Páginas

segunda-feira, outubro 18, 2010

Medo da liberdade

Tenho pensado bastante na falsa dicotomia corpo-mente que permeia a sociedade moderna, particularmente a ocidental.  Creio que ainda vou escrever alguns textos mais longos sobre isso.  Mas aqui é um blog e ninguém tem paciência para textos longos. Logo, vou direto ao assunto do momento ...
Ainda não localizei o momento histórico onde essa separação esquizofrênica entre o corpo e a mente começou, mas de uma rápida discussão com meu filho Rodrigo sobre o assunto aceitei a idéia de que sua origem remonta ao início da civilização, que exige que você abra mão de alguns desejos e impõe obrigações.   E o fenômeno se acentua quando a sociedade adota religiões monoteístas que, por alguma razão que desconheço, exige sacrifícios (particularmente os físicos) para elevação do espírito.
Fato é que hoje nascemos e crescemos sob o príncipio básico de que o corpo precisa ser controlado e os desejos aprisionados.  Aprendemos que a felicidade é espiritual e que nosso corpo e seus desejos são um impecilho para alcançá-la.
Fácil, numa conversa de bar, encontrar amigos que concordem racionalmente que corpo e mente são apenas definições para alguns aspectos do ser humano e que o prazer físico também é um caminho para felicidade.
Mas basta um olhar  rápido para a maneira pela qual eles mesmos levam sua vida para perceber que também são, como todos, vítimas desse engodo.
Transformamos nosso corpo numa prisão comandada por nós mesmos e temos medo da liberdade.
A liberdade de sentir, de satisfazer os desejos que classificamos indevidamente como carnais (como se fosse possível separa rum desejo carnal de um mental/espiritual) é prontamente classificada como pecaminosa.
De alguma maneira aceitamos que a felicidade só será possível quando nos livrarmos do corpo.
Só aí poderemos nos encontrar com Deus (seja ele qual for).
Creio que esse pensamento foi desenvolvido para que nos fosse possível suportar a tortura a qual nós mesmos nos submetemos.  Eu me sacrifico aqui "na Terra" numa curta existência mas depois vou merecer "o Céu" onde serei completamente feliz para sempre.
Meus amigos e minhas amigas ... tem alguma coisa muito errada nisso tudo !

14 comentários:

Carla P.S. disse...

Sim, tem. A palavra pecado já esclerosou, e céu e inferno é muita subjugação mental!
Eu acredito no amor que faz bem, seja esse carnal ou espiritual.

Vivian disse...

...toda esta parafernália
de conceitos só vem reforçar
a hipocrisia humana que
diz uma coisa e faz outra.

não dá para separar carne
e espírito.

há sim que se ter discernimento
entre um e outro e assim fazer
dos dois, portais para a
felicidade aqui e agora.

bj

Paulinha Costa disse...

Isso também me intriga...
Já tive várias conversas sobre o tema, já levei alguns puxões de orelha...
Eu gosto de meditar, me sinto bem com isso, mas também gosto de beber meu uísque, meu cigarro, comer minha carne e saborear a carne alheia... Prazer? Felicidade? Não sei com tanta certeza, mas tenho algumas considerações, talvez prazeres fugazes... mas que é uma delícia, ah isso é...
O fato é que felicidade é algo que se mantém diante do caos, não é apenas uma mera sensação de prazer. É um sentimento profundo de serenidade e realização, um estado que na verdade permeia e sustenta todos os estados emocionais e todas as alegrias e tristezas que cruzam o nosso caminho, prazer é um momento, o prazer é uma circunstância do tempo, de coisas e de lugares. É algo cuja natureza se transforma. Utopia?
Eu espero que não...
Prefiro considerar que sou de carne também, então desfruto do meu estado como posso...
Essa conversa vai longe, pecado, felicidade, desejos carnais/mentais versus liberdade, que temas!
O meu pai costuma dizer que se reencaranar fosse tão ruim não tinha tanta criança nascendo. Sacrificar na Terra? Acho que não... desfrutar dela parece que está mais próximo da realidade.
Ops me empolguei, escrevi demais...
Bj Flavito!

e daí? disse...

"De alguma maneira aceitamos que a felicidade só será possível quando nos livrarmos do corpo.(...)" aceitamos? ou vivemos na hipocrisia?
Tem muito assunto pra textos longos e boa conversa...

Anônimo disse...

O achei ná nossa rádio blog e passei a seguí-lo. Excelente Blog.
Vejo corpo e espírito como duas coisas distintas, mas que, nesta nossa atual condição, têm o mesmo propósito de felicidade.

Jaqueline Köhn disse...

Mas é claro que está errado!

O verdadeiro "CÉU" está dentro de cada um de nós ...

Pecado não passa de sombra mental e ilusória que tenta encobrir este "CÉU" maravilhoso ...

Anônimo disse...

Flávio, eu sou da religião Católica, Apostólica e Romana. Embora eu não critique a minha religião, embora eu a respeite, possuo comigo que não sou freira (não vou discutir aqui os deslizes que ocorrem com essas pessoas de vocação bastante diferenciada da nossa)e nem santa e que, por isso mesmo, ouço os meus desejos carnais e os pratico na medida em que possam me servir de evolução. Mas confesso que eles, padres e freiras, me passam conforto em suas palavras (palestras, homilias, conversas. Costumam ser muito estudiosos, por sinal) mesmo que eu resista em seguir os seus mandamentos básicos ou alguns destes, por nenhum ou muito tempo.

Nem tanto carne, nem tanto espírito, afinal. E eles deduzem como somos e o que queremos deles, quando há interação. Ademais, acredito e respeito as vocações de cada um de nós.

Beijos,

Anônimo disse...

Flávio, obrigada por tão generoso comentário. Não, Flávio, as suas palavras fazem sim, bastante sentido. Mas eu posso lhe dizer que o fator emocional e a maturidade, hoje em dia, me tornam mais flexível. Mesmo assim, não está sendo tão fácil ser correspondida. Deixo para o tempo me preparar e me dar a solução, embora eu "grite", rs, por apelo, nas horas em que me sinto sufocada... Pudera, são anos e anos SOZINHA...

Beijos,

cristinasiqueira disse...

Oi Flávio querido,

Super clara e bem colocada sua argumentação.Este questionamento para mim é o princípio da trava que nos impede de expressar alegria,tesão,felicidade.Hoje por coincidência escrevi sobre Amar e Ser Livre.-Como é isto na vida?
Concordo com a Carla a palavra pecado esclerosou mas muito ainda esta agregado a nós,em nossos padrões...EW haja filosofia para desenrolar o assunto.
O convite é para o blog www.cristinasiqueira.blogspot.com
onde postei um poeminha do meu Cd, Se Houvesse Amor....Queria que vc lesse.
E obrigada pelas visitas no blog da Sacerdotisa.


Carinho,


Cris



PS_Aquele seu poema BRASIL eu publiquei no jornal daqui.

A. Marcos disse...

Platão foi um filósofo que contribuiu para isso de forma bastante contundente ao dividir o mundo em material (imperfeito) e das idéias (perfeito) e pregando uma busca pela perfeição, logo, pelo mundo idéias, longe dos apelos carnais.

Mas a impressão que eu tenho é que as filosofias orientais são mais contundentes nesse sentido.

E fica fácil entender o porque dessa divisão: nos tempos mais remotos, em que as civilizações viviam num estado de barbárie constante e sob o domínio de nações guerreiras, a força física era tudo.

Roma pode ser o ápice desse apelo à força, à forma física, à saciedade dos desejos carnais. Era o império do corpo e do material.

Aos oprimidos só restava o que mesmo? Acreditar num outro mundo, numa outra dimensão na qual eles teriam sua vingança e de "últimos" passariam a ser "os primeiros". E para tanto deveriam deixar de lado a carcacterística de seus dominantes (força física, saciedade de desejos carnais e etc) para se dedicarem à elevação do espírito e desprezarem os desejos tidos como profanos.

Nietzsche trata bem do assunto em "A Genalogia da Moral".

Luna Sanchez disse...

Estranho, sim.

Numa dessas novelas doidas da Glória Perez, um personagem dizia que, comportando-se bem aqui em vida (principalmente não cedendo aos desejos carnais) ganharia o paraíso com não sei quantas mil virgens só pra ele...rs

Ou seja : livre do corpo ele viveria em uma eterna suruba.

:p

Beijo³.

ℓυηα

Batom e poesias disse...

Já tive meus dias de anarquista, até perceber que os que dão vazão à todos os instinos e desejos, também não são felizes.

Eu não gosto da palavra "pecado", mas substituo por "princípios" básicos da convivência em sociedade.

Assunto que dá pano para a manga...
bj
Rossana

menina fê disse...

erradíssima. vejo outras coisas muito mais horripilantes e indecentes como pecado, não a satisfação dos desejos. enganar, passar por cima, deixar com fome, roubar os necessitados e donos de direitos, enfim. ao corpo foi dada a sensação do prazer, que seja sentida e estimulada, oras. pecado que a igreja ensina, é utopia de resignação e necessidade de autoridade. sexo é um dos caminhos para o encontro do homem com ele mesmo. como pode ser pecado?

I'm out! rsrs

bjs, querido.

Anônimo disse...

Não é só o post que é longo, as comentaristas tem muuuito oq falar... Aprende-se mais com a visão de todos...
Minha opinião é que seja bem complexo conviver com esta dicotomia. Mas, tentamos.

beijos, ú&e =*********