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quarta-feira, janeiro 19, 2011

Ser diferente

Não há nada de errado em desejar ser diferente.
As redes de relacionamento virtual permitem, inclusive, um exercício lúdico desse desejo.
Complicado é quando esse desejo mina a auto-estima e se transforma numa imposição pessoal.  Quando deixamos de gostar do que somos e exigimos de nós mesmos uma mudança imediata, num moto-contínuo de frustrações.
Eu gostaria de ser diferente em muitas coisas.  Queria ser menos "controlador", viver mais o presente (tenho um viés de futuro), ser menos ansioso.  Também queria ter uns 10 centímetros a mais, cabelos cor de mel, olhos verdes e corpo de atleta.
Aprendi que o primeiro passo para uma mudança é aceitar e amar o que se é (há uma sutil diferença entre amar o que se é e gostar do que se é).  O segundo é se propor a mudança e combinar um plano de trabalho.  O terceiro é trabalhar pela mudança.
Mudanças de verdade são integrais.  Razão e emoção precisam andar juntas durante o processo.  Sentimentos servem para te dizer se você está fazendo a coisa certa para você enquanto a razão tenderá a impor o que é certo para o mundo.
Também é importante saber distinguir que batalhas vale a pena lutar.
Eu venho trabalhando para mudar nos três primeiros pontos que mencionei (controle, ansiedade, presente) há alguns anos (terapia, meditação, tantra, exercícios de atitude e atenção, vivências).  Está funcionando e contribuindo para que eu seja uma pessoa mais feliz.  Curioso é que, embora acredite que essa vida não será suficiente para chegar onde gostaria, encaro o ato de trabalhar nessa direção como um presente para mim mesmo e me sou grato.
O corpo de atleta seria, tecnicamente, mais fácil de alcançar e sempre me questionei porque não trabalho por ele.  Concluí que, de verdade, não é importante e negociei comigo mesmo alguns limites de "degenerescência" - a barriga não pode impedir que eu veja o dedão do pé.
Já os 10 centimetros a mais, os cabelos cor de mel e os olhos verdes, só com um "di Pollini majori" (aquele sapato que aumenta a altura), tintura e lente de contato.  Nesse caso tenho duas opções: aprender a gostar de mim como sou ou passar a vida inteira frustrado pelo que não sou.  A escolha é óbvia, mas você e eu sabemos que dizer é mais fácil do que fazer.  No meu caso, considerando que tive a sorte de nascer com características físicas não tão distantes do padrão médio de beleza atual (enquadramento provável na categoria "dá para o gasto"), a aceitação é mais fácil do que seria caso tivesse alguma deficiência física séria.  Afinal, vivemos num mundo que julga, primeiro, pelas aparências.
Talvez a questão mais importante aqui seja desenvolver uma percepção integral de si mesmo.
Posso fazer (aliás, já fiz) uma lista das características físicas que me incomodam (da assimetria das orelhas ao tamanho do pênis).  Mas o fato é que tenho um corpo maravilhoso que funciona muito bem e é capaz de sentir e propiciar prazer.  Posso fazer outra lista (também já fiz) das características psíquicas e emocionais que me chateiam.  Mas a verdade é que sou capaz de me relacionar bem com o mundo e comigo mesmo (o que não é pouco), de ter sucesso na maioria das minhas empreitadas e, principalmente, de amar e me sentir feliz.
Juntando a isso o fato de que estou aprendendo a integrar o físico, o emocional e o intelectual/espiritual, realmente não tenho do que reclamar.
Ou melhor, até tenho ... mas não vale a pena perder tempo com isso.

6 comentários:

Anônimo disse...

Que lucidez! Acho um charme, qdo alguém se conhece sabe dos pontos fracos e se aceita assim mesmo.

Acho que vou pegar carona e tbm fzr minhas listas doq preciso mudar, refazer e entender.

Bjs
ú&e <3

e daí? disse...

adoro listas..

Carla P.S. disse...

Mas que bom que desejamos coisas, que temos insights sobre isso (sobre o que deve e o que não precisa ser mudado), e que tentamos ser melhores a cada primavera..
"A vida não dá todas as respostas, insinua".
Beijos, e um abraço!

A. Marcos disse...

A paz de espírito é a extensão de nosso ser. Uma pessoa com o espírito em paz se dá por satisfeito com suas imperfeições porque na plenitude do SER elas são o complemento de suas qualidades.

♥♥NaNnA BeZeRrA♥♥ disse...

Flávio,
essa aceitação é a eterna busca por nós mesmos. Pelo resgate da auto-estima. Pela mudança necessária de todos os dias. Mudamos a cor dos cabelos, os contornos do corpo, a cor dos olhos, porém, o olhar, o andar, a sensualidade que insiste em ser evidenciada pelos olhares alheios, essa é natural. Não muda. Ainda bem...
seu texto é tudo de bom, e me fez pensar onde é que preciso dar uma melhorada. A tal da lista...rsrsr
beijos e beijos

Ju ♥ disse...

o negócio é achar o equilíbrio...