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domingo, junho 26, 2011

Lições do Príncipe de Exupéry

Mesmo sem nenhuma intenção de ser "miss", resolvi reler "O Pequeno Príncipe" (Antoine de Saint-Exupéry).
É mesmo um livro bacana, precursor dos manuais de auto-ajuda romanceados e pioneiro na preocupação com o meio-ambiente.
Algumas idéias surpreendem pela beleza da simplicidade, como a história das árvores que precisavam ser exterminadas (os baobás) para evitar a ruína do planeta do Príncipe, ou a do Rei que, para garantir a obediência, cuidava-se para dar ordens que fizessem sentido e ainda a do Acendedor de lampiões, sujeito a um regulamento imutável num mundo que já havia mudado.  Naturalistas e Gestores de empresa poderiam aprender alguns fundamentos importantes com essas parábolas.
As rápidas passagens do Vaidoso, do Bêbado, do Empresário e do Geógrafo são frutos, provavelmente , da impaciencia do autor com a obveidade da estupidez.
Mas é na famosa passagem da raposa que a história dá uma escorregada.  Numa sacada brilhante, a raposa explica ao Príncipe que o que torna sua flor importante é o tempo que dedicou a ela.  Mas, na sequencia, lhe dá seu atestado de morte: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Essa frase é uma das mais famosas do livro, talvez pela imagem lírica ou pela idéia sedutora.
Entretanto, reflete o que talvez seja o maior problema dos relacionamentos afetivos: a expectativa do "cativado" de que aquele que o cativa assuma a responsabilidade por sua felicidade.
Ainda que a passagem seguinte, da água do poço, seja lindíssima e o final do livro emocionante, fica difícil aceitar essa mensagem tão equivocada, transformada em verdade poética pelo contexto.
O Príncipe de Exupery nos cativou, mas não pode ser responsabilizado por nossa interpretação.
Que conste, a seu favor, haver colocado essas palavras na boca de uma raposa ...

19 comentários:

Ferrockxia disse...

oie sou a dona do exoticlic se puder confere meu video aí ficarei agradecida

e daí? disse...

essa ideia "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" é total pequeno principe, pra crescer e desapegar dessa ideia, seria preciso um Principe Adulto??

Batom e poesias disse...

Nunca analisei sob essa ótica, Flavito, mas sabes que tens razão?

"Eternamente responsável" é muita responsabilidade, por muito tempo...

Bjs
Rossana

Solange Maia disse...

interessante... nunca tinha feito essa reflexão ! tudo que é eterno é "muito grande"... too much !

deixo uma dica de leitura : "O Pequeno Prícipe me disse" de Sheila Dryzun... um monte de gente bacana dando sua versão sobre o livro (Mario Prata, Rita Lee, José Mindlin, Rubem Alves, Pelé, monica Falcão, Guto Lacaz, etc). Além de graficamente lindo, uma delícia de ler... e de saber como essa idéia surgiu !

beijo Flávio !!!

Luna Sanchez disse...

Bom, eu já nem sei mais quantas vezes disse exatamente isso lá no blog, que essa ideia de responsabilidade pelo que os outros sentem é um perigo e um equívoco. Tenho bronca desse livro exatamente por isso.

Há coisas lindas nele, claro, como : "Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz." Gosto quando aborda dedicação e comprometimento o que é muito mais leve e real.

Um beijo.

Flavio Ferrari disse...

Ferockxia: já tinha visto e comentado ...

Flavio Ferrari disse...

Andrea: melhor sapos que viram principes do que principes que viram sapos ...

Flavio Ferrari disse...

Rossana: nem por um minuto ...

Flavio Ferrari disse...

Solange: cada momento é eterno em si mesmo ... (pode não fazer muito sentido, mas é impactante)

Flavio Ferrari disse...

Luna: você é, decididamente, uma garota inteligente ...

Letícia Alves disse...

Não, eu nunca quis ser miss e sempre li O Pequeno Príncipe e depois Cartas a uma desconhecida.
Sim, concordo com você, mas que seja essa obra ou outra, a gente sabe que a nossa leitura muda ao passar do tempo.
Beijo!

Taís disse...

Na verdade esse livro tem várias leituras possíveis. Eu o adoro e em cada época da vida que li, descobri algo novo, que não tinha visto antes.
Agora a parte do "tu te tornas eternamente..." sempre me pareceu muito romantica, mas pouco prática. Lembro-me até que numa determinada vez pensei: ahh só podia ser uma raposa msm... não à toa Saint-Exupéry deve ter usado essa figura. rsrs

Anne M. Moor disse...

O único eternamente responsável por nós é nós mesmos! E ISSO é uma aprendizagem de uma vida nénão?

beijos gelados de uma manhã gélida!!! :-)

Anne

A. Marcos disse...

Existencialista a frase, não?

Ela me fez lembrar de algo dito por Nietzsche (esse não será o texto, mas o contexto): as consequências de seus atos vão seguí-lo mesmo após curar-se do erro.

Flavio Ferrari disse...

Leticia e Marcos: essa é uma das belezas dos "escritos" ... o sentido muda com a gente.

Flavio Ferrari disse...

Tais: cuidado com as raposas ...

Flavio Ferrari disse...

Anne: cadê o verão que não chega ...

Luna Sanchez disse...

Obrigada, moço.

Não vai ter postagem reclamando do frio esse ano, falando no macarrão gelado, no molho do macarrão gelado e tal?

Rs

Um beijo.

Ju ♥ disse...

dá até um pouco de medo pensar no resultado...