Qualquer um com mais de 40 anos, mesmo não sendo fã do Nelson Rodrigues, já deve ter ouvido a expressão: “até aí, morreu o Neves”.
A idéia é que, embora a morte do Neves seja um fato grave (alguém morreu), como ele representa apenas um ilustre desconhecido sem qualquer relação com os interlocutores, o fato não traz qualquer implicação maior e pode ser ignorado.
Ainda que a expressão em si já esteja em desuso, a atitude não poderia estar mais em voga.
Muito comum, principalmente em empresas multinacionais de origem norte americana que sofrem da síndrome do excesso jurídico, a crença de que “se não é da minha área então não é problema meu” encontra forte ressonância também no território nacional.
Talvez seja, no nosso caso, um efeito colateral de implementações de sistemas de otimização de gestão mal conduzidas.
Fato é que, ainda que a morte do Neves tenha ocorrido em outro departamento, a conta do enterro pode vir parar no seu centro de custo, e certamente o féretro circulará por toda a empresa, lembrando-nos de que poderíamos ter feito algo por ele quando ainda em vida.
E a sensação final será a de que, tal qual Elvis, o Neves não morreu. Ficará na memória de todos por um bom tempo.
sexta-feira, abril 07, 2006
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Um comentário:
Flá, ninguém se importou com a morte do Neves, mas outro detalhe é que muita gente faltaria ao trabalho para poder comparecer ao enterro.
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