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quarta-feira, maio 30, 2007

Paralaxe, descontexto e ambiguidade

Certamente já aconteceu com você ...
Alugou aquele filme fantástico, um dos melhores que já viu em sua vida, para mostrar a um amigo e ... surpresa ... já não te pareceu tão bom quanto ha 15 ou 20 anos.
Ou, ao contrário, escutou uma música velha, que nunca havia te chamado a atenção e agora pareceu cheia de significados.
É o efeito do contexto (e do descontexto) sobre a mensagem.
Crianças pequenas adoram ver o mesmo filme infinitas vezes.
Por um lado, para elas, o filme nunca é o mesmo. Elas estão em constante desenvolvimento e seu contexto varia a cada momento.
De outro, seu pequeno mundo muda tanto, que a repetição do filme lhes dá a segurança de alguma coisa permanece igual.
Ambiguidade. Algo absolutamente natural no universo infantil e que, lamentavelmente, procuramos banir da vida adulta.

12 comentários:

Anne M. Moor disse...

Já aconteceu sim... O Mago de Oz foi um filme que vi 500 vezes quando criança e nunca cansava... Filmes tem a ver com contexto e com o contexto emocional do momento tbm.
Isso acontece com comida tbm... Num ataque de nostalgia come-se o que se lembra ter comido de criança e definitivamente não tem o mesmo gosto...
Banir a ambiguidade??? Podemos até tentar, mas será que conseguimos???

Anônimo disse...

A ambiguidade faz parte da vida e se não aprendermos, ou melhor, não resgatarmos como viver com ela, não conseguimos aproveitar tão bem a vida...

Viver em um mesmo momento, uma imagem do passado, o agir do presente e o pensamento do futuro é uma ambiguidade sem fim...

Udi disse...

Este foi um dos primeiros ensinamentos que você me transmitiu. Acho que aprendi, mas ainda me agrada muito ouvir novamente e espero ser lembrada disso mais vezes. Você sempre encontra uma imagem nova prá ilustrar uma mesma situação, esse é o jeito de os adultos ouvirem a mesma história (que precisam ouvir) até aprenderem.

doppiafila disse...

Por sorte acontece o contrario tambem! Justo anteontem vi (de novo) o "truman Show" e achei infinitamente melhor que a primeira vez... :-)
Abraços, Doppiafila

Anne M. Moor disse...

Me acontece a mesma coisa com "Perfume de mulher". Já vi inúmeras vezes e gosto mais a cada vez que vejo... Especialmente 3 momentos do filme: o tango, qdo ele dirige a ferrari supostamente cego e o discurso dele na escola.

Anônimo disse...

Transitamos entre a necessidade do novo - aquela emoçãogostosa, com gosto de curiosidade e desafio - e a segurança do conhecido, a tranquilidade.
Mas o que determina a opção por um ou outro?
Creio que sejam as emoções, a “fase” (como alguns dizem), nossas carências ou excessos do momento.
Um novo olhar, sempre será diferente do anterior, mas nem sempre terá o mesmo resultado.
Beijos

Anônimo disse...

O efeito do contexto (ou descontexto) sobre a mensagem, são as nossas cantadas e decantadas entelinhas.
No esgarçar , emerge o sub-texto, esse sim alterável, submetido que é sempre, às alteraçoes do sujeito.
Portanto,a mensagem lá está e lá continua... O ângulo, o enfoque, a posiçao do observador é que muda.
Paralaxe?( Nome bonito!)Necessária e importante a compreensão e a aceitaçao do seus efeitos no desmistificar, reformular, reorganizar estruturas ditas sólidas(e ultrapassadas)
Ambiguidade: fruto natural do questionamento que impulsiona...
Flávio como sempre: hiperbólico(me apoderando da expressão literária rss), superlativo, catalizador do pensar...
Sou fã...
Bjo
Lú.

Ernesto Dias Jr. disse...

Engraçado. Isso acontece sim, mas incluo uma observação pessoal. Tenho o hábito de reler livros inúmeras vezes. Alguns, dezenas de vezes ao longo dos anos. Uns tornam-se melhores, surpreendem a cada vez num detalhe despercebido aqui e ali. Outros tornam-se simplesmente infantís. Quase intragáveis. Então porquê não jogo o livro no lixo?
Porquê aquelas estórias evocam-me um momento de vida. De certo modo, não é a obra em si, mas o reviver do momento original que me agrada.
E acrescento: seja livro, filmé, música ou perfume, ao revisitar as sensações que nos evocam aprendemos sobre nós mesmos. Quando vemos coisas que não vimos antes, mostra como estamos mais experientes e "compreendedores" com a idade. Quando nos parecem menos valorosos, mostram-nos também como nos tornamos mais seletivos e críticos.
Jamais usaria Lancaster hoje. Mas gostaria imensamente de sentir de novo seu cheiro, e reviver outra época.
De qualquer modo, viva o Flávio pela observação.

Excentric Herself disse...

Isso acontece comigo sempre, e ao mesmo tempo não acontece. Deu pra entender? Outro dia eu vi umas 20 vezes um filme q eu adoro chama Vem dançar Comigo. É australiano, meio sem pé nem cabeça, mas eu revi, revi, e revi... Será que eu não tô me desenvolvendo direito? Ou será que eu ainda não fiquei adulta direito? Ou será que eu fiquei adulta mas sou meio monga assim mesmo???? Será que eu sou meio monga? Do que é mesmo que vc tava falando????

Walmir Lima disse...

Tô quéto! (Paralaxe)
Até bebí uma cerveja com álcool!
Tinha o mesmo gosto da última vez (Era o contexto ou descontexto?).
Só não me lembro do último (único) "fogo" que tomei (verdadeira ambiguidade).

Jorge Lemos disse...

A Anne com o os filmes e o Ernesto com o livros colocam-me no mesmo plano. Cada vez uma nova descoberta: a fase da igualação
quando todas as respostas são similares mas, paradoxalmente, ambiguas. Um trabalho especial de Schischlo excita o tema propostyo pelo Flavio: Aspectos da Estimulação pela Repetição.

Luisa Fernanda disse...

Esta estuvo buena, me pegaste repitiendo de forma consecutiva "Milonga Sentimental" por treintava vez.
Pienso que es fantástico las repetidas en la vida, ya que uno se conoce y reconoce al contrastar la diferencia en la experiencia estética de un mismo estímulo, y porque no...esto también se aplica a los amores