Porque
é quem não pensa dentro da caixa começaria a pensar fora dela ?
Há um grande conflito tomando conta do
ambiente organizacional.
De um lado, acionistas pressionam por
resultados financeiros de curto prazo.
De outro, o volúvel mercado demanda
constante inovação.
Nas empresas, o departamento de recursos
humanos é chamado a implementar programas de treinamento para estimular a
criatividade das equipes, e os executivos implementam comitês, protocolos e
políticas de inovação.
Mas quem tem tempo para ser criativo e onde
está o dinheiro para implementar novas ideias ?
Os profissionais são convidados, então, a
“pensar fora da caixa”.
Nós, latinos, adoramos analogias. Os norte-americanos costumam utilizá-las como
instrumento de marketing, mas nós realmente mergulhamos das imagens que
escolhemos para simplificar o entendimento da realidade.
Os europeus não latinos costumam ser mais
diretos em suas análises. Tive
consciência disto na primeira vez em que, conversando sobre o comportamento “independente”
dos consumidores com um parceiro alemão, utilizei uma analogia (de um
adolescente rompendo com os pais) e ele me perguntou porque é que eu havia
mudado de assunto.
“Pensar fora da caixa” é uma representação
(analogia) que pretende nos estimular a sair de nossa zona de conforto (a
caixa) e pensar mais livremente e sem restrições (as paredes).
Estendendo a analogia, eu me pergunto: quem
não pensa dentro da caixa irá pensar fora dela ?
Qual é a caixa que nos impede de pensar
? De que serão feitas as paredes dessa
caixa para que tenha tamanho poder ?
No contexto organizacional, fico imaginando
paredes muito espessas, construídas com as restrições financeiras, a limitação
de tempo, as “prioridades” cotidianas, as políticas e práticas, os planos e
objetivos, a hierarquia, os problemas, a carência de know –how e competências
específicas, tudo isso amalgamado pela cultura corporativa.
Seriam paredes rústicas e desagradáveis de
se observar. Mas tendemos a “dar um
acabamento” melhor a essas paredes, chapiscando-a com uma certa rebeldia
cosmética e aplicando uma demão de conformismo logo em seguida, para finalmente
pintá-las com nossos medos e inseguranças, e pendurando fotos das aventuras que
já vivemos e que justificam a aceitação desta prisão. Afinal, dentro da caixa costuma ser mais
seguro e lá fora, quem sabe ? Melhor nem
pensar no assunto.
Correa Navas, meu amigo e sócio da Media Gurú (Costa Rica),
posta um comentário no Facebook lembrando-me do “paradoxo de Schrödinger”, um
experimento imaginário concebido en 1935 pelo físico Erwin Schrödinger para
expor uma das consequências menos intuitivas da mecânica quântica. No experimento, um gato é trancado numa caixa
com um dispositivo que tem 50% de chance de matá-lo após um determinado espaço
de tempo. Passado esse tempo, temos uma
caixa com 50% de chance de conter um gato vivo e 50% de chance de conter um
gato morto. Até que o observador abra a
caixa, isso é o que temos: probatilidades.
A abertura da caixa pelo observador modifica o sistema e causa o “colapso”
das probabilidades. Agora, o observador
tem uma caixa com um gato vivo ou morto, de acordo com sua observação.
Nesses quase 80 anos que se passaram desde
que Schrödinger imaginou seu experimento, famosos acadêmicos de todo o mundo
dedicaram boa parte de seu tempo a analisa-lo e discutí-lo.
A caixa, o gato e o dispositivo de Schrödinger
são construções imaginárias, que ajudam a “tangibilizar” (fazendo mal uso da
palavra) fenômenos quânticos de difícil observação.
Nossa caixa, aquela que nos impede de
pensar, também é uma construção imaginária, por mais bem acabada que seja em
nossa imaginação.
Ela foi “construída” para que não tenhamos
que pensar, para justificar o fato de que preferimos não pensar.
Tal qual como ocorre no experimento de Schrödinger,
enquanto houver a caixa, existe a probabilidade de pensar fora dela.
É um conforto quântico.
Mas se eu convidasse meu parceiro alemão a
pensar fora da caixa ele me perguntaria: “Wo ist die kiste?” (onde está a caixa
?).
4 comentários:
hahahahaha super viajei nesse seu post, vc além de tudo é mto culto amigo Flavio.
hahahahaha super viajei nesse seu post, vc além de tudo é mto culto amigo Flavio.
Muito gentil, Ana ... ;-)
E o seu amigo alemão nem se deu conta que ele próprio está dentro da caixa! :)
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