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segunda-feira, julho 30, 2007

Capítulos anteriores de Ovos do Dragão

Já são 2h20 da manhã e eu não tenho a mesma habilidade que o Ernesto para colocar as referências para capítulos anteriores na postagem.
Isto posto, quem quiser acompanhar "Ovos do Dragão" desde seu início, basta dar um pulo lá no Assertiva onde estão o capítulo 10 e os links para os demais.
Bom divertimento !

Ovos do Dragão

Parte 11 - Per omnia saecula saeculorum

Non semper ea sunt, quae videntur
( Fedro – Fábulas, IV, 2, 5 – Século I dc)


A construção de Notre-Dame de Paris aconteceu por iniciativa de Maurice de Sully, filho de uma camponesa que recolhia madeira às margens do Loire. Depois de se formar mestre em Teologia e bispo de Paris, Maurice mandou demolir duas antigas e pequenas igrejas do século VI na ilha do Sena, dedicadas a Santo Estêvão e a Nossa Senhora (que já haviam sido edificadas em substituição a um antigo templo romano), e lá colocou a primeira pedra do novo edifício em 1163, na presença do papa Alexandre III, segundo nos conta a tradição.
Não se conhece o nome do primeiro arquiteto de Notre-Dame de Paris. Sua identidade perdeu-se ao longo dos séculos, mas seu plano de obra conserva-se no museu de L’Oeuvre Notre-Dame na cidade de Estrasburgo.
Sabe-se, apenas, que era um jovem de poucas palavras e grande amigo de Maurice.
Fernando não tinha ideia disso quando foi impactado pela imagem do quadro conservado no estábulo. Pesquisou a história de Notre Dame mais tarde, já recuperado do choque inicial.
Como também descobriu que os alquimistas do século XIV lá se reuniam semanalmente, no dia de Saturno, no Grande Portal ou na porta de São Marcelo, guardados pelas pétreas figuras de dragões e salamandras.
Maurice contava com isso. Até o momento, Fernando não o decepcionara.
Alias, essa era um dos benefícios colaterais mais interessantes de uma vida longa. Ficava fácil prever o comportamento de almas mais jovens.
Ele não tinha qualquer dúvida sobre a decisão de Fernando naquela noite.
- Decisão ?!? – ele não pode deixar de rir com malícia.

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Fernando havia passado toda a tarde trancado no quarto que lhe fora reservado na casa de Barceló.
O clima era de preparativos. Movimentação intensa, mas não frenética. Havia expectativa, mas não tensão.
- Tensão ... tesão ... – a imagem de Marie nua não saia de sua cabeça, atrapalhando seu trabalho de pesquisa.
Ficava quase feliz nos momentos em que sua conexão com a Internet (via Vodafone) falhava. Podia pensar em Marie sem culpa.
Marie embalada em volúpia ... e Marie no quadro de Notre Dame ...
Como era possível ?
Lembrava-se de um artigo que havia escrito há alguns anos sobre Ponce de Leon e sua busca da Fonte da Juventude. O sonho da vida eterna ...
E, agora, Maurice e Marie, num desenho fotográfico de 900 anos.
“Cca nessuno é fetso” – sempre que se via em situações ambíguas, Fernando lembrava de seu avô napolitano.
Mas eram tantas coincidências ... e o desenho .... e Marie ... caminhando nua ....

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- Sabemos que Rafael trabalha a partir da Lua, regente dos aspectos obscuros da
mente humana. – dizia Maurice aos demais, à mesa de jantar. O cuidado que temos, devido a isto, é o mesmo que tinham osessênios, que extraíam da uva um suco sem álcool, tanto que davam-lhe o nome de Tiroxi,. Os demais alimentos que a sagrada alquimia do Anjo Rafael prepara, o leite, o pão e o mel, também não tem nenhuma substância que agrida alucinogenamente o cerebelo e a consciência e, desta forma, essa alimentação torna-se uma Refeição Sagrada.
A sala de jantar estava parcamente iluminada. Sobre a mesa, apenas os alimentos mencionados por Maurice, copos simples e guardanapos rústicos.
Marie e Isabela estavam particularmente lindas. Maurice e Barceló, compenetrados. Adric, alheio e etéreo.
Fernando, sentindo a alma crepitar ao fogo de paixões carnais e intelectuais, não estava senhor de si.
Era incapaz de perceber as sutis diferenças de estado de espírito.
Maurice, embora compenetrado, tinha perfeito controle do que acontecia ao seu redor.
Barceló estava imerso em seus próprios pensamentos.
Isabela era a virgem seduzida.
Marie, felina, sedutora.
Adric, de fato, parecia ausente. Mas o olhar vivo e as feições determinadas lembravam um arquiteto revisando mentalmente os detalhes de sua obra.
Jantaram em silêncio.
Quando terminaram, enquanto Isabela retirava a mesa, Maurice dirigiu-se aos demais.
- Partimos em pouco menos de uma hora. O local é próximo e a noite apropriada. Adric seguirá primeiro, para preparar tudo. Marie já cumpriu sua parte. Ficará aqui. E você, Fernando, pode decidir. Acompanha-nos para assistir a cerimônia ou fica aqui com Marie, que estará à sua disposição para ajudá-lo a encontrar as respostas que procura. Acho justo te informar que essa será a última oportunidade que terás. Deixaremos essa casa ao amanhecer e não nos veremos mais. Desse momento em diante, você estará livre para fazer o que julgar conveniente.
Fernando olhou para Marie. Ela retribuiu seu olhar com todo o corpo. Sentiu-se envolvido por sua aura. A sala escureceu e Fernando só era capaz de enxergar Marie, envolta em uma luz pálida como a da lua através do sereno. Seu coração disparou, as pupilas dilataram, e a calça jeans mal foi capaz de conter o intumescimento.
Apenas pode balbuciar:
- Eu fico ...


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Seria impossível dizer quanto tempo ficaram assim, se olhando.
Quando Marie se levantou, aproximando-se de Fernando e tomando-o pela mão, todos já haviam saído.
Fernando flutuou pelas escadas, transportado pelo suave meneio de ancas sob o vestido fino.
- Sem calcinha ... – chegou a pensar, mas a idéia lhe pareceu obnóxia.
O quarto de Marie estava preparado para recebe-lo. Pequenas velas espalhadas no piso, por todo o perímetro inflamavam a magia do encontro. Lençóis brancos de cetim sobre a cama, encimada por um dossel sustentando um delicado voal brocado a ouro, emolduraram o corpo nu de Marie, que o esperava de joelhos, segurando duas taças de um líquido borbulhante de sabor agridoce.
Começou a beber sem desviar o olhar da fada.
Marie colocou sua taça sobra a mesa de cabeceira e começou a despí-lo lenta e carinhosamente, bebendo de sua boca a cada beijo.
Deitou-o e passou a acariciar toda a extesão de seu corpo apenas com os bicos dos seios, arqueada sobre ele como uma gata arisca.
Ao sabor do contato sensual e aleatório, respirando o hálito doce condimentado pelas notas cítricas do orvalho do desejo, Fernando alucinava.
Marie já não era fada, mas uma anja diabolicamente provocante, despertando sensações enebriantes.
A expressão de seu rosto durante a cavalgada, os seios pequenos e rígidos desenhados pelos longos cabelos, o abdome firme coberto pela penugem húmida e a respiração ofegante ...
Não foi um orgasmo ... foi elação.
Quando as primeiras luzes da manhã alcançaram a fimbria da janela, seguiam abraçados, sem dormir, sem acordar.
Conscios de que seus desejos haviam sido satisfeitos.

domingo, julho 29, 2007

The Wall



O eterno e o efêmero...
Quem decide ? O que define ?
Tudo vem, tudo passa, pouco fica ...
Ao sabor de irreverente metonímia
A fome dos olhos míopes
Da alma infestada
Da verve embotada
Pela força do poder alheio
Conferida a revelia
E quando amanhece
O dia só será novo
Se te disserem ?
E o que vem, se passa ou fica ...
Quem confirma teu desejo ?
Onde foi parar
O sopro manco do realejo ?
Mas a arte, a verdadeira arte
Essa sim ...
Talvez o tempo diga
Se alguém quiser assim

sexta-feira, julho 27, 2007

Medalha, medalha, medalha ...

Brasileiro é um povo que resiste olimpicamente aos dissabores administrativos.
Merecemos ouro em várias modalidades:

- Assalto orçamental, com nossos atletas de Brasília
- Tiro livre, com a turma das Favelas no Rio de Janeiro
- Pentelhato, com a marcante participação da esquerda festiva
- Dolo aquático, com o pessoal da transposição do Rio São Francisco
- Remo sem timoneiro, novamente com os atletas de Brasilia
- Luta Livre, na versão Sobrevivência
- Vela, com ouro garantido pelo volume acendido diariamente em todo o Brasil

quinta-feira, julho 26, 2007

A quem interessar possa ...

Meu nome é João (ou John, ou Jean, ou Yohanan, ou Ioannes, ou Juan)...
Estou só.
Tão só quanto qualquer outro mortal sobre a terra, com amigos, família, trabalho e a turma da sinuca.
Sou refém da existência dos outros. Vítima da individualidade alheia.
Imobilizado pelo paradoxo (estou só porque existem, e se não existissem seguiria só) concluo que a solidão é parte da natureza humana ou um seu constructo.
Poderia ser menos torturante se os outros não me impusessem sua existência.
Seria menos aflitivo se não me exigissem o enquadramento em sua definição de existência.
Mas creio que isso também é parte da natureza humana, embora sequer esteja convencido de que existe uma.
Só, torturado e aflito, mas não infeliz. Apenas hiper-consciente, por um momento. Alias, felicidade é um conceito inaplicável nesse contexto.
A questão é como aprender a viver só num mundo "civilizado" ?
Veja ... ainda que eu faça minha parte, não tenho qualquer poder para exigir que os outros façam a sua.
Logo, qualquer que seja a solução, deverá independer da colaboração do outro.
Mas, por favor, não me entendam mal. Gosto de conviver com pessoas. Não todas. Algumas.
Mas até isso é difícil.
Depende de uma escolha mútua e síncrona. Quase um acidente em termos estatísticos.
Chamo esses acidentes de encontros. Raros momentos em que esqueço a solidão. Ela segue lá, já que é intrínseca, mas a atenção está em outra parte.
Bons momentos, só superados pelos encontros comigo mesmo, raros e sublimes, para os quais é necessário estar só.
Decidi que vale a pena deixar de lado a solidão quando surge a oportunidade de um encontro.
Mas o que fazer com os desencontros, que ocorrem em esmagadora maioria ?
Aqueles contatos indesejados, seja, pela pessoa, pelo momento ou pelo tema ...
Não há como evitá-los. E, mesmo que houvesse, perder-se-ia a oportunidade do encontro acidental.
Melhor sobreviver a eles.
Necessário, pois, armar-se de recursos para.
É o que eu chamaria de verniz civilizatório. Uma fina e quase imperceptível camada que, além de melhorar a aparência, nos protege contra as intempéries.
Meu nome é João.
Só, torturado e aflito.
Aguardando encontros.
Protegido por meu verniz civilizatório.
Por esta noite ...




quarta-feira, julho 25, 2007

Birra anti-manipulação da opinião pública

Para ilustrar a minha cruzada contra a manipulação da indignação, informo que, numa nota de rodapé da primeira página do estadão, com muito menos destaque do que a foto de Congonhas vazio, menciona-se que 100.000 funcionários públicos estão em greve há 2 meses, o que afeta de maneira mais intensa os hospitais universitários.
Posso estar errado, mas me parece muito mais grave do que uma pista de aeroporto com defeito.
E não estou fazendo pouco da tragédia, que resultou na morte de 200 pessoas.
Ocorre que ninguém está contabilizando as mortes, o sofrimento e os transtornos causados por 100.000 funcionários públicos em greve.

terça-feira, julho 24, 2007

segunda-feira, julho 23, 2007

E la nave va...

As passagens fellinianas foram poucas, mas fizeram-se presentes nesse primeiro happy hour na sede do Arguta Café.
Foi um grande prazer receber velhos e novos amigos, e muito divertido encontrar pela primeira vez alguns dos frequentadores de nossa aldeia blogal.
Todas as (poucas) vezes em que me aventuro a recepcionar um grupo grande de pessoas (e, para mim, mais do que 4 já é um grupo grande) termino com a sensação de que não dei a merecida atenção a cada um. Desta vez não foi diferente.
Mas, de todo modo, valeu a pena. Terminei a noite com uma sensação boa. Creio que foi agradável para a maioria dos presentes.
Para mim foi, e por isso quero agradecer a presença de cada um.
E também a colaboração da Ti, que me ajudou a organizar o encontro.
Algumas notas curiosas da noite:
- Descobri como é que a maioria dos frequentadores da nossa aldeia aqui chegou. Origens, razões e motivos surpreendentes.
- Também descobri que a velha desculpa do "estava passando por aqui ..." não vale para blogs.
- E conclui que não se deve usar perfumes com mais de 50% de almiscar
A única foto que tirei, já no final da festa, não é publicável (eis por que essa postagem segue sem imagem).

quinta-feira, julho 19, 2007

Cortina de fumaça ...

Enquanto isso, nos bastidores, a grana da saúde, da educação, do transporte e demais serviços públicos segue, desviada se seu curso, desaguando em outros oceanos.

terça-feira, julho 17, 2007

domingo, julho 15, 2007

O lado B

Não tenho vocação polianesca, mas devo reconhecer que o acidente do filhão teve pelo menos um lado bom...
Fazia tempo que a gente não tinha conversas tão longas e tão gostosas.
Adoro a companhia desse cara !

Inferno astral

Nunca dei muita bola para essa estória de inferno astral (aqule período que antecede o aniversário).
Mas a verve curiosa, aliada ao vício do método, me levam a acumular e catalogar as observações ao longo do tempo. E, nos últimos anos, sou obrigado a concordar que a vida resolveu me dar uns recadinhos nessa época, sempre na forma de "provações".
Neste ano começou com o acidente do meu filho mais velho no início da semana, que literalmente moeu o tornozelo e teve que ser resgatado e operado emergencialmente. Quem é pai (ou mãe) sabe como é difícil ver o filho sofrer. Quem não é, pode imaginar.
Mas não foi essa a "provação". Esse foi apenas o pano de fundo para os primeiros acontecimentos.
A tônica da semana foi ser levado a presenciar pessoas queridas sendo vitimizadas por algozes que, aproveitando-se das "limitações" físicas ou psicológicas de suas "vítimas" (tal qual percebidas por eles), tentaram tomar a oportunidade para preencher o vazio de sua insegurança atacando a quem julgavam incapaz de se defender.
Nenhum caso grave, felizmente, já que as vítimas souberam, sim, se defender e dar a adequada dimensão aos acontecimentos.
No caso da enfermeira sargentona com o meu filho no hospital pudemos até rir do assunto depois.
Até agora, apesar do desgaste, o saldo foi positivo.
Aprenderam os que me são caros, com a superação das dficuldades (o que os fez mais fortes).
Eu recebi o recado dessa conspiração cósmica, e fico mais atento aos meus próprios atos, para não reproduzir, ainda que de forma inconsciente, esse tipo de atitude.
Só não aprenderam os algozes, porque esses sempre acham que não tem nada mais para aprender.





quinta-feira, julho 12, 2007

Encontros e re...

Gosto de encontros. Olhares, sorrisos, contatos, beijos, pensamentos ...
Adoro reencontros.
Vivo a expectativa.

domingo, julho 08, 2007

Penultimo pensar ...

Alma de fada
Carinha de gata
Faz de meu peito
Tua almofada

Rápida ausência

Caros amigos do Arguta.
Estarei ausente por mais um ou dois dias.
Saludos,

FF

quarta-feira, julho 04, 2007

Uma imagem da nossa era ...

(extraída de um pps que a Lúcia me mandou - um dos poucos que abri, porque detesto pps)

Discreto, mas relevante ...

Caros companheiros de café:
Comunico que, na esteira do Assertiva, o Arguta acaba de superar a marca de 10.000 visitas.
Como faço aniversário nesse mês, tomo a liberdade de considerar a generosidade de vocês, lendo e comentando as postagens, um grande presente.
E ... agradeço comovido.
Beijos.

Flavio

segunda-feira, julho 02, 2007

Pensamento da noite: Respire !


(inspirado numa gostosa conversa com uma amiga)


"Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio irão cair sobre sua cabeça. Coloque a máscara primeiro (em você) antes de ajudar a pessoa próxima."

Esse é aproximadamente o texto padrão de um dos avisos de segurança que são feitos nos aviões antes da decolagem. O alerta é, principalmente, para quem viaja acompanhado de crianças e dá um recado óbvio: se você não estiver respirando, não poderá ajudar ninguém.
É óbvio, mas necessário, já que o primeiro impulso da mãe seria ajudar a criança.
Me ocorre, entretanto, que a idéia vale para todas as situações e, principalmente, para as relações.
Se suas necessidades básicas não estiverem atendidas, se você não estiver respirando, não vai dar para cuidar dos outros por muito tempo.
E aí, ou você "morre" (num sentido não tão figurado assim) ou, se tiver sorte, seu instinto de sobrevivência fala mais alto e você joga tudo para cima para "se salvar".
Cuidar de sí é nossa primeira responsabilidade ...