Acabo de voltar de um encontro de ex-alunos do Colégio Batista Brasileiro, com minha turma da oitava série.
Encontramo-nos pela primeira vez, 35 anos depois do desencontro.
Confesso que não estava lá muito entusiasmado. Os dois anos que passei nessa escola estão no ranking dos piores momentos da minha vida.
Era o mais novo da sala, pequeno em tamanho e pouco dado às violências comuns dos garotos desta idade.
Não fosse o Olavo Príncipe (meu herói particular, de quem recebia proteção em troca de algum auxílio durante as provas), teria apanhado muito mais do que apanhei, constantemente vitimizado que era por dois garotos encrenqueiros da minha série.
Os dois, vale comentar, já morreram. Um numa guerra entre quadrilhas. O outro, consumido por drogas.
E eu, aprendi a me defender sem a ajuda do Olavo a quem, entretanto, continuo sendo grato.
Mas é interessante observar como as pessoas mudam tão pouco em tantos anos. As mesmas crianças sob alguns cabelos grisalhos. Mesmos gestos, mesmos sorrisos, mesmas brincadeiras
Em vinte minutos a fraternidade estava resgatada e parecia que estavamos no recreio da escola.
Legal trocar fragmentos de história, comparar lembranças, e planejar outro encontro que, provavelmente, levará outros 30 anos para acontecer.
Fez-me lembrar do poemeu:
O pó da prata cobre os meus cabelos
E a alma segue intacta
Esperando cada novo amanhecer
O sal do mar corroe os meus joelhos
Mas não os meus desejos
Renovados a cada anoitecer
sábado, março 31, 2007
sexta-feira, março 30, 2007
Quem mexeu no meu queixo ?
Na linha beast seller "Quem mexeu no meu queijo", proponho lançar a publicação sinônima em epígrafe.
A abordagem, entretanto, seria sócio-psico-ambiental, com foco no ser humano a nível de gente e sua relação com o ambiente all inclusive.
"Quem mexeu no meu queixo" trata da ambivalência bilateral das relações, e do polegar opositor.
A cena guia (ex-libris fio condutor) é o clássico gesto de se tomar o queixo da outra pessoa entre o polegar e o indicador (indicador sob a ponta do queixo e polegar posicionado simétricamente sobre o mesmo, em oposição perpendicular, passando pelo ponto da covinha), acompanhado do famoso olhar 43 (tipo eu sei que você sabe que eu sei).
Numa leitura psico-semântica, pretende discutir as motivações do gesto e suas consequências.
Lateralmente, aborda-se a necessidade de uma atidude revisional sobre os paradigmas estabelecidos para a definição de histeria, neurose e psicose, embora esse tema deva ser melhor discutido em publicação posterior ("A ausência de neuroses como indicadora da psicose em potencial e suas implicações para a conversão histérica - uma visão propedeutica").
A pergunta é: devo escrever ?
A abordagem, entretanto, seria sócio-psico-ambiental, com foco no ser humano a nível de gente e sua relação com o ambiente all inclusive.
"Quem mexeu no meu queixo" trata da ambivalência bilateral das relações, e do polegar opositor.
A cena guia (ex-libris fio condutor) é o clássico gesto de se tomar o queixo da outra pessoa entre o polegar e o indicador (indicador sob a ponta do queixo e polegar posicionado simétricamente sobre o mesmo, em oposição perpendicular, passando pelo ponto da covinha), acompanhado do famoso olhar 43 (tipo eu sei que você sabe que eu sei).
Numa leitura psico-semântica, pretende discutir as motivações do gesto e suas consequências.
Lateralmente, aborda-se a necessidade de uma atidude revisional sobre os paradigmas estabelecidos para a definição de histeria, neurose e psicose, embora esse tema deva ser melhor discutido em publicação posterior ("A ausência de neuroses como indicadora da psicose em potencial e suas implicações para a conversão histérica - uma visão propedeutica").
A pergunta é: devo escrever ?
quarta-feira, março 28, 2007
Rapidinha politicamente incorreta...
A Ministra Matilde Ribeiro (secretária da igualdade racial) afirma que preconceito de negro contra branco é natural.
A mulher do Ministro da Economia, Eliane Mantega, mantida refem por bandidos em um sítio, afirma que os meliantes eram "super-gentis".
E eu que não sou pobre nem bandido, vou ter que camelar para ter lugar no céu...
A mulher do Ministro da Economia, Eliane Mantega, mantida refem por bandidos em um sítio, afirma que os meliantes eram "super-gentis".
E eu que não sou pobre nem bandido, vou ter que camelar para ter lugar no céu...
terça-feira, março 27, 2007
Puntas del Este
Dois dos monumentos mais marcantes de Punta são o Farol e as pontas dos dedos de concreto enterradas na areia da praia principal.
Ocorre que estão geograficamente distantes entre si.
De um pequeno, mas hilário, acidente que aconteceu quando Susana tentava tirar uma foto minha com Alejandra na praia próxima ao farol, surgiu a foto deste post.
Durante minha apresentação, comentei que duas coisas distinguem um ser humano de um dinossauro: o cérebro e o polegar opositor (para quem ainda não assistiu, vale a pena buscar na Internet o curta metragem Ilha das Flores, que discorre sobre o segundo item).
O cérebro nos ajuda a entender o que está acontecendo.
O polegar é fundamental nesse novo mundo digital para digitar mensagens nos handhelds.
Ocorre que Susana resolveu utilizar seu polegar opositor para cobrir a lente da câmera do celular, sacando una foto de Punta de los Dedos.
Quando paramos de rir (e vale comentar que o Tannat do almoço estava ótimo), Susana deu a idéia para a foto.
Ocorre que estão geograficamente distantes entre si.
De um pequeno, mas hilário, acidente que aconteceu quando Susana tentava tirar uma foto minha com Alejandra na praia próxima ao farol, surgiu a foto deste post.
Durante minha apresentação, comentei que duas coisas distinguem um ser humano de um dinossauro: o cérebro e o polegar opositor (para quem ainda não assistiu, vale a pena buscar na Internet o curta metragem Ilha das Flores, que discorre sobre o segundo item).
O cérebro nos ajuda a entender o que está acontecendo.
O polegar é fundamental nesse novo mundo digital para digitar mensagens nos handhelds.
Ocorre que Susana resolveu utilizar seu polegar opositor para cobrir a lente da câmera do celular, sacando una foto de Punta de los Dedos.
Quando paramos de rir (e vale comentar que o Tannat do almoço estava ótimo), Susana deu a idéia para a foto.
segunda-feira, março 26, 2007
Una rambla ...
Depois dizem que a gente não se diverte no Uruguai....
Encontré una rambla con un cruce peatonal fantástico !
Encontré una rambla con un cruce peatonal fantástico !
sábado, março 24, 2007
Pensamento (ecológico) da noite ...
Quem disse que somos a forma de vida dominante.
E se estivermos sendo controlados por nano-virus com o objetivo de transformar o planeta em um lugar mais agradável para eles ?
E se estivermos sendo controlados por nano-virus com o objetivo de transformar o planeta em um lugar mais agradável para eles ?
Mochileiro
Nos confins da galáxia descansa um pequeno e despretencioso sol amarelo. Orbitando-o, a uma distância de aproximadamente 50 milhões de quilômetros, está um insignificante e pequenino planeta azul-verde, cujas forma de vida descendente do macaco é tão espantosamente primitiva que ainda pensa que relógios digitais são uma boa idéia.
Esse planeta tinha um problema. A maioria das pessoas que vivem nele era infeliz a maior parte do tempo. Muitas soluções foram sugeridas, mas a maioria delas estava relacionada com o movimento de pequenas folhas de papel verde, o que é péssimo porque infelizes são as pessoas e não os papeis verdes.
E assim o problema permaneceu: a maioria das pessoas seguiu miserável, mesmo os que tinham relógios digitais.
Boa parte das pessoas começava a acreditar que haviam feito um grande erro quando decidiram descer das árvores em primeiro lugar. Alguns eram mais radicais, e afirmavam que mesmo a mudança para as árvores havia sido um mau movimento, e que não deviam ter deixado o oceano.
E então, numa quinta-feira, uma garota solitária sentada em um pequeno Café em Rickmansworth percebeu, subitamente, o que havia estado errado todo esse tempo e o que deveria ser feito para que o mundo se transformasse, finalmente, em um lugar bom e feliz. Desta vez, tudo estava certo e iria funcionar.
Tristemente, entretanto, antes que pudesse alcançar um telefone e contar isso para alguém, uma terrível e estúpida catástrofe aconteceu e a idéia se perdeu para sempre.
Essa não é a história dela ...
(tradução livre da introdução do The Hitchhiker’s Guide to de Galaxy” – Guia do Mochileiro das Galáxias. – estou lendo em inglês por recomendação do Rodrigo)
Esse planeta tinha um problema. A maioria das pessoas que vivem nele era infeliz a maior parte do tempo. Muitas soluções foram sugeridas, mas a maioria delas estava relacionada com o movimento de pequenas folhas de papel verde, o que é péssimo porque infelizes são as pessoas e não os papeis verdes.
E assim o problema permaneceu: a maioria das pessoas seguiu miserável, mesmo os que tinham relógios digitais.
Boa parte das pessoas começava a acreditar que haviam feito um grande erro quando decidiram descer das árvores em primeiro lugar. Alguns eram mais radicais, e afirmavam que mesmo a mudança para as árvores havia sido um mau movimento, e que não deviam ter deixado o oceano.
E então, numa quinta-feira, uma garota solitária sentada em um pequeno Café em Rickmansworth percebeu, subitamente, o que havia estado errado todo esse tempo e o que deveria ser feito para que o mundo se transformasse, finalmente, em um lugar bom e feliz. Desta vez, tudo estava certo e iria funcionar.
Tristemente, entretanto, antes que pudesse alcançar um telefone e contar isso para alguém, uma terrível e estúpida catástrofe aconteceu e a idéia se perdeu para sempre.
Essa não é a história dela ...
(tradução livre da introdução do The Hitchhiker’s Guide to de Galaxy” – Guia do Mochileiro das Galáxias. – estou lendo em inglês por recomendação do Rodrigo)
Notas del Desachate
Estou aqui em Punta participando do Desachate, o mais importante evento publicitário do Uruguay.
Como não sou uruguaio e fiz uma apresentação, fui prontamente qualificado como palestrante internacional, o que não é pouco, convenhamos.
Pela manhã, presenciei a brilhante abertura feita por Pipe Stein, o presidente do evento, a quem deveríamos conferir o título de brasileiro “honoris causa”, seja pelo apuradíssimos senso de humor, seja pelo fato de haver aprendido português escutando bossa nova.
Assisti uma interesante apresentação de Sebastian Wilhelm, sócio e diretor de criação da Santo Buenos Aires. Jovem (uns 35, mas não lhe daria mais de 30), sensível, criativo e apaixonado por seu trabalho, como costumavam ser os criadores da velha guarda brasileira. A primeira hora da apresentação foi brilhante. A segunda me fez pensar como é que um sujeito acostumado a criar filmes de TV de 30” precisou de tanto tempo para defender uma idéia.
Conheci várias pessoas interessantes e relevantes do mercado publicitário local. Entre elas, destaco Mario Tagioretti, presidente do Circulo Uruguayo de la Publicidad, por sua generosidade. Mesmo depois da minha apresentação, seguiu insistindo em afirmar que eu falo bem espanhol.
E cumpri a missão primeira para qual fui convidado, ou seja, palestrei.
Aparentemente fui bem sucedido.
A tarefa não era fácil, pois a freqüência do evento é composta majoritariamente por criadores e produtores de publicidade, que de início já demonstraram grande boa vontade por estarem presente a uma apresentação do CEO de uma empresa de medição de audiência, assunto que não lhes interessa muito.
Não falei de audiência. Também não falei do IBOPE (não diretamente). Discorri sobre as mudanças em curso no mundo da comunicação e dos desafios reais para nós, que tomamos decisões nesse pequeno mas importante mercado.
Creio que a imagem mais marcante de minha apresentação foi a seqüência de comerciais de Aspirina, dos anos 60 até 2006. Deixou claro que a propaganda vem mudando de roupa, mas continua sendo a mesma nos últimos 50 anos.
(quando voltar, vou colocar no u-tube)
À tarde, minhas inseparáveis e carinhosas companheiras de viagem, Alejandra e Susana, me levaram para conhecer Punta, com direito a almoço e sorvete.
Seja pela divertida companhia, seja pela real beleza do lugar, a tarde passou rápida e foi agradabilíssima. (vou fazer algumas postagens específicas quando voltar, porque preciso das fotos).
Voltei a tempo de assistir Maitena, humorista/filósofa argentina, bastante conhecida no Brasil. O mínimo que se pode dizer dela é que é inteligente e sabe muito bem o que quer da vida. Creio que sua fala foi inspiradora para as mulheres presentes.
A única nota destoante foi a falta de conexão de internet no quarto, que me mantém à distância de mis compañeros de blog.
Mas isso passa, como as uvas.
Como não sou uruguaio e fiz uma apresentação, fui prontamente qualificado como palestrante internacional, o que não é pouco, convenhamos.
Pela manhã, presenciei a brilhante abertura feita por Pipe Stein, o presidente do evento, a quem deveríamos conferir o título de brasileiro “honoris causa”, seja pelo apuradíssimos senso de humor, seja pelo fato de haver aprendido português escutando bossa nova.
Assisti uma interesante apresentação de Sebastian Wilhelm, sócio e diretor de criação da Santo Buenos Aires. Jovem (uns 35, mas não lhe daria mais de 30), sensível, criativo e apaixonado por seu trabalho, como costumavam ser os criadores da velha guarda brasileira. A primeira hora da apresentação foi brilhante. A segunda me fez pensar como é que um sujeito acostumado a criar filmes de TV de 30” precisou de tanto tempo para defender uma idéia.
Conheci várias pessoas interessantes e relevantes do mercado publicitário local. Entre elas, destaco Mario Tagioretti, presidente do Circulo Uruguayo de la Publicidad, por sua generosidade. Mesmo depois da minha apresentação, seguiu insistindo em afirmar que eu falo bem espanhol.
E cumpri a missão primeira para qual fui convidado, ou seja, palestrei.
Aparentemente fui bem sucedido.
A tarefa não era fácil, pois a freqüência do evento é composta majoritariamente por criadores e produtores de publicidade, que de início já demonstraram grande boa vontade por estarem presente a uma apresentação do CEO de uma empresa de medição de audiência, assunto que não lhes interessa muito.
Não falei de audiência. Também não falei do IBOPE (não diretamente). Discorri sobre as mudanças em curso no mundo da comunicação e dos desafios reais para nós, que tomamos decisões nesse pequeno mas importante mercado.
Creio que a imagem mais marcante de minha apresentação foi a seqüência de comerciais de Aspirina, dos anos 60 até 2006. Deixou claro que a propaganda vem mudando de roupa, mas continua sendo a mesma nos últimos 50 anos.
(quando voltar, vou colocar no u-tube)
À tarde, minhas inseparáveis e carinhosas companheiras de viagem, Alejandra e Susana, me levaram para conhecer Punta, com direito a almoço e sorvete.
Seja pela divertida companhia, seja pela real beleza do lugar, a tarde passou rápida e foi agradabilíssima. (vou fazer algumas postagens específicas quando voltar, porque preciso das fotos).
Voltei a tempo de assistir Maitena, humorista/filósofa argentina, bastante conhecida no Brasil. O mínimo que se pode dizer dela é que é inteligente e sabe muito bem o que quer da vida. Creio que sua fala foi inspiradora para as mulheres presentes.
A única nota destoante foi a falta de conexão de internet no quarto, que me mantém à distância de mis compañeros de blog.
Mas isso passa, como as uvas.
quinta-feira, março 22, 2007
Na bagagem...
Estou na sala de espera do aeroporto, rumo ao Uruguai, onde farei mais uma palestra...
A mala, verde oliva com um candente cadeado amarelo aprovado pelo sistema de segurança dos EUA, abandonou-me a pouco, e seguiu triste e solitária na esteira. Com um pouco de sorte vou reencontrá-la em algumas horas (ou o que sobrar dela).
E eu, momentaneamente sem mala, dei-me conta da bagagem que levo comigo.
Levo 47 anos de vida intensa, boa parte dela muito feliz. E os momentos difíceis, que foram poucos mas marcaram muito, dividiram águas. Cresci muito com eles.
Levo a lembrança de amores vividos (poucos e bons) e sonhados como os da Anne (também poucos e bons).
Levo uma das poucas coisas seguras nessa vida, e talvez a que mais importe: ser filho e ser pai.
Levo a companhia de vocês, companheiros do Arguta, que cada vez mais preenchem meu dia e minha vida.
Levo a memória de momentos recentes, que por particularidades dessa fase de minha vida, nunca foram tão intensos, no prazer e na tristeza.
Levo comigo o amor, meu e de alguns poucos, que amam apesar dê (isso me ensinou o pai, não o avô).
Levo a esperança. A ansiedade. A curiosidade. A vontade de viver e ser feliz.
Levo tambéma preocupação com uma sobrinha querida que passa por maus momentos.
E levo um cartão de crédito, a coisa mais útil e menos importante de todas que carrego comigo na bagagem.
A mala, verde oliva com um candente cadeado amarelo aprovado pelo sistema de segurança dos EUA, abandonou-me a pouco, e seguiu triste e solitária na esteira. Com um pouco de sorte vou reencontrá-la em algumas horas (ou o que sobrar dela).
E eu, momentaneamente sem mala, dei-me conta da bagagem que levo comigo.
Levo 47 anos de vida intensa, boa parte dela muito feliz. E os momentos difíceis, que foram poucos mas marcaram muito, dividiram águas. Cresci muito com eles.
Levo a lembrança de amores vividos (poucos e bons) e sonhados como os da Anne (também poucos e bons).
Levo uma das poucas coisas seguras nessa vida, e talvez a que mais importe: ser filho e ser pai.
Levo a companhia de vocês, companheiros do Arguta, que cada vez mais preenchem meu dia e minha vida.
Levo a memória de momentos recentes, que por particularidades dessa fase de minha vida, nunca foram tão intensos, no prazer e na tristeza.
Levo comigo o amor, meu e de alguns poucos, que amam apesar dê (isso me ensinou o pai, não o avô).
Levo a esperança. A ansiedade. A curiosidade. A vontade de viver e ser feliz.
Levo tambéma preocupação com uma sobrinha querida que passa por maus momentos.
E levo um cartão de crédito, a coisa mais útil e menos importante de todas que carrego comigo na bagagem.
Mensagem ao Ernesto
Meu caro mochileiro ... acho que vamos ter que fazer outra história a 4 mãos com o tradicional apoio das fadas e musas. Tá fazendo falta ...
Para imaginar...
Com a cadência preguiçosa das ondas e a profundidade do mar, os pés na areia e a alma no céu.
terça-feira, março 20, 2007
Pensamento da noite ...
Superficialidade não se mede no tempo.
Você pode ser profundo em um momento e superficial toda uma vida.
Você pode ser profundo em um momento e superficial toda uma vida.
Amigo Urso
Tenho uma amiga que gosta de homens peludos. Tô fora. Puxei minha mãe, nem barba tenho.
Mas lembrei de uma antiga expressão, que há tempos não ouço: amigo urso.
Amigo urso é aquele grande e acolhedor, mas que de uma hora para outra te dá uma patada (ou coisa pior).
Uma boa idéia é reconhecer um amigo urso antes da patada. Pena que nem sempre é possível.
Quando gostamos de alguém, projetamos coisas boas e negamos todos os sinais em contrário.
Minha receita para minimizar o risco é a franqueza.
Quando a gente se acostuma com a transparência das relações, fica mais fácil identificar a falta do outro lado.
Amigo urso... só se for de pelúcia.
O que é Marketing ?
Gostei dessa história de vodcast...
Aí, já que tive uma crise de seriedade, resolvi postar uma vídeo-aula que preparei sobre o tema em epígrafe ...
Quem quiser pode cabular.
O endereço no You Tube é : http://www.youtube.com/watch?v=n4DVrDK2Lsk
Aí, já que tive uma crise de seriedade, resolvi postar uma vídeo-aula que preparei sobre o tema em epígrafe ...
Quem quiser pode cabular.
O endereço no You Tube é : http://www.youtube.com/watch?v=n4DVrDK2Lsk
segunda-feira, março 19, 2007
O Avatar do Líder
Não sei se já contei para vocês, mas sou um "coolhunter". Ou pelo menos me contrataram como tal. Desde novembro do ano passado escrevo uma coluna denominada "Caçador de Tendências" para revista Marketing. Como imagino que nem todos os leitores do Arguta Café sejam também leitores da Marketing (e como estou ocupadíssimo preparando uma apresentação que tenho que fazer neste final de semana num evento no Uruguai), decidi publicar como postagem o artigo que mais gostei de preparar nesses primeiros 4 meses. Espero que gostem.
O AVATAR DO LÍDER
Os líderes do presente foram forjados no passado e personificam o arquétipo do herói, segundo as influências sócio-culturais de seu momento.
A geração que vem liderando empresas nos últimos 20 anos cresceu inspirada por heróis individualistas, onipotentes e infalíveis, com poderes sobre-humanos (Super-Homem e Mulher Maravilha) ou superdotados (Capitão América, Batmam), mesmo em suas versões humanizadas (Zorro, Nacional Kid).
Não é de se estranhar que ao terem a oportunidade de viver seu “momento de herói”, esses profissionais adotemcomportamentos correspondentes às suas referências infanto-juvenis.
Os heróis dos anos 80, que inspiram a nova geração, têm características distintas.
São gregários, falíveis e estão em formação. Espera-se que “evoluam” com suas experiências e que ajudem a equipe a evoluir. Nos momentos críticos, são capazes de combinar, de forma sinérgica, os poderes do grupo. São catalisadores.
Espera-se que reconheçam suas limitações e se disponham a superá-las, com a ajuda do grupo e de seu mentor. Sim, os novos heróis têm mentores, e respeitam o conhecimento e a experiência dos mais velhos.
Para quem não conhece, vale a pena assistir as sagas “Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball Z”.
A década de 80 também acomodou um novo tipo de jogo para adolescentes, o RPG (Role Playing Game), um complexo jogo de equipe - em linhas gerais formada por um Mestre e um grupo de personagens (Dungeons & Dragons, Hero Quest).
O Mestre deve proporcionar desafios interessantes para o grupo que, por sua vez, precisa reunir as competências necessárias para superá-los. Os jogadores podem escolher um limitado número de atributos para seus personagens, que não são onipotentes, mas podem evoluir ao longo do jogo, adquirindo novas perícias.
O mestre proporciona as oportunidades para esse desenvolvimento, assim como administra os desafios em função do nível de evolução dos personagens. Todos estão comprometidos com um objetivo comum, que só pode ser alcançado por toda a equipe. É um exercício coletivo e orientado de superação.
“Caverna do Dragão” – inspirado no RPG Dungeons & Dragons – é o desenho animado síntese desse contexto determinante da tendência para novas lideranças, cujos cartões de visitas serão substituídos por Avatares.
E até que eles evoluam para as posições de comando, siga remodelando os velhos heróis em seu posto.
Considerando que Super-Homem e Mulher Maravilha passaram a fazer parte da Liga da Justiça, isso não deve ser impossível.
A geração que vem liderando empresas nos últimos 20 anos cresceu inspirada por heróis individualistas, onipotentes e infalíveis, com poderes sobre-humanos (Super-Homem e Mulher Maravilha) ou superdotados (Capitão América, Batmam), mesmo em suas versões humanizadas (Zorro, Nacional Kid).
Não é de se estranhar que ao terem a oportunidade de viver seu “momento de herói”, esses profissionais adotemcomportamentos correspondentes às suas referências infanto-juvenis.
Os heróis dos anos 80, que inspiram a nova geração, têm características distintas.
São gregários, falíveis e estão em formação. Espera-se que “evoluam” com suas experiências e que ajudem a equipe a evoluir. Nos momentos críticos, são capazes de combinar, de forma sinérgica, os poderes do grupo. São catalisadores.
Espera-se que reconheçam suas limitações e se disponham a superá-las, com a ajuda do grupo e de seu mentor. Sim, os novos heróis têm mentores, e respeitam o conhecimento e a experiência dos mais velhos.
Para quem não conhece, vale a pena assistir as sagas “Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball Z”.
A década de 80 também acomodou um novo tipo de jogo para adolescentes, o RPG (Role Playing Game), um complexo jogo de equipe - em linhas gerais formada por um Mestre e um grupo de personagens (Dungeons & Dragons, Hero Quest).
O Mestre deve proporcionar desafios interessantes para o grupo que, por sua vez, precisa reunir as competências necessárias para superá-los. Os jogadores podem escolher um limitado número de atributos para seus personagens, que não são onipotentes, mas podem evoluir ao longo do jogo, adquirindo novas perícias.
O mestre proporciona as oportunidades para esse desenvolvimento, assim como administra os desafios em função do nível de evolução dos personagens. Todos estão comprometidos com um objetivo comum, que só pode ser alcançado por toda a equipe. É um exercício coletivo e orientado de superação.
“Caverna do Dragão” – inspirado no RPG Dungeons & Dragons – é o desenho animado síntese desse contexto determinante da tendência para novas lideranças, cujos cartões de visitas serão substituídos por Avatares.
E até que eles evoluam para as posições de comando, siga remodelando os velhos heróis em seu posto.
Considerando que Super-Homem e Mulher Maravilha passaram a fazer parte da Liga da Justiça, isso não deve ser impossível.
Recomendação de leitura
Estou sem acesso à interNET, por conta das últimas 3 letras.
Enquanto isso, recomendo a leitura do último post do Rodrigo, com a receita para a vida eterna ...
www.dysfemismo.blogspot.com
Enquanto isso, recomendo a leitura do último post do Rodrigo, com a receita para a vida eterna ...
www.dysfemismo.blogspot.com
sábado, março 17, 2007
Pecado e Capital - Apresentação dos Personagens
* Novo filme, agora numa versão mais completa.... Presente para vocês.
Quase ao raiar da manhã ...
Caros...
Estou exausto mas cumpri a promessa de entregar o último capítulo da saga na sexta-feira (em algum lugar do planeta ainda deve ser sexta-feira).
Peço desculpas pela extensão, mas últimos capítulos costumam ser mais longos para garantir a audiência (trabalho no IBOPE e sei como são essas coisas).
Queria complementar o post falando do prazer que foi partilhar essa história com o Ernesto (um espetáculo de cara esse Ernesto), da estimulante motivação dos afagos de fadas, musas e amigas e amigos, do vínculo que sinto que criamos ao redor da trama e de tantas outras emoções e sensações que preencheram estes últimos dias e que tão bem me fizeram.
Mas agora não dá ... as lágrimas de Estela são também minhas.
Estou exausto mas cumpri a promessa de entregar o último capítulo da saga na sexta-feira (em algum lugar do planeta ainda deve ser sexta-feira).
Peço desculpas pela extensão, mas últimos capítulos costumam ser mais longos para garantir a audiência (trabalho no IBOPE e sei como são essas coisas).
Queria complementar o post falando do prazer que foi partilhar essa história com o Ernesto (um espetáculo de cara esse Ernesto), da estimulante motivação dos afagos de fadas, musas e amigas e amigos, do vínculo que sinto que criamos ao redor da trama e de tantas outras emoções e sensações que preencheram estes últimos dias e que tão bem me fizeram.
Mas agora não dá ... as lágrimas de Estela são também minhas.
Pecado e Capital
Parte 12 (final) - A recusa
Jailton abriu os olhos vagarosamente, a mente anuviada por fragmentos de lembranças tumultuadas, olhos embaçados e um forte gosto de cravo na boca.
Sua primeira visão foi a de um teto branco. No centro o globo de vidro leitoso de uma luminária obscenamente pequena. Os batentes da porta e da janela colonial, enorme e antiga, também eram de um branco algo amarelado pelo tempo.
Um quarto grande, parcamente mobiliado. A pequena cadeira no canto próximo à janela parecia estar à espera de alguém tímido que ali sentasse de cabeça baixa e as mãos enfiadas entre os joelhos. Sobre o pequeno criado-mudo ao lado da cama de metal pintado apenas um copo plástico com água.
Tudo branco e pálido, sem brilho ou alvura. Apenas desbotado até que não restasse qualquer resquício de cor, como o tecido de sua camisola.
A porta do quarto abriu e Jailton dirigiu para lá seu olhar amortecido.
Gabriel, vestindo um jaleco branco, aproximou-se da cama com um olhar terno e acolhedor.
- Acordou meu caro Jailton ... que bom. Está se sentindo bem ?
Jailton acenou com a cabeça sem muita convicção.
- Fique tranqüilo. Você está entre amigos agora. Estamos cuidando de você e nada de mal vai lhe acontecer ...
Jailton esboçou um pensamento incompleto. Num laivo de curiosidade tentou imaginar ao que ele estaria se referindo.
- Você passou por maus momentos nesses últimos dias. Agora, precisa descansar para se recuperar. A enfermeira vai lhe injetar um sedativo leve para que você possa dormir mais algumas horas com tranqüilidade.
Uma enfermeira de grandes olhos azuis e cabelos presos num coque de trança, como ha muito Jailton não se lembrava de ter visto, aproximou-se por de trás de Gabriel oferecendo uma reconfortante visão de seu colo, prenunciando o generoso par de seios.
Antes que Jailton pudesse esboçar qualquer pensamento libidinoso, a realidade colapsou-se e ele voltou a dormir.
Gabriel e a enfermeira deixaram o quarto.
Do lado de fora, Dalton e Constância aguardavam com evidente preocupação.
- Como ele está ? – Constância disparou, mal a porta havia se fechado.
- Melhor, agora... – respondeu Gabriel. Está sedado e deverá dormir por mais algumas horas.
Estela, que observava tudo à distância com olhos vermelhos, aproximou-se.
- Encontrei ele hoje de manhã, desmaiado na frente do computador – disse. Deve ter ficado lá desde sexta-feira. Não consegui acordar o Jailton de jeito nenhum. Aí a Tan e o Dalton chegaram ... Chamamos uma ambulância....
Estela não conseguiu terminar a frase, interrompida pelo pranto engasgado.
- Ele estava em estado catatônico – esclareceu Dr. Gabriel, o psiquiatra da clínica.
- Eu vim com ele na ambulância – continuou Dalton. Ele balbuciava coisas sem sentido, falando de anjos, de uma missão... Uma hora tentou levantar da maca onde estava preso gritando “eu não vou ajudar esses filhos-da-puta de jeito nenhum... nem por um cacete ... posso ir para o inferno...”. Tive que segurar o cara para ele não virar a maca. Estava furioso.
- Vamos ter que deixa-lo aqui por mais alguns dias, em observação. Mas pelo que vocês me contaram, e pelo pouco que pude conversar com ele quando chegou, estou fortemente inclinado a acreditar que o amigo de vocês sofre de um distúrbio chamado de esquizofrenia catatônica.
- Mas o que é isso, doutor ? – constância perguntou preocupada.
- A esquizofrenia catatônica é um quadro psíquico grave, caracterizado por distúrbios psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. O fenômeno catatônico pode estar combinado com um estado oniróide com alucinações cênicas vívidas.
- Ai doutor ... – Estela estava agoniada. Não estou entendendo nada ...
- Em linguagem mais simples, o Jailton provavelmente sofre de um disturbio mental, que provoca alucinações persecutórias. É o que chamamos de Esquizofrenia. Em alguns casos a pessoa segue se comportando quase normalmente, conversa com os amigos, trabalha, faz as coisas do dia a dia, mas tem uma percepção alterada da realidade. Escuta vozes, tem visões ... No caso do Jailton ele simplesmente “desligou” durante o surto. Ficou, como disse, em um estado catatônico.
- E isso tem cura, doutor ? – quis saber Dalton.
- Tem tratamento, através de antipsicóticos ou neurolépticos. Essa medicação reduz muito ou até elimina os sintomas mais graves do distúrbio e permitem que o paciente tenha uma vida normal. Lamentavelmente, na maioria dos casos, não se pode garantir que não volte a ocorrer um novo surto. Mas isso não impede que a pessoa tenha uma vida produtiva em todos os sentidos. Não sei se vocês assistiram aquele filme “Uma mente brilhante” sobre a vida do matemático John Nash.
- Eu assisti ... é lindo ... – Estela acenou ansiosa.
- Pois é ... John Nash era esquizofrênico, mas manifestava uma outra modalidade do distúrbio que chamamos de paranóide. Naquela época, inclusive, os medicamentos não tinham a eficiência dos de hoje. E isso não impediu que ele fizesse importantes contribuições para o mundo. Ganhou até um prêmio Nobel. O Jailton poderá ter uma qualidade de vida muito melhor hoje do que ele em seu tempo.
- E o que devemos fazer, doutor ? – Dalton, embora não tivesse muita intimidade com o Jailton, estava disposto a ajudar o amigo no que fosse possível.
- No momento, como disse, preciso mantê-lo em observação para fechar o diagnóstico. Aí ele será medicado adequadamente. Vamos mantê-lo na clínica por alguns dias, já que ele não tem família na cidade. Creio que de duas a quatro semanas será suficiente. Depois disso, é possível que ele passe por um período de depressão. Vamos fazer um acompanhamento psicológico durante uns meses ...
- E nós, o que podemos fazer ? – Estela tinha lágrimas nos olhos.
- A receita é compreensão, carinho e sobretudo, respeito. O distúrbio é grave, mas pode ser tratado, e não faz dele uma pessoa menor. É importante que vocês, que conhecem o problema, se relacionem com ele como sempre se relacionaram. E, se possível, fiquem atentos para alterações significativas de comportamento, ausências e desmaios. Mas, por favor, sem exageros.
- Posso entrar no quarto para ver o Jailton ? – o tom de voz de Estela era de súplica.
O médico hesitou mas não resistiu à intensidade do sofrimento de Estela.
- Está bem. Mas só por alguns minutos e, por favor, procure não perturba-lo.
Estela entrou no quarto vagarosamente.
Em silêncio, deslocou a cadeira para perto da cabeceira da cama. Abaixou a cabeça e, tímida, colocou as mãos entre os joelhos como que para evitar tocar o rosto de seu amado.
Lágrimas brotavam de seus olhos aos borbotões. Seu peito tremia e o corpo balançava ao sabor dos soluços, naquele instante eterno.
A luz que entrava pela janela ao por do sol conferia um tom violáceo ao quarto e refletia em seus cabelos dourados, formando como uma aura em torno da face lívida.
Com uma força insuspeita, e derrmando toda a intensidade da alma, Estela murmurou engasgada, mas com firmeza:
- Nunca vou deixar que nada nem ninguém de faça mal, Jailton. Nunca ! Eu prometo. Vou cuidar de você para sempre.
_____________
Cair da tarde.
A cidade vista do alto, mas aproximando-se rapidamente, tal qual a visão de um pássaro em pleno mergulho.
A velocidade se reduz com a proximidade, e estamos alinhados com a rua principal, em uma tomada panorâmica.
Edifícios conhecidos e pessoas familiares vão passando de ambos os lados, em confortante seqüência.
Na porta do Degas, Celeste, a hostess, conversa preguiçosamente com o primeiro cliente, exibindo seu sorriso angelical.
Mais à frente, através da vitrine da rotisserie do Eduardo, vislumbramos sua mulher e a filha Carol preparando a massa dos inigualáveis croissants e conversando carinhosamente.
Na porta da oficina mecânica, Leonardo, de macacão azul impecavelmente limpo, instrui o mecânico encarregado do carro de Jailton, que havia sido deixado para revisão dias antes. Na parede, uma folhinha do Louvre com reproduções de quadros famosos, presente de Dona Sofia, mulher do Dr. Almeida Passos.
Na banca de jornais, Iziquiél, o rapaz gago contratado pelo proprietário para ajuda-lo na organização das revistas, dava polimento à uma grande estrela de bronze que decorava a entrada, atraindo a atenção das moçoilas passantes por seu porte atlético contrastando com uma beleza quase feminina.
No final da rua, Jailton deixa o escritório e vem ao nosso encontro, iniciando a caminhada de todos os dias em direção ao Degas.
Subimos vertiginosamente em direção ao sol poente.
No campo periférico de visão, contra o azul violáceo do céu, penas brancas surgem e desaparecem, como pontas de asas em movimento rítmico.
A cidade se perde na distância enquanto penetramos nuvens alvas que se metamorfoseiam à nossa passagem.
Trombetas soam ao fundo.
Sua primeira visão foi a de um teto branco. No centro o globo de vidro leitoso de uma luminária obscenamente pequena. Os batentes da porta e da janela colonial, enorme e antiga, também eram de um branco algo amarelado pelo tempo.
Um quarto grande, parcamente mobiliado. A pequena cadeira no canto próximo à janela parecia estar à espera de alguém tímido que ali sentasse de cabeça baixa e as mãos enfiadas entre os joelhos. Sobre o pequeno criado-mudo ao lado da cama de metal pintado apenas um copo plástico com água.
Tudo branco e pálido, sem brilho ou alvura. Apenas desbotado até que não restasse qualquer resquício de cor, como o tecido de sua camisola.
A porta do quarto abriu e Jailton dirigiu para lá seu olhar amortecido.
Gabriel, vestindo um jaleco branco, aproximou-se da cama com um olhar terno e acolhedor.
- Acordou meu caro Jailton ... que bom. Está se sentindo bem ?
Jailton acenou com a cabeça sem muita convicção.
- Fique tranqüilo. Você está entre amigos agora. Estamos cuidando de você e nada de mal vai lhe acontecer ...
Jailton esboçou um pensamento incompleto. Num laivo de curiosidade tentou imaginar ao que ele estaria se referindo.
- Você passou por maus momentos nesses últimos dias. Agora, precisa descansar para se recuperar. A enfermeira vai lhe injetar um sedativo leve para que você possa dormir mais algumas horas com tranqüilidade.
Uma enfermeira de grandes olhos azuis e cabelos presos num coque de trança, como ha muito Jailton não se lembrava de ter visto, aproximou-se por de trás de Gabriel oferecendo uma reconfortante visão de seu colo, prenunciando o generoso par de seios.
Antes que Jailton pudesse esboçar qualquer pensamento libidinoso, a realidade colapsou-se e ele voltou a dormir.
Gabriel e a enfermeira deixaram o quarto.
Do lado de fora, Dalton e Constância aguardavam com evidente preocupação.
- Como ele está ? – Constância disparou, mal a porta havia se fechado.
- Melhor, agora... – respondeu Gabriel. Está sedado e deverá dormir por mais algumas horas.
Estela, que observava tudo à distância com olhos vermelhos, aproximou-se.
- Encontrei ele hoje de manhã, desmaiado na frente do computador – disse. Deve ter ficado lá desde sexta-feira. Não consegui acordar o Jailton de jeito nenhum. Aí a Tan e o Dalton chegaram ... Chamamos uma ambulância....
Estela não conseguiu terminar a frase, interrompida pelo pranto engasgado.
- Ele estava em estado catatônico – esclareceu Dr. Gabriel, o psiquiatra da clínica.
- Eu vim com ele na ambulância – continuou Dalton. Ele balbuciava coisas sem sentido, falando de anjos, de uma missão... Uma hora tentou levantar da maca onde estava preso gritando “eu não vou ajudar esses filhos-da-puta de jeito nenhum... nem por um cacete ... posso ir para o inferno...”. Tive que segurar o cara para ele não virar a maca. Estava furioso.
- Vamos ter que deixa-lo aqui por mais alguns dias, em observação. Mas pelo que vocês me contaram, e pelo pouco que pude conversar com ele quando chegou, estou fortemente inclinado a acreditar que o amigo de vocês sofre de um distúrbio chamado de esquizofrenia catatônica.
- Mas o que é isso, doutor ? – constância perguntou preocupada.
- A esquizofrenia catatônica é um quadro psíquico grave, caracterizado por distúrbios psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. O fenômeno catatônico pode estar combinado com um estado oniróide com alucinações cênicas vívidas.
- Ai doutor ... – Estela estava agoniada. Não estou entendendo nada ...
- Em linguagem mais simples, o Jailton provavelmente sofre de um disturbio mental, que provoca alucinações persecutórias. É o que chamamos de Esquizofrenia. Em alguns casos a pessoa segue se comportando quase normalmente, conversa com os amigos, trabalha, faz as coisas do dia a dia, mas tem uma percepção alterada da realidade. Escuta vozes, tem visões ... No caso do Jailton ele simplesmente “desligou” durante o surto. Ficou, como disse, em um estado catatônico.
- E isso tem cura, doutor ? – quis saber Dalton.
- Tem tratamento, através de antipsicóticos ou neurolépticos. Essa medicação reduz muito ou até elimina os sintomas mais graves do distúrbio e permitem que o paciente tenha uma vida normal. Lamentavelmente, na maioria dos casos, não se pode garantir que não volte a ocorrer um novo surto. Mas isso não impede que a pessoa tenha uma vida produtiva em todos os sentidos. Não sei se vocês assistiram aquele filme “Uma mente brilhante” sobre a vida do matemático John Nash.
- Eu assisti ... é lindo ... – Estela acenou ansiosa.
- Pois é ... John Nash era esquizofrênico, mas manifestava uma outra modalidade do distúrbio que chamamos de paranóide. Naquela época, inclusive, os medicamentos não tinham a eficiência dos de hoje. E isso não impediu que ele fizesse importantes contribuições para o mundo. Ganhou até um prêmio Nobel. O Jailton poderá ter uma qualidade de vida muito melhor hoje do que ele em seu tempo.
- E o que devemos fazer, doutor ? – Dalton, embora não tivesse muita intimidade com o Jailton, estava disposto a ajudar o amigo no que fosse possível.
- No momento, como disse, preciso mantê-lo em observação para fechar o diagnóstico. Aí ele será medicado adequadamente. Vamos mantê-lo na clínica por alguns dias, já que ele não tem família na cidade. Creio que de duas a quatro semanas será suficiente. Depois disso, é possível que ele passe por um período de depressão. Vamos fazer um acompanhamento psicológico durante uns meses ...
- E nós, o que podemos fazer ? – Estela tinha lágrimas nos olhos.
- A receita é compreensão, carinho e sobretudo, respeito. O distúrbio é grave, mas pode ser tratado, e não faz dele uma pessoa menor. É importante que vocês, que conhecem o problema, se relacionem com ele como sempre se relacionaram. E, se possível, fiquem atentos para alterações significativas de comportamento, ausências e desmaios. Mas, por favor, sem exageros.
- Posso entrar no quarto para ver o Jailton ? – o tom de voz de Estela era de súplica.
O médico hesitou mas não resistiu à intensidade do sofrimento de Estela.
- Está bem. Mas só por alguns minutos e, por favor, procure não perturba-lo.
Estela entrou no quarto vagarosamente.
Em silêncio, deslocou a cadeira para perto da cabeceira da cama. Abaixou a cabeça e, tímida, colocou as mãos entre os joelhos como que para evitar tocar o rosto de seu amado.
Lágrimas brotavam de seus olhos aos borbotões. Seu peito tremia e o corpo balançava ao sabor dos soluços, naquele instante eterno.
A luz que entrava pela janela ao por do sol conferia um tom violáceo ao quarto e refletia em seus cabelos dourados, formando como uma aura em torno da face lívida.
Com uma força insuspeita, e derrmando toda a intensidade da alma, Estela murmurou engasgada, mas com firmeza:
- Nunca vou deixar que nada nem ninguém de faça mal, Jailton. Nunca ! Eu prometo. Vou cuidar de você para sempre.
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Cair da tarde.
A cidade vista do alto, mas aproximando-se rapidamente, tal qual a visão de um pássaro em pleno mergulho.
A velocidade se reduz com a proximidade, e estamos alinhados com a rua principal, em uma tomada panorâmica.
Edifícios conhecidos e pessoas familiares vão passando de ambos os lados, em confortante seqüência.
Na porta do Degas, Celeste, a hostess, conversa preguiçosamente com o primeiro cliente, exibindo seu sorriso angelical.
Mais à frente, através da vitrine da rotisserie do Eduardo, vislumbramos sua mulher e a filha Carol preparando a massa dos inigualáveis croissants e conversando carinhosamente.
Na porta da oficina mecânica, Leonardo, de macacão azul impecavelmente limpo, instrui o mecânico encarregado do carro de Jailton, que havia sido deixado para revisão dias antes. Na parede, uma folhinha do Louvre com reproduções de quadros famosos, presente de Dona Sofia, mulher do Dr. Almeida Passos.
Na banca de jornais, Iziquiél, o rapaz gago contratado pelo proprietário para ajuda-lo na organização das revistas, dava polimento à uma grande estrela de bronze que decorava a entrada, atraindo a atenção das moçoilas passantes por seu porte atlético contrastando com uma beleza quase feminina.
No final da rua, Jailton deixa o escritório e vem ao nosso encontro, iniciando a caminhada de todos os dias em direção ao Degas.
Subimos vertiginosamente em direção ao sol poente.
No campo periférico de visão, contra o azul violáceo do céu, penas brancas surgem e desaparecem, como pontas de asas em movimento rítmico.
A cidade se perde na distância enquanto penetramos nuvens alvas que se metamorfoseiam à nossa passagem.
Trombetas soam ao fundo.
sexta-feira, março 16, 2007
quinta-feira, março 15, 2007
Sugestão para amanhã
Para diante de uma pessoa que você goste.
Segure-a firme mas delicadamente pelos praços.
Olhe diretamente para seus olhos.
Resgate a afeição que tem por ela e diga com simplicidade e sinceridade:
- Eu gosto de você.
Dê um beijo no rosto, e siga adiante....
Segure-a firme mas delicadamente pelos praços.
Olhe diretamente para seus olhos.
Resgate a afeição que tem por ela e diga com simplicidade e sinceridade:
- Eu gosto de você.
Dê um beijo no rosto, e siga adiante....
Pecado e Capital - Cenas do próximo capítulo
Cena 1: Jailton desperta em um quarto todo branco e observa tudo com um olhar confuso ...
Cena 2: Gabriel conversa sorrateiramente com Constância e Dalton, enquanto Estela observa à distância...
Cena 3: Algo, ou alguém, sobrevoa a rua principal, nas proximidades do escritório de Jailton
Não percam o último capítulo de Pecado e Capital, 6a feira, neste mesmo bat-blog.
Cena 2: Gabriel conversa sorrateiramente com Constância e Dalton, enquanto Estela observa à distância...
Cena 3: Algo, ou alguém, sobrevoa a rua principal, nas proximidades do escritório de Jailton
Não percam o último capítulo de Pecado e Capital, 6a feira, neste mesmo bat-blog.
terça-feira, março 13, 2007
Digressões sobre a blogsfera
Universo interessante esse que ora arranhamos, ocupando sua pequena fração.
Longe do caos dos chats, usufruindo das benesses do time shifting, curtindo a invasão permitida da privacidade alheia mas amiga.
Conhecendo sem conhecer os que tem coragem de partilhar.
Tocando outros tantos anônimos que preferem só observar.
E a vida segue, cá e lá.
Gosto desta pequena rede social que construimos, que se estende dinâmica, perdendo uns e ganhando outros.
Curto essa nova forma de relacionamento à distância, que me parece tão próximo.
É bom saber que vou ligar o computador e encontrar comentários de pessoas que gosto, de pessoas que estou aprendendo a gostar, e de pessoas que apenas passaram para não mais voltar.
Também gosto de postar comentários, participando da vida virtual de pessoas interessantes e interesseiras.
Ia dizer desinteressadas ... mas soou pobre.
Resgato "interesseira" da lama em que foi incautamente atirada a palavra. Interesseira que tem interesse; que se interessa.
Gente que se interessa pela vida, pelos outros, por si.
Gente que hoje faz parte, de uma maneira gostosa, do meu universo.
Que bom ter vocês por aqui !
segunda-feira, março 12, 2007
Sextas ou segundas ?
Eu prefiro as segundas-feiras.
Na sexta, todo mundo quer resolver o que não conseguiu durante a semana.
Como trabalho como prestador de serviços, sextas costumam ser infernais.
Por outro lado, nas segundas eu faço, na medida do possível, só o que gosto. Para as outras coisas temos as terças, quartas e quintas.
Viva a segunda feira !
Na sexta, todo mundo quer resolver o que não conseguiu durante a semana.
Como trabalho como prestador de serviços, sextas costumam ser infernais.
Por outro lado, nas segundas eu faço, na medida do possível, só o que gosto. Para as outras coisas temos as terças, quartas e quintas.
Viva a segunda feira !
Pessoas e sabores
Não é curioso como associamos as coisas ?
Musicas, lugares, cores, estilos, texturas...
Me encantam particularmente os sabores, aquela mescla deliciosa de paladar e olfato.
Bebericando um "43" não posso deixar de lembrar de doces lábios ...
Musicas, lugares, cores, estilos, texturas...
Me encantam particularmente os sabores, aquela mescla deliciosa de paladar e olfato.
Bebericando um "43" não posso deixar de lembrar de doces lábios ...
Pensamento da madrugada ...
Há noites em que preferiria não dormir ...
Não, não são as melhores
Estas terminam com um cansaço gostoso
E um sorriso no rosto
Também não são as piores
Essas não terminam
São apenas aquelas
Nas quais preferiria
Simplesmente não dormir
Não, não são as melhores
Estas terminam com um cansaço gostoso
E um sorriso no rosto
Também não são as piores
Essas não terminam
São apenas aquelas
Nas quais preferiria
Simplesmente não dormir
P'ro dia nascer feliz ...
Escolha sua atitude.
Disponha-se a brincar.
Faça diferença (preocupe-se com o outro e seja relevante).
Esteja presente (de corpo e alma).
(do livro Fish, gênero auto-ajuda empresarial, mas nem por isso menos verdadeiro)
Disponha-se a brincar.
Faça diferença (preocupe-se com o outro e seja relevante).
Esteja presente (de corpo e alma).
(do livro Fish, gênero auto-ajuda empresarial, mas nem por isso menos verdadeiro)
domingo, março 11, 2007
sábado, março 10, 2007
Pecado e Capital
Parte 10 – Vox populi, potere Dei
Quando Jailton despertou de sua viagem-sonho com Azazel, já não estavam no mesmo galpão.
Anjas e almofadas haviam dado lugar a um suntuoso gabinete, digno de um mega-investidor internacional.
Por de trás de uma imponente escrivaninha de mogno, entalhada com um cuidado miquelângico, sobriamente acomodado em uma poltrona de espaldar alto, estofada com couro de antílope negro, Azazel trajava seu Armani risca-de-giz e brincava com a caneta Montegrappa Sophia, que flutuava entre seus dedos.
Na parede, um conjunto de enormes monitores de alta resolução mostravam cotações associadas a diversas partes do planeta.
Tapetes, quadros, vasos e estatuetas antigas compunham os detalhes da decoração.
Jailton observava distraidamente o ambiente, enquanto mentalmente repassava as imagens da viagem, em tudo semelhante àquela estimulada pelo powerpoint que receberá no escritório mas, entretanto, muito diferente.
Alguns fatos cronologicamente re-alinhados, e umas poucas sutis discrepâncias, alteravam completamente o sentido geral da história.
Ao invés daquela tocante sensação de plenitude, resultante da primeira experiência, Jailton experimentava laivos de feroz indignação, motivados pelo sentimento de manipulação.
- Vocês estão brincando comigo ... – o tom de Jailton não chegava a ser agressivo, mas deixava claro que não estava disposto a participar dessa brincadeira. Onde está a verdade, afinal ?
- A verdade, meu caro Jailton, está por toda a parte. A questão é qual é a sua verdade – Azazel frisou o “sua”, inclinando-se na direção de Jailton e apontando a Montegrappa.
- Já chega de jogo de palavras, malandrão ... qual é o negócio ? – o ambiente claramente influenciou a pergunta do Jailton.
- Pecado .... e Capital ....
- Não enrole ... vá direto ao ponto !
- Meu caro ... o poder dos Deuses é diretamente proporcional a fé dos homens. Um Deus em quem ninguém mais acredita é um Deus morto. Em contrapartida, um Deus com milhões de almas tementes é um Deus vivo e poderoso. E o Pecado é o grande golpe de marketing daquele que é o Todo Poderoso. Ao instituir os conceitos do bem e do mal, criou o conceito do Pecado e, por conseqüência, a necessidade do perdão para obter a salvação. E o temor, o medo da danação. Os Deuses anteriores eram mais liberais. Cobravam tributos para garantir a felicidade, e aceitavam a concorrência saudável. Esse não. Estipulou que todos vivem em permanente pecado e que necessitam nele crer e a ele temer para merecer, talvez um dia, a salvação. Deixou claro que prestar tributo a falsos deuses (os outros) era um pecado imperdoável, passível de destruição. A principio os demais deuses não levaram a sério o neófito. Que mortal, em sã consciência, seria tão estúpido para preferir um Deus assim, autoritário, despótico e baixo-astral ? E, que ainda por cima, aniquilava os pecadores reduzindo seu “capital”.
- Conheço vários ... – Jailton deixou escapar.
- Pois é ... a maioria dos mortais, lamentavelmente. Bons tempos aqueles dos Deuses Gregos. Cada um representando uma relevante aspecto do ser humano.. o amor, a guerra, a inteligência, a comunicação, o prazer ... E os humanos, pagando tributos a diferentes Deuses, garantiam o equilíbrio da alma. Pobres Deuses .. todos mortos. E pobres mortais, vítimas da tirania monoteísta. Eu ainda não era um anjo nessa época, embora após o último re-arranjo dos fatos na linha temporal já não possa dizer isso.
- Mas se esse Deus tem tanto poder, para que precisa de mim ?
- Para implementar novos procedimentos de renovação da fé, ou seja, para aumentar seu capital de almas tementes e garantir sua perenidade. Está vendo os gráficos nos monitores aí atrás ? As curvas são descendentes. Em todos os cantos do planeta a fé nesse Deus está diminuindo, lenta e inexoravelmente. Ele precisa tomar alguma providência, enquanto ainda tem poder para isso.
- E eu com isso ?
- A fé é um dom mortal, e só pode ser despertada e cultivada por mortais. Por isso, todos os Deuses tem, de um modo ou de outro, seus sacerdotes ou sacerdotisas na Terra. O Todo Poderoso foi quem reuniu o maior número de representantes de sua fé na história da humanidade, travestidos em diversas religiões, mas todas adorando o Deus único. E tem sido esperto o suficiente para, de quando em quando, promover mudanças radicais lançando mão de um eleito. O último escolhido foi há aproximadamente 2000 anos pelo tempo terrestre. Ele aceitou sacrificar-se para glória do Pai. Agora, é a sua vez de decidir, Jailton.
- Mas decidir o quê ?
- Você saberá, no momento oportuno. Minha participação termina aqui. Agora é entre você e Gabriel ...
- Mas que Gabriel ?
Azazel sorriu marotamente, virou-se de costas para Jailton e arremessou sua caneta contra o monitor central.
A Montegrappa cravou-se no centro da tela e uma luz intensa e alva projetou-se do ponto de contato, como uma super-nova, ofuscando Jailton.
As trombetas soaram e Jailton pode distinguir o farfalhar de asas.
Subitamente, a silhueta impressionante de um anjo interpôs-se ente Jailton e o foco de luz. Uma sombra com enormes asas abertas empunhando sua reluzente espada.
Quando Jailton despertou de sua viagem-sonho com Azazel, já não estavam no mesmo galpão.
Anjas e almofadas haviam dado lugar a um suntuoso gabinete, digno de um mega-investidor internacional.
Por de trás de uma imponente escrivaninha de mogno, entalhada com um cuidado miquelângico, sobriamente acomodado em uma poltrona de espaldar alto, estofada com couro de antílope negro, Azazel trajava seu Armani risca-de-giz e brincava com a caneta Montegrappa Sophia, que flutuava entre seus dedos.
Na parede, um conjunto de enormes monitores de alta resolução mostravam cotações associadas a diversas partes do planeta.
Tapetes, quadros, vasos e estatuetas antigas compunham os detalhes da decoração.
Jailton observava distraidamente o ambiente, enquanto mentalmente repassava as imagens da viagem, em tudo semelhante àquela estimulada pelo powerpoint que receberá no escritório mas, entretanto, muito diferente.
Alguns fatos cronologicamente re-alinhados, e umas poucas sutis discrepâncias, alteravam completamente o sentido geral da história.
Ao invés daquela tocante sensação de plenitude, resultante da primeira experiência, Jailton experimentava laivos de feroz indignação, motivados pelo sentimento de manipulação.
- Vocês estão brincando comigo ... – o tom de Jailton não chegava a ser agressivo, mas deixava claro que não estava disposto a participar dessa brincadeira. Onde está a verdade, afinal ?
- A verdade, meu caro Jailton, está por toda a parte. A questão é qual é a sua verdade – Azazel frisou o “sua”, inclinando-se na direção de Jailton e apontando a Montegrappa.
- Já chega de jogo de palavras, malandrão ... qual é o negócio ? – o ambiente claramente influenciou a pergunta do Jailton.
- Pecado .... e Capital ....
- Não enrole ... vá direto ao ponto !
- Meu caro ... o poder dos Deuses é diretamente proporcional a fé dos homens. Um Deus em quem ninguém mais acredita é um Deus morto. Em contrapartida, um Deus com milhões de almas tementes é um Deus vivo e poderoso. E o Pecado é o grande golpe de marketing daquele que é o Todo Poderoso. Ao instituir os conceitos do bem e do mal, criou o conceito do Pecado e, por conseqüência, a necessidade do perdão para obter a salvação. E o temor, o medo da danação. Os Deuses anteriores eram mais liberais. Cobravam tributos para garantir a felicidade, e aceitavam a concorrência saudável. Esse não. Estipulou que todos vivem em permanente pecado e que necessitam nele crer e a ele temer para merecer, talvez um dia, a salvação. Deixou claro que prestar tributo a falsos deuses (os outros) era um pecado imperdoável, passível de destruição. A principio os demais deuses não levaram a sério o neófito. Que mortal, em sã consciência, seria tão estúpido para preferir um Deus assim, autoritário, despótico e baixo-astral ? E, que ainda por cima, aniquilava os pecadores reduzindo seu “capital”.
- Conheço vários ... – Jailton deixou escapar.
- Pois é ... a maioria dos mortais, lamentavelmente. Bons tempos aqueles dos Deuses Gregos. Cada um representando uma relevante aspecto do ser humano.. o amor, a guerra, a inteligência, a comunicação, o prazer ... E os humanos, pagando tributos a diferentes Deuses, garantiam o equilíbrio da alma. Pobres Deuses .. todos mortos. E pobres mortais, vítimas da tirania monoteísta. Eu ainda não era um anjo nessa época, embora após o último re-arranjo dos fatos na linha temporal já não possa dizer isso.
- Mas se esse Deus tem tanto poder, para que precisa de mim ?
- Para implementar novos procedimentos de renovação da fé, ou seja, para aumentar seu capital de almas tementes e garantir sua perenidade. Está vendo os gráficos nos monitores aí atrás ? As curvas são descendentes. Em todos os cantos do planeta a fé nesse Deus está diminuindo, lenta e inexoravelmente. Ele precisa tomar alguma providência, enquanto ainda tem poder para isso.
- E eu com isso ?
- A fé é um dom mortal, e só pode ser despertada e cultivada por mortais. Por isso, todos os Deuses tem, de um modo ou de outro, seus sacerdotes ou sacerdotisas na Terra. O Todo Poderoso foi quem reuniu o maior número de representantes de sua fé na história da humanidade, travestidos em diversas religiões, mas todas adorando o Deus único. E tem sido esperto o suficiente para, de quando em quando, promover mudanças radicais lançando mão de um eleito. O último escolhido foi há aproximadamente 2000 anos pelo tempo terrestre. Ele aceitou sacrificar-se para glória do Pai. Agora, é a sua vez de decidir, Jailton.
- Mas decidir o quê ?
- Você saberá, no momento oportuno. Minha participação termina aqui. Agora é entre você e Gabriel ...
- Mas que Gabriel ?
Azazel sorriu marotamente, virou-se de costas para Jailton e arremessou sua caneta contra o monitor central.
A Montegrappa cravou-se no centro da tela e uma luz intensa e alva projetou-se do ponto de contato, como uma super-nova, ofuscando Jailton.
As trombetas soaram e Jailton pode distinguir o farfalhar de asas.
Subitamente, a silhueta impressionante de um anjo interpôs-se ente Jailton e o foco de luz. Uma sombra com enormes asas abertas empunhando sua reluzente espada.
sexta-feira, março 09, 2007
A praia do Ernesto ...
Considerando os considerandos, extremamente preocupado com o as colocações do meu amigo Ernesto lá no Assertiva, fica a sugestão para potencial adoção pelas meninas brasileiras.
quarta-feira, março 07, 2007
Pecado e Capital
Parte 8 - Nas asas de Azazel
A primeira imagem que chamou a atenção de Jailton foi a do emaranhado e sensual meneio de Carol e Eduarda, as jovens gêmeas que ladeavam Azazel.
É complexo descrever o impacto que a visão de duas mulheres lindas e nuas, acariciando-se de maneira lasciva e emanando eflúvios de um prazer casto e generoso, tolhidas em sua pressa pela relevância do Tao, causa em um homem e, particularmente em Jailton.
O sentimento íntimo de que deveria haver algum pecado num prazer tão doce, a conotação sexual dos corpos nus e a insinuação do incesto, conseguiam abalar mesmo as convicções hedonistas do agnóstico Jailton.
Por outro lado, o sorriso meigo e o olhar absorto de Carol revelavam a paz interior e a felicidade encapsulada naquele instante eterno.
Seu olhar desviou-se para Borbah, o gato, que acariciado mecanicamente por Azazel, jazia a ronronar com a mesma expressão de satisfação de Carol.
Tudo ali era paz e prazer e, ainda assim, não havia como deixar de pensar em culpa e pecado.
- Maldita carga cultural .... como é difícil suspender o julgamento moral e viver um momento pelo que ele é .... – pensou Jailton, num último devaneio filosófico antes de colocar completamente seus pés de volta à terra.
Azazel pareceu capturar os pensamentos de Jailton.
- É por isso que você está aqui, meu caro Jailton. Mas primeiro vamos recompensar nossos auxiliares ... Carol ... Eduarda .... levem o Dalton para o ritual de celebração da vida.
Carol e Eduarda levantaram-se lentamente e aproximaram-se de Dalton que se deixou conduzir candidamente ao que parecia ser seu paraíso pessoal.
- Constância, minha querida e devota irmã ...
Constância deu dois passos tímidos em direção a Azazel, que tomou-lhe as mãos com firme suavidade, enquanto capturava sua alma com um olhar penetrante.
- Uma alma tão elevada que nada deseja e nada quer além de servir ao Senhor... Tua missão está cumprida por hora, filha de Deus. Tua alma segue fortalecida e em paz.
Vá-te. Sursum corda ! Vincit omnia veritas.
- Amém ... Fico eternamente grata pela oportunidade de servir ao Senhor... – Constância despediu-se com lágrimas nos olhos e abandonou rapidamente o salão, sem olhar para os lados.
- Desculpe-me pelo latim, querido “eleito” – a palavra “eleito” foi dita num tom jocoso. Faz parte do marketing. É um pouco fora de moda mas funciona lindamente com a tribo mais old fashion.
Jailton já havia recuperado boa parte de sua condição natural de funcionamento mental. Embora sua alma ainda estivesse profundamente afetada pelas experiências recentes, sua mente arguta estava em guarda, contra qualquer possível golpe que estivesse em curso.
- Quem é você ? O que significa isso tudo ? O Dalton, a Constância, essa mulherada toda, meus sonhos, a apresentação ... O quê vocês estão aprontando e o que é que eu tenho a ver com isso ?
- Calma, Jailton ... sente-se ... tome um copo de Néctar.
Sentou-se em algumas almofadas próximas ao anjo e recebeu o copo com um líquido dourado das mãos de um dos jovens das ânforas. Percebeu que ainda estava, de algum modo, sob o controle daquele personagem. Sentar e beber não havia sido, exatamente, uma decisão sua.
A voz de Azazel, sempre suave, penetrante e imperativa, não parecia alcança-lo através dos ouvidos. A sensação era a de que chegava diretamente em seu cérebro, logo depois do crivo da razão ... como se fosse seu próprio pensamento. Era difícil resistir ou criticar.
- Você, meu caro Jailton, foi escolhido, não por mim ... Mas por aqueles que, desde o início dos tempos, tem interesse em dividir o universo entre o “bem” e o “mal”... – de novo as últimas palavras foram ditas com sarcasmo. Você, como eu Jailton, é uma vítima deles. Com a diferença de que sua situação é momentânea enquanto a minha é eterna.
- Não entendo ... – a voz de Jailton soou mais calma do que ele mesmo previa. Quem é você ? Quem são eles ?
- Você entende sim, Jailton... e é por isso que foi eleito. Esse é o momento que dá o sentido de toda sua existência e você estava aguardando por ele. Está escrito.
De algum modo Jailton sentiu que isso era verdade.
- E embora tudo já esteja determinado, precisamos cumprir nossos papeis. Sou Azazel, o que costuma chamar por aqui de um “anjo caído” ... uma longa história que posso te contar depois. Meu papel aqui e agora na linha do tempo é conscientiza-lo, para que você possa “decidir”, no sentido mortal da palavra. Para tarefa que eles desejam que você realize seu espírito não pode ser conduzido. Podemos manipula-lo, seduzi-lo, mas não capturar seu espírito. É a lei deste universo.
Azazel aproximou-se um pouco mais de Jailton, com o olhar fixo e profundo. Todo o espaço em torno deles dissolveu-se até que só restaram os dois.
- Você recebeu uma versão da história ... vou te transportar novamente por todo o caminho que você percorreu nesta manhã, mas apontando para outras paisagens ...
E Jailton voltou para o início dos tempos, nas asas de Azazel.
É complexo descrever o impacto que a visão de duas mulheres lindas e nuas, acariciando-se de maneira lasciva e emanando eflúvios de um prazer casto e generoso, tolhidas em sua pressa pela relevância do Tao, causa em um homem e, particularmente em Jailton.
O sentimento íntimo de que deveria haver algum pecado num prazer tão doce, a conotação sexual dos corpos nus e a insinuação do incesto, conseguiam abalar mesmo as convicções hedonistas do agnóstico Jailton.
Por outro lado, o sorriso meigo e o olhar absorto de Carol revelavam a paz interior e a felicidade encapsulada naquele instante eterno.
Seu olhar desviou-se para Borbah, o gato, que acariciado mecanicamente por Azazel, jazia a ronronar com a mesma expressão de satisfação de Carol.
Tudo ali era paz e prazer e, ainda assim, não havia como deixar de pensar em culpa e pecado.
- Maldita carga cultural .... como é difícil suspender o julgamento moral e viver um momento pelo que ele é .... – pensou Jailton, num último devaneio filosófico antes de colocar completamente seus pés de volta à terra.
Azazel pareceu capturar os pensamentos de Jailton.
- É por isso que você está aqui, meu caro Jailton. Mas primeiro vamos recompensar nossos auxiliares ... Carol ... Eduarda .... levem o Dalton para o ritual de celebração da vida.
Carol e Eduarda levantaram-se lentamente e aproximaram-se de Dalton que se deixou conduzir candidamente ao que parecia ser seu paraíso pessoal.
- Constância, minha querida e devota irmã ...
Constância deu dois passos tímidos em direção a Azazel, que tomou-lhe as mãos com firme suavidade, enquanto capturava sua alma com um olhar penetrante.
- Uma alma tão elevada que nada deseja e nada quer além de servir ao Senhor... Tua missão está cumprida por hora, filha de Deus. Tua alma segue fortalecida e em paz.
Vá-te. Sursum corda ! Vincit omnia veritas.
- Amém ... Fico eternamente grata pela oportunidade de servir ao Senhor... – Constância despediu-se com lágrimas nos olhos e abandonou rapidamente o salão, sem olhar para os lados.
- Desculpe-me pelo latim, querido “eleito” – a palavra “eleito” foi dita num tom jocoso. Faz parte do marketing. É um pouco fora de moda mas funciona lindamente com a tribo mais old fashion.
Jailton já havia recuperado boa parte de sua condição natural de funcionamento mental. Embora sua alma ainda estivesse profundamente afetada pelas experiências recentes, sua mente arguta estava em guarda, contra qualquer possível golpe que estivesse em curso.
- Quem é você ? O que significa isso tudo ? O Dalton, a Constância, essa mulherada toda, meus sonhos, a apresentação ... O quê vocês estão aprontando e o que é que eu tenho a ver com isso ?
- Calma, Jailton ... sente-se ... tome um copo de Néctar.
Sentou-se em algumas almofadas próximas ao anjo e recebeu o copo com um líquido dourado das mãos de um dos jovens das ânforas. Percebeu que ainda estava, de algum modo, sob o controle daquele personagem. Sentar e beber não havia sido, exatamente, uma decisão sua.
A voz de Azazel, sempre suave, penetrante e imperativa, não parecia alcança-lo através dos ouvidos. A sensação era a de que chegava diretamente em seu cérebro, logo depois do crivo da razão ... como se fosse seu próprio pensamento. Era difícil resistir ou criticar.
- Você, meu caro Jailton, foi escolhido, não por mim ... Mas por aqueles que, desde o início dos tempos, tem interesse em dividir o universo entre o “bem” e o “mal”... – de novo as últimas palavras foram ditas com sarcasmo. Você, como eu Jailton, é uma vítima deles. Com a diferença de que sua situação é momentânea enquanto a minha é eterna.
- Não entendo ... – a voz de Jailton soou mais calma do que ele mesmo previa. Quem é você ? Quem são eles ?
- Você entende sim, Jailton... e é por isso que foi eleito. Esse é o momento que dá o sentido de toda sua existência e você estava aguardando por ele. Está escrito.
De algum modo Jailton sentiu que isso era verdade.
- E embora tudo já esteja determinado, precisamos cumprir nossos papeis. Sou Azazel, o que costuma chamar por aqui de um “anjo caído” ... uma longa história que posso te contar depois. Meu papel aqui e agora na linha do tempo é conscientiza-lo, para que você possa “decidir”, no sentido mortal da palavra. Para tarefa que eles desejam que você realize seu espírito não pode ser conduzido. Podemos manipula-lo, seduzi-lo, mas não capturar seu espírito. É a lei deste universo.
Azazel aproximou-se um pouco mais de Jailton, com o olhar fixo e profundo. Todo o espaço em torno deles dissolveu-se até que só restaram os dois.
- Você recebeu uma versão da história ... vou te transportar novamente por todo o caminho que você percorreu nesta manhã, mas apontando para outras paisagens ...
E Jailton voltou para o início dos tempos, nas asas de Azazel.
segunda-feira, março 05, 2007
DOBRADO
Amei.
Amei muito, amei tanto, amei quanto ?
Amei sempre mais do que fui amado.
Melhor.
O amor é livre, irresponsável, descompromissado.
Mas exige muito de quem ama e de quem é amado.
Quem ama e é amado,
Paga dobrado.
Amei muito, amei tanto, amei quanto ?
Amei sempre mais do que fui amado.
Melhor.
O amor é livre, irresponsável, descompromissado.
Mas exige muito de quem ama e de quem é amado.
Quem ama e é amado,
Paga dobrado.
Pensamento da madrugada ...
Espero que minha ausência preencha uma lacuna ...
(foi a única coisa que deu para postar hoje, o que é realmente uma pena)
(foi a única coisa que deu para postar hoje, o que é realmente uma pena)
sábado, março 03, 2007
Para não deixar a noite passar em branco
Para não deixar de postar, e considerando que a última letra de música que postei não foi de todo desaprovada, segue a letra da música da banda Whiskema, do meu filho Guilherme. Música dele, letra minha. Bem no espírito do Pecado e Capital. Assim que eu aprender a blogar podcast disponibilizo essa e outras da familia.
Pecado Original
(Gui Ferrari & FF - 2005)
Dito que não iria acontecer
Ninguém podia prever
As cores do final
Fatos que ninguém pode contar
Não conseguiram evitar
O pecado original
(coro) Eva e a serpente
(cantor) Tesão
(coro) Ela e a maçã
(cantor) Sedução
(coro) Adão Inconsequente
(todos) E a semente do mal
Corpos nús e almas tão ardentes
Desejos inconscientes
Sentidos de animal
E a razão que chega de repente
Faz tudo tão diferente
Tão intelectual
(coro) Eva e a serpente
(cantor) Tesão
(coro) Razão e emoção
(cantor) Que tal ?
(coro) Conflito permanente
(todos) Até o juizo final
(recitado pelo cantor)
As emoções subjugadas
Ao crivo de um intecto imaturo
Inexoravelmente aprisionadas
No âmago de uma alma mal amada
Acumulam séculos de um tempo
De angústias torturantes
Que só se extinguirão
Quando não tivermos mais juízo
Pecado Original
(Gui Ferrari & FF - 2005)
Dito que não iria acontecer
Ninguém podia prever
As cores do final
Fatos que ninguém pode contar
Não conseguiram evitar
O pecado original
(coro) Eva e a serpente
(cantor) Tesão
(coro) Ela e a maçã
(cantor) Sedução
(coro) Adão Inconsequente
(todos) E a semente do mal
Corpos nús e almas tão ardentes
Desejos inconscientes
Sentidos de animal
E a razão que chega de repente
Faz tudo tão diferente
Tão intelectual
(coro) Eva e a serpente
(cantor) Tesão
(coro) Razão e emoção
(cantor) Que tal ?
(coro) Conflito permanente
(todos) Até o juizo final
(recitado pelo cantor)
As emoções subjugadas
Ao crivo de um intecto imaturo
Inexoravelmente aprisionadas
No âmago de uma alma mal amada
Acumulam séculos de um tempo
De angústias torturantes
Que só se extinguirão
Quando não tivermos mais juízo
sexta-feira, março 02, 2007
A décima Arte
Minha amiga brasicana, Luisa (www.estetikos.blogspot.com) acaba de comentar que há 20 anos escreveu um discurso entitulado Manifesto do Século 21 onde elegia, por sua conta e risco, a Vida Cotidiana como a décima arte.
Achei fantástico.
Quer saber quais são as outras 9 ? Pergunte para a Luisa.
Cantando a Loucura
Vou sonhar
E vou lutar
Pouco tempo tenho nesta vida
Eu vou cantar ...
O pó da prata está nos meus cabelos
E a alma segue intacta
E o corpo nu em pelo
Esperando cada novo escurecer...
O sal do mar corroe os meus joelhos
Mas não a minha vontade
Mas não o meu desejo
Renovado a cada amanhecer ...
E os que vão tentar me dobrar ...
Ah, não ... não vão desistir ...
E os que querem me ver sufocar ...
Oh, não,... não vão conseguir ...
Você pode ver no meu olhar
Que o que me afeta o corpo
Não pode me alcançar
Só me fere aquilo que eu amar ...
E o que me leva o amarfanhar do tempo
A vida ... o tempo ... a vida ... o tempo
Só me causa a dor de um pranto seco
E os que vão tentar me dobrar ...
Ah, não ... não vão desistir ...
E os que querem me ver sufocar ...
Oh, não,... não vão conseguir ...
Oh, não, eu não vou deixar...
E vocês vão estar comigo ... aqui
Não, não, não .. meus caros
Nesse mundo divertido
Com essa gente tão querida
Eu não sou louco ...
Tanta coisa para aprender
Tanto coisa para fazer
Eu não sou louco ... louco
Vou viver todos os dias
E se não houvesse mais um dia
Tudo bem ... tudo bem
Vou amar todos os dias
E se não houvesse mais um dia
Tudo bem ... tudo bem ...
E vocês vão estar comigo, aqui.
E vou lutar
Pouco tempo tenho nesta vida
Eu vou cantar ...
O pó da prata está nos meus cabelos
E a alma segue intacta
E o corpo nu em pelo
Esperando cada novo escurecer...
O sal do mar corroe os meus joelhos
Mas não a minha vontade
Mas não o meu desejo
Renovado a cada amanhecer ...
E os que vão tentar me dobrar ...
Ah, não ... não vão desistir ...
E os que querem me ver sufocar ...
Oh, não,... não vão conseguir ...
Você pode ver no meu olhar
Que o que me afeta o corpo
Não pode me alcançar
Só me fere aquilo que eu amar ...
E o que me leva o amarfanhar do tempo
A vida ... o tempo ... a vida ... o tempo
Só me causa a dor de um pranto seco
E os que vão tentar me dobrar ...
Ah, não ... não vão desistir ...
E os que querem me ver sufocar ...
Oh, não,... não vão conseguir ...
Oh, não, eu não vou deixar...
E vocês vão estar comigo ... aqui
Não, não, não .. meus caros
Nesse mundo divertido
Com essa gente tão querida
Eu não sou louco ...
Tanta coisa para aprender
Tanto coisa para fazer
Eu não sou louco ... louco
Vou viver todos os dias
E se não houvesse mais um dia
Tudo bem ... tudo bem
Vou amar todos os dias
E se não houvesse mais um dia
Tudo bem ... tudo bem ...
E vocês vão estar comigo, aqui.
quinta-feira, março 01, 2007
Pecado e Capital
Parte 6 – Estrela da Manhã
Por fora era um Café, estilo europeu, janelas de vidros bisotados contornados por pequenos filetes de uma liga composta por chumbo e bronze.
O nome, Estrela da Manhã, revolvia o inconsciente provocando sinapses demasiadamente desconexas para estimular uma lembrança.
Os três atravessaram o salão providencialmente vazio apesar do horário passando por entre as mesas de pés torneados e tampo de mármore de carrára engastado.
Mesmo naquela situação Constância não pode deixar de admirar mais uma vez a delicadeza dos lustres de alabastro que ofereciam uma coloração de constante entardecer.
Dalton estava tenso. Jailton, nas nuvens, apenas acompanhava os passos dos dois colegas de trabalho.
Em sua mente dardejavam, em uma seqüência alucinante, as cenas despejadas ao som épico das trombetas diretamente em seu subconsciente que agora emergiam para as camadas mais superficiais da mente, tornando quase impossível qualquer contato com o mundo externo.
Cenas da criação do mundo, a expansão do universo, a vida surgindo naquele pequeno planeta azul, anjos, fadas, ciclopes e faunos, cascatas suspensas, imensas folhas verdes, flores multicoloridas e pássaros encantados. Uma explosão de vida, paz e felicidade como ele nunca havia sentido, visto ou imaginado.
A apaixonante sinfonia do Éden foi subitamente interrompido por de vozes tronitoantes em uma língua semelhante ao aramaico, que ecoavam denotando um embate de ódios viscerais.
E, num repente, a cizânia, o cisma e a desarmonia passaram a imperar. Dor, culpa, remorso, raiva, inveja ... finalmente a criação se completava.
E, como se fora uma luz de uma estrela monumental, um amor infinito por todas as coisas reuniu os estilhaços da explosão em um novo universo, movido pela energia dos confrontos entre forças e emoções paradoxais.
Embora tudo isso estivesse muito além da capacidade de compreensão de qualquer mortal, incluindo Jailton, ele se viu contaminado por aquele amor, e convicto de que havia um sentido em sua existência, que era cristalinamente perceptível, embora ainda desconhecido.
A tensão de Dalton evaporou-se ao entrarem no grande galpão, onde costumavam acontecer os encontros com Azazel.
Lindas mulheres nuas ou semi-nuas movimentavam-se pelo ambiente, com ingênua e impudica lascívia.
O aroma feromônico e as notas de uma música suave e inebriante subjugavam sorrateiramente a intenção e a atenção de mortais ou semi-deuses.
Azazael estava recostado em grandes almofadas de seda em tons vermelho e dourado, acariciando mansamente seu gato Borbah. Sua beleza sutil, etérea e assexuada contrastava com a exagerada sensualidade das duas mulheres que se abraçavam carinhosamente, deitadas a seu lado.
- Anjo não tem sexo ... – Dalton murmurou para si mesmo.
Recebeu os visitantes com um largo sorriso nos lábios e assustadora frieza no olhar.
Fez um gesto indicando outro conjunto de almofadas enquanto dois jovens nus, de corpos perfeitos, se aproximaram com ânforas e copos.
Se nem Afrodite soube resistir à beleza de Adonis, a alma puritana de Cosntância gritava em desespero a cada vez que se obrigava a enfrentar esse tormento.
A voz cínica de Azazel despertou Jailton:
Por fora era um Café, estilo europeu, janelas de vidros bisotados contornados por pequenos filetes de uma liga composta por chumbo e bronze.
O nome, Estrela da Manhã, revolvia o inconsciente provocando sinapses demasiadamente desconexas para estimular uma lembrança.
Os três atravessaram o salão providencialmente vazio apesar do horário passando por entre as mesas de pés torneados e tampo de mármore de carrára engastado.
Mesmo naquela situação Constância não pode deixar de admirar mais uma vez a delicadeza dos lustres de alabastro que ofereciam uma coloração de constante entardecer.
Dalton estava tenso. Jailton, nas nuvens, apenas acompanhava os passos dos dois colegas de trabalho.
Em sua mente dardejavam, em uma seqüência alucinante, as cenas despejadas ao som épico das trombetas diretamente em seu subconsciente que agora emergiam para as camadas mais superficiais da mente, tornando quase impossível qualquer contato com o mundo externo.
Cenas da criação do mundo, a expansão do universo, a vida surgindo naquele pequeno planeta azul, anjos, fadas, ciclopes e faunos, cascatas suspensas, imensas folhas verdes, flores multicoloridas e pássaros encantados. Uma explosão de vida, paz e felicidade como ele nunca havia sentido, visto ou imaginado.
A apaixonante sinfonia do Éden foi subitamente interrompido por de vozes tronitoantes em uma língua semelhante ao aramaico, que ecoavam denotando um embate de ódios viscerais.
E, num repente, a cizânia, o cisma e a desarmonia passaram a imperar. Dor, culpa, remorso, raiva, inveja ... finalmente a criação se completava.
E, como se fora uma luz de uma estrela monumental, um amor infinito por todas as coisas reuniu os estilhaços da explosão em um novo universo, movido pela energia dos confrontos entre forças e emoções paradoxais.
Embora tudo isso estivesse muito além da capacidade de compreensão de qualquer mortal, incluindo Jailton, ele se viu contaminado por aquele amor, e convicto de que havia um sentido em sua existência, que era cristalinamente perceptível, embora ainda desconhecido.
A tensão de Dalton evaporou-se ao entrarem no grande galpão, onde costumavam acontecer os encontros com Azazel.
Lindas mulheres nuas ou semi-nuas movimentavam-se pelo ambiente, com ingênua e impudica lascívia.
O aroma feromônico e as notas de uma música suave e inebriante subjugavam sorrateiramente a intenção e a atenção de mortais ou semi-deuses.
Azazael estava recostado em grandes almofadas de seda em tons vermelho e dourado, acariciando mansamente seu gato Borbah. Sua beleza sutil, etérea e assexuada contrastava com a exagerada sensualidade das duas mulheres que se abraçavam carinhosamente, deitadas a seu lado.
- Anjo não tem sexo ... – Dalton murmurou para si mesmo.
Recebeu os visitantes com um largo sorriso nos lábios e assustadora frieza no olhar.
Fez um gesto indicando outro conjunto de almofadas enquanto dois jovens nus, de corpos perfeitos, se aproximaram com ânforas e copos.
Se nem Afrodite soube resistir à beleza de Adonis, a alma puritana de Cosntância gritava em desespero a cada vez que se obrigava a enfrentar esse tormento.
A voz cínica de Azazel despertou Jailton:
- Deo ignoto de ore tuo te judico. De te fabula narratur !
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