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terça-feira, março 09, 2010

Legítima Defesa - Capítulo 7


Capítulo 1 - Prolegômenos
Capítulo 2 - Tocaia
Capítulo 3 - Papel Kraft
Capítulo 4 - Femme Fatale
Capítulo 5 - Vendetta
Capítulo 6 - A verdade tem pernas longas


Capítulo 7 - Água e pedra

Quando Bertran chegou ao escritório encontrou Polansky dormindo no pequeno sofá, com a mesma roupa do dia anterior.
Polansky raramente ia para casa quando estava resolvendo um caso.
Bertran odiava a indisciplina, mas admirava a excentricidade dos gênios. E, para ele, Polansky era um gênio, e essa era a única justificativa para continuar a seu serviço.
- Senhor Polansky .... - Bertran quase sussurou, temendo assustar o chefe.
- Porque demorou tanto ? - Polansky já estava de pé, andando pela sala, sem que Bertran se desse conta da transição.
- Oito horas da manhã, pontualmente, senhor ...
- Humpft ... Vamos ao caso ... o que descobriu ?
- Bem, senhor Polansky, como lhe disse ontem de madrugada pelo telefone, todas as informações conferem. O tal Enrico realmente matou 9 pessoas e, em cada um dos casos, a justiça considerou tratar-se de legítima defesa. Entretanto, ainda não consegui encontrar a conexão entre as vítimas. O único ponto comum é que todos viveram, trabalharam ou realizaram negócios em Santos nos anos 60. Sigo investigando...
- Creio que posso ajudar nisso, Bertran. Ontem à noite visitei o escritório do senhor Scaccabarozzi e encontrei um recorte de jornal sobre a escrivaninha. Lamentavelmente não pude confiscá-lo porque alguém me golpeou na cabeça e sumiu com a evidência. Provavelmente o próprio cidadão. Sujeito recalcado.
- Recalcado ?
- Usava sapatos para disfarçar a baixa estatura...
- E o que havia no recorte de jornal ?
- Uma foto com 10 pessoas, e nove dos rostos estavam riscados. Tenho a impressão de que nosso amigo ainda não completou seu trabalho.
- E o senhor reconheceu a décima vítima potencial ?
- Não, mas reconheci o local da foto por uma bandeira da Portuguesa Santista. É o velho bar do Almeida, na Ana Costa. Você precisa vasculhar os arquivos da Tribuna, entre julho e outubro de 1964. Procure por uma foto publicada, possivelmente na primeira página ou na coluna social, com 10 homens enfileirados. Com um pouco de sorte descobriremos quem é o décimo desafeto do nosso assassino serial.
Bertran sorriu com satisfação e bateu em retirada. Adorava fuçar em velhos arquivos.
- Esse rapaz é indispensável ! - Polansky disse para si mesmo em voz baixa, enquanto afagava o ematoma na cabeça.

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Amelie terminou o banho e pegou a felpuda toalha amarelo alaranjado, sua cor predileta. Lembrava a bandeira da Romenia
Ela havia nascido no Brasil, mas seu pai era romeno. E seu pai era tudo para ela, embora não tivessem trocado uma única palavra nos últimos 5 anos.
- Desde nossa última briga... mas assim são os romenos ... - ela pensou, algo entristecida.
Em outros tempos ela se deliciaria com sua própria beleza, passando lentamente o hidratante sobre a pele aveludada.
Amelie era um caso raro de amor-próprio. Fora apaixonada pela beleza da mãe quando pequena. Mas ela havia morrido cedo e Amelie, de alguma forma, havia transferido esse amor estético para sí mesma. E depois para as outras mulheres que considerava belas.
Os homens ficavam enlouquecidos quando flagravam Amelie trocando carícias com uma de suas amigas no Casebre à noite, ou no Quisque da Cris em plena luz do dia.
Mas para Amelie só existia um homem: seu pai.
E era por ele que Amelie havia aberto mão de seu ritual pós-banho.
Enrolou-se na toalha e dirigiu-se para cozinha, em busca de um copo de água. Sempre tinha sede após o banho quente.
Tirou a garrafa verde de Água das Pedras da geladeira e encheu o copo de cristal.
Fechou a geladeira disposta a voltar para seu quarto quando se deparou com o vulto silencioso.
O copo fez um ruído agudo ao espatifar-se no cháo de porcelanato.
- Você !!! - sua voz era apenas um sussurro.

(imagem do calendário Agua das Pedras)

7 comentários:

Amélia disse...

Sussurro e não grito? So pode ser complo...

Beijos

A.Tapadinhas disse...

Água das Pedras? A água mais portuguesa de Portugal? Aquela só comparável à Água Castelo? A curadora de ressacas?

Chico disse: Tanto mar! Eu digo:
Tanta água!

Abraço,
António

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Lendo do começo... :)

A. Marcos disse...

Vou te mandar um daqueles "pen drives" para vc salvar a saga...rs

Ju ♥ disse...

a trama é ótima e os títulos são excelentes...

Roney Maurício disse...

Talentoso, heim caboclo?

Gostei dessa Amelie... rss

Paulinha Costa disse...

Uiii tenho 7 capítulos para por em dia a leitura... é pra já!