em um novo Gusmão, mais novo, mais puro e ... menos consistente.
O sentimento era estranho.
Suas “impurezas” pareciam não haver sido transportadas. Sentia-se mais limpo na Lua. Mas também mais fraco, menos consistente, como se a energia de coesão de suas partículas tivesse diminuído e fosse mais fácil desintegrar-se novamente.
De todo modo, o sonho serviu de inspiração e eles passaram a testar várias substâncias diferentes no laboratório, para o papel de “portadora” das partículas.
Catalisador Gluônico, é o nome técnico desse elemento no processo.
Quando entrou no laboratório naquela manhã, Gusmão encontrou Bruno excitadíssimo.
- Dr. Gusmão! ..... Dr. Gusmão! ... Aconteceu de novo nessa noite ! .... A redução de Spin no concentrado de Bósons ... por quase duas horas ....
Gusmão não precisava esperar que o Grande Colisor de Hádrons, construído na fronteira da França com a Suíça, comprovasse a existência do Bóson de Higgs para saber o que signficava essa redução de spin.
Ele era pragmático. A prova disso era que, em seu pequeno laboratório, acompanhado da irriquieta inteligência de seu assistente Bruno, já havia conseguido encontrar aplicações fantásticas para coisas que os outros cientistas ainda tentavam provar que existiam.
O único output que o interessava, vindo desse gigante colisor, eram as conclusões sobre a super-simetria. Mas isso iria demorar anos.
E paciência não era, decididamente, uma qualidade do Gusmão, um obcecado pelo tempo.
- Calma, Bruno ... calma .... Conseguimos identificar a origem ou a natureza da interferência ?
- Não, Doutor ... – Bruno deixou os braços caírem, desalentado ... – Pela intensidade a fonte deve estar nas proximidades ... mas nossos equipamentos não tem sensibilidade suficiente para o tracking.
- Merda !
Nesse exato momento, do outro lado da rua, Cristine fazia sinal para um Taxi.
Estava atrasada.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Mega Bites


E ninguém me disse que San Juan, capital de Puerto Rico, era também a capital dos pernilongos.
Provavelmente o maior índice "per capta" da América Latina.
Tentava dormir, com a janela aberta, já que meu limite de resistência ao ar condicionado havia se esgotado em Miami.
Sonolento, escutei aquele inconfundível zumbido.
Cinco tapas na própria orelha depois, decidi levantar, acender a luz e matar o chato, ou melhor, o pernilongo.
Surpresa ! A fera não estava sozinha. Fazia apenas o vôo de reconhecimento para o posterior ataque da esquadrilha. Centenas de predadores prontos para inflingir-me mega bites.
Covardemente, apaguei novamente a luz e refugiei-me sob o lençol, segurando-o firme com a mão para o caso de tentarem arrastá-lo.
Como não usava anéis, ficaram com os dedos e o resto da mão.
Contei umas 15 picadas.
E acho que, como vingança por havê-los privado de um banquete maior (tô me achando !), levaram meu celular.
Ou seja, se precisarem me ligar, não me liguem por enquanto.

domingo, agosto 24, 2008

Posso falar ?

Divertidíssima a história que a Anne postou lá no Life Living.
Eu, que já estou batendo nos 50, sempre tenho a nítida impressão de que sou tomado como "inconveniente" porque não me presto muito às filigranas do discurso socialmente correto.
Curiosamente (ou não), costumo chocar os mais jovens - quem diria. Justamente os que deveriam estar aí para contestar.
Os que não se afastam por isso, podem experimentar a liberdade de expressão.
E não me refiro a falta de respeito, que isso é abuso da liberdade.
Abaixo o patrulhamento verbológico !

sexta-feira, agosto 22, 2008

O Rastro do Butadieno (2)

O primeiro capítulo dessa minisérie pode ser encontrado no Assertiva:


Capítulo 1 - A visita







Capitulo 2
Sonhos e Safiras

Cristine foi despertada pelos pequenos filetes de luz do sol que atravessavam impiedosamente os furos da moderna veneziana branca, refletiam no espelho da parede ao pé da cama e brincavam com seus olhos.
Outra noite de sonhos eróticos. Outra vez o rastro daquele estranho aroma adocicado no quarto.
- Tudo tão real .... – gemeu, numa felicidade preguiçosa.
Levantou-se e caminhou languidamente para o banheiro, saboreando o contato do tecido fino do négligé branco sobre o corpo nu.
Suas longas e desgrenhadas madeixas tinham o exato tom de mel de seus olhos.
“Duas lindas safiras” .... a lembrança voz rouca do homem sussurrando em seu ouvido provocou um arrepio tardio.
Quem seria aquele homem desconhecido com quem havia sonhado repetidas noites ?
Não era especialmente bonito. Nem particularmente alto ou musculoso. Mais velho do que ela, talvez já na casa dos quarenta e poucos anos. Fisicamente, nada especial.
Mas havia alguma coisa de incomum, além das pedras.
O ritual era sempre o mesmo no seu sonho.
Ele a acordava no meio da noite, com um sorriso maroto, colocava gentilmente o dedo indicador sobre seus lábios pedindo a cumplicidade do silêncio com os olhos.
Afastava-se até os pés da cama e puxava lentamente o lençol, descobrindo-a.
Sempre sorrindo e com movimentos precisos e suaves, tomava suas mãos para que sentasse na cama e despia seu négligé.
Afastava seus cabelos com um gesto distraído enquanto contemplava seus seios pequenos.
Substituía seu travesseiro por uma pequena almofada de seda branca.
Ela se recostava. Em poucos segundos era tomada por um profundo relaxamento, a mente entorpecida e todas as partes de seu corpo explodindo de sensibilidade.
Então ele começava a colocar as pedras. Desenhava mosaicos sobre seu corpo com pequenas safiras multicoloridas.
De alguma maneira, os cristais pareciam interagir com os centros de energia de seu corpo, provocando sensações indescritíveis.
Não era um orgasmo. Era muito mais do que isso.
Uma sensação continuada de prazer intenso que aumentava e mudava de matiz a cada nova pedra colocada sobre seu corpo.
Ele parecia estar sentindo o mesmo prazer, como se as safiras tivessem o poder de capturar e transmitir suas sensações àquele misterioso “joalheiro”.
Quando o prazer se tornava deliciosamente insuportável, ela se sentia arremetida para o infinito numa viagem sem fim, que durava até o despertar.
A surpresa e o encantamento da primeira vez foram gradativamente substituídos pela ansiedade e a expectativa da repetição.
- Será que ele vai voltar ? – pensou, deixando a água quente escorrer preguiçosamente sobre o ventre.
E sorriu como só quem conhece a felicidade pode sorrir.







(imagem: kalmindon.files.wordpress)

quarta-feira, agosto 20, 2008

When is the situation secure, agent ?


When you drive home .... when you drive home ....


(do filme Mindhunters, que passou hoje à noite no AXN)

domingo, agosto 17, 2008

BRAZIL Promenade


Imaginem um país tão rico que nas noites de domingo as pessoas passeiam pela rua em segurança e champanhe é servida para todos de graça ...
Pois é ... descobri que moro nesse país.
Agora à noite, nas ruas desse simpático pedaço do Brasil chamado carinhosamente de "Jardins", a Chandon patrocinou o evento Promenade Chandon 2008.
Música ao vivo em diversas vitrines, muita gente bonita nas ruas e taças de Chandon para todos,
E, claro, segurança pública e privada no entorno, para evitar que gente feia estrague a festa.
Como eu faço parte do primeiro grupo, pude passear com liberdade pelo local e aproveitar a festa.
Só não pude entrar na Diesel. Precisava apresentar uma pulseirinha VIP, e eu só tinha minha Tarjeta Pepperoni (presente das amigas do Uruguai).
Voltei para casa pensando se nossos amigos chineses, tão bons na solicalzação de marcas famosas, não poderiam aproveitar aquele espírito comunista e mandar alguns containers com pulseirinhas VIP para todos os brasileiros.

sábado, agosto 16, 2008

Outras visitas


E por falar em visitas, a bruxa andou solta nesse mês de agosto e uma porção de gente querida esteve internada em hospitais.
Até eu visitei o pronto-socorro do Sírio-Libanês por conta do tombo que levei (postado lá no Prozac).
Aliás, vale comentar que no Sírio o PS é chamado de Pronto Atendimento. E, de fato, eles praticam amplamente isso por lá. Em 20 minutos já tinha sido atendido por 3 pessoas diferentes: a triagem, o cadastro e, finalmente, o ortopedista.
Depois fiquei quase uma hora esperando para fazer um obsoleto Raio-X (parece coisa de ficção).
Mas o assunto é outro.
Um dos diretores da empresa onde trabalho foi internado e precisou sofrer uma cirurgia de emergência. Aparentemente, tudo correu bem. Ele esta na UTI e deve ficar uns dias de molho, mas sobreviverá galhardamente.
Trata-se de uma pessoa muito querida e, no agrupamento em torno da máquina de café alguém comentou:
- Poxa, vai precisar rolar uma visita !
Ao que eu respondi:
- Claro ... vou fretar uns 3 ônibus e vamos visitá-lo no hospital.
Pessoalmente, detesto receber visitas quando estou doente, o que, para minha sorte, é bastante raro.
Abro uma exceção para minha irmãzinha Glaura e suas maravilhosas injeções anti-espasmódicas e sedativas, quando tenho alguma crise de cólica renal.
Se um dia tiver que ficar internado num hospital, quero receber de presente vasos de porcelana.
São ótimos para se jogar contra a porta quando alguém quiser entrar para uma visita.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Relevância

Os comentários no Arguta Café diminuiram, embora o volume de visitas continue constante.
Escrevo aqui por prazer, sem maiores compromissos. Mas, por força do vício profissional e da curiosidade natural, não posso deixar de questionar essas variações.
Por outras razões, estive pensando em relevância. Nesse mundo onde tudo e todos estão competindo brutalmente por atenção, a relevância deveria ser o fator de decisão.
Relevância é relativa, determinada individualmente e nem sempre de forma consciente.
Não posso determinar o que será relevante para meus leitores. No máximo, se desejar, posso tentar adivinhar. Ou mesmo propor.
Os grandes veículos de comunicação tem esse poder, de determinar o que devemos considerar relevante. Não é o caso do Arguta, nem é para ser.
Mas na blogsfera, os critérios e motivações são outros.
Vejam o caso do nosso querido Tapadinhas. Suas postagens costumam ter entre 20 e 30 comentários. OK ... quase a metade é dele mesmo, respondendo aos demais, como costumo fazer quando tenho tempo (o que tem sido cada vez mais raro).
Ou da Cris Fonseca, a artista do grafite, também rondando a casa dos 3o comentários por postagem.
Ou do nosso mais bom do que velho Jorge Lemos.
Nos três os casos, a motivação para os comentários me parece o carinho que os amigos tem por eles, independentemente do conteúdo das postagens.
Mas, é bom notar, tem um ponto em comum: postam arte, no sentido explícito.
E pelo que pude verificar, eles também tem o costume de visitar os blogs de seus amigos com frequência.
Não esperem uma conclusão nessa postagem.
Apenas observações....

domingo, agosto 10, 2008

Kiwi Dilemma - A Banda

Meus caros ...
A Kiwi Dilemma está de nova cantante.
Vivian se juntou ao Gui Ferrari (baixo), Caio (guitarra) e Rafa (batera) conferindo o equilíbrio melódico que os rapazes desejavam para a banda.
Quem quiser curtir os primeiros trabalhos com a nova voz, basta fazer uma visita ao MySpace da banda: http://www.myspace.com/kiwidilemma .
Está delicioso.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Conclusão celestial

O céu é um lugar onde as pessoas não tem desejos ou necessidades, e podem viver em paz umas com as outras.

terça-feira, agosto 05, 2008

Pensamento da noite

Na verdade ainda me espanta
a estreita relação
entre segurança e confiança
sem a primeira
a segunda não se pratica
e se perdemos a segunda
a primeira vai na esteira
uma questão profunda !

sábado, agosto 02, 2008

A Bruxa de Barcelona

Pois é ... enquanto alguns insistem na velha fórmula da amante argentina, nosso seixiano Paulo Coelho optou pela Bruxa de Barcelona (a carioca Mônica Antunes, 39 - sua agente exclusiva).
Não sou fã dos livros do Paulo Coelho (prefiro a versão original, do Castañeda). Mas tenho que admitir que é um escritor pop modernamente brilhante. O único exemplo brasileiro de compreensão e boa articulação no cenário editorial global.
Ser escritor brasileiro e ganhar (muito bem) a vida com isso, não tem preço. A maioria tem dificuldades para pagar a fatura do Mastercard.
E, ademais, mesmo os mais críticos tem que aceitar do fato de que suas mensagens são inspiradoras. "Do bem", como diria uma amiga minha, pré-moderna.
Espero que a dona Mõnica consiga evitar que a criatividade de Sir Paulo o leve a cometer novos disparates de comunicação (como envelopar ônibus em Paris) e que seu novo livro seja mais um grande sucesso.
Ele trabalha muito para isso, e está abrindo caminho para novos escritores brasileiros.