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domingo, dezembro 03, 2006

Marketing cria necessidades ? (opinião do leitor)

Essa discussão se iniciou no blog do Rodrigo, que a transferiu para o Arguta como comentário.
Como o tema é interessante e a opinião do Rodrigo consistente, decidi publicá-la como "post" para estimular a participação dos demais frequentadores do Arguta Café.
Bom proveito !

- E, apenas para constar, o marketing bem feito não inventa necessidades ... apenas as explora (eu havia comentado isso no blog do Rodrigo, o Dysfemismo). Ele contesta...

Todo burgues publicitario acredita nisso. Mas é muita ingenuidade acreditar que Coca-cola e Marlboro apenas exploraram necessidades e não abusam de possibilidades humanas para transformarem-nas em necessidades inexoraveis. Se os meios de comunicação em massa não tivessem nenhum poder de reciprocidade (ou seja, o poder de ser criado por uma sociedade e de recria-la novamente) eu até concordaria. Mas é obvio que sua idéia só faz sentido porque a propria classe que cria e recria o mundo através da publicidade tem o interesse individual (o de livrar a propria consciencia) e coletivo (o de convencer a outra classe, mais numerosa, de que o marketing é inofensivo) de pensar assim... Isso me lembra inclusive boa parte da pauta dos apologistas do jornalismo: eles repetem tanto sobre o "jornalismo imparcial" que pretendem convencer a si mesmos e aos seus leitores que, de fato, existe imparcialidade e que as notícias são isentas de posicionamento político... Como se todos fossem esquizofrenicos e tivessem a capacidade de sair de sua propria existencia pra um plano etéreo e imaculado de imparcialidade na hora de escreverem notícias. A mesma coisa serviria pra propaganda, se a televisão, as revistas e os jornais existissem num plano superior aonde as necessidades do homem são absolutamente estáticas, imutáveis, perfeitas - e nunca no mundo real, num mundo em que voce acende um cigarro, entra em um carro importado, liga o seu ipod, conversa no skype e come no MacDonalds.
...
(Se bem que no caso do cigarro a propaganda já não é mais indispensável pra manutenção da necessidade porque o convívio social e o poder da droga já fazem todo o trabalho sujo...)

*recria-la reciprocamente, não novamente

(também adicionaria que o carro importado tem muito mais funções e potencialidades automotivas do que voce vai usar durante a sua vida, considerando as condições automobilísticas do transito e da qualidade das ruas de São Paulo..)

Rodrigo Ferrari (www.dysfemismo.blogspot.com)

8 comentários:

doppiafila disse...

O marketing cria necessidades, e a sua "arte" está em criar justo as necessidades que serao satisfeitas por nosso producto. As "necessidades já existentes" sao um caso particular, onde nao necessitam ser criadas.
Acredito firmemente nesta verdade. Algumas empresas podem se dedicar simplesmente a explorar as necessidades existentes (sem criar novas), mas esta empresas "antigas" serao superadas evolutivamente pelas mais modernas.
Um abraço, Doppiafila

Amanda Magalhães Rodrigues Arthur disse...

Parece-me que tudo depende da dimensão que damos à necessidade, ou melhor dizendo, da interpretação que a ela damos. Se falarmos de necessidades específicas ou desejos, como fumar e tomar uma coca-cola, talvez o marketing não as crie mesmo. Agora, se falarmos de necessidades de fundo, aquelas nossas velhas conhecidas, tais como "necessidade de reconhecimento", "necessidade de companhia", "necessidade de fuga" etc etc etc, aí acho que está além do poder de criação dos marketeiros, publicitários e afins. No fim das contas, parece que o markerting se apropria de algumas necessidadesde de fundo e as transforma em necessidades específicas. Acho que é isso!

Anônimo disse...

Na minha opinião os únicos limites para o poder do marketing são a intensidade da exposição ao meio de comunicação em questão e a capacidade dos marketeiros.

Se os marketeiros fossem perfeitos e se a extensão dos meios de comunicação fosse infinita o poder do marketing seria absoluto, o que quer dizer que na equação de determinação do poder do marketing essas são as duas variáveis determinantes (embora existam algumas outras "condições de existência" que podem influir, na prática, no resultado da equação).

O que eu quero dizer é que com capacidade e intensidade suficientes pode-se convencer até uma população inteira de coisas escabrosas como passar uma vida inteira na abstinência sexual e alcoolica por causa da existencia de uma entidade metafísica onipotente que as julgará num futuro pré-determinado desde o início dos tempos...

Dysfemismo

doppiafila disse...

Amanda: em minha opiniao, a necessidade ou desejo de tomar uma Coca Cola nao podem fazer parte da estrutura de base de um ser humano - devem ter sido criadas pela publicidade... :-) Outra coisa é o conceito de Deus, anterior a esta forma de comunicaçao!

Anônimo disse...

Ainda acredito ser muita pretensão dizer que o marketing cria a necessidade.

Quem cria a necessidade é o "cientista", o responsável por uma nova tecnologia empregada... e, em geral, isto não vem do profissional de marketing, ou pelo menos, não da sua função...

O que o marketing faz é procurar identificar os desejos inconscientes e conscientes... é apenas explicitar a necessidade já criada pelo proprietário da idéia em sua concepção de produto...

Isto para mim já é um grande desafio.

Anônimo disse...

Parece que o maior marketeiro do mundo tem 2006 anos, não é Rodrigo?!

Flavio Ferrari disse...

Num assunto tão fluido, melhor não ser dogmático.
Num papo entremeado de batatas fritas do Fifities, Rodrigo e eu concordamos que as nossas discordâncias sobre o tema, que são as mesmas comentadas pela turma, se devem muito mais à precisa definição do que pode ser considerado uma necessidade real ou um desejo (como comenta Amanda).
Maslow conceituou, de maneira bastante aceitável, as necessidades básicas dos humanos :
fisiológicas, de segurança, sociais, status e realização.
Na ilustração que encontrei no site www.merkatus.com.br, os autores questionam se não deveriam ser incluidas, também as necessidades espirituais (como lembra doppiafila).
Rodrigo e eu acabamos concordando com algo parecido com a colocação da Ti Bell, de que necessidades, num sentido mais restrito, são resultantes da interação com o meio ambiente. O Marketing se apropria delas para criar desejos (motivações).
De todo modo, ainda que consideremos que, potencialmente, o marketing seja capaz de gerar uma necessidade, certamente é mais barato (requer menor esforço), apoiar-se nas que já existem.
Adorei a participação de vocês !

CRIATIVE-SE disse...

Não sei se ainda em tempo, mas lá vai... Parece-me que devemos partir do desejo. Não somente porque como diria Spinoza o desejo é a essência do homem, mas também porque a felicidade é em minha opinião e apropriada da de Aristóteles - "pelo menos numa primeira aproximação - ter o que desejamos" E, citando Sartre o "homem é fundamentalmente o desejo de ser" e o desejo é a falta ... somos seres eternamente desejantes e, como bem falou Rodrigo, cabe ao marketing atendê-los ou fazê-los desejantes...beijos