Estou terminando de ler o livro em epígrafe, recomendado por uma inteligente amiga.
O tema central é o resgate das primeiras impressões, ou do que chamamos coloquialmente de “intuição”.
O autor, Malcom Gladwell, ilustra com riqueza de detalhes e suporta com miríades de estudos acadêmicos, científicos ou similares, a tese de que a “intuição” é uma espécie de raciocínio inconsciente e que, portanto, deve ser levada a sério.
Tenho particular apreço por autores que dedicam tempo e esforço para comprovar teorias nas quais eu já acreditava por experiência própria. E esse é um caso.
Apesar da minha formação acadêmica básica como engenheiro, sempre valorizei a intuição e pautei boa parte de minhas decisões por ela, algumas vezes contrariando o que minha razão (consciente) recomendava.
Obviamente, inúmeras vezes também já fiz o contrário, ou seja, descartei a intuição e segui os princípios da razão.
Essa parceria, razão e intuição, vem funcionando bem no meu caso. E nas poucas vezes que houve um conflito entre elas, errei mais quando privilegiei a razão do que quando dei ouvidos à intuição.
Sempre acreditei que minha intuição nada mais era do que uma avaliação baseada em conhecimentos armazenados e percepções sutis, dos quais não estava consciente no momento.
Amigos e companheiros de trabalho se surpreendem, com alguma freqüência, com a precisão com que avalio pessoas num primeiro contato.
Recentemente um colega contratou uma pessoa na empresa. Como temos uma excelente relação (considero-o um amigo), tomei a liberdade de alertá-lo para o fato de que a pessoa que ele havia contratado, a despeito de todas as avaliações positivas, iria lhe trazer problemas.
Alguns meses depois minhas suspeitas se concretizaram.
Meu amigo, estupefato, perguntou-me como eu poderia saber.
Eu não sei como explicar ... mas alguma coisa no jeito da pessoa me indicou que ela era muito ambiciosa, não trabalharia em equipe e tentaria passar por cima do seu superior imediato, o que, de fato, aconteceu.
Gladwell dedica alguns capítulos do seu livro tratando exatamente desse assunto, a primeira impressão sobre pessoas. Apresenta alguns estudos bastante interessantes sobre como as expressões do rosto são uma espécie de “espelho” do pensamento, e sobre a habilidade que algumas pessoas tem (e eu devo ser uma delas) de fazer a leitura rápida dessas expressões. Embora a linguagem não verbal já tenha sido objeto de inúmeros estudos e publicações, o contexto em que Gladwell aborda o tema é bastante interessante e, de certo modo inovador.
Recomendo a leitura.
Deixo para outro post a abordagem sobre o impacto negativo do excesso de informação para o processo de decisão, também abordado em Blink.
quinta-feira, agosto 24, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
É por isso que acredito nas atitudes mais do que nas palavras...Para fazer algo, não precisamos pensar... podemos simplesmente seguir o instinto.. Para falar, buscamos palavras que possam traduzir o sentimento e, quando menos percebemos, já estamos falando algo diferente do que intuímos!!! Talvez a nossa rica lingua mãe colabore ainda mais para isto....
Tai, sininho ...
Eu sempre achei isso mas nunca encontrei palavras para dizer ...
taí o velho e bom FF que conheci e ainda posso reconhecer!
saudades de você.
* e essa fada aí acima é mesmo sábia!
Olá, Udi !!!
Faz tempo que você não visita o Arguta ...
Bom ver você de volta.
Uma emoção que não dá para traduzir em palavras ...
Eu também acredito na chamada "intuição" e concordo que deveriamos ter mais atenção para com ela. Utilizar-se deste instrumento, além daqueles tradicionais e consagrados, como se fosse mais um pilar que sustenta a tomada de decisão.
Vou procurar e aproveitar desta sua dica de leitura.
Um grande abraço.
Outro dia recomendei um livro a alguém num blog, não sei, por isso esta postagem pode ter cheiro de déjavu. Mas aí vai.
Recentemente fez-se um filme chamada What the Bleep Do We Know!?baseado numa idéia de Amit Goswami. Talvez você tenha visto.
Amit é um físico de verdade, e respeitado. Leciona no Instituto de Física Teórica da Universodade do Oregon.
Para não espichar muito, o resumo da ópera é o seguinte: Amit aplica o conceito quântico ao funcionamento do cérebro, nuam especulação que, se confirmada, explicaria não só a intuição, mas também o velho dilema do livre árbítrio. Sendo nosso cérebro uma máquina quântica (obedecendo rigorosamente às suas leis), resulta que TODAS as possíveis idéias e linhas de pensamento já existem a priori no processo. Mas apenas uma se manifesta, numa analogia com o colapso da função de onda e com o princípio da incerteza de Heisenberg.
Parece complicado? Não é. O livro chama-se O Universo Auto-consciente (eu sei, é ridículo e parece auto-ajuda xumbrega). Mas trata do tema que você menciona, e é, de longe, o melhor livro de física moderna para leigos que conheço. Acho que anda esgotado, mas tenho um exemplar alhures que posso emprestar se você quiser.
Um abração.
Agradeço o potencial empréstimo, interessadíssimo ...
Postar um comentário