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terça-feira, junho 16, 2009

Posição relativa


Quando meus filhos eram pequenos, uma das brincadeiras que fazia com eles era a de afirmar que eu era vice-campeão de qualquer coisa que fosse o assunto do momento.
Depois, um pouco mais velho, um deles me perguntou por que eu dizia ser vice-campeão ao invés de campeão.
Porque é mais crível, respondi.
Eis que, em um momento de 2005, encontrei-me em um hotel que ostentava em sua entrada, com muito orgulho, um cartaz iluminado indicando haver sido escolhido como terceiro melhor hotel do Brasil por uma famosa revista.
Posto confortabilíssimo. O Brasil é imenso e repleto de excelentes hotéis. A diferença entre o primeiro e o terceiro deve ser, supostamente, mínima. Mas o terceiro pode cometer alguns erros (afinal, não é o infalível número um ).
No primeiro dia de permanência no hotel, após uma longa e cansativa viagem que terminara na noite anterior, fomos acordados as 8h40 da manhã pelo barulho de uma furadeira elétrica. Estavam reformando ou consertando um quarto no andar acima do nosso. Liguei para a recepção sugerindo que esse tipo de serviço fosse deixado para após as 10h00 da manhã, para preservar o direito de descanso dos hóspedes. A moça da recepção, consternada, desculpou-se adequadamente e garantiu que isso não voltaria a ocorrer.
Uma vez acordados, fomos para o café da manhã. Seguramente não foi o terceiro melhor café da manhã que já tomei. Aliás, o café em si estava horrível. Ao final de cada xícara, quando se fechava a torneira do recipiente de aço inox onde jazia o café, uma borra acinzentada e de aspecto desagradabilíssimo teimava em escorrer para dentro da xícara.
Na piscina, o queijo provolone teria sido mais elegante se servido sem os pedaços de casca.
De volta ao quarto, já arrumado, faltavam as toalhas de banho. Imperdoável atraso da lavanderia, defendeu-se a camareira, também consternada e gentil.
Teria sido mais fácil jogar tênis na excelente quadra do hotel caso houvessem bolas de tênis disponíveis. Não havia, mas a recepcionista, novamente consternada, prontamente ofereceu-se para guarnecer o estoque da loja do hotel. Tivemos que aguardar 30 minutos e pagar R$ 50 pelas bolinhas.
E por último, resolvendo almoçar às 16hs (ok, isso lá é hora de almoçar ?) encontramos todos os restaurantes do hotel fechados.
A lanchonete até que não era ruim mas os saches de maionese estavam vencidos (coisa que só descobrimos depois que eu já havia comido um).
Claro que me dirigi à recepção novamente. Comentei, inclusive, que eles eram muito simpáticos, mas que aparentemente eu estava dando azar. Fiz um rápido resumo dos acontecimentos, finalizando com o caso da maionese vencida.
A recepcionista ficou consternada, pela terceira vez, e prometeu tomar providências.
Talvez seja a terceira recepcionista mais consternada do Brasil.

(reedição de uma postagem que fiz em dezembro de 2005 - se a TV a cabo pode, porque não eu ?)

15 comentários:

zuleica-poesia disse...

Ah, meu filho amado! Gostaria de ter estado com você e só assim conseguiria dar risada da situação.Mas também temos alguns desmazelos de hoteis que ficaram na nossa história. Pena que você não estava conosco! Bom dia. Abraço da Zuleica.

Mariana Dore disse...

auhhuahuahuahuhuahuahu
Minha nossa!!! Se este é o terceiro melhor hotel, imagne o quarto e o quinto?
É que a gente espera demais de alguma coisa em terceiro lugar, ne?

;D

Simone disse...

haha não havia lido ainda. Que nojinho, hein? Imagino que ou os nossos hotéis não sejam lá grande coisa, ou este aí estava mentindo!

Beijos

Udi disse...

Bem que havia aquela sensação de déjà vu! ...bem mais legal que a sensação de "isso aí de novo!" que a TV paga desperta.
Você pode porque faz melhor!
;)

Luna Sanchez disse...

Rs

"Talvez seja a terceira recepcionista mais consternada do Brasil."

Adorei!

ℓυηα

Carla P.S. disse...

O problema desse hotel era, muito provavelmente, o de muitas pessoas (penso em alguns agora..): ter humildade suficiente pra assumir os erros, mudar de conduta (reparando falhas) e parar de se gabar com feitos do passado. Talvez eu me inclua nisso, muito fortemente!
Ótima escrita, como sempre!

Luisa Fernanda disse...

Meu caro, eu por isso so fico em pousada, sempre sou bem atendida e não tem frescura. Bj

Flavio Ferrari disse...

Mãe: quando se está em boa companhia, tudo fica mais divertido.

Flavio Ferrari disse...

Mariana: pelo menos um pouco de bronze ...

Flavio Ferrari disse...

Simone: nossos hotéis são ótimos, ou pelo menos a maioria deles. Esse é que dormiu sobre a medalha.

Flavio Ferrari disse...

Udi: sei não ... eles gastam mais com produção ...

Flavio Ferrari disse...

Luna: nisso era era boa ...

Flavio Ferrari disse...

C.: eu tentei passar ... mas os dois são leoninos .. sabe como é ...

Flavio Ferrari disse...

Carla: sempre muito crítica com você mesma ...

Flavio Ferrari disse...

Luisa: já foi na terceira melhor pousada ?