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terça-feira, março 15, 2011

A espada de Dâmocles


Segundo a lenda, Dionísio, um tirano que reinava em Siracusa durante o século IV a.C., ofereceu a seu invejoso amigo Dâmocles a oportunidade de ser rei por um dia.
Dâmocles aceitou e um banquete foi feito em celebração à sua posse, com fartura de bebidas, comidas e garotos bonitos (na pintura, substituidos por garotas, como seria politicamente correto em 1812, quando foi feita).
Dionísio se divertia observando o deleite de seu amigo, até que ele, Dâmocles, ao entornar o último gole de mais uma taça de vinho, percebeu que havia uma espada pendurada por um fino fio de crina de cavalo, pendendo sobre sua cabeça, num lugar onde só ele poderia ver.  Ficou apavorado, incapaz de seguir aproveitando os prazeres que lhe eram oferecidos, e com medo de fazer qualquer movimento que pudesse resultar na queda da espada e, portanto, na sua morte.
Dionísio explicou a Dâmocles que essa era a vida de um imperador, sempre esperando que, a qualquer momento, uma traição, um ataque de uma nação inimiga ou a revolta de seu próprio povo terminasse com seu reinado de forma abrupta.
Trata-se de uma parábola sobre as agruras e a solidão do poder e, mais particularmente, sobre o medo que acomete os que governam pelo medo, como é o caso dos tiranos.
Mas também se aplica ao nosso dia a dia, à maneira pela qual percebemos o mundo.
O mundo é nosso reflexo.  Se somos violentos, enxergamos um mundo violento, que pode nos atacar a qualquer momento.  Se somos covardes, esperamos a traição.  Se não nos valorizamos, esperamos que o mundo nos despreze.
Por outro lado, quando nosssa auto-estima anda bem, sorrimos, amamos e realizamos coisas boas, quando nosso mundo interior é, de alguma forma, belo, o mundo lá fora não parece tão ruim.  Aliás, de fato, não costuma ser tão ruim ... coisas boas acontecem.  Coisas ruins acontecem também, mas são encaradas como exceções e nós somos capazes de superá-las.
A espada de Dâmocles era, na verdade de Dionísio, por merecimento. Não era, necessariamente, inerente ao poder.  Era consequência de sua forma de exercer o poder.
Dâmocles, se quisesse, poderia ter uma cornucópia pendurada sobre sua cabeça.


(pintura de Richard Westall - 1812)

4 comentários:

Amélia disse...

Inseguranca, medo... Sentimentos totalmente ligados a experiencia, ao passado e tao presentes na construcao do nosso futuro...

A. Marcos disse...

O mundo não é mau e nem bom, apenas é o que é. Podemos ver o mundo por uma ótica realista (o mundo como ele é, nem bom e nem mau) ou polarizado (bom ou mau).

Dizem que quem vive pela espada morre pela espada. Dizem que semeando o bem se colhe o bem. Dizem que se deve combater o mal com o amor.

Se assim fosse:
a. Jesus não teria sido traído e sido morto por crime algum;
b. Ghandi não teria sido traído e sido assassinado;
c. Malcom X não teria sido traído e vítima de assinato;
d. Revenerndo King, idem;
f. a Missionária Dorty Stang, idem.

Nosso modo de encarar as pessoas e o mundo, não vai mudar o mundo e tampouco a natureza humana.

Tathiana disse...

Talvez, por minha índole, seja tão difícil de detectar pessoas que desejam o mal apenas por desejar, assim, sem explicação. Sempre me pareceu complicado aceitar isso. Mas a vida tem mostrado que, infelizmente, há pessoas assim. E, na minha atual situação, tenho que fazer algo que detesto: ficar pisando em ovos.
Bjs.

Luna Sanchez disse...

É...acho mesmo que tememos que o mundo nos dê o que seríamos capazes de oferecer a ele. Logo, temos medo de nós.

* Estou ficando boa em filosofia de boteco, né? :p

Beijo.