Inspirado pelo comentário da Udi no último capítulo publicado do "Rastro do Butadieno" (abaixo), mencionando a "subdressing", decidi discorrer um pouco sobre o desafio de manejar um personagem do futuro.
Até agora, esse "pepino" estava nas mãos (especializadas) do Ernesto. Mas como seu personagem veio parar no quarto da "minha" Cristine, tive que me virar.
Imagine-se, você, voltando 400 anos no passado. Você irá usar expressões diferentes para designar coisas equivalentes do passado. Vai falar, com naturalidade, de coisas que não existem. E logo vai estar procurando palavras para conversar com aquela gente "primitiva", como se fossem crianças.
"Subdressing" foi um exemplo dessa situação. Imaginei que, no futuro (400 anos à frente), seguiremos utilizando algum tipo de roupa íntima, mas certamente palavras como "calcinha" e, principalmente, "cueca", serão substitídas por outras. Provavelmente, não será subdressing. Mas escolhi uma palavra que, embora diferente da atual (cueca), pudesse ser compreendida. Imaginei, também, que não fará mais sentido lavar roupas íntimas. Calcinhas e cuecas serão vistas como as fraldas de pano hoje em dia. Quem tiver dinheiro para isso, usará descartável (as "tech", que mencionei no texto).
As escolas serão certamente diferentes. O modelo de ensino atual está mais do que esgotado, e os jovens de hoje não tem a menor motivação para assistir aulas aborrecidas sobre temas desinteressantes. Tive que imaginar um novo modelo de escola, as "Servant", que são unidades dinâmicas de aprendizagem. Nas "Servant" os alunos não são distribuidos por idades e nem precisam "passar de ano". Não existem professores, mas sim, orientadores. Alunos escolhem assuntos de seu interesse, aprendem com a experiência e com referências do "Speicher" (sotão, em alemão), uma espécie de biblioteca virtual com tutor holográfico, e compartilham seu conhecimento com os colegas. E, o que é mais interessante, nunca saem realmente da escola (se é que podemos chamar assim).
Ou seja, embora esses e outros detalhes não estejam descritos no texto do "Butadieno", não é possível construir um personagem convincente sem imaginar seu contexto sócio-cultural.
Para vocês verem o trabalho que o Ernesto está tendo com o seu "núcleo" nessa minissérie....
domingo, dezembro 07, 2008
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14 comentários:
Flávio,
Por isso que só comento... Da bem menos trabalho!!
Como você já sabe admiro muito sua escrita, criatividade e capacidade de buscar informações inexistentes!!!
Beijos
O que me parece interessante é que, mesmo passados 400 anos, as pessoas ainda se preocupem com o tipo de underwear que estão usando em determinadas situações...
Que Deus te ouça e a humanidade aceitar que a "escola" precisa mudar junto com todo o resto da sociedade!!!!
Glaura: o que significa que eu tenho trabalho garantido por mais 400 anos!!!!!!!!!!
(fucou belo o novo layout, futurístico!)
u = i, no futuro
Deixa-te de conversas, querida, e tira o "subdressing"! Flavio, não dá muito jeito, não!
:)
Abraço.
António
Tapadinhas, subdressing é o nome genérico. O das meninas vai chamar "glaze" (pronuncia-se gleize).
Glaze é (também) uma técnica de pintura, que tem um acabamento transparente, brilhante que revela mais do que esconde. Muito apropriado!
:)
António
E "S/he has a glazed look in her eyes" significa que está com o pensamento em OUTRAS coisas... :-)
Enquanto vocês filosofam eu me ferro. Agora vou ter que fazer o personagem lavar as próprias cuecas...
Ah, e ele também vai ter que aprender a baixar calcinhas, em vez de ficar procurando a marquinha táctil do descravinador que desmaterializava as glazes das meninas... do futuro.
A subdressing não-descartável e os lençóis de algodão egípcio seguirão sendo importantes em determinadas situações e, não estando disponíveis lá, alguém inventará uma máquina para vir desfrutar desses confortos cá.
"Imaginando o futuro" poderia dar origem a uma série de postagens com alto potencial sinérgico. Já estou imaginando (num futuro bem próximo) você apresentando outras imaginações futurísticas e a polêmica acontecendo intensamente nos comentários.
Udi, na verdade, faço isso à sério para coluna "Caçador de Tendências", mensalmente na Revista Marketing.
É verdade! Mas isso que você faz na Marketing é bem mais que uma simples imaginação. Eu diria que é praticamente um trabalho xamânico de prever o futuro.
...claro que contando com colaboração de assessora-fada detentora de bola de crital, né?
;)
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