Tenho a impressão de que a minha forma primária de raciocínio é intuitíva-visual.
Meus insights parecem nascer em forma de imagem, mas são tão rapidamente racionalizados e transformados em palavras que a visão primária se esvai antes que eu possa ter certeza de que existiu.
Um raro momento em que pude ter mais contato com esse mecanismo primário foi durante um período em que estava extremamente resistente à psicanálise.
Cheguei a um estágio tal de resistência ao trabalho que, quando o psicanalista fazia alguma colocação que produzia algum insight, eu tentava verbaliza-lo e, instantaneamente, esquecia o que ia dizer (o insight) e o que o analista havia dito dois segundos antes. Tudo sumia da minha mente.
A coisa ficou ainda pior quando já não conseguia sequer prestar atenção no que o psicanalista estava dizendo. Me desligava ... ficava completamente desconectado, perdido em imagens dígnas de alguma viagem lisérgica (quem precisa de ácido quando tem um bom psicanalista ?).
Na ocasião, consegui romper o bloqueio, com a ajuda do psicanalista, usando as próprias imagens.
Não sei se é um caso comum ou se qualquer dia vou encontrar meu "case" nos anais da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Para mim, foi uma experiência incomum.
Uma imagem que guardo desse período foi a de que estava percorrendo uma espiral, distanciando-me do centro. A imagem veio associada de uma sensação de expansão, de crescimento interior.
Mais tarde, consegui decodificar a imagem como representativa do meu desenvolvimento pessoal.
Estava expandindo minha consciência de maneira integral, passando por todos os meus aspectos e retornando a cada um deles sempre um pouquinho adiante do que na abordagem anterior.
Isso gerava uma certa ansiedade, porque sentia que não terminava os assuntos. Pulava de um para outro e para outro e para o próximo, de forma que os "avanços" em cada assunto eram pequenos.
Bem mais tarde, já havendo interrompido a análise (que conste nos autos, contra a vontade do psicanalista), pude entender que não há outra maneira consistente de evoluir consistentemente.
Para que vocé possa dar um segundo passo num aspecto de seu desenvolvimento, precisará ter dado um primeiro passo em todos os seus outros aspectos relevantes. De outra forma, seu desenvolvimento será desequilibrado.
Inconscientemente, eu já havia percebido o que estava acontecendo, e a imagem era a mensagem reveladora.
O interessante é que esse pensamento "holístico" vale, também, para todos os outros processos evolutivos.
Para dar um exemplo atual, você não pode esperar que um indivíduo se preocupe, verdadeiramente, com a extinção do mico-leão-dourado se ele não aprendeu a cuidar de si mesmo. Ou que se incomode com a camada de ozônio ou o aquecimento global se ainda para o carro em fila dupla para deixar seu filho na escola quando está chovendo.
As implicações desse raciocínio não são triviais.
Significa que é impossível (ou pelo menos, será pouco consistente) promover o desenvolvimento de uma "consciência ecológica" verdadeira sem promover o desenvolvimento de outros aspectos relevantes dos indivíduos.
Você pode "instalar" um discurso ecológico e alguns comportamentos ecologicamente correntos, mas eles não estarão suportados por uma consciência ecológica (de preocupação com o bem estar planetário, hoje e no futuro).
A preocupação com o planeta só é possível depois da preocupação com você mesmo, com sua família, com sua tribo, sua cidade e seu país.
Se você não está disposto a andar um quarteirão ou dois debaixo de chuva para deixar seu filho na escola, e prefere tumultuar o trânsito do seu bairro para não ter esse trabalho, não está pronto para se preocupar com o planeta, embora possa fazer lindos discursos a respeito do tema.
Mas não se sinta culpado por isso. Seria como culpar uma criança de 2 anos por não ser capaz de aprender a fazer contas de divisão. Ela não aprende porque não está pronta para isso.
Aos 3 anos, ela poderá brigar com sua mãe por ter jogado um papel na rua, o que também não significa que terá desenvolvido uma consciência ecológica. Estará apenas repetindo o que escutou em algum lugar como conceito de certo-errado.
É por isso que leis e acordos internacionais serão necessários, ainda por muitos anos, para proteger nosso planeta. Mas precisam ser acompanhados de projetos de desenvolvimento integral e considerar que sempre (ou pelo menos por alguns milênios mais) teremos indivîduos e sociedades incapazes de compreender a relevância da questão, não porque são maus, mas porque ainda não alcançaram o nîvel de consciência necessârio.
segunda-feira, janeiro 17, 2011
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7 comentários:
Muito bem dito FF. E eu não estarei aqui para ver o resultado dos programas de conscientização que começam muito devagar...
beijos
Anne
Gostei desse teu discurso lúcido.
By the way, apaga aquela minha conta do msn. Mudei. Agora é carlapapandreus@hotmail.com
Mas manda o teu tb, pq tem gente que não tá conseguindo adicionar
Beijos, e um café. =)
Anne: não estaremos ...
Carla: tks ... as vezes me distraio e fico lúcido ...
Ou meu msn antigo tá doido, ou tem um hacker usando meu end. antigo 24 horas por dia, atento aos meus contatos deletados... eu hein!
Faz o seguinte, qual teu email do msn? melhor eu te adicionar..
Beijo!
sabio...
a maioria das pessoas ainda está só no discurso... uma pena.
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