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sábado, novembro 20, 2010

Sobre o amor

Deu vontade de falar sobre o amor antes de dormir...
A quantidade de definições para o amor só é superada pela quantidade de reclamações.
Passeando pelos blogs, conversando com amigos, lendo, vendo TV,  tenho a impressão de que o amor nunca é como as pessoas esperam que seja.
É impressionante como uma das melhores coisas da vida pode ser tão geradora de frustrações.
Eu acho que antes de aprender a ler e escrever, a fazer contas e classificar plantas e animais, a gente deveria ter a oportunidade de aprender a amar.
Não estou certo de que é possível ensinar a amar.  Mas observo que é bastante comum atrapalhar o aprendizado.
Os pais, desde cedo, deixam claro para seus filhos que existem condições básicas para que eles sejam amados. Em 3 palavras: "corresponder às expectativas".  Para ser amado pelos pais o filho precisa "ser" de uma determinada maneira.  E o pior é que essa condição é imposta antes de que a criança tenha consciência de si mesma.
Me parece que seria melhor ajudar a criança a se conhecer e se aceitar.  Aproveitar para conhecer a criança durante o processo.  Pais não querem conhecer seus filhos.  Querem que eles atendam suas expectativas.
Sou pai.  E tenho que admitir que errei. Só descobri que isso era importante quando já era tarde demais.
Creio que é por isso que os avós são tão mais flexíveis com os netos.  Querem conhecer e, portanto, permitem que eles sejam o que são.
Conhecer-se e aceitar-se são condições essenciais para desenvolver o amor por sí mesmo.
E amar-se é a primeira condição para poder amar outra pessoa.
Amar alguém começa por conhecer e aceitar essa pessoa.
Se o seu amor próprio é condicional, o amor pelo outro também será.
Se você se obriga a ser diferente do que é, vai exigir isso do outro também.
E é aí que começa a frustração.
O encontro de duas pessoas que não se amam, tentando amar um ao outro.  Não tem como dar certo.
É por isso que costumo dizer que o amor moderno é o encontro de neuroses complementares.  Funciona razoavelmente bem quando as disfunções não colidem.
A orientação religiosa também não ajuda.  Na maioria das vezes os ensinamentos são conflitivos.
Ame Deus acima de todas as coisas. Seja temente a Deus. Dê a outra face. Ame o próximo como a ti mesmo. Seja caridoso (pense primeiro no outro).  Seu corpo é a morada do senhor; cuide bem dele. Evite os desejos carnais. Faça jejum. Flagele-se.  Bem aventurados os pobres, os aflitos, os que choram, porque deles será o reino dos céus. Você espera que Deus te ame, então siga os mandamentos.
Eu tenho comigo que se existe um Deus pai ele deve ser capaz de ser um pai melhor do que eu fui.
Se antes dos 50 anos descobri que amar começa por conhecer e aceitar, um Deus Pai jâ deve saber disso e vai me amar com todos os meus pecados.
Mas, lamentavelmente, nossos pais nos ensinam que o amor é condicional.  A igreja ensina que o amor de Deus é condicional.  Como podemos aprender a amar de outra forma ?
Por um momento, vamos esquecer de nossos pais e de Deus.  Ou, se a segunda tarefa for difícil para você, pelo menos ignore as palavras dos intermediârios.
Dedique um tempo de sua vida para se conhecer e aceitar o que descobrir de coração aberto.  Aprenda a gostar de você, com tudo aquilo que considere defeito ou qualidade.  Mais para frente, esforçando-se um pouco mais, vai deixar de rotular suas carecterísticas como boas ou más.    Você não é nem bom nem mau.  É apenas você, a pessoa mais importante da sua vida.
Aproveite para se perguntar o que tem feito pela pessoa mais importante de sua vida (não esqueça, estamos falando de você mesmo).  Tem se respeitado ?  Se tratado bem ?
Comece devagar, cuidando de você mesmo.  Colocando-se em primeiro lugar.  Aos poucos, você vai aprender a gostar de você.  E quando se der conta, vai estar se amando, do jeito que é, sem precisar se exigir ser diferente.
Aí você vai estar em condições de tentar isso com outra pessoa.

11 comentários:

Anônimo disse...

Sábias palavras. =D

besitos =**

e daí? disse...

muito bom, dá o q pensar...bom findi!

Ava disse...

Uau!

É, voce realmente de "dá" por inteiro em qualquer assunto que resolva abordar.

Também tenho lido muito sobre o amor, mas seu texto, talvez pela admiração que tenho por voce, é um dos melhores que li ultimamente, porque trata o assunto de forma direta e consisa. O amor não precisa nem admite muito blá, blá, blá...
Precisamos nos despir de todos os aprendizados "tortos", para poder amar verdadeiramente.

Um final de semana de muito amor para voce...


Beijos!

Luna Sanchez disse...

A droga disso tudo é a idealização, essa obrigatoriedade besta de eternidade...

Ando revolt com esse assunto, Flavio.

Beijo, ótimo fds!

ℓυηα

Anônimo disse...

Você discorreu uma lógica bastante atraente.

Contudo, eu apenas possuo comigo que o amor não é condicional, sob hipótese alguma, senão não é amor.

Na área criminal, na familiar e na infância e juventude, me interajo de exemplos de pais mau tratando os filhos e cometendo barbaridades contra eles, isso sim é não possuir amor pelos filhos, justamente porque não se ama. Nem por isso, os filhos deixam de ser capazes de desenvolverem o amor e de serem felizes posteriormente. Alguns até perdoam os pais.

Amor é abstrato, apenas sente-se. É infinito, não há limites, não dá para querer entender. Amor é puro. Amor é Deus, apesar de alegarem que pode ser como Deus. Fico com a primeira assertiva.

A verdade é o caminho do amor. Podemos nos rebelar porque não somos perfeitos, sendo que o amor está acima de nós, sempre. Por isso que amando, podemos ser melhores.

Beijos,

Anne M. Moor disse...

Flávio

Embora eu concorde com muito do que dizes, não é tão simples assim. Não dá pra racionalizar o amor. Explicá-lo, defini-lo é impossível.

Agora que amar é muito bom ah isso é e se ver amado ainda melhor, SEM condições, SEM cobranças...

Beijão
Anne

Sandra disse...

Temos uma amiga em comum..
Então venha ver
Venho te convidar para ver quem está comigo aqui.
É um prazer te receber neste cantinho. Venha dar uma olhadinha. Tenho certeza que vai gostar.
http://sandraandradeendy.blogspot.com/
Carinhosamente, vou te esperar. Aqui grandes amigos se encontram e se revelam. Carinhosamente,
Sandra.

Amigos são flores plantadas com muito carinho.

Jorge Lemos disse...

Príncipe

Tempo de verbo claro e preciso. Vamos navegar. Imprevisivel é a ação do amor sobre as criaturas. Vejo-o, como eu, nesta busca do realizável. Sua sabedoria me encanta e, pela justeza em que se coloca, a minha admiração.
Gostaria receber vcs antes do Natal.
Abraço
Lemos

Érica Martinez disse...

estamos, sincronicamente, em tempos meio budistas?

Paulinha Costa disse...

Eu gostei tanto desse post que publiquie no facebook e enviei pra minha lista.
Amor em tempos de neuroses é sempre um bom assunto para divulgar.
Me pareceu familiar essas idéias, compartilho delas, busco semelhantes...
Eu não tenho filhos, mas me deixei levar pelo post e penso que caminho árduo o de pais, amar, educar, não atrapalhar o aprendizado de amar...
Já parece bem difícil eu cá comigo e meus relacionamentos, e olha que eu tento, não perco a oportunidade de um bom exercício. Amar sem deixar que a expectativa envenene. Amar por amar. Amar o que não é espelho, amar e amar, simplesmente, sem condições, sem troco.
Sabemos que o amor é tudo isso, mas a prática, ui, essa sim é que tira a prova dos nove.
Confesso que dou meus tropeços, mas sigo atenta para não cometer os mesmos erros.
Tenho aprendido muito. Quem sabe a vida está me lapidando, rssss, né?
Bjs

cristinasiqueira disse...

Tema difícil mas fluiu de amoroso.
Adorei.

Beijos,


cris