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segunda-feira, janeiro 31, 2011

Pensamento da noite

O primeiro carro é um marco significativo na vida sexual de um jovem porque seus bancos são muito mais confortáveis do que os da bicicleta.

domingo, janeiro 30, 2011

"Di boa" (o Nirvana)

What is life about ?
Algumas frases soam melhor em outra lingua.  Essa é uma delas.  Na verdade, não estou muito certo de que a construção é essa mesma (a Anne que me corrija, caso leia).
O pessoal da Videolar (legendadora) provavelmente traduziria para algo como "qual o sentido da vida".
Mas o original em inglês soa menos filosôfico, mais pragmático. Leva-nos a pensar no cotidiano, nos pequenos atos, na atitude geral diante da vida.
Pessoalmente, vejo a vida como algo potencialmente simples, apesar de toda sua complexidade.
Busco, fundamentalmente, o que chamo de paz de espírito.  Uma expressão  tão boa como qualquer outra para dizer que, quando me perguntarem como estou, eu quero poder responder "tô di boa".
Estar "di boa" significa estar relaxado, satisfeito, desapegado.  Aquela sensação que a gente tem depois de uma refeição gostosa mas leve, ou depois de fazer amor com sua mulher ou marido.  Não estou falando de feijoada e sexo selvagem, que também são bons mas não servem como exemplo, no presente caso.
Na prática, me sinto assim quando as coisas vão bem no trabalho (fiz a minha parte e tudo deu certo), as pessoas que amo estão bem e eu estou fazendo alguma coisa gostosa.
Um pouco egoísta, é claro, já que sempre teremos gente sofrendo no mundo, com enchentes, guerras, doenças e outras mazelas e, obviamente, poderia estar fazendo alguma coisa para ajudar ao invés de ficar sentado no sofá tomanto um sorvete com bolo de chocolate ou fazendo cafuné na namorada.
Mas eu realmente acredito que fazer desse mundo um lugar melhor para se viver é uma tarefa que deve respeitar uma hierarquia de ações e, no que me concerne, o bem estar do planeta deve começar comigo. Preciso estar bem para poder ajudar minha familia, meus amigos, minha cidade, meu país e o planeta, quase sempre nessa ordem.
Da mesma forma, tenho a impressão de que a maioria das pessoas que atrapalham minha vida em algum momento não estão "di boa".
O vizinho chato, o político corrupto, o policial que abusa da autoridade, o ladrão no semáforo, o chefe desagradável, o padre pedófilo, os missionários em cruzadas (religiosos fanáticos e, mais recentemente, os eco-afins, que se acham donos da única verdade), os ricos metidos a besta, os pobres que se fazem de vítima, e todos aqueles que não se conformam que eu seja como sou ou que acham que eu devo alguma coisa (direito deles) e que exigem que eu faça algo diferente do que quero (coisa aborrecida), enfim, um bando de gente por aí me parece insatisfeita e infeliz e, por isso mesmo, não é capaz de aceitar que alguém (no caso, eu) esteja "di boa".
Eu entendo.  E sempre que possível, procuro alertar para o fato de que dirigir sua energia para ficar "di boa" seria uma solução melhor do que perturbar a minha paz de espírito.  Surpreendentemente, algumas vezes funciona (poucas, tenho que confessar, mas é melhor do que nada).
Mas esse estado quase nirvânico não é alcançado sem trabalho ou por acaso.
É um objetivo digno de se tentar alcançar e exige consistência e paciência.
Vale a pena se essa for sua resposta para a pergunta do início da postagem.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Expandindo a consciência

O Iluminismo é apontado como um dos mais importantes períodos da história intelectual da cultura ocidental.
Immanuel Kant, um dos expoentes do movimento, afirmou: "Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".
Ocorre que, apesar da motivação "libertária" e da intenção de conferir ao homem o direito de comandar seu destino através do livre exercício de suas capacidades, talvez por conta da contraposição ao jugo da Igreja dos séculos anteriores, o iluminismo terminou por submeter a sociedade ocidental ao jugo da razão.
A percepção holística, comum às correntes de pensamento orientais, taxada de herética pela Igreja, também foi rejeitada pelo movimento iluminista.  A razão passou a ser o dogma de interação do homem com o mundo.
Antonio Damasio em seu livro "O erro de Descartes" levanta a questão das limitações da razão.
O próprio Kant coloca a questão por outro ângulo em "Critica da razão pura" insistindo, porém, no valor do conhecimento independente dos "sentidos".
As vivências proporcionadas por algumas escolas orientais que já estão por aqui (Budista e Tântrica entre outras) oferecem uma oportunidade interessante para expansão da percepção e da consciência.
São baseadas em pensamentos integradores, com ênfase nas sensações e percepções, equilibrando o corpo e a mente.
As experiências transcendentes, tanto sensoriais como espirituais, proporcionadas pelas vivências, são verdadeiramente transformadoras.
O que temos para aprender não pode ser ensinado, precisa ser vivenciado.
A razão tem o efeito de uma luz forte e direta, dirigida para um ponto da sala: ilumina exageradamente o objeto observado e deixa no escuro o resto da sala.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Depois do herói

Um homem normal vive boa parte de sua vida adulta de acordo com o arquétipo do herói e se auto-avalia em função de suas conquistas.
Ao chegar aos 50 anos, chega o momento de mudar de papel e tem diante de si duas opções: o Patricarca e o Trickster.
O Patriarca é a referência moral da familia e da sociedade.  É o homem experiente e ponderado, que sabe diferenciar o certo do errado, que orienta e protege os seus.  A sua palavra de ordem é "responsabilidade".
O Trickster é um edonista.  Entende que está no estágio final de sua vida e decide que aproveitá-la é sua prioridade.  Sua palavra de ordem é "prazer".
Não que o Trickster seja um "irresponsável", na acepção fundamental da palavra.  Ele tem consciência das consequencias de seus atos e está pronto para responder por eles.  Mas seus critérios de decisão são pouco convencionais, porque auto-referenciados.
Também não significa que o Trickster não se preocupe com os outros.  Mas enquanto o Patriarca orienta e ensina, de acordo com sua visão de mundo, o Trickster instiga e desafia, motivando o outro a encontrar seu próprio caminho.
O Patricarca é geralmente respeitado e muito bem aceito pela sociedade.
O Trickster costuma despertar as mais diversas reações e nem sempre é compreendido.
Eu já tive que fazer essa escolha ...

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Os 3 "E"s

Para processos de gestão, estamos acostumados a pensar em Eficácia e Eficiência.
Queremos atingir resultados (eficácia) utilizando os recursos da melhor forma (eficiência).
Com bastante frequência, um terceiro conceito é esquecido, principalmente durante a fase de planejamento: a efetividade.
A efetividade está relacionada com a aplicabilidade e a sustentabilidade da solução.
Podemos tomar como exemplo um novo medicamente que se prova eficaz e eficiente para tratar um problema de saúde (resolve o problema de maneira rápida e sem efeitos colaterais) em testes controlados, mas que, na prática, não obtém os mesmos resultados quando receitado em consultório. 
Como isso é possível ?  O medicamente pode ser muito caro (e os pacientes acabam não comprando ou substituindo por um genérico menos eficaz), poderia exigir a ingestão a cada 30 minutos sem nenhum atraso (e o paciente não consegue cumprir o protocolo) ou demandar a aplicação através de algum processo doloroso ou incômodo (resultando em rejeição).
Nas empresas, de um modo geral, a efetividade depende da motivação da equipe, da sua disposição para implementar corretamente uma solução e de sua capacidade de perceber e aproveitar seus benefícios.
Vale, também, para questões pessoais.  Boa parte dos regimes para emagrecer poderiam ser considerados eficazes e eficientes, mas terminam não sendo efetivos porque um "petit gateaux" com sorvete de creme e calda de frutas vermelhas é mais motivador ...

terça-feira, janeiro 25, 2011

São Paulo

Coisas que me encantam nessa cidade:
- o povo, uma síntese do Brasil
- a liberdade de ser e de ir e vir quase anonimamente
- as possibilidades de entretenimento (tudo, exceto praia)
- a riqueza cultural (teatros, shows, livrarias, cinemas)
- os bares e restaurantes
- a infra-estrutura para qualquer coisa
- as oportunidades de trabalho e negócios
Também existem muitas coisas que me chateiam por aqui, mas hoje é aniversário da cidade e não é dia de criticar.
Nasci aqui e vivi nesta cidade toda a minha vida. 
Sorte minha.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Kotucoku e as certezas

No princípio era o verbo ....
O verbo (a palavra) é o princípio da dúvida.  A razão busca explicações para assegurar-se num ciclo sem fim, já que a única certeza é a de que não podemos saber ao certo.
A plenitude é o desapego das certezas.
Para isso serve a meditação ... desligar o verbo e alcançar, ainda que por um átimo, a plenitude de ser.
No começo, a sensação é fortuíta ... nos escapa ... dura pouco.  Mas fica impressa na memória integral (física, mental, espiritual).  Uma sensação que vicia por ser bela.  Quando nos deixa, resta a ausência de nós mesmos, diluídos no caos.  Um sentimento inexplicável de saudades.
É a volta da palavra, em busca das certezas, que não nos deixa escutar o universo dentro de nós.
Mas não se aflija ... ele seguirá lá, esperando outros silêncios, com a paciência de quem sabe que, um dia, o verbo não será mais soberano.
Esse é o final da nossa jornada e o início do ser total.

(Kotucoku)

sábado, janeiro 22, 2011

φέτα τυρί (feta turi)

Na geladeira vazia
O drama que se completa
Qualquer queijo em fatia
Pode ser chamado de feta

(ps - o Queijo Feta "original" é aquele utilizado nas saladas gregas, feito de leite de cabra.  Duas curiosidades: em função do terreno árido e acidentado, cabras são muito mais comuns do que vacas na Grécia.  Logo, o queijo naquele país costuma ser feito de leite de cabra.  A palavra feta significa "fatia" em grego.  Assim, queijo feta nada mais é do que uma fatia de queijo comum.)

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Kutucoku Kontakuara

Os Xamãs (originalmente sacerdotes siberianos) já estiveram mais em moda.  Perderam um pouco do seu espaço para os gurus da auto-ajuda, que se apoiam em modelos de negócio mais modernos.
Mas há uma grande diferença entre um Xamã e os gurus (vide James Ray, um dos mais famosos gurus de auto-ajuda norte-americanos).
O Xamã não pretende ensinar nada.  Um encontro intencional com um Xamã irá tirá-lo de sua zona de conforto e, se tiver sorte, alterar sua percepção de mundo, de forma a que você possa se libertar da forma de pensamento à qual está limitado.  Daí para frente, é com você.
Já o guru de auto-ajuda costuma dar a receita do bolo.  Oferece uma nova visão de mundo (pronta) para você e ensina alguns truques para que você obtenha sucesso, normalmente no mundo dos negócios.  Algumas vezes o resultado é semelhante, ou seja, apresentado a uma nova realidade e exercitando outras formas de se relacionar com o mundo, você desperta para outras possibilidades e segue seu próprio caminho.  Mas essa, obviamente, não é a intenção do guru, já que esse resultado não é positivo para seu modelo de negócio.
Já que, aparentemente, vou permanecer nessa fase filosófica por mais algum tempo, decidi reviver um personagem xamanístico do meu universo imaginário.
Kutucoku Kontakuara é meu alterego xamã, que se diverte questionando as "verdades" individuais e coletivas.
Ele vai andar por aqui nos próximos dias.

Sem teto

O ex-dono do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, foi despejado.  Tecnicamente, é um sem teto, agora.
A casa não era assim uma Brastemp.
Segundo o UOL, "Projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake, a casa com a fachada de concreto aparente custou R$ 142,7 milhões, de acordo com documentos contábeis de Edemar revelados pela Folha em 2005. A mesa de mogno da sala de jantar, para 20 pessoas, consumiu US$ 390 mil (R$ 652 mil). Uma luminária do alemão Ingo Maurer custou 262,5 mil euros (R$ 592 mil)."
Ouvi dizer que a geladeira também não era da Brastemp.
Na verdade, não conheço o Edemar, não tenho conhecimento de causa para julgar a ação e também não sou daqueles que se compraz com a desgraça alheia.
Li a matéria por acaso e o que me chamou a atenção é que alguém possa, deva, precise ou queira morar numa casa de 142 milhões, jantando numa mesa que custou mais caro do que o apartamento onde vivo (aliás, dava para comprar dois apartamentos com dinheiro da mesa).
Imaginei como se sente alguém que mora numa choupana no sertão do nordeste e descobre quanto eu paguei no meu apartamento, que parecia muito, até eu saber do preço da mesa de mogno do Edemar.
Deve ser a tal relatividade da qual Einstein falava ...

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Delírios paradoxais

Se é verdade que vassoura nova varre melhor, também há que se considerar que panela velha é que faz comida boa.
Quem disse que a laranja-baia tem que vir da Bahia ?  Você já tentou pedir um bife a milanesa em Milão ou um pão francês na França ?
A vida é assim ... há que se aproveitar as ofertas do dia.
Delírios podem ser contraditórios.  São livres das amarras da consistência lógica ... ou não seriam delírios.  Como as alucinações provocadas pelo chá de lírio, segundo diz a lenda, pois ninguém que tomou voltou para contar como é.
Mas desta postagem o mote, ainda que não se denote, é colocar mel no pote...
Algo equivalente a cheirar grãos de café entre uma taça de vinho e outra, durante a degustação.
Como dizia minha tia, "não fique aí com filosofia enquanto a água escorre pelo ralo da pia" ...
As últimas postagens do Arguta foram muito sócio-filosóficas e eu já estava parecendo um sujeito sério.  Desse jeito, quando for procurar um emprego é capaz de me oferecerem um trabalho ...
Argh .... preciso comer uma paçoquinha urgente !

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Ser diferente

Não há nada de errado em desejar ser diferente.
As redes de relacionamento virtual permitem, inclusive, um exercício lúdico desse desejo.
Complicado é quando esse desejo mina a auto-estima e se transforma numa imposição pessoal.  Quando deixamos de gostar do que somos e exigimos de nós mesmos uma mudança imediata, num moto-contínuo de frustrações.
Eu gostaria de ser diferente em muitas coisas.  Queria ser menos "controlador", viver mais o presente (tenho um viés de futuro), ser menos ansioso.  Também queria ter uns 10 centímetros a mais, cabelos cor de mel, olhos verdes e corpo de atleta.
Aprendi que o primeiro passo para uma mudança é aceitar e amar o que se é (há uma sutil diferença entre amar o que se é e gostar do que se é).  O segundo é se propor a mudança e combinar um plano de trabalho.  O terceiro é trabalhar pela mudança.
Mudanças de verdade são integrais.  Razão e emoção precisam andar juntas durante o processo.  Sentimentos servem para te dizer se você está fazendo a coisa certa para você enquanto a razão tenderá a impor o que é certo para o mundo.
Também é importante saber distinguir que batalhas vale a pena lutar.
Eu venho trabalhando para mudar nos três primeiros pontos que mencionei (controle, ansiedade, presente) há alguns anos (terapia, meditação, tantra, exercícios de atitude e atenção, vivências).  Está funcionando e contribuindo para que eu seja uma pessoa mais feliz.  Curioso é que, embora acredite que essa vida não será suficiente para chegar onde gostaria, encaro o ato de trabalhar nessa direção como um presente para mim mesmo e me sou grato.
O corpo de atleta seria, tecnicamente, mais fácil de alcançar e sempre me questionei porque não trabalho por ele.  Concluí que, de verdade, não é importante e negociei comigo mesmo alguns limites de "degenerescência" - a barriga não pode impedir que eu veja o dedão do pé.
Já os 10 centimetros a mais, os cabelos cor de mel e os olhos verdes, só com um "di Pollini majori" (aquele sapato que aumenta a altura), tintura e lente de contato.  Nesse caso tenho duas opções: aprender a gostar de mim como sou ou passar a vida inteira frustrado pelo que não sou.  A escolha é óbvia, mas você e eu sabemos que dizer é mais fácil do que fazer.  No meu caso, considerando que tive a sorte de nascer com características físicas não tão distantes do padrão médio de beleza atual (enquadramento provável na categoria "dá para o gasto"), a aceitação é mais fácil do que seria caso tivesse alguma deficiência física séria.  Afinal, vivemos num mundo que julga, primeiro, pelas aparências.
Talvez a questão mais importante aqui seja desenvolver uma percepção integral de si mesmo.
Posso fazer (aliás, já fiz) uma lista das características físicas que me incomodam (da assimetria das orelhas ao tamanho do pênis).  Mas o fato é que tenho um corpo maravilhoso que funciona muito bem e é capaz de sentir e propiciar prazer.  Posso fazer outra lista (também já fiz) das características psíquicas e emocionais que me chateiam.  Mas a verdade é que sou capaz de me relacionar bem com o mundo e comigo mesmo (o que não é pouco), de ter sucesso na maioria das minhas empreitadas e, principalmente, de amar e me sentir feliz.
Juntando a isso o fato de que estou aprendendo a integrar o físico, o emocional e o intelectual/espiritual, realmente não tenho do que reclamar.
Ou melhor, até tenho ... mas não vale a pena perder tempo com isso.

Sobre a questão das opções

Já esperava que minha afirmação sobre os moradores de áreas ribeirinhas e de risco fosse gerar alguma polêmica.
É senso comum que  essas pessoas ganham um salário mínimo, não tem nenhuma instrução e estão vivendo alí por falta de opção.
É provável que uma parcela significativa se enquadre nos dois primeiros quesitos.  Não tenho esse dado à mão, mas desconfio que esse perfil se aplica mais a moradores de cortiços (moradias divididas por várias pessoas de familias diferentes, geralmente localizadas em regiões do centro decadente das grandes cidades) do que de favelas (perfil de habitação mais comum nas áreas de risco).
Mas, ainda assim, essas pessoas optaram por morar nesses locais, geralmente em função das facilidades que oferecem (localização e não pagamento de impostos, taxas, contas de serviços públicos) ou pelo fato de terem parentes ou amigos já residentes no local.
Sair de lá é difícil, complicado, trabalhoso e pode implicar em perdas.  Logo, entre correr o risco de inundação ou soterramento durante a época das chuvas (que pode não acontecer) ou complicar sua vida durante o resto do ano (que quase certamente ocorrerá), preferem a primeira opção.
Assim como preferem votar no político que promete fazer do que no político que já fez alguma coisa.
Promessas de um futuro melhor são sempre mais sedutoras do que o que já temos. (você dá uma caixinha para o garçon antes ou depois de comer ?).
Opções sempre (ou quase sempre) existem.  Desde as mais extremas como acampar na frente do palácio do governo e não sair de lá até que alguém faça alguma coisa, ou mudar-se para algum local público mais central (teve um sujeito que morou por anos numa pracinha próxima ao estádio do Pacaembú - de quando em quando a alguém da prefeitura aparecia para desmontar a sua cabana, mas no dia seguinte ele estava lá de novo, reconstruindo), até mudar de cidade, dividir espaço num cortiço, procurar algum emprego que ofereça moradia ...
Posso até concordar com a falta de opção dentro de uma visão mais filosófica, a partir da qual nenhum de nós tem, verdadeiramente, livre arbítrio, já que nossas decisões são determinadas pela carga genética, pela educação e pela influência cultural que recebemos.
O mecanismo psíquico que nos leva a imaginar que essas pessoas não tem opção é o mesmo que costumamos usar com relação ás nossas vidas, quando nos sentimos vítimas da situação, nos isentando (pelo menos parcialmente) da responsabilidade pelos problemas que nos acometem.
De qualquer forma, não sou sociólgo, psicólogo, urbanista e muito menos especialista no assunto.
Apenas tenho uma opinião que foge do senso comum.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

A culpa é de quem mesmo ?

Outro dia ouvi alguém apontando a população como responsável pelas enchentes por jogar lixo nas ruas e nos córregos.
Mais comum é a acusação feita aos governantes por não fazerem as obras prometidas e as necessárias (o que nem sempre é a mesma coisa).  E, também, por permitir a ocupação desordenada das zonas ribeirinhas e de risco.
Há quem, num momento de emoção pela perda de pessoas queridas, culpe Deus por havê-los levado (casos de fé abalada).
Também há os que aproveitam para culpar os chineses e os norte-americanos por provocarem o aquecimento global que geraria as chuvas escandalosas.
Mas, afinal, de quem é a culpa pelas enchentes e pelas mortes em várias cidades brasileiras (e do mundo)?
A resposta para essa pergunta é, de certa forma, óbvia.  Cada habitante do planeta tem sua parcela de responsabilidade, incluindo as vítimas que, na maioria dos casos, sabem que estão morando em áreas de risco e optam por permanecer lá (sim, é uma opção, na esmagadora maioria dos casos).
E é justamente essa parcela de "culpa" que gera a troca de acusações e nos coloca distante da solução do problema, que só pode ser alcançada de forma coletiva.
Estamos vivendo uma época de respeito precoce e ineficiente á diversidade de opiniões.  Tudo pode, tudo é válido e negociado.
A simples aplicação das leis existentes resolveria uma parte significativa, senão todo, o problema.
Há leis de zoneamento, leis para descarte de lixo, leis para punir governantes vilipendiantes e eleições periódicas para substituí-los.
Temos tecnologia de sobra para contornar os problemas causados pela excessiva impermeabilização do solo.
Só não existem mecanismos para evitar as chuvas.  Aliás, ainda bem !
Comecemos, por exemplo, retirando todas as pessoas das áreas ribeirinhas e de risco onde, na maioria das vezes, estão irregularmente instaladas.
Considerando a argúcia dos frequentadores do Arguta, creio que não preciso prosseguir com detalhes. 
Embora aquelas pessoas não tenham o direito de permanecer lá (de acordo com a legislação) e estarem prejudicando os demais habitantes da cidade, sobrarão argumentos em sua defesa e complicações para sua retirada.  Somando-se a isso o fato de que promessas costumam gerar mais votos do que gratidão (á provável exceção de toda uma geração de taxistas que votou no Maluf a vida toda em retribuição á isenção de impostos) o resultado é que essas pessoas continuarão onde estão.
Ou, na improvável hipótese de sairem, outras ocuparão seu lugar, atendendo a interesses diversos.
Estou longe de ser um apaixonado por leis, regras e autoridades.   Mas precisamos de todos esses recursos enquanto não se desenvolve a consciência.

Espiral evolutiva

Tenho a impressão de que a minha forma primária de raciocínio é intuitíva-visual.
Meus insights parecem nascer em forma de imagem, mas são tão rapidamente racionalizados e transformados em palavras que a visão primária se esvai antes que eu possa ter certeza de que existiu.
Um raro momento em que pude ter mais contato com esse mecanismo primário foi durante um período em que estava extremamente resistente à psicanálise.
Cheguei a um estágio tal de resistência ao trabalho que, quando o psicanalista fazia alguma colocação que produzia algum insight, eu tentava verbaliza-lo e, instantaneamente, esquecia o que ia dizer (o insight) e o que o analista havia dito dois segundos antes.  Tudo sumia da minha mente.
A coisa ficou ainda pior quando já não conseguia sequer prestar atenção no que o psicanalista estava dizendo.  Me desligava ... ficava completamente desconectado, perdido em imagens dígnas de alguma viagem lisérgica (quem precisa de ácido quando tem um bom psicanalista ?).
Na ocasião, consegui romper o bloqueio, com a ajuda do psicanalista,  usando as próprias imagens.
Não sei se é um caso comum ou se qualquer dia vou encontrar meu "case" nos anais da Sociedade Brasileira de Psicanálise.   Para mim, foi uma experiência incomum.
Uma imagem que guardo desse período foi a de que estava percorrendo uma espiral, distanciando-me do centro.   A imagem veio associada de uma sensação de expansão, de crescimento interior.
Mais tarde, consegui decodificar a imagem como representativa do meu desenvolvimento pessoal.
Estava expandindo minha consciência de maneira integral, passando por todos os meus aspectos e retornando a cada um deles sempre um pouquinho adiante do que na abordagem anterior.
Isso gerava uma certa ansiedade, porque sentia que não terminava os assuntos.  Pulava de um para outro e para outro e para o próximo, de forma que os "avanços" em cada assunto eram pequenos.
Bem mais tarde, já havendo interrompido a análise (que conste nos autos, contra a vontade do psicanalista), pude entender que não há outra maneira consistente de evoluir consistentemente.
Para que vocé possa dar um segundo passo num aspecto de seu desenvolvimento, precisará ter dado um primeiro passo em todos os seus outros aspectos relevantes.  De outra forma, seu desenvolvimento será desequilibrado.
Inconscientemente, eu já havia percebido o que estava acontecendo, e a imagem era a mensagem reveladora.
O interessante é que esse pensamento "holístico" vale, também, para todos os outros processos evolutivos.
Para dar um exemplo atual, você não pode esperar que um indivíduo se preocupe, verdadeiramente, com a extinção do mico-leão-dourado se ele não aprendeu a cuidar de si mesmo.  Ou que se incomode com a camada de ozônio ou o aquecimento global se ainda para o carro em fila dupla para deixar seu filho na escola quando está chovendo.
As implicações desse raciocínio não são triviais.
Significa que é impossível (ou pelo menos, será pouco consistente) promover o desenvolvimento de uma "consciência ecológica" verdadeira sem promover o desenvolvimento de outros aspectos relevantes dos indivíduos.
Você pode "instalar" um discurso ecológico e alguns comportamentos ecologicamente correntos, mas eles não estarão suportados por uma consciência ecológica (de preocupação com o bem estar planetário, hoje e no futuro). 
A preocupação com o planeta só é possível depois da preocupação com você mesmo, com sua família, com sua tribo, sua cidade e seu país.
Se você não está disposto a andar um quarteirão ou dois debaixo de chuva para deixar seu filho na escola, e prefere tumultuar o trânsito do seu bairro para não ter esse trabalho, não está pronto para se preocupar com o planeta, embora possa fazer lindos discursos a respeito do tema.
Mas não se sinta culpado por isso.   Seria como culpar uma criança de 2 anos por não ser capaz de aprender a fazer contas de divisão.  Ela não aprende porque não está pronta para isso.
Aos 3 anos, ela poderá brigar com sua mãe por ter jogado um papel na rua, o que também não significa que terá desenvolvido uma consciência ecológica.  Estará apenas repetindo o que escutou em algum lugar como conceito de certo-errado.
É por isso que leis e acordos internacionais serão necessários, ainda por muitos anos, para proteger nosso planeta.  Mas precisam ser acompanhados de projetos de desenvolvimento integral e considerar que sempre (ou pelo menos por alguns milênios mais) teremos indivîduos e sociedades incapazes de compreender a relevância da questão, não porque são maus, mas porque ainda não alcançaram o nîvel de consciência necessârio.

sábado, janeiro 15, 2011

...quello che stavo cercando, grazie.

Um último comentário feito por um anônimo na postagem anterior: "quello che stavo cercando, grazie".
Com meus parcos conhenhecimentos de italiano (apesar do sobrenome), traduzo como "é aquilo que eu estava procurando, obrigado".
Essa é uma das coisas mais divertidas da internet.  Não importa o que você escreva, o texto sempre encontra a pessoa.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Diferenças

Eis-me aqui convivendo com crianças do sexo feminino ... três delas (8, 10 e 12 anos).
Eu, que tive dois filhos do sexo masculino, não me canso de constatar as diferenças de comportamento.
Um exemplo rápido ... as duas mais novas deitadas no chão da sala, jogando DS, bem na frente da porta que dá para a varanda do apartamento.  A mais velha (12), querendo passar da varanda para a sala, inicia uma discussão com sua irmã ...
- Você poderia ir um pouco mais para lá ?  Eu preciso passar ...
- Dá para passar ... - responde a sua irmã mais nova (10), sem desgrudar os olhos da tela do DS (e, de fato, dava mesmo).
- Mas isso não é lugar para ficar jogando ....
- Porque não ?
- Porque você está interrompendo a passagem ...
- Dá para passar ... - a mais nova insiste, mas dando sinais de que acusou o golpe.
- Dá, mas atrapalha .... não está certo !
- Você está muito chata hoje ...
- Chata é você, que fica atrapalhando os outros.  Porque não joga sentada no sofá ?
- Porque tá bom aqui ...
- Bom para você, mas não para os outros ...
A mais nova se afasta um pouco para a esquerda, deixando um espaço maior para a passagem, equivalente a um corredor, entre ela e o móvel da TV.
A mais velha passa, avaliando o espaço e um pouco emburrada porque a irmã seguiu deitada no chão e ela já não podia reclamar do espaço.
Em uma situação semelhante, meus educados meninos, nessa mesma idade, teriam feito totalmente diferente.
O mais velho tentaria passar por cima do mais novo.  Se conseguisse, o caso não teria nenhuma repercussão.  Mas haveria o risco de dar um pisão ou tropeçar no outro.
Se desse um pisão, o diálogo mais provável seria:
- Vai pisar na tua mãe, pôrra ! - o mais novo advertiria ...
- Vai tomá  no cú ... sai do meio do caminho, pôrra ! - manifestaria-se, objetivo, o mais velho
- Ah ... vai te fudê .... - o mais novo encerraria a discussão e o mais velho não precisaria responder porque foi ele quem deu o pisão e não precisaria se desculpar porque o mais novo estava, de fato, no meio do caminho.
Se fôsse um tropeço:
- Cacete ! - reclamaria o mais velho.
- Desculpa aí, foi mal ... - responderia o mais novo, displicentemente, sem tirar os olhos da tela.
- Desculpa o caralho ... sai da merda do caminho, porra ... - diria o mais velho, acompanhando suas palavras com um chute na perna do mais novo.
- Vai te fudê, porra ... - responderia o mais novo, deslocando-se um pouco mais para o lado de modo a evitar um novo chute.
Enfim, realmente existe uma diferença entre os sexos ...

terça-feira, janeiro 11, 2011

Homeopatas, Alopatas e Sociopatas

A medicina atual apresenta 3 grupos de interesse:
- os homeopatas, que acreditam que as doenças podem ser curadas por princípios ativos semelhantes à sua natureza
- os alopatas, que acreditam que as doenças devem ser tratadas por princípios ativos que se contrapõem à sua natureza
- e os sociopatas, que são os indivíduos que não respondem bem a nenhum dos dois tratamentos
Creio que foi na peça "O doente imaginário" (de Molière), encenada pelo Grupo Ornitorrinco, que assisti uma cena antológica onde o médico dava um esporro numa velhinha que não respondia aos melhores tratamentos, considerando isso um desrespeito à medicina.
Certos médicos são assim ... tratam a doença, não o paciente.
Alternativas à medicina convencional, como a acumpuntura, cromoterapia, terapias energéticas e outros quetais são colocados no mesmo balaio e rotulados de charlatanice.
Talvez alguns mereçam mesmo esse rótulo, menos pelos princípios que pelos praticantes.
Mas as atitudes excessivamente ortodoxas de muitos dos médicos atuais, considerando a "sua" forma de tratamento da doença como absoluta, mesmo quando pouco eficaz, não deixa de ser um sinal indicativo de sociopatia.
Apenas para mencionar um exemplo, volto a uma postagem que fiz aqui no Arguta há algum tempo, sobre o uso de vibradores para o tratamento da histeria (Assunto Vibrante).
O próprio termo "histeria", cunhado por Hipócrates, significa "doença do útero".  O pai da medicina acreditava que os sintomas eram gerados por algum mal funcionamento do útero, e recomendava como tratamento o massageamento da vulva até que o útero entrasse "em crise" (que ele chamava de paroxismo histérico), o podia ser percebido pelo surgimento de contrações involuntárias e lubrificação da vagina.  Embora o diagnóstico não fosse dos melhores, o tratamento, já naquela época, demonstrava razoável eficiência, atenuando muitos dos sintomas, principalmente quando aplicado repetidamente.
Foi abandonado na primeira metade do século XX, quando a medicina alopática substituiu o vibrador por medicamentos mais sofisticados, mais caros e menos divertidos, deixando de cuidar da paciente e passando a tratar da "doença".
Para não deixar dúvidas, não sou genericamente contra a medicina moderna ou os medicamentos alopáticos.  Ao contrário, sou grande consumidor contidiano de várias dessas pílulas de conforto, mas consciente de que, na maioria dos casos, estou minorando um sintoma pontual e devo fazer uma observação mais holística da origem do incômodo.
Mas quase todos os confortos modernos provocam uma espécie de diluição da atenção e da intenção, para a qual deveríamos ser alertados, sob pena de nos distanciarmos de um "ser" saudável.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Um Brasil bipolar

Lendo o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch - Ed. Leya), me deparo com o seguinte:
"Se pudessemos fazer uma terapia de grupo entre países, surgiriam comportamentos reveladores durante as sessões.  Haveria aquele país que mal notaria a existência dos outros, como a França, talvez os Estados Unidos.  A Alemanha se seguraria calada, sofrendo de culpa, desconfortável consigo e com os colegas ao redor.  Uma quarentona insone, em crise por não ser tão rica e atraente como no passado, representaria muito bem a Argentina.  Claro que haveria também países menos problemáticos como o Chile e a Suiça, contentes com sua pouca relevância.  Não seria o caso do Brasil, paciente que sofreria de diversos males psicológicos.   Bipolar, oscilaria entre considerações muito negativas e muito positivas sobre si próprio.  Obcecado com sua identidade, em todas as sessões aborreceria os colegas perguntanto "Quem sou eu ?", "Que imagem eu devo passar?", "O que me diferencia de vocês ?"..... A identidade nacional foi sempre um problema psicanalítico do Brasil."
No capítulo entitulado "Samba e Facismo", o autor faz considerações muito interessantes sobre a construção da identidade nacional.  O livro vale a pena.

domingo, janeiro 09, 2011

Ciência pós-moderna e suas incertezas

Heisenberg formulou o "princípio da incerteza", contestando as bases da física de Newton.
Essa fagulha provocou um grande incêndio que destruiu as bases do pensamento científico tradicional: a partir daquele momento, conclui-se que o ato de observar inteferiria no fenômeno observado.
Daí derivou a conclusão esotérico-científica de que a "realidade" é fluída e pode ser alterada pela consciência do observador.
Os Físicos ficaram doidos diante do desafio de rever seus paradigmas e alguns milhares de escritores ficaram ricos vendendo livros de auto-ajuda pelo planeta.
Curioso é que qualquer "pensador", desde a Grécia antiga, sabe que a "realidade" tal qual a percebemos é uma projeção da consciência.
Cientistas são obsessivamente condicionados a relações de causa e efeito, noção que os filósofos destruiram há muito tempo.
Não fosse por isso, poderiam considerar a hipótese de que não é a consciência que interfere com a realidade (ou que a realidade é fluída).  A hipótese alternativa de que é a consciéncia que determina a percepção da realidade (e que a isenção da observação é impossível) me parece mais simples.
E a explicação mais simples tende a ser a mais provável ...

sábado, janeiro 08, 2011

Uma passagem ...

... trajava-se como os políticos de sua estirpe: terno e bravata ...

sexta-feira, janeiro 07, 2011

O surf e suas lições

Depois de 3 aulas, creio que já posso tirar algumas conclusões sobre a arte de surfar.
A primeira, é justamente a de que se trata de uma arte.  Discutir o conceito de arte daria margem a algumas longas postagens ... mas fico aqui com sua essência que é a livre expressão (no sentido de não ter objetivo especîfico senão o de atenuar a tensão, compulsão ou ansiedade).  É isso que justifica o fato do surfista entrar no mar e lá ficar até a exaustão.
A segunda é que, por mais que alguém possa lhe ensinar algumas técnicas ou dar algumas dícas (muito úteis para os primeiros passos), não se surfa com a mente.  É o corpo que precisa aprender a surfar.  Se você for do tipo mais racional (como eu), vai ter que controlar a ansiedade e deixar que o corpo aprenda para que a mente decodifique depois.
A terceira, e provavelmente a mais importante, é que aprender a surfar é um processo sem fim.  Aquela molecada que risca divertidamente o tubo das ondas levou alguns anos surfando várias horas por dia para chegar nesse estágio, e ainda tem muito para aprender.
A quarta, e possivelmente a mais interessante conclusão,  é que o surf se revela como uma forma de meditação ativa.  É um exercício extenuante que exige concentração, empenho, atenção e pouco raciocínio formal e, portanto, aquieta a mente.
Faz todo o sentido que eu tenha finalmente resolvido aprender a surfar justamente nesse momento em que tenho me dedicado a desenvolver uma integração maior entre a mente e o corpo (usando o Tantra como caminho).
Com dizia meu avô português, você só está pronto quando está pronto ...

terça-feira, janeiro 04, 2011

A primeira vez a gente não esquece ...


Firme na proposta de aprender coisas novas todos os anos, começo 2011 enfrentando um desafio anacrônico: aprender a surfar.
Claro que teria sido mais fácil se tivesse tomado a decisão uns 35 anos antes ... mas como diria meu avô lusitano, você só está pronto quando está pronto.  E, de qualquer forma, as longboards de hoje flutuam melhor ...
Fato é que tomei coragem e fui fazer minha primeira aula de surf, propondo-me como desafio permanecer em pé sobre a prancha em uma onda, mesmo que pequena, por mais tempo do que os peões em cima do touro em dia de rodeio.
A foto registra a missão cumprida.  Agora é só trabalhar o estilo ...

domingo, janeiro 02, 2011

Fragmentos curiosos

Meu amigo Cezar costuma correr no parque do Ibirapuera aqui em São Paulo e comentou comigo hoje cedo que uma das coisas mais divertidas é escutar os fragmentos de conversas durante o trajeto.
Ele e um amigo, com quem costuma correr, estão planejando escrever um livro sobre isso algum dia.
Tentei encontrar um texto que escrevi um dia sobre a difícil vida dos acensoristas, abordando justamente essa questão de ouvir pedaços de conversa.  Como o texto é do tempo em que haviam acensoristas, deve estar gravado em algum floppy de 5 1/4 ...  não achei.
Mas lembrei-me de uma brincadeira que costuma fazer com um amigo meu, naquele tempo.
Escolhiamos os assuntos mais absurdos e entabulávamos diálogos surrealistas durante o curto trajeto de um piso ao outro, de modo a que o ápice da conversa acontecesse quando estávamos saindo do elevador.
-  .... mas justo o Badaró ?
- Pois é ... quem nunca faz acaba se complicando ...
- E como é que ele fez quando o maridão chegou mais cedo ?
- Entrou no quarto da empregada, que estava de folga, vestiu o uniforme e tentou sair de fininho pela cozinha ...
- E ai ?
- Quando estava abrindo a porta, o marido entrou na cozinha ...
- E ele ?
- Com a maior cara de pau, imitando uma voz de mulher, foi logo falando ...
(a porta do elevador abre e a gente desce)
Outra sacanagem que costumávamos aprontar era deixar uma pergunta complicada no ar quando estávamos nos despedindo de alguém que entrava no elevador, justamente quando a porta já estava fechando ...
- Ah ... Betão ... esqueci de perguntar como foi que você conseguiu escapar daquela acusação de pedofilia ... depois você me conta ... tchau ....
Ou ...
- ... até mais, Armando ... e não se esquece de consultar o infectologista ainda hoje que essa virose é contagiosa pacas ....
Há quem diga que esses são gestos de sadismo.
Nós preferíamos pensar que estávamos contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência maior da necessidade de contextualização dos diálogos para interpretação da realidade.