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sábado, novembro 01, 2008

Quimeras

Essa postagem foi inspirada pelo comentário da Suzana, que adjetivou meu poemote anterior de "quimera".
Bicho lendário, cuja versão mais difundida se assemelha a um leão com uma cabeça adicional de cabra e o rabo em forma de serpente, a Quimera de tão fantástica e improvável, virou sinônimo de mentira fantasiosa.
Curiosamente, estava conversando agora pouco com a Udi enquanto esperávamos o início de mais um show da Kiwi Dillema, justamente sobre a mentira.
E a mentira se assemelha à Quimera, não apenas pelo fantasioso, mas por suas características.
Toda mentira tem cabeça de Leão, incontestável como o Rei da selva, e cauda de serpente, insidiosa, traiçoeira (simbolicamente falando, é claro).
E carrega nas costas um espírito de Cabra, assustada e fugidia quando ameaçada.
Tenho dificuldades para mentir e para lidar com a mentira e não me orgulho disso. Apenas constato e, as vezes, preferia que assim não fosse. Mas, tenho.
O que tentei explicar para Udi hoje foi que pessoas com essa dificuldade, quando descobrem que alguém amado mentiu para esconder algo que poderia magoá-las, se sentem muito mais atingidas pela mentira do que pelo fato em sí.
Reconheço que é difícil conviver com quem tem esse perfil. Exige coragem e não deixa muitas alternativas além da honestidade.
E aí você duvida que eu nunca tenha mentido.
E tem razão. Já menti e seguirei mentindo, para mim e para os outros. Acho que é inevitável. Muitas vezes, até confortável. Principalmente as pequenas e educadas mentiras sociais.
É suficiente não mentir sobre coisas importantes e sobre coisas tolas que se tornarão importantes em função da mentira.
E é necessário não mentir quando alguém lhe pede para dizer a verdade, porque isso transforma em mentira todas as verdades.
E é importante ser capaz de superar a mentira, quando vale a pena, e reconhecer que dizer a verdade nem sempre é fácil.
Não se vence a Quimera segurando-a pela cauda de serpente, ou enfrentando sua cabeça de leão.
Há que se cortar a cabeça de cabra.
E por último, é importante reconhecer que a verdade não existe.
O que existe é a honestidade.

6 comentários:

Amélia disse...

Flávio,

A sua última frase diz tudo... É importante saber que a verdade não existe.. A verdade é a de cada um, assim como o grau de importância que é dado a cada fato...

A mentira não está relacionada à nós... mas ao outro.. Mentimos socialmente, mentimos profissionalmente, mentimos porque gostamos, mentimos porque temos medo... mentimos em função do sentimento que temos com relação ao outro...

Bom nos relacionarmos com quem não precisamos mentir... Melhor ainda, com quem compreende que nem todas as mentiras têm o mesmo grau de importância e que sua medida é sempre subjetiva...

Anne M. Moor disse...

Assunto escabroso este... E mentira pode ser honestidade?

Suzana disse...

Sorry F.F., mas meu comentário foi sobre:

Conceito de Quimera

O termo Quimera designa um plasmídio manipulado pela engenharia genética que passa a ser constituído pelo seu DNA e pelo DNA estranho que lhe foi introduzido.E não sobre a mentira, mas sim,algo dificil de se acreditar,porém de possível existência.
bjs

Flavio Ferrari disse...

Ti: sempre lúcida
Anne: sempre questionadora
Suzana: sempre inovadora ... mas valeu um post, de qualqer forma.

mundo azul disse...

Concordo plenamente com você!

Mentiras...NÃO!

Qualquer outra falha, é mais fácil eu aceitar, mas a mentira, confesso que para mim é muito difícil, também.

Gostei muito do seu texto...Não conhecia a figura da Quimera...

Obrigada, pela informação!

Beijos de luz...

Udi disse...

Não mentir (diferente de dizer a verdade) pode, muitas vezes, criar muitas complicações. Digo isso enquanto alguém que optou por não mentir e que teve que sair de muitas complicações (sabe aquela história "a verdade dói"?) ...mas prossigo com minha opção, e não sei bem se é opção ou se é contingência (será essa a palavra?)mesmo.
Agora, com a experiência dos anos, aceito que a maioria das pessoas aja de forma diferente da minha e com isso me sinto mais livre e com mais possibilidade de ser feliz.
E isso que você chama de honestidade eu chamo de lealdade. Alguém pode até te dizer uma mentira besta, mas a lealdade pode permanecer lá, intacta.