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domingo, fevereiro 04, 2007

Crônicas da Vida Empresarial: Dalton e o Dr. Almeida Passos

Dalton é o segurança do Dr. Almeida Passos, vice-presidente da empresa.
Sujeito de poucas palavras, olhar penetrante e físico discretamente imponente.
Pele morena como a de certas castas hindus, cabelo liso e grosso, penteado para o lado e aparado curto, mas cheio. Traços fortes, olhos redondos, nariz grande.
- Cafuso ! – adivinhou noutro dia o Rodolfo, deixando confusos os mais jovens do escritório que desconheciam essa “etnia”.
E falando em castas, Dr. Almeida Passos era um desses que acreditava que a diretoria era uma casta superior, e mantinha uma solene distância dos subalternos.
Como conseqüência inevitável, multiplicavam-se as histórias sobre sua pessoa.
- Conheço o tipo ... capacho da mulher – vaticinou Jailton, durante o happy no Degas.
- Ela é bem mais jovem do que ele ... e dizem que tem um caso com o Dalton – deixou escapar Estela depois de algumas cervejas, com um inesperado suspiro que provocou olhares de interrogação ao redor da mesa.
A verdade é que pouco se sabia desses dois personagens, além de boatos que incluíam a própria Estela, potencial amante do Dr. Almeida Passos e, depois daquele suspiro, também do segurança.
- Ontem eu vi o seu Dalton saindo com a Dona Constância – comentou Marcio Alberto, o office boy do departamento.
- Ontem ?!? A que horas ? - quis saber prontamente o Jailton.
- No final da tarde. E estavam com pressa. Seu Dalton saiu cantando pneu.
Jailton trocou um olhar de cumplicidade com o Rodolfo do outro lado da mesa.
A imagem da Mercedes branca do Dr. Almeida Passos, dirigida pelo Dalton em companhia de Dona Constância, cantando pneus no pátio da empresa era, no mínimo, novelesca.
A semana tinha começado com um longo discurso do Dr. Almeida Passos no auditório, para todos os funcionários.
Óculos na ponta do nariz e texto na mão, digladiou-se longamente com o microfone enquanto imaginava inspirar e motivar a equipe a alinhar-se com a missão e os valores da empresa.
Rodolfo, de cabeça baixa e ar de enfado, sentado na penúltima fila, comentou para quem quisesse ouvir:
- Façam o que eu digo mas não o que eu faço ...
Ninguém riu. O caso era mais para chorar.
Dr. Almeida era um obscuro diretor de divisão que havia chegado à vice-presidência por um golpe de sorte, após o súbito falecimento de seu antecessor. Sua velha amizade com o fundador da companhia, já aposentado, valeu a recomendação do diretor de Recursos Humanos para ocupar interinamente o cargo, enquanto procuravam alguém no mercado.
Seu primeiro ato ao assumir a vice-presidência foi demitir o diretor de Recursos Humanos e promover uma jovem gerente, que prontamente o adotou como mentor.
Tendo o controle da área, e considerando que o diretor financeiro não queria confusão para o seu lado porque também estava para se aposentar, perpetuou-se no cargo.
Dalton era o responsável pela segurança da unidade dirigida pelo Dr. Almeida Passos. Ao ser guindado para a vice-presidência, decidiu trazê-lo como segurança particular. Na prática, era seu assessor e homem de confiança.
De confiança apenas do Dr. Almeida Passos, porque todos na empresa temiam o Dalton.
- Aí tem truta .. aí tem truta ... – repetia Jailton com uma freqüência maior do que seria recomendável.

3 comentários:

Flavio Ferrari disse...

Oi Anne ... caso apareça por aqui, não consigo acessar o seu blog. Algo aconteceu ?

Anônimo disse...

Nada não... Acabo de conferir e está dando acesso... http://annemoor.spaces.live.com
Se continua não querendo brincar contigo, tenta entra via minha página pessoal =
http://www.ufpel.edu.br/~anne.moor E se ainda não conseguires... não sei :-)

Anônimo disse...

O Mauricio é o Prieto