Parte 1 - O início do fim
Parte 2 - Separação
Parte 3 - O Destino de Isabela
Parte 4 - Vigília
Parte 5 - O Anel
Parte 6 - Sublimação
Parte 7 - Razões e Sentimentos
Barceló reconheceu-se refletido nos olhos de Marie.
Ele já a havia encontrado uma vez, dez anos antes, durante a iniciação com Maurice.
Encontro rápido, fortuito, instigante.
Não trocaram palavras.
Recordava de sua silhueta alva atravessando o salão na penumbra, portando o Calix cerimonial, que depositou reverencialmente sobre o altar.
Não fora o corpo nu nem o rosto exótico emoldurado pelos longos cabelos negros, encimados pela coroa de Afrodite.
Nem o meneio hipnótico das ancas que emolduravam o acolhedor triângulo da vida.
Tampouco o olhar profundo que, apesar do transe onírico, revelava a alma inquieta.
Mas a aura ... rica, fluída, de uma transparência única. Vívida e intensa como numa foto Kirlian.
Sem pensar expandira a sua para tocar a dela, por uma fração de segundo.
E naquele instante compreendeu o significado da Divindade.
Aguardara por uma década esse reencontro, sem nada esperar.
Embora soubesse que no universo da magia não havia lugar para a posse, na vida cotidiana ela era a mulher de Maurice.
E Barceló, em seu avatar cotidiano, era moralista demais para desejar a mulher de um amigo.
A rápida troca de olhares na entrada permitiu-o concluir que Marie não padecia desse viés moral.
Aliás, pensou, interessante como a expansão da consciência alterava a comunicação entre as pessoas.
Todos ali, à exceção de Fernando, sabiam o que estava sendo pensado e sentido por cada um.
Por isso desviou o olhar quando cumprimentou Maurice.
Por sorte, tinham coisas mais urgentes a fazer.
Levou-os ao quarto onde Isabela dormia.
Isabela, receptáculo de seu amor maduro e instrumento de sua evolução.
Talvez a melhor conseqüência dos Ensinamentos tenha sido aprender a amar, desta forma desprendida.
Amar é almejar verdadeiramente o desenvolvimento do outro, pelo outro. É satisfazer-se com sua presença, alegrar-se com seu sorriso, acolher sua tristeza, partilhar sua vida sem exigir exclusividade, respeitar sua individualidade e desejar o sempre, aceitando a inexorável finitude.
A recompensa é a serenidade do espírito e o indescritível prazer de existir.
Barceló já não era escravo de suas emoções e, portanto, não escravizava.
E, apesar da gravidade quase litúrgica do momento, não consegui evitar o laivo de humor sarcástico, divertindo-se em silêncio com as reações de Fernando.
Não tinha idéia do papel que ele desempenharia nos acontecimentos próximos. Mas, sem dúvida, já antevia que a presença de um “não iniciado” tornaria tudo mais divertido.
88888888
Desconectando-se de Isabela, Marie, Adric e Maurice, e deixando de lado a estupefação de Fernando, permitiu-se um momento de introspecção.
Lembrou-se do ano passado na “Fraternidade” (como costumavam chamar, carinhosamente, a escola esotérica) e dos exercícios que praticara solitariamente nos anos seguintes.
E recordou-se do pacto.
Barceló era o mais velho e, portanto, seria o primeiro.
Submeter-se-ia aos rituais de renovação.
A sensação que sentira ao reencontrar Marie afastara qualquer sombra de dúvida que pudesse ter.
Vida ... como era doce essa sensação de estar vivo e pleno.
Vida que se esvai traiçoeiramente, a cada segundo. Tão lenta e insidiosamente que, quando nos damos conta, foi-se também a vontade de viver.
Mas não para ele. Não para aqueles que haviam vivenciado os Ensinamentos.
Estava preparado para reconhecer o momento da inflexão.
E disciplinado nas artes da atenção, intenção e espreita.
Havia exercitado a impecabilidade e, esperava, acumulado energia suficiente para sua morte e renascimento.
E. se assim não fosse, de todo modo, não haveria mais por quê...
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Ele já a havia encontrado uma vez, dez anos antes, durante a iniciação com Maurice.
Encontro rápido, fortuito, instigante.
Não trocaram palavras.
Recordava de sua silhueta alva atravessando o salão na penumbra, portando o Calix cerimonial, que depositou reverencialmente sobre o altar.
Não fora o corpo nu nem o rosto exótico emoldurado pelos longos cabelos negros, encimados pela coroa de Afrodite.
Nem o meneio hipnótico das ancas que emolduravam o acolhedor triângulo da vida.
Tampouco o olhar profundo que, apesar do transe onírico, revelava a alma inquieta.
Mas a aura ... rica, fluída, de uma transparência única. Vívida e intensa como numa foto Kirlian.
Sem pensar expandira a sua para tocar a dela, por uma fração de segundo.
E naquele instante compreendeu o significado da Divindade.
Aguardara por uma década esse reencontro, sem nada esperar.
Embora soubesse que no universo da magia não havia lugar para a posse, na vida cotidiana ela era a mulher de Maurice.
E Barceló, em seu avatar cotidiano, era moralista demais para desejar a mulher de um amigo.
A rápida troca de olhares na entrada permitiu-o concluir que Marie não padecia desse viés moral.
Aliás, pensou, interessante como a expansão da consciência alterava a comunicação entre as pessoas.
Todos ali, à exceção de Fernando, sabiam o que estava sendo pensado e sentido por cada um.
Por isso desviou o olhar quando cumprimentou Maurice.
Por sorte, tinham coisas mais urgentes a fazer.
Levou-os ao quarto onde Isabela dormia.
Isabela, receptáculo de seu amor maduro e instrumento de sua evolução.
Talvez a melhor conseqüência dos Ensinamentos tenha sido aprender a amar, desta forma desprendida.
Amar é almejar verdadeiramente o desenvolvimento do outro, pelo outro. É satisfazer-se com sua presença, alegrar-se com seu sorriso, acolher sua tristeza, partilhar sua vida sem exigir exclusividade, respeitar sua individualidade e desejar o sempre, aceitando a inexorável finitude.
A recompensa é a serenidade do espírito e o indescritível prazer de existir.
Barceló já não era escravo de suas emoções e, portanto, não escravizava.
E, apesar da gravidade quase litúrgica do momento, não consegui evitar o laivo de humor sarcástico, divertindo-se em silêncio com as reações de Fernando.
Não tinha idéia do papel que ele desempenharia nos acontecimentos próximos. Mas, sem dúvida, já antevia que a presença de um “não iniciado” tornaria tudo mais divertido.
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Desconectando-se de Isabela, Marie, Adric e Maurice, e deixando de lado a estupefação de Fernando, permitiu-se um momento de introspecção.
Lembrou-se do ano passado na “Fraternidade” (como costumavam chamar, carinhosamente, a escola esotérica) e dos exercícios que praticara solitariamente nos anos seguintes.
E recordou-se do pacto.
Barceló era o mais velho e, portanto, seria o primeiro.
Submeter-se-ia aos rituais de renovação.
A sensação que sentira ao reencontrar Marie afastara qualquer sombra de dúvida que pudesse ter.
Vida ... como era doce essa sensação de estar vivo e pleno.
Vida que se esvai traiçoeiramente, a cada segundo. Tão lenta e insidiosamente que, quando nos damos conta, foi-se também a vontade de viver.
Mas não para ele. Não para aqueles que haviam vivenciado os Ensinamentos.
Estava preparado para reconhecer o momento da inflexão.
E disciplinado nas artes da atenção, intenção e espreita.
Havia exercitado a impecabilidade e, esperava, acumulado energia suficiente para sua morte e renascimento.
E. se assim não fosse, de todo modo, não haveria mais por quê...
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Deixaram o quarto e dirigiram-se, em silêncio, para a biblioteca.
Maurice sorriu ao ver o que restara dos arranjos para o encontro de Barceló e Isabela horas antes.
- Barceló, você continua o mesmo pilantra de sempre ... – disse divertido. Velho e irremediavelmente pervertido ...
Marie sorriu.
- E você, Fernando, melhor fechar a boca e enxugar a baba com um lenço. A diversão ainda nem começou ...
Maurice sorriu ao ver o que restara dos arranjos para o encontro de Barceló e Isabela horas antes.
- Barceló, você continua o mesmo pilantra de sempre ... – disse divertido. Velho e irremediavelmente pervertido ...
Marie sorriu.
- E você, Fernando, melhor fechar a boca e enxugar a baba com um lenço. A diversão ainda nem começou ...
16 comentários:
EStou até com pena do Fernando!!!!
Lindo encontro de almas...Breve, mas intenso!!
E nós permanecemos aqui... A espera do grande acontecimento!!
Beijos
Fico,
pasma
estarrecida
boquiaberta
perplexa
com essa capacidade sua e do Ernesto.
Sinceramente, não consigo nem comentar,meus esforços se limitam em manter a respiraçao no ritmo normal...
ANTES dessa parceria, achei que conhecesse gente capaz de "inventar moda"...Eu não tinha a menor idéia ainda do alcance e da abrangência desse inventar...
O céu é o limite pra essas cabeças...
Aff!
Lú.
Respira Lú... um, dois, um, dois... Ainda não botaram asas na Isabela...
Flávio... que magia a Isabela já fez que não aparece mais as nossas fotos aqui no teu blog????????
Anne: o sádico aqui é o Ernesto, e também é o especialista em botar asas nas mulheres amadas.
Ti: minha jovem e impaciente fada
Lú: egobooster, as usual, e hoje eu prefiro acreditar ...
ps - não sei onde foram parar os "avatares"
Aliás, aproveitando, convencionou-se chamar de avatar qualquer representação gráfica de um internauta (por exemplo, as fotos de indentificação dos blogs).
Entretanto, no sentido mais amplo, o avatar é a manifestação de um Deus na terra.
Aproveitando (2), alguém já deve ter reparado que o ritmo dos Ovos é bem mais lento do que o de Pecado e Capital, tanto na trama quanto no intervalo entre postagens.
Não é proposital, mas é intrinseco.
E provocante...
Eu tava louco pra matar uma personagem dessa vez. Você cortou o meu barato. Mas continuo à espreita, continuo sim.
Flávio:(na resposta pra Anne)
Depende do contexto
O pecado era tempo pra asas.
Atualmente, me parece que o tempo não é pra asas , nem pra roupa.
Uma vez que os autores estão sempre deixando as personagens femininas peladas(rsss-desculpem, não resisto)
Mas, que tá lindo e perfeito..., isso tá.
Lú.
Ps:
Taí: isso é que é suspense. Você escreve "post scriptum" depois do texto e deixa todo mundo pendurado...
É:
P(oe)S(aia)na moça.
Nossa, que bobagem gigantesca.
Desconsidere.
Lú.
Flávio:
Daqui praí pode acreditar sempre.
Lú.
Bueno, que suspenso.....de verdad que sus mentes voluptuosas no tienen límite...en su trama como que veo que la calma antecede a la tempestad.....
Li, desde o capítulo três ao nove, quase de uma vez... voltei umas quatro vezes para reler este sétimo.
É maravilhoso!
1 beijo.
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